sexta-feira, novembro 28, 2008

Detalhe

GAL COSTA - Lí­gia


Eu fico tão burra quando me apaixono que eu detesto me apaixonar. Inclusive ultimamente andei prometendo que não mais me apaixonaria.

Então eu fujo de todos os olhos e das caras e o tempo todo. Estou cansada do velhinho de barba branca e de Mariana e de todas as paixões novas e velhas.

Não tem nada de novo.

É que eu fico tão burra que não sei como agir nem nada. Eu detesto estar burra e ser burra e dizer sim e dizer não e agüentar talvez e esperar abraço.

E eu gosto de tudo isso. E gosto tanto que eu fico burra e bamba e tonta e suspirando e queimando e com vontade constante de gritar e dançar e ir e voltar e brincar.

Eu fico tão burra quando me apaixono que eu esqueço que nada disso é sério e levo tudo profissionalmente.

Então trate você de parar de ser galante o tempo inteiro e de não me abraçar quando eu quero por que eu apaixonada fico tão burra que só faço o que eu quero. E quero que todo mundo também faça. Trate de parar de sorrir e de me fazer ciúmes assim fortes. E pare de se perfumar por que eu não consigo manter a pose sentindo esse cheiro forte que parece que toma o espaço inteirinho.

Trate de parar de ser você por que corro sério risco de emburrecer e eu não quero.

terça-feira, novembro 25, 2008

Mais um texto besta feito pra blog

Ao Léo.

Chico Buarque - Mil Perdões

A chuva foi embora e levou com ela muitas coisas. O sol se abriu e Maria acordou deseperada e suada de um sonho ruim.
- Não queime as coxas dela com cigarro! – Gritava como se já não tivesse aberto os olhos.
João chegou e fez barulhinhos de acalentar e silenciar pessoas. Abraçou Maria como um bebê e ela ainda pensava na visão loira do sonho.
“Não as coxas. Por favor não queime nada. Se queimar vai marcar pra sempre e ela não vai voltar. Nem que ela peça. Me jure! Não queime!”
João não entendia nada e continuava usando o sopro da boca pra ver se Maria esquecia o que via.
- Já estou bem, meu bem, me deixe só. – Ela tentava e João não soltava nem soltaria. Tinha, na verdade, um medo grande que Maria lhe escapasse entre os dedos e escorresse.
“Você não entende, João, a gravidade das mãos de um homem que fuma. Ele segura o cigarro como se fosse parte do corpo e quando tem mãos nuas também. Nas mãos nuas o cigarro continua invisível como um indicativo de que tudo vai queimar.”
- Me deixe, João.
- O que foi que aconteceu?
- Vivia a te buscar por que pensando em ti corria contra o tempo... – Cantava baixinho e rezava que ele fosse embora e ela voltasse com coxas limpas.
- A chuva já parou.
- Nada de nada mesmo. Esquece que já foi, meu bem.
- Eu não estou entendendo nada.
- Foi só um sonho ruim.
- Não se preocupe então.
- Me deixe só, João, por favor.
E João foi como se tivessem lhe arrancado um pedaço porque ele nada poderia fazer sem nadar na mente possivelmente suja de Maria.
- Nada de nada. Nada de nada. Nada de nada. Nada. Nada. Nada.
“Por favor não queime as coxas dela com cigarro”. Maria pensava com a imagem loira cada vez mais forte e o autor do ato sumindo e correndo num sonho já desperto e muitíssimo real.
- Maria, o que foi? – João voltou a perguntar sem chegar perto.
- Nada de nada. Só amor de irmã.

domingo, novembro 23, 2008

Meu tempo é quando



Quando ela fala dele os olhinhos brilham. Talvez se eu não fosse tão suspeita ou ao menos não fosse a autora dos crimes pudesse lhe dizer para tomar cuidado. Preciso contar pra ela que ele é nada do que ele pensa(e do que ela pensa). É porcaria das mais violentas e das que menos se pode querer.
Então ela me perguntaria por que raios eu caí e eu não saberia o que dizer se não paixão. E seria uma mentira absurda.
Também não poderia lhe dizer que estou blindada nem que essas coisas e pessoas não me afetam.
Mas ela tem menos raiva do que eu e menos vontades absurdas. Ela tem menos pancadas na cara e um sorriso muito menos amarelo. Devia antes de tudo encontrar um príncipe e depois ralar a cara no chão.
Mas com ele ela se tornaria muitíssimo próxima de mim, com as minhas cicatrizes e as minhas crises - embora sem a minha verdade.
Meu medo é que ela se derreta como eu me derreto constantemente e não se recomponha como eu sempre faço.
Ela é mais sentimental que eu.
Não digo nada. Sacudo os cabelos, passo meu batonzinho vermelho-fútil e saio pra me bagunçar.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Oi ou à cabeça

Aí você chega e diz um oi morena assim gratuito. Eu por outro lado fico sem saber e sem dizer nada. Ando cansada de dizer coisas e de dizer as coisas. Acho que estou tendo muita coisa pra esconder.
De mim mesma principalmente.
Minha cabeça está doendo muito do que eu tomei ontem e não foi tombo. Minhas pernas estão dizendo estórias que eu não devia contar. Meus cabelos parecem intactos e devem ter cheiro de mato a uma hora dessas.
Aí você chega e diz um oi morena só pra me irritar. Assim gratuito.
Estou muito cansada de você e principalmente dos seus ois inapropriados e fora dos meus horários.
Aí você vai e eu completamente reclamo. Quase choro. Mentira que não choro nunca.
Minhas pernas dizem coisas que eu mesma não queria.
Cabeça dói. Queria vomitar essa cabeça da minha dor.
Aí você volta pra minha cabeça que eu não vomitei.
Queria vomitar você fora de mim por que eu não gosto de você.
Mentira.
Queria vomitar essa cor (rubra) pra fora da minha cara.
Aí você chega e diz um oi assim gratuito e eu morena fico vermelha e você me lembra que nada. Lembra que eu já devia ter te tirado da minha dor e da minha cabeça e das minhas pernas.
As pernas continuam contando estórias e o pescoço também.
Meu pescoço absurdamente é fácil.
Dei o telefone na grama ontem. Aí você chega antes de o telefone tocar e eu esqueço que queria que ele tocasse.
Minhas pernas também.

quinta-feira, novembro 13, 2008

For you

E totalmente não.
Não disse que sim e nem nada.
O que, raios, é uma mulher interessante?
Bonita eu até sei.

Eu juro pra vocês que não houve paixão.
Questão pura e simples do não.

Vou acreditar agora.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Não lembro

Só literatura que eu quero hoje. E das mais baratas eu quero.
Escrever um bando de porcarias seria tão bonito que um monte de borboletas voariam ao redor de mim.
Estaria com um vestido verde em um campo de flores com borboletas à volta e ao som de qualquer coisa doce.
E mel eu tomaria.
Escrita absurdamente clichê eu faria – como faço e finjo que não faço por que adoro fingir todas as coisas.
Só literatura eu quero hoje. E nada.
Não quero nadica de nada.
Um sorriso talvez me renda um poema.
E mais nada.
Quero um copo cheinho de nada.
Música barata.
Vinho comprado na padaria.
Pão dormido. Quero cachaça!
Parece que dizes te amo, Aline.
Nada não.
Só automatismo.

terça-feira, novembro 11, 2008

Ombro

Puxei o braço da Flora e reclamei horrores.
Ela tinha que ouvir absolutamente tudo o que eu tinha a dizer - mesmo tudo sendo nada demais.
E aí ela entendeu e mandou eu ir pra frente e parar de botar presilha no cabelo.
Entendi e contei que só boto a presilha por preguiça.
A Flora sabe direitinho o que se passa comigo.
Eu mesma não sei.
Estava um caos pessoal total hoje pela manhã.
Aí arrumei o armário e comecei a juntar meus pedaços pra me organizar melhor.
O lobo mau eu não encontro tem tempos. Queria que ele viesse me aconselhar e dizer que sou melhor que a fábula que eu mesma inventei.
Mas enquanto o lobo não vem fico buscando as borboletas que não dizem nada.
A Flora diz.
Fico buscando poemas perdidos em mares que não existem.
Arrumei o guarda roupa e o quarto pra ver se a casa melhora e o cheiro melhora.
Suei horrores. Reclamei Horrores. Fiz bons e maus poemas.



Vou botar uma saia
E um tomara-que-caia
Pra que tudo caia e saia.

sábado, novembro 08, 2008

Diário

Totalmente uhul a quarta dose.
Fiquei assim bamba e pensando em nada. E é muito legal esquecer de pensar. Aí passou e a quinta e a sexta vieram e eu lá.
Aí ela disse que eu sou paradoxal e eu não respondi. Também disseram que eu sou claríssima.
Sou confusíssima.
Fui corrigir uns erros de português em texto velho e eu não sei usar o Se. É sintomático.
É automático talvez quem sabe naquele dia fosse a quarta ou a terceira mas a quarta na banca cortou.
Eu não sei mais pensar. Aí eu fico quarta. Eu fico branca. Eu fico quarta-branca-nada.
Eu tenho filhos novos esse mês. Semana que vem eles envelhecem espero.
Se o filho não cair eu nem posso nada. Ai caramba eu caio. Caio quarta.
Hoje é sábado.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Ritual

Quando ele cruzou a sala de estar larguei imediatamente a xícara de chá. Tinha que me levantar e analizar cada pequeno pedaço de corpo.
E ele tinha justamente que passar por mim pra arrancar com os olhos cada pedaço de corpo que eu tinha. Não tenho mais.
Pusemo-nos frente a frente e vimo-nos arrancando os braços um do outro. Comi-o cru.

Comecei pelos dedos das mãos e passei imediatamente para as coxas. E ele fez o mesmo comigo até sobrarem as cabeças vibrantes e sem ar. Morremos atolados de paixão.

Aí eu sacudi a cabeça e fiz uma mesura. Vesti meu sorriso mais bonito e deixei que ele fosse.

Não ia demorar a voltar. Sorri por dentro. Voltei ao chá e o cuspi num reflexo. Estava frio.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Não, menina, não sonhe demais. Não deixe essas coisas tocarem você. Não precisa e nunca precisou.
Sinta apenas os pés gelados de praia e sujos de muita areia.
Depois corra. Indefinidamente corra pra bem longe de tudo - menos do mar.
Menina, escuta: só o mar é seu amigo. Eu não.
Eu tenho medo e sumo.
Molhe os pés, querida.
Vá embora.