quinta-feira, abril 26, 2007

Dica

Uma boa dica para o feriado(ou para qualquer dia) é ir ao teatro. Está em cartaz, no Teatro Municipal de Vila Velha, às 20 horas desse domingo, o espetáculo “Sexo Drogas e Rock'n Roll”. A peça tem um texto delicioso e personagens encantadoras. É uma ótima pedida pra quem gosta de um humor leve e contagiante.
Trata-se de um musical ambientado nos anos 50, sendo assim, é claro que não falta rock e coreografias contagiantes. Há versões de músicas do filme Grease e clássicos da Jovem Guarda, como "Splish Splash".
Além da ótima (e nostálgica) trilha sonora, outro bom motivo pra se locomover até o teatro é o conjunto de clichês gostosos que o texto traz. Chega a ser difícil não se identificar com as situações e personagens. A história de doze adolescentes terminando o colegial e vivendo toda aquela ansiedade de véspera de baile, entrega de notas, amores mal resolvidos e todas aquelas coisas de teen movie diverte despretensiosamente.

segunda-feira, abril 23, 2007

Jéssica

Jéssica sempre estaria olhando-o enquanto ele partia. Ele era do tipo que não olhava pra trás e por essas ela nunca sabia onde enfiar a cara. No entanto, Jéssica gostava daquela coisa de olhar sozinha e daquela coisa de olhar pra trás. Ela era daquelas garotas que remoíam sempre cada momento. Cada momento era vinte ao mesmo tempo e se repetia depois. Independente do que qualquer um fizesse, sempre duraria mais pra ela. Talvez ela não vivesse o suficiente, talvez sobrasse um pedaço grande de dia que ela gastava pra remoer a parte útil dele.
Jéssica não queria nada diferente daquilo. Por mais que todas as suas histórias fossem banais e os seus acontecimentos remoentes fossem sempre tolos e sem importância pra qualquer pessoa que não fosse ela, ela gostava daquilo tudo. Talvez fosse a paixão pela literatura e a incapacidade de produzir literatura própria. Produzia filmes próprios em mente, com cortes em pontos estratégicos e a trilha sonora que ela mesmo escolhia, de acordo com o humor. E cada cena tinha várias leituras e vários encaixes. A edição mudava dia a dia.
Mas se ele partia sem olhar pra trás, é por que ainda não tinha chegado o final daquele filme e ela ainda não podia ter certeza de onde enfiaria a própria cara.

sexta-feira, abril 20, 2007

Mariana XII

Mariana passou a querer apenas que o óbvio não mudasse
Que ele não deixasse de ser o óbvio.
Ela, no entanto, já não conseguia ser a mesma.
Tinha vontade de boca de leão.
Tinha vontade de não fugir daquilo.
Tinha vontade de ver e de sentir, e gostava de cada pedaço de tudo.
Mariana gostava da expectativa e do ciúme e de como aquela coisa toda não deixava nunca de ser óbvia. Era tudo lógico, era tudo bem bonito e o bom humor dela era peculiar.
Ocorre que Mariana não podia mentir à respeito de seus ciúmes, também óbvios.
Tudo bem, ela agüentava que enxergassem o óbvio como ela.
Mas ela não agüentaria ver alguém o tocando como ela não tinha coragem de tocar.
Mariana explodia por partes e reclamava pelos cantos.
Mariana reclamava à torto e a direito.
Ela lembrava da vulgaridade peculiar que Nabokov dava às suas ninfetas.
Mas ela achava que ninguém mais tinha que seguir Nabokov
A vulgaridade infantil que ficasse apenas com Mariana.
As outras não podiam brincar com o tempo.
As outras não deviam querer brincar com o óbvio do jeito que só Mariana podia.
Os dois enfim tinham dito sim.
Crises de charme, ciúme, não, todas já não existiam.
Mariana tinha passado de estágio.
E o medo que ficasse perdido no tempo
O ciúme é o sentimento da vez
E dele ela não corre, que gosta de brincar com fogo.

sábado, abril 07, 2007

A culpa é do sol, entende?
A culpa é da lua e dessa coisa toda de bucolismo.
Eu só sei que tenho uma vontade de escrever sem freios.
e de escrever sem vírgulas!
Gramática pro saco, enfim.
A metalinguagem é um jeito de escapar das minhas verdades.
eu não quero falar de mim.
eu quero falar da escrita que sou eu e da confusão que é a minha escrita.
Hipérbatos!
Barroco!
Barrocobucolismoarcademeu
A alça da blusa teima em cair.
a alça da blusa teima em cair e a barra do short teima em subir.
eu nunca entendi essa história de pessoas e suas relações com roupas.
eu sei que enjoei desta e que o cheiro desta é mais que meu.
E no fim a escrita e as roupas e o cabelo bagunçado e todo esse bucolismo e Gregório de Matos, é uma batida de mim no caldeirão.
E eu não sei se isso foi uma silepse.
Nem quero saber.

Não quero saber, sabia?

Não quero saber de nada.

segunda-feira, abril 02, 2007

Mariana XI

Mariana é bem engraçada.
Bees do it, birds do it*,
But Mariana does not.
Mariana e o Óbvio competiram pra ver quem dizia um não mais sonoro.
E no fim, nenhum ganhou,
Que Mariana não daria o braço a torcer.
E não deu.
Mariana nem liga pra Cole Porter e as suas pulgas amestradas e os mosquitos que fazem se divertindo*.
Atualmente, she doesn’t want to fall in love*.
É de Mariana que estamos falando,
E ela ainda morre de medo de estar na boca daquele leão medonho.
Mariana gosta é desse jogo.
E no meio de um bando de músicas de velho, Mariana ouve Night and day, mas ela não tem um one**.
Ela não é a mulher perfeita não, João***.
Mariana é confusa demais pra ser perfeita.
E os nãos sonoros dela, sempre podem virar sins.
Tudo depende da pergunta e do como.
Pra Mariana, não ou sim depende do Lead.
Mariana Lolita atemporal, e sua vontade de perder vícios e emagrecer.
Mariana que não gosta de dizer tchau, como não gosta de ouvir não.
E eu que não entendo quase nada de Mariana,
Tenho que me lembrar que Mariana não sou eu.


* Referências à música de Cole Porter: Let’s do it, let’s fall in love.
** Referência a “Night and day”, de Cole Porter (“Night and day, you are the one…”).
*** João é um cara que disse que Mariana é a mulher perfeita. E eu sou a pessoa escrota que desmente.

**** Notas de rodapé feitas especialmente para incomodar Flora.