segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Azia

Eu não sei.
Sinto essa azia de vontade de vomitar alguma coisa em letras que eu não sei de onde vem. Eu me amontôo é que o verso se perde e eu também me perco. São muitos os assuntos que eu quero tratar nesse único texto.
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A menina do elevador tinha medo da chuva. Ela e sua bolsa rosa tinham que subir e buscar o guarda-chuva. Se não fizesse isso simplesmente não ia sair. A mãe que esperasse tomando na própria testa os pingos grossos.
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Comprei mais um livro de poemas. O segundo da semana. Eu não sei ao certo por que essa compulsão. Eu não sou intelectual. Assisto novelas e gosto de conversar com pessoas aparentemente burras. Eu bebo.
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Hoje de manhã eu fui abrir a porta de vidro e ela caiu. Segunda vez que isso acontece. Eu devo ter o corpo fechado. Aos dez anos a porta do box quebrou em cima de mim. Hoje foi a porta de vidro. Não me cortei. Nem um arranhão. Varri o chão e ficou por isso mesmo.
Acho que não vou morrer de vidro em pele.
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As minhas personagens todas eu levo pra cama. Agora mesmo Mariana dança sem cara do meu lado. Eu não sei se as sou, se elas me são ou se eu as vejo. Preciso falar daquela nordestina se não sufoco.
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Eu queria um poema de sete faces pra ser importante, que gauche eu já sou. Ser esquerda não é assim tão ruim. Ando de mãos dadas com a poesia toda. Irene preta no céu nem liga pra mim. Acho que não dou Bandeira. Talvez Ana C.
O problema é minha tpm, não dá frutos tão interessantes quanto a de todas aquelas poetas importantes.
Eu queria ser doce feito Florbela.
Eu tenho cheiro de flor, comprei na loja.
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Iracema é maravilhosa, cuida da minha casa como se fosse dela. A casa é mais dela do que minha. Talvez esse meu lugar não seja tão meu quanto é dela. Acho que Iracema ama esse chão. Iracema não entende de bactérias. Eu também não. Eu fervo a bucha, ela guarda todas. E eu jogo fora por que tenho nojo. A bucha custa um real.
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Agora eu trabalho. Antes eu era só a filhinha do papai. Acho que não faz meu estilo ser filhinha de papai.
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Passar maquiagem é mais complicado do que parece, a simetria dos olhos é importantíssima ao charme.
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Ele me perguntou o porquê dos olhos escuros. Eu respondi que era pra estar bonita e ele pensou que eu estava triste. Ser bela e triste parece poético. Eu não sou bela. Quero Florbela.
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Vou ter mais um irmão, é o sétimo agora. Os outros 6 são todos lindos e simpáticos. Eu adoro todos os meus irmãos. A gente briga, quase se mata. Já dei na cara da minha irmã algumas vezes. Ela me disse que a culpa de tudo dar errado é toda minha. Eu sei que a culpa não é dela. Não posso ser assim, tão cruel.
Meu irmão mais novo aprendeu a falar meu nome.
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Eu não ando procurando muito sentido nas coisas. Me disseram que eu reclamo e não busco soluções.
Solução me lembra química e eu sempre disse que não gosto de biomédicas.
Estequiometria parece divertido, é mais matemática que o resto. A tabela me dá a massa.
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Ele me olha como quem ensaia os passos. Ele ainda não sabe andar sem mão de mãe.
Ele sorri e é lindo.
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Me ligou bêbado.
Me senti um lixo.
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Não quero ser resto. Isso me parece sonho. Mais um daqueles textos iguais. Eu devo ter alguma espécie de molde.
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A Cinderela tinha um pé grande e a fada madrinha arrumou um sapato que disfarçava. O problema é que todas as garotas do reino podiam por o pé ali. Cinderela era um monstro rústico. Tão agressiva e piranha que levou aquele príncipe.
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Eu sou burra feito uma porta.
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Não quero ter filhos, não sei.
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Meu pai está demorando no banho. Minha mãe espera pra conversar com ele agora. A minha azia poética não está passando. Acho que de mim não sai mais poesia. Ou sai. Não sei. Gosto da repetição dos fonemas todos. Podia pedir que me dessem versos prontos de vozes veladas veludosas vozes, mas não sei fazer igual.
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A azia não vai passar e eu não vou tomar bicarbonato. Ana C. do meu lado diz que é Jazz do coração.
Tenho que parar de ler texto de mulherzinha. Elas me tocam muito. Eu sou todas elas. Tenho medo de escrever como todo mundo. Tenho um medo danado de ser igual.
Parir poemas não é como parir crianças.
Tenho medo dos poemas do carnaval, eles nascem antes de novembro.

4 comentários:

Mil.Ó disse...

Lembrei-me de Pais e Filhos.

MEsmo sendo uma, parece que são várias!

Juliana Marchioretto disse...

pqp! eu gostei demais disso tudo.
e vou te linkar, tá?

bjo

bia de barros disse...

quê isso!
pra quê querer ser outro alguém?
seus vários eus são de dar inveja até em Ana C. César.
keep on rollin'.
;*

Marcela Rangel disse...

Amei amei amei!

O que mais posso dizer? Acho que isso diz tudo.

:)

:**