domingo, dezembro 30, 2007

Narrativa de champanhe

à Natasha Siviero


Acordei de madrugada com a cabeça doendo forte como nunca. Tive enjôo também. Pensei que podia ser câncer – fatalista como sou, fazia sentido. Foi aí que lembrei que a minha cabeça doendo e o meu enjôo era resultado de excessos da noite anterior.
Tinha saído para dançar. Chão. Chão. Chão. A intenção era clara e o dinheiro era pouco, mas como a narrativa vive de coincidências, estávamos no lugar certo e na hora certa. Pra ser exata, sentamos, eu e Clara, na mesa certa.
Estávamos as duas com pés doloridos e sem gostar da música. Arriaríamos ali até as coisas se animarem naturalmente, como sempre acontecia quando com a gente. A mesa não era nossa. Havia um quarteto simpático que permitiu que sentássemos enquanto dançavam. Apresentamo-nos. Clara, Júlia, Patrícia, Júlia, Carlos e Paulo. Paulo namorado de Júlia (mesmo nome que o meu, mas não a mesma graça que a minha), Carlos em sua despedida de solteiro, Patrícia mineira irmã de Paulo. Eu e Clara de penetras por ali.
Nós duas conversávamos o que a música permitia e concordávamos que o vocalista da banda era das coisas mais bonitas do salão. Tínhamos nos perdido já uma vez. Achamo-nos no banheiro enquanto eu conversava com uma mulher de cabelo muito grande sobre a possibilidade de ela cortar o cabelo bem curto e fazer uma peruca. A mulher me disse que o cabelo dela valia 600 reais. Pensei ser um bom dinheiro. Lembrei que quando meu ex-namorado vendeu seu cabelo ganhou apenas 80 reais – e ele tinha um cabelo bem grande.
E daí voltamos à mesa. Pouco depois que nos sentamos um garçom apareceu com um balde de energético, depois uma garrafa de uísque. Eu e Clara tínhamos tomado apenas uma cerveja e uma Ice. O quarteto simpático da mesa fazia questão que bebêssemos com eles. Dissemos que não. Insistimos que não. Clara justificou que tinha que levar o carro para casa e não queria ser peã na blitz. Mas comigo eles não se deram por vencidos. Carlos me serviu um copo de uísque e energético.
Então eu já dançava como se nem ligasse. Mais uísque. Chegou uma garrafa de champanhe. Aí até Clara bebeu. Foi pouco depois disso que Patrícia se aproximou de mim e disse que seu irmão queria trocar de Júlia. Pensei “comigo não, nessa eu não caio”. Disse então pra Patrícia deixar isso pra lá e dançarmos até o chão.
Patrícia tinha sérios problemas para rebolar, estava escuro, mas ela tinha a vergonha que o uísque já tinha me feito perder.
- Ai meu Deus! Como é que você faz isso!
- Mexe o quadril, menina!
- Ai! Mas eu não consigo! Sabe, minha amiga lá de Minas disse que eu tenho que imaginar que estou fazendo amor.
- É mais ou menos isso, Patrícia. Pensa que as mãos dele estão guiando os seus quadris e vai.
E ela foi. Pouco depois mais gente da boate viu como ela ia, como já tinham visto Clara. Tinham me visto também, mas eu não queria ser vista. Carlos insistia que ficássemos juntos, mas eu só quis quando um outro cara resolveu que eu devia ser dele. Disse-lhe que estava com Carlos. Carlos então quis que eu de fato estivesse. Não fui. Disse a ele que Clara era a melhor opção- era ruiva e ruivas tem mais charme que castanhas como eu.
Carlos queria Clara, queria todas. Não tinha norte e quis que acreditássemos que ele estava solteiro na pista. Mais champanhe. Martini. Eu não estava bem. Cerveja, champanhe, Martini, uísque, energético, ice e dança. Os pés nem doíam mais. Clara disse que cuidaria de mim.
Fomos embora da boate, emersas na magia do champanhe e dos olhos verdes de dois caras que encontramos ao lado do carro de Clara. Clara me deixou na porta de casa, e eu não lembro o que aconteceu depois que eu subi o elevador. Acordei atrasada e com o quarto bem bagunçado.
Sobrou a dor de cabeça e a eterna paixão por dança. Uísque, champanhe, energético, Martini, cerveja e ice.

Sobre tesão

A tela é branca. Tem que ter maior parte branca pra ter tesão de papel. Escrever em tela não é a mesma coisa por que o pulso não dói e as coisas saem mais rápido e tem correção automática. A poesia, no entanto, não se perde. Há o tempo do raciocínio e tudo o mais.
Falo disso por que quero escrever e não tenho assunto.
Poderia gastar falando sobre como fim de ano me toca e me deixa nostálgica, mas quero falar de paixão.
Ando seca.
A narrativa continua tendo a mesma graça, mas não sei mais inventar histórias e frases.
Poderia então apelar para nudez absoluta e bela.
Descreveria a cena de dois amantes. Ele deitado, olhando pra ela. Ela sentada na beirada da cama. O ventilador que fica na cabeceira venta contra o cabelo dela e a luz que vem da janela incide na pele dela. Ele não consegue se conter em dizer o quanto ela é bela e ela sabe que a cena favorece isso.
A nudez é bela.
O branco da folha é uma coisa muito bela, como a tinta da caneta e toda a narrativa por traz das narrativas de papel. O atrito é mesmo muito belo.
Então escrevo e me dispo. Aí você vê e me diz se é belo.
O quadro todo favorece.
Minha mão pulsa e venta.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Luana


Imaginem que Luana era mais bonita que o necessário. Imaginem ainda que ela tinha um temperamento oscilante, mas um ótimo senso de humor. Não era, portanto, mulher de se jogar fora.

Eis então o ponto em que essa história começa, o dia em que Luana percebeu que não era mulher de se jogar fora. Foi aí que ela assumiu as próprias curvas e o próprio mau-humor. Começou a se cuidar e se perfumar, mais pra ela que para suas paixões.

Esta narrativa tem seu rumo nas muitas paixões concomitantes da mocinha. Como ninguém a jogava fora, ela também não jogava ninguém fora. Então ela ia acumulando paixão atrás de paixão e paixão em cima de paixão.

Luana dizia que as paixões não se atrapalhavam, mas ela se atrapalhava. Não queria esconder nada de ninguém e também não queria que ninguém se machucasse.

Mas a verdade é que Luana gostava de Mateus, que também a via mais bonita que o necessário e também gostava do senso de humor dela. Ele não fazia parte do bolo de paixões, era um caso à parte e talvez ela tenha se descoberto bonita como era por culpa dele. Era Mateus quem fazia questão de frizar como ela tinha pés bonitos e como as maçãs de seu roso pareciam feitas para receber carícias.

Mateus e Luana eram cafonérrimos quando juntos e era por isso que ambos tinham bolos de paixões à parte. Ambos temiam que sua cafonisse se estragasse se o bolo não existisse.

Mateus não era mais bonito que o necessário, nem sabia fazer poesia. Luana tinha sede de mais e Mateus tinha medo de menos.

Então Luana caia em braços fortes que pareciam aonchegantes, sentindo falta da falta de poesia de Mateus, mas gostando de saber que ninguém a jogaria fora. Nem Mateus.

Agora imaginem que Luana levava a história que queria levar e continuaria vazia, mesmo cheia de paixões.


A narradora não é moralista nem acha que Luana devia ter menos casos, mas Luana é cafona e por ser cafona queria ser flor de um só beija-flor. Mateus. Cafona assim.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

O rio continua pardo


Natal junta todas as coisas ao mesmo tempo. Família e redenção e presentes e todas as coisas que vc fez de mau e que podem fazer o Papai Noel ter um surto de falta de compaixão.
**
Aí eu fui na boate e queriam me barrar. A classificação era 16 anos. Eu com meus 19 me senti estranha e meio mico.
**
- Ela tomou jeito. Sabe... Está séria, namorando, mergulhou de cabeça na psicologia e cuida da casa.
- Não sei não.
- Ela tinha tudo pra dar errado. Eu achava que ela ia aparecer grávida por aqui.
- Eu sabia que não. Ela é filha da Maria. Sabe? A Maria sempre foi severa com essas coisas.
- Mas ela era doida.
- Ela dançava e bebia, mas nunca foi doida. - Pensei que se ela era doida eu também o era.
- Pois é... tá todo mundo casando ou tendo filho e a gente aqui...
- Mais alguém que eu não saiba?
- Só a Mírian mesmo.
- Não me assustei com ela.
- Me assustei com quem é o pai do filho dela.
- Quem é?
- Você não ouviu falar do cara que filmou as meninas com quem estava transando e colocou na internet?
- É ele?
- E o pior é que ele estava namorando a irmã da Mírian!
- Que cachorrice!
**

Os manacás continuam sendo uma flor bonita. Não entendo nada deles, mas as flores continuam no mesmo lugar, como o rio.
Tirei fotos.
**
Quero esquecer que existem livros e pessoas, por que livros e pessoas dóem quando na gente.
Todo livro tem o momento certo de a gente ler. Esse de agora comprei há tempos e deixei na estante.
Está me machucando...
Está me triturando. Está me batendo por que sou eu de novo.
**
Tenho novas amigas, todas de 16 anos. Sinto-me jovem forçosamente. Vamos juntas até o chão.
**
Feliz natal!

Paulo e Tereza

Ele gostou dela. Achou-a divertida e se impressionou com a capacidade que ela tinha de falar besteiras enquanto ele ficava quieto, se segurando para não fazer má figura diante de uma moça que ele não conhecia. A segurança com que ela demonstrou que falava muito, mas não era qualquer uma o impressionou ainda mais. Foi ela quem quis primeiro sabê-lo Paulo e se apresentar Tereza.
Ele ficava meio sem fala com a impetuosidade dela, que além de tudo era amiga do amigo dele, que dizia que há mulheres e mulheres e Tereza é dessas que se ganha com diamantes e mais.
- Ora, você não vê ninguém falando nada de mim, embora eu fale um punhado de besteiras.
E o amigo em comum de Paulo e Tereza fez questão de dizer que com ela ele podia falar.
Paulo seguiu seu caminho pelo clube enquanto Tereza nadava feito sereia. Depois ela sentou-se ao lado do amigo e Paulo finalmente pode ver como era bonito o corpo da mulher divertida que ele conhecera há pouco. Não pode conter a admiração por aquele par bem torneado de coxas bronzeadas, nem pela simetria e equilíbrio de um corpo todo fresco. Sem contar que o sorriso dela era branco e certo, bonito e fresco como a boca também parecia ser.
Ele frizou o prazer em conhecê-la ao ir embora e ela fixou na lembrança a composição mui bela dos olhos dele emoldurados por um céu azul e sol forte.
Pois esse foi o flerte de Paulo e Teraza, que ficou só flerte por que ela dormiu pra não fazer exposição da figura à noite, na praça.

sábado, dezembro 22, 2007

Mariana XVIII

Mariana tinha decidido ficar quieta
O óbvio andava tropeçando um bocado e ela se irritava mais e mais.
As malas estavam prontas pra Mariana ir pra Bahia ver o sonho de sempre e dar um sorriso a mais.
Depois de Lucas e números que não valiam, os galhos de Mariana eram previsíveis.
Ela tinha dito que queria algo a mais.
Ela ficou quieta e ele veio.
Mariana, que continuava sem sair do seu costumeiro galho óbvio que andava confortável apesar dos tropeços, não tinha um nome pra dar para o galho novo em que ela esbarrava volta e meia e com o qual ela até brincava.
Mariana não conseguiu dizer pra mim nenhum adjetivo sobre ele.
Sabia que ele era agradável. Tinha frutos, ao contrário dos outros galhos.
Parecia firme e ainda assim ela não ia de vez pra lá.
Nem vai.
Pelo que sei de Mariana e seus medos que prosseguem mesmo com os anos passando,
ela vai se misturar feito areia e vento ao sonho
e depois vai voltar aos cantos óbvios
talvez se desmembre e busque a outra flor que tem estado presente, mas que ela não comenta.
Mariana tem medo de galho fixo, lembra do álibi e do bicho-papão.
Mariana sabe que o galho novo não é nenhum dos dois, nem é óbvio, nem é sonho.
O problema é que ela ainda não sabe o que é.
Eu disse pra ela que é aí que mora o perigo.
(É que Mariana está perdendo aquele medo doido e apertado, mas ainda não pode saber, então sejamos discretos, que aí ela volta pra boca do leão...)

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Mesa de bar

Ele pegou nas minhas mãos e disse que eu devia parar de brigar com ele. Pensei que ele não tinha razão e que eu deveria continuar gritando, como era costume. E foi aí que Estevão me acertou em cheio:
- Clara, chega disso. Sabe o que estamos parecendo? Dois namorados brigando no meio de um bar.
Pensei que aquilo era aterrorizante. Eu não era namorada de Estevão. Bem quis ser um dia, mas a idéia então me apavorava. Por que, então, brigávamos? Ele não me devia nada. Eu não devia nada a ele. O que nos prendia eram os meus gritos e o jeito malandro dele.
Não adiantava. Eu continuaria brigando e continuaríamos sendo namorados sem admitir. Nenhum dos dois podia se assumir fraco a ponto de se comprometer. Nenhum podia assumir compromisso.
Éramos nós estreitos nós, mesmo laço frouxo.

domingo, dezembro 16, 2007

sábado, dezembro 15, 2007

10/05/07

Estou doce. É bem verdade que sou doce e que mais doce do que eu já sou fica enjoativo e nem eu aguento. Fofura demais afoga e gasta. Acontece que tive stress e ternura o dia inteiro e que matei meias saudades de quem me faz muita falta. Deu vontade de abraço que nunca tive pra ver se a saudade dos assuntos sempre interessantes passa. Não passa. Se os assuntos não forem correntes e diários e se a minha vida não estiver atualizada na cabeça dele enquanto a dele está na minha a saudade fica fixa no nosso peito. Estou doce por que um amigo assim tatuado é coisa que precisa ser consumida em doses constantes. Estou doce por que falta um pedaço de mim e sobra outro. E por que eu sempre estou lá, mesmo quando digo que não e quando fujo. Estou doce por que sou irresponsável e feita de luz e sombra como uma estrela - agora eu sou um cometa. Tenho que correr e qualquer força gravitacional me puxa e me gasta. Eu gosto dessa coisa gasta. Outra coisa, descobri que não sou romântica como pensava. Esses símbolos e esse exagero e toda aquela coisa da idealização estão longe dos meus pés fixos em chão. Mas eu vôo. Eu vôo e vou aonde precisar. Descobri que não sei quando é onde ou aonde. Este cansaço me faz sem pedaço e partida, mas eu não parto. Eu fico, e inteira. Sou teimosa e orgulhosa demais pra não ficar.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Chuva e pastel.


Cheguei e chovia. Dormi durante todo o percurso. Nem vi o tempo passar, só quando o carro estacionou em Venda Nova e provavelmente alguém comprou um pastel bom. Poucas coisas conseguem ter o sabor de um pastel de Venda Nova, poucas tem um hálito tão gostoso.

Algumas bocas que marcam são como pastéis de Venda Nova. São quentes e sempre que a gente passa por ali quer mais. Há a desculpa da dieta ou dos pequenos dez minutos de parada, mas se a boca é um pastel de Venda Nova a gente compra. Não há dieta que justifique um não a um pastel de Venda Nova.

Só é possível ser completamente fiel a um pastel de Venda Nova. Pastel de Venda Nova é bom de queijo ou de carne, não provei o resto. Fica bom na chuva ou no Sol, com coca ou guaraná.

Não está fazendo frio hoje, nem calor. Chove.

Eu chovo e não comi nenhum pastel de Venda Nova. Dormi durante todo o percurso.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Sobre como fico bonita de azul


Fico mesmo bonita de azul. Estive olhando fotos. Faz um contraste interessante com a minha pele morena e fica ainda melhor se pinto os lábios de vermelho. Fico bonita de verde também. A verdade é que sou muito bonita. Não posso contar aos outros que sei. Fico parecendo mais prepotente do que já sou. Fazer o que?
Botei a foto bonita no MSN pra todo mundo ver. E ele não apareceu. Eu queria que ele visse como fico bonita de azul com brinco grande e batom vermelho, mas as horas foram passando e nada. Esse é um problema da modernidade. Espero no MSN como se esperasse na janela pra ver o meu amor passar.
Ele não é meu amor ainda. Nem vai ser. Sou forte, lembra? Não caio assim por um sorriso.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Falta










Eu imaginei que fosse ser assim. Desde o começo de tudo, quando a gente não sabia direito o que era. Tudo sempre foi disputa de egos. E eu fiquei igual. Os joelhos ralados, o nó na garganta, a cara lavada e a espera.
Eu não devia esperar nada depois de um não.
Por que eu disse o primeiro não, mas ele devia me ouvir depois. Eu devia ter estado presente, mas eu sempre estive e naquele dia eu simplesmente não podia. Ele devia entender. Eu não podia dizer sim, ou perdoar. Mas eu precisava de um ombro e os dele são mais confortáveis e menos trabalhosos. Ele conhece as histórias e os medos que eu não quero ter que contar de novo.
Dói.
Meus ossos estão desestruturados e a falta é estruturante.
O que é que eu vou fazer?

domingo, dezembro 09, 2007

Piegas

- Do you believe in love?
Mamãe disse que eu não devia beber mais uma cerveja por que ficaria tonta. Fiquei. Ocorre que ela não sabe que ficar tonta implica em cervejas e vinhos e vodkas ao mesmo tempo.
A verdade é que não gosto de vodka. Gosto de Martini e cachaça e cerveja e todos os vinhos.
Gosto de azedo.
Ela não sabe do que gosto e tenta se preocupar com o que não devia. Agora é sua vez. Agora passou minha vez. I don’t believe in love anymore. Só cerveja.
Pessimista sim. Só pra aparecer.
- Do you believe in me?

domingo, dezembro 02, 2007

A menina e o medo



Sempre disseram que ela devia ter medo de tudo. De parar e de seguir e de sentar e de levantar e de correr e de pular. E ela tinha mesmo todo esse medo. Ficava sempre parada em cima do muro. Ela tinha vontades, mas o medo era maior.
Ela não seguia.


*O final feliz está em outra história.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Poema cansado

Dormi desde ontem
A noite inteira e de cansada.
Não ficava pensando em compromissos ou versos.
Nem sonhei.
Só deixei que o corpo parasse e fosse.
Talvez minha escrita mole não seja tão boa quanto alguns versos rasgados.
Não quero que minha escrita dance, hoje.
Quero minha escrita sono e confissão.
Ironia talvez.
Quero escrita comendo carne vermelha e doce.
Por que dizem que carne humana é meio doce.
Não gosto mais de poemas,
Já disse?
Não tenho paciência pra essa rapidez de versos que se alongam quando ecoam.
E também não quero essa prosa curta que ecoa por que bate em mim.
Quero nenhuma história.
Desaprender a ler pra retomar a inocência.
Utópico demais.
Talvez seja hora apenas de um banho e não de escrita ruim.
Talvez seja dia para cerveja e preparo pra futura cirrose.
Não é hora pra canto,
São dez da manhã.
Não é hora, então forço.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Mariana XVII

Ele era o segundo Lucas de Mariana.
Ela não se lembrava de ter encontrado nunca um homem tão boçal.
É claro que havia o bicho papão.
Mas ela tinha se acostumado ao sonho e ao óbvio
E ela não gostava que lhe puxassem o cabelo assim, vulgar.
Mariana sentia-se suja e não gostava da própria boca
Por que a barba dele machucava e as mãos dele não tinham freio.
Tudo ali machucava e ela fez-se forte pra firmar um tapa.
Ele se encheu de razão.
Ela teve saudade da paixão.
Pular de galho em galho já não tinha tanta graça.
O corpo do sonho era tão carinho.
As mãos do óbvio eram como as dela.
Esse Lucas tem nome por ser mais um número.
Não era homem pra Mariana. Não era homem.
Todos os galhos pareciam tão firmes, mesmo sem raiz.
Mariana gosta de segurança, mesmo com medo de fall in love.
‘cause she is falling in love again every day
and she likes flirt
but is not the time.
Mariana não sabe o timing.
Ela está perdida.
E todos os homens eram iguais até a última noite.
São pessoas, ela me disse. “Não são números como eu não sou.”
Mariana queria banhos mil e sal purificante.
Um óbvio a mais.
Um sonho a mais.
Nenhum dos dois e os dois juntos.
Ou nada.

segunda-feira, novembro 19, 2007

O italiano

Tenho um italiano.
É uma personagem que me mandaram escrever eu aceitei o desafio. Ele deixou de ser algo postável logo na primeira parte. Tenho medo de personagens grandes demais e ele se tornou um problema agora. Tudo nele é intenso, vazio e cheio ao mesmo tempo.
Meu italiano é frustrado e não gosta de si. É muito difícil escrever sem me enfiar na história.
Ele não é o avesso de mim. Ele não sou eu. O italiano me toca e eu preciso escrever por ser um bom canal.
Foi ele quem me escolheu. Sabe que sou piegas e que terei dó de dar-lhe um fim triste. Mas a verdade é que eu ainda não sei qual será seu fim ou o que ele merece. É sujo. É vil. É sórdido e bonito. Gosto da sordidez dele, por mais que me assusto. Ele tem a vida toda mal resolvida e cancros que se espalham por toda a sua alma.
Li que os sintomas da sífilis são cancros duros.
Eu diria que ele é sifilítico de alma. Ele é duro. Ele não convive bem consigo e quer que o mundo pare pra que ele passe.
O nome ele não fala, mas o sobrenome é Giordano e é assim que ele gosta de ser chamado. Meu italiano não conseguiria mascar a própria língua por não gostar de jiló.
O lance é que a Esfinge o persegue desde o começo.
- Decifra-me ou te devoro?
Meu italiano vai ter que sair de cima do muro e deixar de ter medo. Vai ter que parar de atirar e botar flores no cabelo.
Acontece que eu não estou na história pra ser pontinho de luz.
Meu italiano vai ter que se resolver sozinho e talvez deixe de ser só.

E aí o problema fica comigo.

Decifro-o ou ele me devora?

quarta-feira, novembro 14, 2007

Hamlet

Ele disse que cresci. Disse que o corpo mudou e a voz e a cara e o jeito de me vestir. Talvez eu tenha mesmo perdido um pouco do pudor que eu tinha de me ser. Ora, não sei qual o problema nisso. Crescer não é como construir personagens pra teatro. Exato oposto. Desconstrói-se a princesa de conto de fadas e constrói a mulher. Até aí não sei pra onde vai e de onde vem e nada.
E o depois também não sei.
E sentimento não é de se saber.
Ela disse que psicólogo deve ganhar uma grana sem resolver os problemas dos outros. Aí eu pergunto se os outros não devia saber resolver seus próprios problemas.
Todos somos Atlas e temos que carregar nosso mundo nas costas.
Crescer é fazer escolhas, uma terceira pessoa cujo sexo não me lembro disse.
Então eu devia ganhar um martelo e sair quebrando todas as dores e estourando bolhas de felicidade.
Agulha talvez fosse mais eficaz.
E ficas, fixas, fichas e sentas.
A segunda pessoa eu não sei usar bem. Ou sei? Ambiguidadegramaticaldespropositadaeproposital.
No fim, todo poeta é um inconseqüente num mundo de letras e sons.

sexta-feira, novembro 02, 2007

O sonho

Tive mais um sonho daqueles que cortam na alma e dóem no peito. Então estou doendo até agora. Sei que aquele sonho inteiro é pura vontade minha nua. Se fosse vida aquele sonho naquelas formas eu sorriria ao invés de doer. O problema do sonho é que ele é só desejo e desejo é falta. O problema desse sonho é que ele me falta e eu não quero essa falta. Eu quero o sonho inteiro e pra mim até de ponta cabeça.
Eu era eu descabelada e desleixada. Ele era ele nos mesmos moldes, só que homem. E ele sussurrava que me amava e de novo eu não sabia o que fazer. E eu ficava distante e esperava que ele dormisse pra me aninhar nele e deitarmos juntos no chão. Harmonia visível à quem passasse, mas ninguém passava por que nós dormíamos e nós dois estávamos enroscados só pra nós dois. Ligados. Foi ele acordar e eu disse que o amava.
E eu acordei.
Não tem felizes para sempre quando a gente está acordado. E o que eu desejo me falta. Aí eu fico doendo mesmo. Eu fico só. Eu fico.

quarta-feira, outubro 24, 2007

abunda

Eu não entendo nada de Marx nem de Hegel.
Pra mim, o que importa é a frequência do samba.
E se o samba filosofa enquanto a bunda mexe, que mal há?
Há que se considerar o bronze das nádegas tropicais.
Não há que se considerar o racionalismo, materialismo, dialética ou utopia de uma bunda.
A bunda ideal não há.
O mestre disse que existe gosto pra tudo, ele mesmo não se aguenta vendo bundas grandes, largas e com covinhas espalhadas em montes de rachaduras. Há quem goste de bundas secas e inclusive há quem não goste de bundas.
Marx é materialista e fala que há que se considerar o contexto. O material, o palpável, o trabalho, vem antes do resto e constrói esse resto. (Talvez eu esteja falando besteira, mas é litearatura e são minhas impressões) eu encaro como se pra Marx as coisas viessem de fora pra dentro.
Hegel viaja e fala de idealismo, que existe primeiro a razão, depois o resto. As coisas vão de dentro pra fora.
Ainda prefiro samba e bunda que essas discussões sem fim. E pra mim, a frequência que a bunda meche durante o samba é muito mais relevante que a função da bunda na sociedade.

desbundei.

Aline Dias escreve textos bizarros e sem argumentação palpável, talvez ela apenas precise desabafar sem pensar e queira registar pra rir depois.

domingo, outubro 21, 2007

O barco

Eu não queria que doesse, mas dói. São as mulheres e as crianças que desistem de afundar os navios, a Ana C que disse. Eu não sou poeta que nem ela e ontem me disseram que eu não podia me comparar. Eu sou forte e devia ficar no navio até o final, mas eu tenho tanto medo de afundar e não valer à pena. E eu queria tanto que valesse à pena e não afundasse.
E está doendo. Eu pulei e bati na hélice. Agora congelo nesse meio de Atlântico. Eu não fui feita pra congelar.
Eu queria que o Rô estivesse aqui e me ouvisse por que ele ia entender tudo e eu ia precisar falar muito pouco.
Eu não gosto de falar nem de afundar navios. Nem de pular fora antes do fim. Eu não gosto de decidir o fim. Não gosto de fins, é bem verdade. Apesar de tudo precisar ter final.
Fui eu quem quis embarcar no navio. Eu queria parar na ponta, abrir os braços, fechar os olhos e voar. Ficar olhando mar no navio eu queria. Sentir vento na cara eu queria.
Mas não são navios e não é história.
Vou ver se agüento nadar a braçadas.
Eu não queria que doesse, mas dói e a musculatura pega firmeza enquanto eu nado nesse atlântico gelado e sem barco.

domingo, outubro 14, 2007

Mariana XVI

Mariana se sentia dentro do furacão.
Os sonhos e a realidade ainda óbvia se chocavam
E ela doía por todos os lados,
Era uma ilha.
Mariana não chorava, mas não estava bem
O óbvio devia ser ombro amigo mais uma vez
E ele estava sempre lá, sempre sendo saída óbvia
E Mariana sempre amando e se ferrando
Mariana ilha de dor
E forte, cada dia mais.

terça-feira, outubro 02, 2007

Cinema

Os dois se encontraram na cantina ao lado do cinema. O cinema tinha uma sala só e era famoso por passar filmes alternativos. Fernanda estava esperando seu filme começar quando cruzou com Rodrigo. Ele tinha cara de quem sabia demais e ela era extremamente curiosa. Ela queria saber o que Rodrigo tinha a esconder. Ela saberia mais cedo ou mais tarde. Os dois sentaram-se na mesma mesa.
Ele tinha cabelos castanhos e a pele morena de sol. Ela tinha cabelos claros e longos, não era bonita, era mediana. Tinha cara de mulher comum e não tinha muito o que falar e o que esconder.
Os dois ali, na mesma mesa, travavam uma luta para ver quem escondia mais e quem mostrava mais. Nenhum queria ou podia perder. Os dois estavam errados em começar aquela briga. Fernanda não foi ao cinema.
Rodrigo disse que podia fazer muitas coisas e que tinha muita coisa a dizer, mas não disse nada e não fez nada. Fernanda esperou. Na verdade, ela tinha um medo grande e uma vontade grande de saber.
Antes daquele dia os dois nunca tinham conversado.
Nenhum sabia quem era o outro.
“por que você o está defendendo?”
“Eu não estou defendendo ninguém.”


E por que usar aspas em vez de travessão? A Aline que escreve esse texto nunca gostou de aspas. Ela sempre usou travessão por que aprendeu na primeira série que era assim que se escrevia diálogos. Mas ninguém nunca disse à Aline que se deixa claro num diálogo quem é o sujeito que fala. A Aline desaprendeu a escrever, ou talvez nunca tenha aprendido a fazê-lo.


E Fernanda não sabia bem como se posicionar. Não tinha nada a perder e se perdia no tempo por pura curiosidade. Talvez não valesse à pena insistir. Rodrigo não devia valer nenhum verso. O filme ela já tinha perdido.
Ele parecia por à prova o tempo inteiro tudo que ela tinha a dizer. Ele punha a prova quem ela era. Descreditava.
Ela ainda queria saber de tudo e não queria tomar banho ou ir embora. Os outros deviam esperá-la. Havia vida além dali.
Fernanda tinha gastado o dinheiro do filme e não o teria de volta.
Rodrigo não falava nada que prestasse, apenas acusava.
Ela tinha nojo dele e de tudo que ele falava.
Ele percebia que na verdade, era ele quem estava sendo descreditado.
Era hora de ataque.


E a Aline que escreve esse texto sente necessidade de cortar a história no meio por medo do fim.


Rodrigo conhecia a vida de Fernanda e tinha que jogar isso na cara dela. Ele não sabia o quanto ela detestava que o fizesse. Talvez soubesse. Talvez ele fosse dissimulado a ponto de saber controlar toda aquela situação.
O que ele sabia?
Ela não era prática. Já tinha percebido que não tinha o que fazer e não ia embora dali.
Devia sair.
Rodrigo tinha o que esconder, então jogava com o passado dela. Escancarava pra ela o que ele sabia.
E ele não sabia nada demais.
Ela fez questão de frisar que era mentira.
Se perdeu.
É claro que ele sabia que aquilo a atingia e ele jogaria pra ser ouvido, mesmo não tendo o que dizer.
E ela se viu desesperada e sem razão nenhuma.
Tinha que ir embora.
Foi embora.
Uma pena ter perdido a sessão de cinema.

terça-feira, setembro 18, 2007

O que eu quero

Talvez seja pretensão em larga escala. Mas hoje, lendo teoria e buscando quase-literaturas, eu tive uma vontade grande de ser Rubem Braga. Sempre disse Nelson. Sempre falei que queria escrever feito Nelson Rodrigues. Mas é que Rubem escreve tão lindo que prenderia qualquer criança desatenta que não goste de histórias. Ainda assim, ele fala manso e certo. E ele não deixa de ser jornalista. Ora, as crônicas cantam, mas ainda estão ligadas ao tempo, como ao sempre. Chamavam-no sabiá. Stanislaw Ponte Preta chamava-o Sabiá da crônica.
Quero escrever como quem samba. Quero na escrita todo aquele gingado de coxas que não param quietas e quase saltam com graça. Quero escrever bonito e atraente como um quadril que balança. E quando me lerem, quero que pensem que é bonito e é sentimento. Quero que sintam a minha escrita como eu sinto pulsando em mim a escrita de Rubem ou Clarice. Nelson não pulsa tanto, ele bate e a gente gosta. Geralmente gosto de tapas verbais, mas hoje quero dança.
Escrita como junção de corpos.
Não quero escrita-vômito.
Vamos todos escrever pelos joelhos. Vamos todos cantar pra espantar todos os males. E brincar de roda. Escrever é manter a roda. Vamos rodar em diversos poemas. Vamos rodar sem versos. Poesia em prosa, não era assim a crônica?
Vamos rodar pra não ser atemporais.
Vamos brincar com o tempo? Vamos! Vamos!
Sentimento é hoje e é sempre, literatura. Eu gosto de jornalismo. O que ela falava de jornalismo, uma coisa dura e madura (no sentido de prestes a apodrecer) pra mim é mentira. Somos todos história e formados de histórias. Então, essa brincadeira com fatos registrados em papel ruim, ou sites, ou fitas na tv é atemporal, por que congela o tempo. A gente sabe hoje e se fuçar os arquivos sabe ontem. Não apodreceu.
Jornalismo não é pra apodrecer, ainda mais o cultural. Ora, cultura é coisa que fica, não morre assim. Jornalismo é novo sim. Mas é de virar história.
E eu queria escrever feito Rubem Braga, pro meu jornalismo ou meu autismo sair por aí tocando corações e tomando rumos.

domingo, setembro 16, 2007

Mariana XV

E Mariana se viu sem galho.
Sem galho mais uma vez.
Não era hora e não era assim tão óbvio.
Mariana devia buscar o inesperado, sem esperar nada.
Mariana devia sossegar.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Isso

Então tá.
Não ando com cabeça de pessoa-leitora. Na verdade, tenho sono e preguiça de dormir.
É meu diário.
Eu devia publicar um texto que eu escrevi ontem e se chamava Beatriz.
Pensávamos as mesmas coisas, no fim.
Devíamos questionar o mesmo vilão, o grande monstro que me atrapalha a vida. O nome é sociedade, eu acho.
Sou sociopata com cara de menina moça.
Sou gracinha.
Mas isso tudo, como as atrocidades as bombas e as minhas ameaças sobre mim que não sou eu ou mais e menos e pernas, é mentira.
Na verdade, eu minto.
É que se a gente não faz propaganda, as pessoas não vêm.
Foi isso que ele me disse quando eu perguntei pelas promessas que ele me fez.
E eu respondi que a propaganda era enganosa, rindo.
A questão é que eu não gosto que mintam pra mim. Quero mais que mentira.
Se ele não precisasse mentir pra mim teria tido segundas e terceiras chances. Mas mentir pra mim é burrice.
O outro não mentia.
Era um escroto.
Mas não mentia.
E aí entra em voga essa coisa de vínculos.
Não sei por que estou escrevendo algo parecido com um poema se ando sem cabeça pra poesia. Tentei ler. Juro. Mas não desceu e poesia tem que ser degustada feito vinho.
Não consegui.
Ainda sou eu quem mora nesse corpo e a dona dessa mente.

Não foi dessa vez, mas quase.
Estou pensando em coisas que rimam com mente.
Você mente?

Veio uma música velha na cabeça e eu fico pensando se o que eu escrevo é ou não é atemporal.
É sentimento, minha flor, quase magia.

Eu acho que não sinto tanta falta assim de poesia.
É.
Eu minto.

domingo, setembro 09, 2007

O vizinho

Ele morava numa das casas no final da rua e ia à praia todos os dias. Eram as únicas coisas que ela sabia ao ver aquele cara passando de bermuda, carregando a prancha. Ele provavelmente usava filtro solar, já que ela nunca o tinha visto vermelho demais ou descascando. Aquilo era um sinal de que ele se preocupava minimamente com o próprio corpo e consigo. Na verdade, o corpo dele já era um grande sinal de que ele se preocupava com o próprio corpo. Ela não babava por que isso era grosseiro, mas salivava e respirava falhado quando ele passava. E ele passava todos os dias.
Ela nunca tinha parado para imaginar como era a vida dele, era apenas alguém que passava e mexia com a libido. Mexia um bocado. Ele se mexia e ela queria se misturar àquele corpo. Se imaginava poeira grudada em suor, água de mar e areia. Imaginava cenas mil e nenhuma fala. Todo aquele jogo unilateral era muito visual. E ele continuava passando.
Foi assim por alguns verões.
Felizmente, existe o carnaval, em que as pessoas matam seu superego e mergulham num mar de coragem e fantasia. Naquele carnaval, ela fez a amiga apresentá-la a ele. Se conheceram na sexta, e no sábado se encontraram mais uma vez. Ele sabia que ela morava numa casa no começo da sua rua, já a tinha visto. Isso a permitiu sorrir. Ou foi isso, ou foi a tequila. Não importa. O que importa é que, no segundo dia, os dois resolveram descobrir o que havia nos olhos um do outro com a desculpa de tentar não sorrir. Mas os sorrisos vinham. Eles vinham dos dois lados e o jogo do sério já tinha se perdido. Aí ele empurrou o cabelo dela com a ponta dos dedos e puxou-a pela nuca. Era um beijo.
O carnaval continuou e os dois se beijaram na terça-feira gorda pelo tempo que conseguiram.
Ela foi embora na quarta-feira de cinzas. Não morava na casa do começo da rua, apenas passava ali os verões e alguns carnavais. Voltou na páscoa. Ele ainda estava ali, a quaresma acabou mesmo na quinta-feira de lava-pés. Entre sins e nãos e discussões bestas, mais beijos e mãos paradas na cintura.
Ela gostava dos braços dele. Gostava muito.
Os verões demoram a chegar, mas ela teve que voltar no sete de setembro para a tão sonhada independência. Os feriados não davam tempo de paixão e conhecer alguns defeitos impediu-a de continuar. Foi fim.

segunda-feira, setembro 03, 2007

O sono e afins

Eu não quero brincar de blogue
Nem de poemas.
Quero brincar de cama no sentido sono da coisa.
Não quero sonhos.
Sonhos são maus e me mostram pra mim.
Também não quero nenhum ato-falho.
Já disse à minha analista que essa coisa toda de Freud nunca foi pra mim.
Não, não é pulsão de morte.
É impulso de sono e necessidade de olhos abertos.

quarta-feira, agosto 29, 2007

poema de mim-carne-alma

Eu odeio cortar a mina carne
por que é minha
e por que é carne.
e esse não é um daqueles ódios que são amor.
eu não gosto de cortar carne minha por que dói.
simples assim.
dessa dor de corte eu não gosto.
amor corta?
se amor corta eu gosto.
não. Eu não tenho que gostar, nem que cortar.
hora de dormir.

sábado, agosto 18, 2007

Daniela

Daniela tinha curvas arredondadas e uma voz fina com traços de pato. Era bonita, mas sua beleza não influencia em nada nesta história.
O fato é que naquele dia ela tinha perfeita conciência que se tratava de uma personagem minha. E me torcia a cara por não gostar de saber que era eu quem ditava os rumos daquela história. Não falava nada pra mim e evitava sentir pra que eu não escrevesse. Daniela tinha raiva de ser personagem e mais raiva de não estar no cinema. Pra ela, o que valia era a imagem e não o resto. A minha poesia não valia, era banal e sem fogo.
Mas a minha personagem queria mais que ser minha e seu espírito rebelde e indecente me dá vontade de escrever. Coloquei-a então, sentada num carrossel, vivendo uma história bonita de amor ao som de uma música de trilha sonora de comédia romântica. A vi sorrir e até esqueci que ela só existe por que eu quero. E resolvi que ela deveria saber que se chama Daniela por ser um nome forte e que incomoda.
Ela é morena de olhos mui pretos. E ela gosta de me irritar por esperar mais de mim. me bota num jogo doido pra ser mais que mais uma das mulheres que eu escrevi.
O problema é que as curvas de Daniela não se completam com meus joelhos e ela não tem as minhas cicatrizes. Daniela é um pedaço de uma ferida velha e uma personagem sem narrativa, por castigo meu a seu gênio indomável.

segunda-feira, julho 30, 2007

Eu acho que ganhei um prêmio

WUBA

Estava eu preguiçosa e bocejante no meu sábado cinzento de fim de férias e resolvi, como de praxe, visitar o orkut. Nada mais normal pra quem tem preguiça de se locomover. Eis que vejo uma fotozinha ruiva no meu scrapbook falando:
- olha o que vc ganhou!!!

http://worldub.blogspot.com/2007/07/wuba-winners.html

parabéns, psicaaaaaaa!!!!
tou super feliz por vc...
[e desculpa n ter avisado antes q ia te indicar, mas vc mereceu msm. muitooo! xD]

Tudo bem... Eu vi o link e pensei que podia ser vírus, mas como é que a praga do vírus ia saber que a minha prima me chama de psica? Aí eu vi lá o site em inglês e uma bandeirinha do Brasil do lado do meu nome. E minha não só tinha me indicado pra parada sem me avisar, como tinha agradecido o prêmio-que-eu-ainda-não-sei-
o-que-significa em meu nome. Aí depois ela disse que meu blog ganhou de melhor do Brasil e eu (com a imagem do Márcio Garcia na cabeça)fiquei pensando em quantos blogues participaram desse treco, quantas pessoas votaram e por que, diabos, quem votou em mim não comenta neste pobre blogue cor-de-rosa.
E aí meu ego inflou e eu fiquei feliz e agradecida.
E é o que eu tenho a dizer, obrigada por dizerem para esta criatura insana que o que ela escreve vale alguma coisa.
E obrigada, Bia. Muito obrigada.
No mais, o blog da Bia, a prima-coisa-ruiva, tá linkado ali do lado.
comam a poesia dela com gosto.
www.meninadeluz.blogspot.com

terça-feira, julho 17, 2007

Patrícia

Patrícia tinha postura reta e lábios artificialmente vermelhos. Tinha chegado antes de Carlos àquele encontro. É certo que devia haver algum medo nela, mas ela sentia-se fria dum jeito que só o calor do momento podia proporcionar. O vestido preto ficava bem com o cabelo preto e os sapatos de salto fino. As mãos tinham cheiro de maçã-verde e enquanto ele não vinha ela pensava que tipo de corante era aquele, já que maçãs verdes não tinham cheiro de maçã-verde nem gosto de bala de maçã-verde.
Carlos e Patrícia eram amigos de alguma data. Ele não era daqueles que tinha se aproximado dela exclusivamente pelo tamanho e o balanço de seus quadris. Mas o fato é que os dois eram mais próximos do que ela agüentava e menos do que ela queria.
Ele chegou. O café dela já estava frio e ele era enfadonhamente pontual. Ela chegara antes pela ansiedade que disfarçava enquanto ele perguntava se tinha demorado demais.
Era hora do show. Ele se sentou na frente dela, pediu um capuccino com pouco açúcar, penteou os cabelos louros com os dedos e respirou cansado, enquanto ela sorria e olhava para as próprias unhas.
- Sinto saudades do seu corpo. – Patrícia era direta e sentia não ter por que não prosseguir.
- É...
- Sinto saudades que chegam a me dar choques noturnos. Tenho sonhado. Sinto falta do seu corpo um tanto que tenho sonhado com o calor da sua pele. E você sabe que digo calor querendo dizer temperatura. Eu gosto da textura. Eu tenho vontade diária de falar todas aquelas besteiras que eu contive por pudor da última vez. Eu tenho vontade de botar a boca em todos os pedaços da sua pele. De te cobrir de saliva e de te morder feito uma cachorra filhote. Morder pra conhecer mesmo. Eu preciso dar pra você.
- Eu também sinto fal...
- Você gosta da minha pele que eu sei. E você está olhando para a minha boca e sentindo as mesmas vontades que eu. Mas eu sou a vilã dessa história e eu vou dizer não só por ser mulher.
- Eu não...
- Carlos, sossegue. O amor é isso, hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo. Roubei de Drummond e sempre quis falar isso a algum Carlos. O Carlos de hoje é você, que eu sou pérfida e volúvel. E você não faz mais que isso por que me conhece e sabe que sou pérfida e volúvel. Sabe que são vinte homens por vez e todos sem futuro algum. Sabe que eu tento ser mulher de um dia só e tenho marcas de todos os meus dias.
- Tem marcado muita gente, Patrícia?
- Não. As marcas que ficam são internas, as marcas que eu deixo são externas.
- Não é verdade.
- Sabes que sou inofensiva e mudo a pessoa do verbo quando quero. Sabe que não tenho concordância e que hoje vim aqui por que realmente quero que você me coma por tesão e sem amor.
- Você não se dá valor.
- Então diz que não está tentado.
- Eu não estou.
- Mentira. Você olha pra minha boca e quer comer esse vermelho feito morango. E digo morango por que você sabe como eu sou azeda. E você não agüenta minha acidez nem minha doçura. Mas meu corpo você quer. Quer as pernas e a boca. Só que não quer gozo de uma noite, ou não sabe que quer. O fato é que você me quer.
- Eu não quero.
- Tudo bem. Eu não acredito em você.
Patrícia manteve a mesma postura séria e casual durante todo o diálogo. Tudo que dizia tinha o mesmo tom. Ela se levantou e foi embora. Tinha a alma lavada e sem não.

domingo, julho 15, 2007

É preciso

ao meu melhor amigo


É preciso não tratar pessoas como objetos
É preciso respeitar espaços
É preciso que o sangue circule
É preciso bom gosto musical
É preciso travar a língua pra agüentar a vida social
É preciso tomar café
É preciso não perder a fé
É preciso agüentar o tranco
E não se apaixonar
E esquecer o que as coxas pedem e pra onde os olhos desviam
É preciso fingir não sentir o cheiro
É preciso agüentar o não.
É preciso dizer o não.
É preciso esquecer a razão
Por um momento de sentimentalismo besta
É preciso travar todos os palavrões e saber andar de salto
É preciso estudar e fazer as unhas
É preciso que sumam
É preciso sumir
É preciso virar pó
E agüentar o tranco de se apaixonar por tudo.

domingo, julho 08, 2007

Eu estava no meio de uma multidão. Era uma festa de igreja ou coisa do tipo. Mas eu me concentrava nos quadris de Maria. eu não sei o nome de Maria, mas Maria sou eu e eu dei meu nome a ela, que dançava linda e livre com sua saia verde longa e sua lusa preta curta, feito mulher mesmo. maria dançava com sua trança grossa que só deixava uma mecha solta. Ela ondulava quando se mexia. se mexia em meu nome, que eu já não podia. A Maria que narra o que não sabe ser ou não uma história tem dentro dela uma coisa forte e ardente, densa e pesada. Eu amo. Eu amo e disse à Carlos que o amo.
Acontece que amor é um estado de espírito, um deboche de uma força maior para dcom um pobre mortal. O amor é bonito e grande e nada simples, mas ao mesmo tempo preto e branco e doce. Faltam-me letras suficientes pra descrever qualquer coisa.
Sei que Maria como sou, não quero me assumir Salomé, que também sou. Aquele livro me doeu nas entranhas por que era eu. E eu tive nojo de mim ao lê-lo. Eu tive nojo do livro e de mim e do meu amor tão zonzo e doente que anda comigo e de quem eu tenho raiva por que não quero sentir. E aí Carlos me diz que eu não valorizo meus próprios sentimentos. Ele devia admitir que sentimentos não tem lugar na vida. Mas ele só assume que eu sou vazia e fatalista como realmente sou. Está cedo e eu não sou uma boa companhia. Queria rasgar o ar como Maria dançando. Queria saber se o nome dela é Maria como o meu. Eu queria comer a carne daquela Maria. Talvez Maria resolvesse o Carlos que é calo entalado na minha garganta. E a minha garganta dói.
Eu avisei que era melhor observada que tocada. Eu não deixei isso claro na primeira vez que bebemos juntos, bem antes de eu pensar em ter Carlos como mais que um amigo? Pois era verdade. Eu não sirvo para ser tocada nunca, por que meu corpo perde o rumo e o prumo. Meu corpo é volúvel e se vicia fácil em coisas demais. Ele gosta de temperaturas de mãos e de texturas de pêlos. Meu corpo é tão cheio quanto eu sou vazia. Ele treme, eu travo.
Talvez eu devesse ter escancarado meu eu-te-amo tímido e xôxo há mais tempo. Todavia, esse não era o meu tempo. E eu tenho que respeitar meu tempo e o tempo de Carlos como respeito a mecha solta do cabelo de Maria que dança de trança. Eu disse que iria pra casa e dormiria. E fui. Mas eu não podia ficar parada, nem manter os pés no chão.
E depois dos meus turbilhões de sentimentos e da uma lágrima que caiu de meu rosto quando eu me dei conta que aquilo que queimava e que eu não podia era realmente o que eu temia. Me vi Maria.
E parecia que eu já não precisava dizer nada, mas precisava dizer tudo. todas as coisas tinham sido ditas, mas tinham sido trocadas por um tudo novo.
Sentei-me e ele veio falar comigo, alguém que não era Carlos, mas era carinho, quase ternura.
Serei Maria pra ele. Serei ternura pra ele. Agora, preciso ser doce.

sábado, junho 30, 2007

Manutenção de medos e virtudes

Eu talvez seja uma manutenção constante dos meus próprios ciúmes.
É fato que eu mesma às vezes acho que o que eu digo e o que eu faço são estranhos e imutáveis, talvez mutáveis demais. Talvez seja imediatice mediata. Não sei ao certo o que é e o que não é.
Mas ele incomoda como ela e como as saudades todas. Talvez haja fuga e o ridículo seja apenas carta de amor.
E toda essa coisa é ridícula justamente por não ser nada ridícula, então eu rio.
É por mim que eu boicoto a face.
É por mim que eu tento esquecer os ciúmes e os medos.
No entanto, eu sou ciúme e medo constantes como se não pudesse não ser isso.
Era uma vez uma menininha de tranças e nariz vermelho. Ela chorava e queria dançar balé.
Fez-se constante e eterna a minha falta de postura.
Era uma vez alguém que gostava de rir.
Eu gosto de rir.
Os joelhos ralados dizem mais do que eu gostaria.
A manutenção constante dos ciúmes não enxerga nada bem.
Era uma vez um nó cego no meio das tranças.
era uma trança. uma transa.
Era um medo.
Era fatal.

E eu era chama.

domingo, junho 24, 2007

Noite

Parece que dizes
te amo, Aline.
Sem fotografias ou caras felizes.
me vejo apertada
um peso grande que eu nunca quis.
é desconcertante e eu não sei sair.
Quero folhetim, ou digo que quero.
Cansei da mocinha, mas a vilã dói.
Parece que pensas e corro, assopro.
Parece que grito, mas você não sai.
Não quero ouvir nada, sou fraca, sou chata.
Não tenho resposta, aguente, que eu não.
eu não quero isso, não sonho e nem tiro os pés do chão.
A noite passada não vai passar mais não.
Um número estranho, os fatos, as fotos.
Um luxo que é lixo.
Refocilhar na merda enche o saco.
Ele ensinou truques, você nem sabe do que eu sou capaz.
Se não me conhece, não pode querer mais.
Parece que tentas, e tento não tentar te fazer mal.
Parece que corro,
a vilã não se dá bem no final.

quarta-feira, junho 06, 2007

Fossa

Nem luxo, nem lixo
Filmes divertidos e conjuntos de clichês
pés na areia e se
um espaço
sem nome.

terça-feira, maio 29, 2007

As marcas

Ele saiu marcado mais uma vez. Comprou um cigarro na esquina. Um único cigarro era suficiente pra brindar a noite e as marcas. Gostava de cada uma delas. Gostava dum jeito quase que doentio. Ele sentia paixão naquelas mordidas, sentia o sangue correr melhor por aqueles arranhões. A dor posterior talvez fosse melhor que o prazer da hora. Aquele martírio todo talvez o tornasse puro, ou o mais perverso dos seres. E ele não tinha interesse algum em descobrir o que era ou por que era. Era hora de sentir a fumaça dançando nas mucosas, era hora de aspirar o resto de cheiro dela que ele ainda tinha grudado em si. Era hora de purificar a própria saliva. Era hora de ser invisível. Encostava-se no poste sem saber onde ela ia ou o que fazia. Encostava-se pra agüentar a dúvida que a arrogância dele tinha deixado passar. Era ele o único? As marcas eram só dele? Mais ninguém merecia aqueles dentes e ele não agüentaria ver as marcas dela em qualquer outro corpo. Mordidas eram a prova maior da paixão, mesmo que fosse coisa de uma noite, mesmo que fosse uma doença de momento. Os hematomas dele eram prova de que ela queria conhecer o gosto que ele tinha. Quais gostos ela conhecia? Quais rostos ela marcaria? Quais taras ela aceitaria?
Crianças mordem pra conhecer. Crianças mordem o que vêem. Ele queria pensar que ela não era criança mais. Se ela mordia era pra fixar o gosto, pra arrancar um pedaço. Se ela mordia era pra tê-lo nela. Pra que ele se entregasse. Se ela mordia era pra agüentar o que ele não podia.
O cigarro foi até o fim. As marcas ficariam ali. E ele buscaria marcas novas, sempre e sem porquê.

domingo, maio 20, 2007

Mariana XIV

E Mariana entrou numas de não saber mesmo o que fazer
Ela me disse que já não pode fazer nada.
E todo aquele medo pulsa forte dentro dela de uma vez só.
Mariana pulsa medo do medo de tudo dar certo.
Mariana pulsa nesse clímax de história pela metade.
-E o final?- O óbvio perguntava pra ela ao lado dela
Era hora de assumir o sim ou dizer não.
E a dor do outro dia tinha virado líquido.
Mariana era angústia e tensão.
Mariana era todo sentimento do mundo presa e solta na palma da mão.
Ela era o poema que dava gosto àquela narrativa.
E ele era a chave confusa de tudo.
Ela queria um telefonema, mas ele não ligaria pra cobrar nada dela.
E ela sabia que qualquer oi seria inútil até o dia de amanhã.
A história tomava proporções absurdas e lindas.
Mariana sabia quase nada e não me falava nem o que queria.
E eu ficava tentando ser o chão que Mariana tinha perdido por conta de palavras que o óbvio nem lembrava ter dito.
Eu queria ser base do que não me diz respeito.
E Mariana queria carregar o mundo nas costas, todo sentimento do mundo nas costas.
Drummond ela não lia mais.
E Bandeira já não podia dar resposta que não viesse de “Belo belo”
Vida noves fora zero
E não tenho tudo que quero
E na poética Mariana perdia o lirismo dos loucos
Ela queria o lirismo dos bêbados, o lirismo difícil e pungente dos bêbados.
Mas ela não quer saber mais de lirismo, nem de libertação
E nada tem, pra não ter tudo.

terça-feira, maio 15, 2007

Poema de mar

à Marcela Rangel


Eu tinha me esquecido que gosto tanto de mar.
É certo que levei todos os caldos que podia e os que não podia também.
Meu biquíni tentou sair do corpo e toda areia grudou em mim.
A minha escova não está utilizável, mas já vou lavar.
Além de tudo tenho sono, aquele sono gostoso pós-mar.
Ai! Eu gosto, gosto e gosto e gosto de mar.
É como se eu fosse areia e tivesse sal.
É como se eu fosse mar e me dissolvesse.
O mar é mais instantâneo que miojo.
Eu miójo no mar.
No mar eu fico gente que peixe não agüentá-lo-ia como estava.
Eu me peixefiquei.
Eu me tubarão.
Eu-baleia precisava de ar naquele caldo.
Eu-sereia precisava de mar pra ter respaldo.
Me misturo com mar que é paixão que eu sou.
E agora, restam pleonasmos e silepses.
Sou redundante feito onda, vou e volto.
Nunca a mesma, por fim, estóro.

quinta-feira, maio 10, 2007

Sobre luz

Hoje deu vontade de escrever qualquer coisa otimista.
Vontade de falar qualquer coisa que cante.
Talvez fosse o caso de sacar da bolsa toda e qualquer figura de linguagem pra tentar entender as teorias da comunicação.
As figuras talvez sejam ruídos e a semântica se reinventa quando você tenta se fazer literatice.
Eu gosto muito de neologismos. Me senti bem mais livre quando me disseram que eu podia inventar.
Há dias em que eu quero muito ser Ana C. ou Florbela Espanca.
Hoje eu me sinto bem aline que sou.
Hoje eu me substantivo e me adjetivo ao mesmo tempo.
É claro que tenho pensado e poetizado sobre verbos e eles jorram de mim à todo tempo. Os verbos escorrem dos meus poros e me enchem e esvaziam a cabeça. Eu respiro verbo e como verbo e fico verbo o dia todo.
Eu fico pensando a morfologia por que a sintaxe é história sem fim. Eu sujeito fico caminhando entre vários predicados e volta e meia viro objeto numa voz reflexiva que não há tempo de seguir.
Hoje quero esmiuçar as palavras. Quero palavras pequenas e curtas e por elas mesmas.
Advérbios.
Numerais.
Bola.
Sola.
Mola.
Cola.
Macaco.
Coala.
Coelho.
Casa.
Estudo.
Charme.
Couve.
Sintaxe.
Quero transformar substantivos em verbos e sair por aí passarinhando.

Vamos estar aguardando.
Vamos estar correndo.
Vamos estar cantando.

Nem toda concretude tem que ser Gullar.


Fica um ponto.
Final.

sexta-feira, maio 04, 2007

Mariana XIII

Mariana se sente como um bichinho
e na verdade, ela não sabe bem o que pensar.
E lembra de onde vinha todo aquele medo que ela disse já ter perdido
e que perdeu.
Talvez se não tivesse perdido, e se não fosse criança vulgar, ela não ficasse como está.
Mariana era mais Mariana que nunca.
E vestia sua carapuça à Nabokov.
Era hora de xingar, não era?
Era hora de aceitar que o tempo passava e toda aquela coisa da teoria da relatividade
Rápido demais, ela diria.
Estava sendo mastigada pelo leão.
Estava no escuro, então.
Perdida numa óbvia e transparente escuridão.
Havia algum reflexo de luz.
O ar condicionado condicionava toda palavra.
Mariana sentia um frio que não queria sentir.
Ela queria o conforto de um abraço.
Ela queria fugir ou encarar tudo de frente.
Naquela transparente escuridão ela não sabia onde tinha se perdido.
Era Mariana quem estava ali.
Era Mariana quem tinha dito sim.
Que voltasse ao não, então, e perdesse o ciúme vão.
Medo de escuro no escuro
ênfase horizontal.
Mariana tinha vontade de colo.
E tinha saudades da lua, e de falta de dor.

terça-feira, maio 01, 2007

Diário de viagem

A verdade é que a mudez me incomoda. A mudez dela faz com que eu contenha a minha mudez. É como se eu tivesse que esganar aquele silêncio que é culpa falando qualquer coisa desnecessária e desimportante. E nessas eu me escondo e me exponho ao mesmo tempo. Queria saber quando eu vou ter tempo de me esconder de novo e de estar inerte ao mundo.
***
Acho que se eu vim pra cá foi só pra me esconder. Pra fugir mesmo de todas essas coisas e de todas as pessoas que me apavoram.
Acho que não gosto muito de sentimentos. Acho que não gosto por que gosto demais e eles doem. A paixão dói. O tesão dói. A saudade dói. A felicidade dói. E a ternura dói um tanto que eu não agüento. E dói a culpa também. Dói a raiva.
***
Eu tive que por pra fora. Tive que gritar quando vi a cara de felicidade dela enquanto eu chorava no auge do meu turbilhão de sentimentos. Eu não me reconhecia ali. Eu não sabia bem qual era a medida do cansaço.
***
Passar o limite não é pra qualquer um. Não vou ler Nietzsche tão cedo.
***
Eu não gosto dessas fontes que mudam sem que a gente peça. Eu não gosto nem desse programa de computador que eu tô usando pra falar qualquer abobrinha que aparecer.
***
Acho que eu não devia me esconder pra me remoer. Acho que se moer dói. Por outro lado, meu corpo responde bem a essa remoência. A tensão diminui nas costas, mesmo que o sono não venha. Eu preciso mesmo me esvair em versos. Preciso mesmo escrever todas as coisas sem personagens. As lágrimas todas ajudam tanto a curar a dor. A dor ajuda tanto a curar as lágrimas. A dor ajuda tanto quando a gente quer ser forte.
***
Eu juro que agüento tudo, menos ternura. Eu agüento qualquer tufão.
Promete que se eu disser que eu tô no limite você não vai passar? Eu fico muito ruim quando passo do limite. Eu choro, fico violenta, eu grito, fico irracional. Eu fora do limite pareço um bicho. Eu fora do limite pareço comigo.
Faz cinco anos que eu passei do limite pela última vez. Coincidência isso voltar agora. Coincidência isso ser logo agora.
***
Eu disse que não acreditava em destino, mas ando tendo medo, sabe?
***
No lugar em que hoje fica aquele tanque antes tinha uma roseira (e eu sei que o verbo ter não pode ser usado no sentido de existir, mas foda-se). E eu fico olhando pra todas aquelas flores do lado do tanque, mas ainda sinto falta da roseira. A goiabeira ainda está lá, como o pé de acerola e o pé de pitanga, e todos aqueles pés de fruta gostosa, e aquela horta. Tudo está ali, menos o cacto e a roseira. Eu tinha escrito meu nome naquele cacto, eu tinha botado meu nome naquela roseira. Eu gostava de tirar leitinho do cacto, eu sinto saudade dos botões de rosa.
Aquele tanque é tão vazio.
***
Os biscoitos não têm o mesmo gosto em outro lugar, eu juro que aqui eles são bem mais gostosos. Seria tão bom se eu pudesse chamar os biscoitos gostosos de casa.
***
Meu lugar é aí, estando sozinha ou em casa, meu lugar é em casa. Minha casa é aquele barulho todo e as brigas todas. Minha casa é essa falta de sono e esse stress e essa falta de mimo. Minha casa é esse sorriso bonito que eu vejo toda manhã. Minha casa são aquelas bochechas e aquela barriga e aqueles olhos provocadores. Minha casa é essa gente que me põe pra cima mesmo quando eu começo a pensar que não agüento. Eles sabem que eu agüento e eu também. Seria tão mais fácil simplesmente não agüentar.
***
Sinto muitas saudades de casa, mesmo estando fora por alguns minutos.
***
Tentei ligar, mas eles não atenderam. Eu já decorei a mensagem da secretária eletrônica que não tem o meu nome, mas é minha também. Eles tinham que saber que eu estou viva.
***
O eme é uma letra que pode ter três ou duas pernas.
***
Eu parei Policarpo Quaresma no começo, mas eu vou retomar. Não vai ser como foi com Crime e Castigo.
***
Eu tinha frio e ele me emprestou o casaco que ela deu pra ele. E a gente foi junto procurar um cara que ninguém conhecia. Eu me perdi no caminho e ela me disse que ele anda estando descontrolado. Eu não entendo bem o que isso quer dizer, ele me parecia simplesmente um cara gentil acima do frio.
***
A chuva era fina e eu agüentava bem. Frio não é ternura.
***
Aquela coisa pequena veio me cutucar e meter o bedelho na minha escrita. Aquela coisa pequena não sabe, mas tem toda moral do mundo pra mexer na minha escrita. Descobri isso agora. Ele nem sabe que pode tanto quanto pode, ele nem sabe que me desperta tanto carinho e tanta ternura. Ele tem sete anos e eu tenho vontade de mordê-lo e que tudo dê certo.
***
No fim eu sou só mais uma pessoa racional demais.
***
Isso tudo é reflexo dessa confusão de pós-modernidade que a modernidade criou dentro dela mesma. E eu reconheço o passado no presente e o presente no passado e por mais estranho que isso pareça: aquele texto de Habermas começa a fazer algum sentido quando lido pela quinta vez.
Exagero sempre.
***
Eu não quero pensar antes de escrever, quero escrita pura pra não parecer escrita falsa. Na máquina de escrever talvez eu aparecesse de verdade, talvez eu não errasse ou não consertasse.
***
Eles falam comigo e eu ouço pela metade, eu sempre ouço pela metade quando não estou inteira.
***
Ela quer ir a uma festa que eu já disse que não vou.
Habermas tem que descer e tem que ser hoje.
***
Eu não queria te dizer, mas aquela dor de cabeça finalmente passou. E pra mim é você o retrato da ternura, mesmo quando avesso a ela.

quinta-feira, abril 26, 2007

Dica

Uma boa dica para o feriado(ou para qualquer dia) é ir ao teatro. Está em cartaz, no Teatro Municipal de Vila Velha, às 20 horas desse domingo, o espetáculo “Sexo Drogas e Rock'n Roll”. A peça tem um texto delicioso e personagens encantadoras. É uma ótima pedida pra quem gosta de um humor leve e contagiante.
Trata-se de um musical ambientado nos anos 50, sendo assim, é claro que não falta rock e coreografias contagiantes. Há versões de músicas do filme Grease e clássicos da Jovem Guarda, como "Splish Splash".
Além da ótima (e nostálgica) trilha sonora, outro bom motivo pra se locomover até o teatro é o conjunto de clichês gostosos que o texto traz. Chega a ser difícil não se identificar com as situações e personagens. A história de doze adolescentes terminando o colegial e vivendo toda aquela ansiedade de véspera de baile, entrega de notas, amores mal resolvidos e todas aquelas coisas de teen movie diverte despretensiosamente.

segunda-feira, abril 23, 2007

Jéssica

Jéssica sempre estaria olhando-o enquanto ele partia. Ele era do tipo que não olhava pra trás e por essas ela nunca sabia onde enfiar a cara. No entanto, Jéssica gostava daquela coisa de olhar sozinha e daquela coisa de olhar pra trás. Ela era daquelas garotas que remoíam sempre cada momento. Cada momento era vinte ao mesmo tempo e se repetia depois. Independente do que qualquer um fizesse, sempre duraria mais pra ela. Talvez ela não vivesse o suficiente, talvez sobrasse um pedaço grande de dia que ela gastava pra remoer a parte útil dele.
Jéssica não queria nada diferente daquilo. Por mais que todas as suas histórias fossem banais e os seus acontecimentos remoentes fossem sempre tolos e sem importância pra qualquer pessoa que não fosse ela, ela gostava daquilo tudo. Talvez fosse a paixão pela literatura e a incapacidade de produzir literatura própria. Produzia filmes próprios em mente, com cortes em pontos estratégicos e a trilha sonora que ela mesmo escolhia, de acordo com o humor. E cada cena tinha várias leituras e vários encaixes. A edição mudava dia a dia.
Mas se ele partia sem olhar pra trás, é por que ainda não tinha chegado o final daquele filme e ela ainda não podia ter certeza de onde enfiaria a própria cara.

sexta-feira, abril 20, 2007

Mariana XII

Mariana passou a querer apenas que o óbvio não mudasse
Que ele não deixasse de ser o óbvio.
Ela, no entanto, já não conseguia ser a mesma.
Tinha vontade de boca de leão.
Tinha vontade de não fugir daquilo.
Tinha vontade de ver e de sentir, e gostava de cada pedaço de tudo.
Mariana gostava da expectativa e do ciúme e de como aquela coisa toda não deixava nunca de ser óbvia. Era tudo lógico, era tudo bem bonito e o bom humor dela era peculiar.
Ocorre que Mariana não podia mentir à respeito de seus ciúmes, também óbvios.
Tudo bem, ela agüentava que enxergassem o óbvio como ela.
Mas ela não agüentaria ver alguém o tocando como ela não tinha coragem de tocar.
Mariana explodia por partes e reclamava pelos cantos.
Mariana reclamava à torto e a direito.
Ela lembrava da vulgaridade peculiar que Nabokov dava às suas ninfetas.
Mas ela achava que ninguém mais tinha que seguir Nabokov
A vulgaridade infantil que ficasse apenas com Mariana.
As outras não podiam brincar com o tempo.
As outras não deviam querer brincar com o óbvio do jeito que só Mariana podia.
Os dois enfim tinham dito sim.
Crises de charme, ciúme, não, todas já não existiam.
Mariana tinha passado de estágio.
E o medo que ficasse perdido no tempo
O ciúme é o sentimento da vez
E dele ela não corre, que gosta de brincar com fogo.

sábado, abril 07, 2007

A culpa é do sol, entende?
A culpa é da lua e dessa coisa toda de bucolismo.
Eu só sei que tenho uma vontade de escrever sem freios.
e de escrever sem vírgulas!
Gramática pro saco, enfim.
A metalinguagem é um jeito de escapar das minhas verdades.
eu não quero falar de mim.
eu quero falar da escrita que sou eu e da confusão que é a minha escrita.
Hipérbatos!
Barroco!
Barrocobucolismoarcademeu
A alça da blusa teima em cair.
a alça da blusa teima em cair e a barra do short teima em subir.
eu nunca entendi essa história de pessoas e suas relações com roupas.
eu sei que enjoei desta e que o cheiro desta é mais que meu.
E no fim a escrita e as roupas e o cabelo bagunçado e todo esse bucolismo e Gregório de Matos, é uma batida de mim no caldeirão.
E eu não sei se isso foi uma silepse.
Nem quero saber.

Não quero saber, sabia?

Não quero saber de nada.

segunda-feira, abril 02, 2007

Mariana XI

Mariana é bem engraçada.
Bees do it, birds do it*,
But Mariana does not.
Mariana e o Óbvio competiram pra ver quem dizia um não mais sonoro.
E no fim, nenhum ganhou,
Que Mariana não daria o braço a torcer.
E não deu.
Mariana nem liga pra Cole Porter e as suas pulgas amestradas e os mosquitos que fazem se divertindo*.
Atualmente, she doesn’t want to fall in love*.
É de Mariana que estamos falando,
E ela ainda morre de medo de estar na boca daquele leão medonho.
Mariana gosta é desse jogo.
E no meio de um bando de músicas de velho, Mariana ouve Night and day, mas ela não tem um one**.
Ela não é a mulher perfeita não, João***.
Mariana é confusa demais pra ser perfeita.
E os nãos sonoros dela, sempre podem virar sins.
Tudo depende da pergunta e do como.
Pra Mariana, não ou sim depende do Lead.
Mariana Lolita atemporal, e sua vontade de perder vícios e emagrecer.
Mariana que não gosta de dizer tchau, como não gosta de ouvir não.
E eu que não entendo quase nada de Mariana,
Tenho que me lembrar que Mariana não sou eu.


* Referências à música de Cole Porter: Let’s do it, let’s fall in love.
** Referência a “Night and day”, de Cole Porter (“Night and day, you are the one…”).
*** João é um cara que disse que Mariana é a mulher perfeita. E eu sou a pessoa escrota que desmente.

**** Notas de rodapé feitas especialmente para incomodar Flora.

sábado, março 31, 2007

Óbvio I

O óbvio ouvia o rodar do ventilador e o soar do mundo ao seu redor. Encarava a tela de um computador da mesma forma que uma garota apaioxanada enxega o rosto de um amante: havia o resquicio de consciência que dizia que o ventilador (ou o amante) continuaria a rodar (ou existir), mas que o mundo talvez não o fizesse. Ele, o óbcvio, tinha medo de continuar, invariavelmente.
Sua boca fedia a cigarro barato e seu estômago reclamava da cerveja roubada e, mesmo assim, nada fazia sentido. Porque o óbvio continuava bêbado e sóbrio, talvez, fosse apenas aquilo que sempre fora: um homem assustado com tudo aquilo que se tornara e ainda mais assustado com aquilo que poderia ser.

terça-feira, março 27, 2007

Quase outono

Ai! Essa aflição de Março!
Que não dure até abril.
Que eu me abra!

quinta-feira, março 15, 2007

Estou cansada.
Poderia fazer-me de pessoa estressada e mau-humorada com tpm à flor da pele. Não quero.
Quero escrever pra me sentir uma borboleta.
Quero ser uma borboleta voando de flor em flor. Estou cansada dessa coisa de pular de galho em galho. O vôo parece mais seguro e bonito.
Quero asas.
Alguém estava falando sobre asas, mais cedo. Algo sobre não poder voar. Eu não lembro bem. certas coisas, é melhor esquecer. Não dá câncer. Sonhar engorda, eu sei, mas continuo gostando e sonhando.
E plagiando, também. Por que toda frase um dia já foi escrita. E as palavras já foram usadas. Quero inventar palavras novas. Mas não quero ter lingua só minha.
Não desgosto das linguas. Não desgosto da poesia e das rimas e do sexo que a linguagem faz com seus interlocutores locutores entremeios e meandros e mentes. Eu gosto da lingua e de linhas de pensamento.
E eu quero todas as metáforas sem vírgulas.
Gosto tanto de vírgulas.
Gosto de pontos finais e exclamações. Estou cansada de interrogações. Gosto de todos os conectivos.
E quero não mais, mas mas. Que não quero soma, quero adversidade.
Quero que todo mundo entenda.
Estou cansada.
E grito aos quatro ventos com essa cara de silêncio explosivo que as minhas olheiras sustentam.




Se peco pela ortografia, perdão.
Não vou consertar, de qualquer forma.

quinta-feira, março 08, 2007

Eu tenho um blog.

Esse texto é exclusivo de uma pessoa. Sim, por que eu posso me dar ao luxo de escrever um texto que vou publicar num blog, mas que é pra uma pessoa só. E é só por que a criatura disse que blogueiros são mentirosos e carentes.
E é claro que eu sou carente. Meu bem, expor literatices que não interessam a ninguém deve ser carência. E as mentiras, todas elas eu invento e transformo em personagens ou poesia. Cada mentira é um verso novo. E assim, confesso-me farsa - o que é irônico, por que a farsa é o dono desse texto e eu disse isso numa conversa de MSN.
Por que eu digo besteiras quilométricas a cada instante. E eu acho que posso me dar ao luxo de fazê-lo. Por que se não fizesse de onde viria a culpa que sustenta o dia a dia? Eu acho a felicidade plena uma coisa inatingível e chata. E paz então, nem se fala. Se a gente não tiver uma ponta de culpa não vive. Mesmo que não se arrependa de nada.
Por que, eu não me arrependo de absolutamente nada. Nem das coisas absurdas que eu digo, nem dos meus pés tortos e dos meus chinelos gastos. E não me arrependo de ter cortado o cabelo quase todo. E de ostentar uma espécie de black power - por que se eu não exagerar este texto perde a graça.
E saibam, sou romântica incorrigível e operante. Sou completamente insana e tenho manias que eu mesma não entendo. E hoje eu saí mais cedo do trabalho pra ver “a feia mais bela”. Acontece que no meio do caminho eu decidi comer um big mac e não cheguei a tempo em casa.
E esse texto é seu, por que eu mudo de opinião, mas não mudei quanto a isso. Eu devia temperar isso com um pouco de acidez, mas não ficaria doce como você. E a minha acidez é ácida demais pra um texto seu. Eu não gosto dela.
E você é a pessoa mais parecida com uma torta de limão que eu já conheci.
Mas eu provavelmente devo estar mentindo, exagerando ou soltando mais um desses reflexos de carência.
Por que eu tenho um blog e isso significa carência e mentiras.
E mais uma: eu odeio a pessoa pra quem escrevi este texto estranho.


E reparem como houve mudanças de interlocutor ao longo desta lambança (ai minha santa concordância!).

segunda-feira, março 05, 2007

Jaqueline

Depois de muitos e muitos exames ao longo dos muitos anos de espera, Jaqueline finalmente descobriu um cisto no intestino. Depois de tanto tempo tentando, ela finalmente conseguiu um princípio de câncer. A família hipocondríaca dela foi ao delírio. Em pouco tempo, a família próxima contactou todos os parentes distantes e vizinhos. E todos diziam que rezariam por ela, e a visitavam olhando-a como se ela fosse um cachorro premiado.
E Jaqueline vestia bem a carapuça da mulher com câncer. Tinha orgasmos cósmicos por conta daquilo, mas mantinha feições amenas de mulher lúcida.
A decepção veio quando o médico disse que podia tirar aquele cisto sem maiores danos, e que, se ele se desenvolvesse, seria no máximo um tumor benigno.
Em um mês Jaqueline estava saudável e despedaçada. A mãe dela continuava procurando doenças mil e incuráveis. Jaqueline, pálida daquele jeito, não podia ser saudável... Tão magra... Alguma coisa errada ela tinha.
E Jaqueline sofreu um acidente de carro, quebrou a bacia, fez a glória da família e nunca mais pode andar de salto alto.
_Uma pena! _ A mãe de Jaqueline dizia._ A garota sempre foi tão saudável...
E todos aqueles parentes e vizinhos_ e até ex-colegas de faculdade_ visitavam a pobre acidentada que tinha orgasmos cósmicos e silenciosos.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Segredo

Ele não pode saber que sou poeta.
Se sabe, eu não viro musa.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Ela

Os cabelos já não eram anelados por conta da escova definitiva. E as paixões já não eram as mesmas por conta da racionalização constante de qualquer sentimento. Decompunha paixões em suspiros e desejos idiotas. E decompunha ódio em êxtase e idiotice.
Pra ela qualquer sentimento e qualquer arrepio eram absurdamente idiotas e desnecessários. A vida devia ser levada a pulso firme e olhos duros. As relações interpessoais eram mera necessidade capitalista. E ela gostava do mundo virtual por conta dos contatos distantes e frios. Ela não gostava mais de gente.
Se mantinha linda com postura perfeita pra ser inacessível. E chorava todas as noites pra agüentar o tranco de ser uma máscara.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Mariana X

E antes que o mundo real voltasse a existir
Mariana precisou me contar dos dias que passou no seu refúgio lá na Bahia.
Ela disse que dançou até não aguentar de dor nos ossos.
E disse que aquele cara a quem ela olhava de longe a tirou do sério no jogo do sério.
Disse que os beijos todos eram esfomeados e ininterruptos.
Disse que ainda sentia falta.
Disse que não queria o mundo real.
Mariana sorria e não se sentia confusa.
De galho em galho, aquele era especial e efêmero.
Um galho de carnaval.
Lolita da cidade foi pr'aqueles cantos.
Mariana não fez nada, mas na despedida foi uma hora sem parar.
e ela não queria se despedir.
Mariana agora sente falta e sorri.
Problema vai ser voltar pro mundo real.





*Nota- Exitem dois textos não publicados que falam sobre Mariana. A situação óbvia se esclarece, mas não é hora de publicar.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Eu disse que sou consumista.
Eu disse que sou foliã.
Eu disse que sou fria.
Eu disse que não sinto nada.
E disse que tá tudo bem.
Vai empedrar,
vai passar.
Ou não.
A palavra é uma roupa que a gente veste.
Por hoje ando nua.
Os olhos pretos dizem tudo e nada.
E me solto do chão que me falta sob os pés.
Eu disse que sou consumista.
tenho logo que comprar sapatos, ouchão.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Mariana IX

Eu realmente preferia não ter que falar dela hoje.
Eu tinha prometido a mim que a deixaria de lado.
Mas a Mariana adora insistir.
Já disse que não sou boa em falar de raiva, mas ela está com raiva e sou eu quem tenho que falar da raiva dela.
A Mariana hoje viu o cara de quem ela não gosta.
Ele pediu uma caneta emprestada e depois a fez tremer na hora de devolver.
E a caneta, agora, está com o óbvio.
Obviamente Mariana não sabia o que aconteceria depois, ao emprestar a porcaria da caneta.
Ele bem disse que não era assim, tão óbvio.
Ela devia ter levado mais à sério e mantido um pé atrás.
A Mariana anda se sentindo uma idiota,
mas o problema é dela, não meu.
Ela pode ser fria,
mas é problema dela.
Ela pode gritar,
mas é problema dela.
Por mim, que ela sambe.
Por mim, ela devia é ir ver o mar.
Mariana é bonita, quem não vê?
Se pegasse um bronze talvez deixase de ser idiota e esquecesse de todas essas coisas óbvias.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Sobre escrever, ou algo do tipo.

Todo mundo sabe que a minha escrita é meu alicerce. Tá na minha cara que a minha vida não seria a metade do que é e eu não seria a metade do que sou sem a escrita. Na verdade, Eu não seria sem escrita. Sei que são três e quarenta e cinco da madrugada e a única justificativa mais ou menos plausível que eu encontrei pra ter acordado foi a escrita.
A escrita é minha porta de entrada e minha porta de saída. E eu não tenho porque esconder escrito algum. Não tenho que esconder nada de ninguém. As personagens já são domínio público. Eu devo um final à todas. Mesmo querendo que elas não tenham fim. E elas continuam jorrando de mim feito pus e pocando feito espinhas. Gosto de todas, é bem verdade, mesmo daquelas que eu crio só pra matar- e assim, sobreviver ao meu próprio mau humor.
Está tarde quase cedo e eu queria ouvir uma história. Contar uma história pra mim mesma não seria o ideal.
Eu sempre fui a Eva Luna e a Sherazade- mesmo nunca tendo lido “As mil e uma noites”. Eu queria uma história pura e natural, feito suor. E provavelmente minhas metáforas não são assim, tão agradáveis.
O que quero dizer é que a escrita faz parte do corpo. A escrita faz parte do corpo feito pus e cravo e suor. A escrita é vômito e secreção, sim. Se fica dentro tempo demais ela faz mal. A escrita tem que ser posta pra fora, se não ela fede, inflama, empedra.
São quase quatro horas da manhã e eu tenho que trabalhar logo que o sol nascer. Estamos em horário de verão e ele custa. O sol não é metáfora minha.
Eu preciso muito de uma rima, já que não posso mais dormir.

sábado, fevereiro 10, 2007

Mariana VIII

Mariana hoje, se lembrou do Bicho Papão.
O Bicho Papão é um babaca com quem Mariana esteve, mas que nunca esteve de verdade com ela.
Por esses dias ela também esbarrou com o álibi, aquele que não a deixava mentir sobre nada, mas que era álibi por que provava que por um tempo ela teve paixão fixa.
O Bicho Papão tem barba grande e anda assustando Mariana.
Ela não quer esbarrar com ele, flertar com ele, beijá-lo ou simplesmente perceber que ele ainda existe.
Mariana rompeu com o Bicho Papão há tempos atrás.
Ela disse a ele que ele a fazia sentir nojo e ter vontade de vomitar.
Não mentiu.
O Bicho Papão não é uma boa.
Não vale à pena.
Não cabe nem como rima de um poema.
Mas eu posso falar, que ele é problema só da Mariana.
E ela não quer esse problema.
Mariana anda entretida com pontadas óbvias de nada que parece alguma coisa.
Mariana riu-se do álibi.
Ela já teve paixão, álibi e Bicho Papão.
E do óbvio ela foge, faz parte do show.
O óbvio só traz confusão.
Saudades até do Bicho Papão.
Mariana foge é da contramão.
o óbvio não, tem que ser mão, e eu apóio.
Não adianta nada, Mariana não me ouve.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Tem horas que a gente pensa
que pode ser Nelson Rodrigues
mas não aguenta o rojão.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Azia

Eu não sei.
Sinto essa azia de vontade de vomitar alguma coisa em letras que eu não sei de onde vem. Eu me amontôo é que o verso se perde e eu também me perco. São muitos os assuntos que eu quero tratar nesse único texto.
**
A menina do elevador tinha medo da chuva. Ela e sua bolsa rosa tinham que subir e buscar o guarda-chuva. Se não fizesse isso simplesmente não ia sair. A mãe que esperasse tomando na própria testa os pingos grossos.
**
Comprei mais um livro de poemas. O segundo da semana. Eu não sei ao certo por que essa compulsão. Eu não sou intelectual. Assisto novelas e gosto de conversar com pessoas aparentemente burras. Eu bebo.
**
Hoje de manhã eu fui abrir a porta de vidro e ela caiu. Segunda vez que isso acontece. Eu devo ter o corpo fechado. Aos dez anos a porta do box quebrou em cima de mim. Hoje foi a porta de vidro. Não me cortei. Nem um arranhão. Varri o chão e ficou por isso mesmo.
Acho que não vou morrer de vidro em pele.
**
As minhas personagens todas eu levo pra cama. Agora mesmo Mariana dança sem cara do meu lado. Eu não sei se as sou, se elas me são ou se eu as vejo. Preciso falar daquela nordestina se não sufoco.
**
Eu queria um poema de sete faces pra ser importante, que gauche eu já sou. Ser esquerda não é assim tão ruim. Ando de mãos dadas com a poesia toda. Irene preta no céu nem liga pra mim. Acho que não dou Bandeira. Talvez Ana C.
O problema é minha tpm, não dá frutos tão interessantes quanto a de todas aquelas poetas importantes.
Eu queria ser doce feito Florbela.
Eu tenho cheiro de flor, comprei na loja.
**
Iracema é maravilhosa, cuida da minha casa como se fosse dela. A casa é mais dela do que minha. Talvez esse meu lugar não seja tão meu quanto é dela. Acho que Iracema ama esse chão. Iracema não entende de bactérias. Eu também não. Eu fervo a bucha, ela guarda todas. E eu jogo fora por que tenho nojo. A bucha custa um real.
**
Agora eu trabalho. Antes eu era só a filhinha do papai. Acho que não faz meu estilo ser filhinha de papai.
**
Passar maquiagem é mais complicado do que parece, a simetria dos olhos é importantíssima ao charme.
**
Ele me perguntou o porquê dos olhos escuros. Eu respondi que era pra estar bonita e ele pensou que eu estava triste. Ser bela e triste parece poético. Eu não sou bela. Quero Florbela.
**
Vou ter mais um irmão, é o sétimo agora. Os outros 6 são todos lindos e simpáticos. Eu adoro todos os meus irmãos. A gente briga, quase se mata. Já dei na cara da minha irmã algumas vezes. Ela me disse que a culpa de tudo dar errado é toda minha. Eu sei que a culpa não é dela. Não posso ser assim, tão cruel.
Meu irmão mais novo aprendeu a falar meu nome.
**
Eu não ando procurando muito sentido nas coisas. Me disseram que eu reclamo e não busco soluções.
Solução me lembra química e eu sempre disse que não gosto de biomédicas.
Estequiometria parece divertido, é mais matemática que o resto. A tabela me dá a massa.
**
Ele me olha como quem ensaia os passos. Ele ainda não sabe andar sem mão de mãe.
Ele sorri e é lindo.
**
Me ligou bêbado.
Me senti um lixo.
**
Não quero ser resto. Isso me parece sonho. Mais um daqueles textos iguais. Eu devo ter alguma espécie de molde.
**
A Cinderela tinha um pé grande e a fada madrinha arrumou um sapato que disfarçava. O problema é que todas as garotas do reino podiam por o pé ali. Cinderela era um monstro rústico. Tão agressiva e piranha que levou aquele príncipe.
**
Eu sou burra feito uma porta.
**
Não quero ter filhos, não sei.
**
Meu pai está demorando no banho. Minha mãe espera pra conversar com ele agora. A minha azia poética não está passando. Acho que de mim não sai mais poesia. Ou sai. Não sei. Gosto da repetição dos fonemas todos. Podia pedir que me dessem versos prontos de vozes veladas veludosas vozes, mas não sei fazer igual.
**
A azia não vai passar e eu não vou tomar bicarbonato. Ana C. do meu lado diz que é Jazz do coração.
Tenho que parar de ler texto de mulherzinha. Elas me tocam muito. Eu sou todas elas. Tenho medo de escrever como todo mundo. Tenho um medo danado de ser igual.
Parir poemas não é como parir crianças.
Tenho medo dos poemas do carnaval, eles nascem antes de novembro.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Mariana VII

É que de uma hora para a outra o charme deixou de ser importante. Tinha coisas que Mariana guardava apenas para ela.
Por mais que tudo fosse óbvio.
O óbvio insistia que ela falasse. Ele pedia que ela dissesse algo, que não fosse assim tão Mariana e explodisse.
E ela não queria boca-de-leão.
O que parecia óbvio não era.
Era ela quem não sabia ler.
Mariana não gostava de saber que não sabia ler.
Nem flirt!
Nem flirt!
De Nelson Rodrigues à Shakespeare, Mariana sabia que havia mais coisas entre o céu e a terra que podia sonhar a filosofia dela.
Atemporal não significa sabe-tudo.
E Mariana queria, por um instante, ter paz.
Suas narrativas e poemas de vida sentimental tinham que estacar.
E ela seria Mariana sem rima, por alguns instantes
Mariana não morreria, não.
Mariana é imortal e controla o tempo.
Lolita sem idade!
Mariana não quer ir embora daqui.
Mariana sentia-se perdida e isso não era ruim.
Eu não tinha o que falar, Nelson Rodrigues, Presença de Anita, Nabokov...
Eu sou péssima conselheira e Mariana entra numas de avestruz.
Mariana-vazia não se sente triste.
Só vazia.
Sem tempo.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Manhã de Verão

E amanheceu sem céu azul. O cinza claro, quase branco, dava um toque de outono àquele verão. E eu me sentia perdida no meio do mundo. Era como se o mundo girasse e tudo passasse e eu estivesse à parte. E eu não mexia em nada. Não mexia com ninguém. A minha cadeira balançava pouco e eu não sambava, que eu nunca soube dançar.
Eu parei.
Olhei pros lados e tudo me parecia cinza e terra. Era como se o meu quarto fosse substituído por uma daquelas árvores alaranjadas de filmes. Os tons eram todos doces e fechados e eu tinha cara de filme antigo. Tinha cara de drama ou romance. E mesmo que eu estivesse num mundo à parte e já num tronco ao invés de cadeira, eu continuava sozinha.
E eles apareceram pra mim, todos eles. Os pequenos e os grandes e as pequenas e as grandes. Eram todos médios, na verdade. E eu tinha uma pena na mão. E eu tinha papel e apoio. E eu escrevia a cena que eles dançavam pra mim. E tudo tinha uma música instrumental que as folhas e o vento - e violinos invisíveis – tocavam pra enfeitar. E eu não queria que eles me vissem. Na minha frente, eu os norteava e eles não interagiam comigo.
Estavam todos ali, todos desde a minha primeira história que eu nem sei quando surgiu. Todas as meninas, as velhas, os fantasmas, as fadas, os cafajestes e os bons-moços. E eu tinha uma bela gama de mocinhas românticas. E todas tinham traços meus. E eu tentava mudar, o cabelo não era meu, e a voz não era minha. E no fim, as mocinhas eram todas espelhos por que meus joelhos eram os delas. Elas tinham as minhas marcas. Elas sorriam com os meus dentes. E umas sorriam pra que eu não chorasse. E elas se aproximavam de mim. Elas olhavam pra mim e eu queria sumir do meu mundo à parte. Os outros dançavam sozinhos já. Eu já os tinha escrito e eles tinham vida própria. Mas elas – inúmeras – não se incomodavam em me ver acuada. E não falavam comigo. Eu não as podia guiar. Aqueles braços eram todos meus. Uma delas sentou e escreveu um poema. E eu sabia que aquele poema também era meu. Eu não podia sequer levantar. Quis a minha cadeira e o fim da ilusão. Elas sorriam. Eu tentava jogar nos meus papéis palavras livres. E quando alguma se soltava, surgiam outras. E todas tinham o meu brilho nos olhos. E todas eram diferentes e iguais. E umas voltavam depois. Umas tinham várias caras.
Eu, entorpecida delas, não agüentava mais nada. Rasguei o papel e elas, sem cerimônia, entraram em mim pra que eu não saísse mais da ilusão.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Pensar deve doer.
As pessoas ficam com as caras sérias.
Elas perdem o foco da visão e respiram pouco.
Você pergunta o que é
e elas dizem estar pensando.
Não quero conjugar esse verbo.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Mariana VI

Mariana é uma pessoa das mais estranhas que já conheci.
A última dela é uma dessas últimas confusas e bestas que nos levam do céu ao inferno em um segundo.
Mariana é feita de céus e infernos.
E Mariana tem um instinto primata que a faz pular de galho em galho.
A última dela é coisa do óbvio.
Depois dela ter parado de bater na própria cara
e começado a achar o cara que ela não gosta um chato, piegas e desnecessariamente irônico
(apesar de bonito, ela fez questão de frisar)
Mariana resolveu mostrar gotas de sentimento,
O óbvio, no entanto, não dava indícios de que percebia.
Mariana não queria enxergar o óbvio!
Bom, o caso é que enxergou.
Enxergou e mordeu o óbvio.
Mariana e o óbvio, ela disse, entraram numa de flirt
E eu lembrei de Nelson Rodrigues quando, parafraseando-o eu disse:
- Você quer dizer pra mim que foi um flirt. Quer-me convencer?
- Foi.
E meu momento Lúcia/ o dela Alaíde parou nesse trecho de Vestido de Noiva.
E o óbvio talvez não saiba das intenções de Mariana,
Mas ela se engana quando diz sacana que não ama.
Mariana acha que é flirt.
Ela tem que entender que às vezes os macacos gostam dos galhos.
Mariana escolheu, por hora, um galho óbvio.
Ah! A confusão: Mariana morre de ciúmes, tem achado que as pessoas enxergam o óbvio como ela.
E nessas, ela vai dum céu de um flirt, um flirt à-toa!(palavras Rodrigueanas dela)
A um inferno de ciúmes melados.

domingo, janeiro 21, 2007

Queda de braço.

Eu estava bonita dum jeito descostumeiro. Não parecia que era eu naquele corpo que era meu. Vermelho e salto alto não fazem meu estilo, costumo ser rosa pink e havaianas. Eu sou menina! Naquele dia eu queria ser mulher e que ele visse que eu era mulher, mas não sabia o que queria. Eu sei que a brincadeira tomou um rumo estranho. Eu me perdi. Aliás, eu estava segura como não sou. Bem, eu sou menina! A impressão que eu tive, de tudo, é que eu cresci. Eu não mexia no cabelo, eu não coçava o braço, eu não comia as unhas. Eu simplesmente ria e olhava pra ele. E ele me comia com os olhos sem saber se podia comer. E ele dizia que estava sem graça. E ele dizia que não sabia. E ele demonstrava que não era o bicho papão. E a cada instante eu me fazia mais forte. Quando parecia que eu ia ganhar, eu percebi que não era batalha.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Mariana V

Mariana me ligou por esses dias
Ligou lá da Bahia.
Ela tem costume de ir pra lá todo verão.
Ela me disse que lá esquece qualquer poeira de cidade.
Que lá conhece gente que eu nem imagino existir.
Ela disse que esquece o tempo, o óbvio e aquele cara de quem ela não gosta.
E fica sendo Mariana flutuante,com vida nova.
Mariana com vida à parte, longe de qualquer leão.
Na Bahia Mariana concentra pra depois escorrer.
Ela disse que não aguentava.
Precisave me contar algo que nunca ninguém soube.
Nesse pedaço de mundo à parte,
A Mariana, longe de tudo, olha de longe um outro cara.
O mesmo cara desde menina.
Ele passa por ela com seu olhar reto,sua postura perfeita e os músculos rijos.
Mariana lambe com os olhos a pele de bronze.
Mariana se faz vento e escorre entre ele, entre as pernas dele.
Mariana venta.
E ele faz do corpo dela um temporal.
E ela ferve.
E ele passa.
E ela só olha, que a Lolita se perdeu em poeira de cidade.