domingo, outubro 21, 2007

O barco

Eu não queria que doesse, mas dói. São as mulheres e as crianças que desistem de afundar os navios, a Ana C que disse. Eu não sou poeta que nem ela e ontem me disseram que eu não podia me comparar. Eu sou forte e devia ficar no navio até o final, mas eu tenho tanto medo de afundar e não valer à pena. E eu queria tanto que valesse à pena e não afundasse.
E está doendo. Eu pulei e bati na hélice. Agora congelo nesse meio de Atlântico. Eu não fui feita pra congelar.
Eu queria que o Rô estivesse aqui e me ouvisse por que ele ia entender tudo e eu ia precisar falar muito pouco.
Eu não gosto de falar nem de afundar navios. Nem de pular fora antes do fim. Eu não gosto de decidir o fim. Não gosto de fins, é bem verdade. Apesar de tudo precisar ter final.
Fui eu quem quis embarcar no navio. Eu queria parar na ponta, abrir os braços, fechar os olhos e voar. Ficar olhando mar no navio eu queria. Sentir vento na cara eu queria.
Mas não são navios e não é história.
Vou ver se agüento nadar a braçadas.
Eu não queria que doesse, mas dói e a musculatura pega firmeza enquanto eu nado nesse atlântico gelado e sem barco.

4 comentários:

Amora disse...

Nao tem barco. Mas se voce olhar direitinho tem caiaque.E ele ta ali do lado sempre. É 'só vc abrir a gaveta e ver.

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

A Ana Carolina também disse: se a gente quiser, dá pra mudar o final!

Anônimo disse...

Sim...
Dor é uma palavra complicada e grande mais as vezes. Nem parece que se compõe apenas de 3 letras...

Obrigada por ir no meu multiply! Aliás, como descobriu ele? =]
Beijos!

Marcela Rangel disse...

Bonito, muito bonito.
A dor é ruim mas faz belos textos.
Mas, para quem tem poesia nas veias(seu caso), sugiro um sorriso, daqueles bem Aline Dias, que sorri com os olhos.

:)

:**