terça-feira, outubro 28, 2008

O futuro já começou

Texto que poderia muito bem ter sido escrito pelo Marcelo

Quando comecei a estudar história, ainda no ensino básico, achava muito estranho falar de coisas que já não existiam. Havia uma sensação de estranhamendo maior ainda em se tratando de objetos. Aquela bicicleta que tem uma roda grande e uma rodinha me parecia comicíssima.
Na quarta série, primária, minha professora me deu as primeiras noções básicas de antropologia ao dizer para a turma inteira que cada tempo tinha seus objetos.
- Crianças, daqui a um tempo as pessoas vão achar estranho qu um dia tenha havido carros. Vamos todos voar em naves que nem os Jaksons.
Me vinha uma imagem muito estranha na cabeça. Tudo que é contemporâneo e, naquela época moderno, hoje pós-mederno, me parecia muito fixo e eterno.
Acontece que hoje tive uma espécie de revelação. Os liquidificadores vão acabar, secadores e microondas e batedeiras também. E os carros não serão mais usados - gasolina é totalmente fora de mão. Teremos bicicletas a vapor multifuncionais.

No armário de chaves havia uma caixa de disquetes.

domingo, outubro 26, 2008

Passado

O vi de longe, tinha quase certeza que ele também tinha me visto. Não me cumprimentou e eu passei direto pensando que ele estava diferente.
Os olhos azuis mantinham-se, mas havia uma barba espessa e uma barriga que não faziam parte daquele corpo quando cada detalhe nele me fazia palpitar.
Saí despreocupada e sentei no ponto de ônibus pensando que voltar para casa tinha essas consequências desagradáveis.
Talvez, tendo me visto, ele tenha ficado tão decepcionado quanto eu. Não havia mais cabelos longos e nem a magreza que me fazia única.
Haviam caixos curtos e maquiagem borrada de uma semana seguida de festas. Era ele quem ia pras festas e a cara estava descansada.
Então ele passou novamente e fez questão de me beijar no rosto.
Não tinha mais nada. Nem calafrios nem gotas de suor.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Regressiva

Faz quase um ano que eu escrevi e que todas as coisas mudaram. Eu na bandeja não sou a mesma que era na bandeja de 2006 ou 2007. Veriam-me mais doce.
Disseram também que as mudanças físicas só se passaram comigo e ninguém mais. Engordar e mudar o cabelo é fundamental a qualquer camaleão medíocre.
Eu não me visto igual todos os dias. Não sei se tenho padrão ou não.
Em um ano eu me sinto muito mais tranquila.
Foi em 2006 que me dei conta de que era sim uma mulher decidida. Ri sozinha muitos dias na praia e vou sempre me lembrar da minha avó perguntar de um cheiro de cigarro que eu não fumei.
Lugares fechados e cheios acabam fedendo pessoas.
Pessoas fechadas e cheias machucam.

Não sei mais me por na bandeja.

sexta-feira, outubro 17, 2008

O dia em que assisti Gota D'água, do Chico.

Deixa em paz, menino.
Deixa pra lá.
Quando eu fui lá e vi o que eu era em palco e o que eu dizia eu já sabia!
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia.
Eram tão bonitos eles cantando e rebolando enquanto eu chorava e via!
E era tudo tão bonito quando falado.
Todos os motivos estavam nas canções eu sei e eu vi.
É palco e infinito e é peça e é chama.
É a gota e a água e a Bibi e eu.
E todos nós brincando de roda e cantando bonitas canções de ninar.
Deixa em paz meu coração, menino, deixa pra lá.

domingo, outubro 12, 2008

Pós-tpm.

Eu gosto muito do Chico. Ouço e tremo.
Mas hoje nada.
Estou só cansada de cabeça e com sono de nunca.
Tenho que desativar pra ver se ativam.
Mas nada. Não adianta brigar.
É bom desligar as pilhas.
E hoje nada.
Só Chico.

domingo, outubro 05, 2008

Festa


Vamos todos ouvir clássicos nunca antes ouvidos por nós. E dançaremos colados, sim. Dançaremos valsa e foxtrote - mesmo sem saber- e rodaremos pelos salões clássicos com vestidos longos.
E seremos, todos nós, movie stars. Cantaremos, também. Mas não samba. Cantaremos jazz e depois pop e depois bolero e depois tango. E Funk. Cantaremos funk vestidos em trajes passeio completo. Eu soprano, ele tenor e todo um coro atrás.
Gritaremos tantos funks clássicos com vozes distorcidas e amplificadas pela acústica local!
Ah! Ficaremos todos roucos. Rouquíssimos.
E bailaremos até o dia raiar, sem raiar, sem beber e sem parar.
Já no fim, haverá muitas mentiras pra contar.

quarta-feira, outubro 01, 2008

That

Andava muito jornalista e pouco poeta. Toda a literatura ia para as matérias que contavam histórias de gente que muitas vezes não importava.
O problema era a rotina que era bonita e bacana com gente bonita e bacana, mas que cansava. Ela queria um dia parar de comer porcarias e parar de reclamar. Voltar pra litreratura e descongelar - mesmo nunca estando gelada.