quarta-feira, dezembro 29, 2010

Só danço samba.

- Move your hips with your feets - dizia eu às gringas todas com aquele inglês porco que é conhecido dos que já me viram ébria. Dizia sóbria, inclusive.
- Dance is like sex, you see your men with his hands on your hips, and move it.
Porque se não fosse assim, era muito difícil visualizar rebolado. Aprendi num filme - nem lembro qual.
As únicas palavras que eu precisava dizer em inglês eu não dizia. Se era pra ensinar a sambar, eu devia saber falar barata em inglês.
Pisa na barata, joga ela para o lado.
Eu só ia até o step.
Impressionadíssimas ficaram com a gente que mexia a bunda assim com tanta facilidade.
Diz Nayara que está no sangue, eu mesma acho que é coisa que a tevê ensina pras crianças. Dessas coisas boas.
E eu só danço com ele, digo que é sem compromisso e tudo.
Hips and feets.
bad, bad, baaad feets!

domingo, dezembro 26, 2010

Salada de riso com azeite

Eu quis uma música bonita de natal. E doçura.
Como é que é mesmo aquela história de luz baixa que eu disse outras vezes?
As coisas precisam ser vistas na luz certa. Se claro, se escuro, se penumbra, a gente escolhe.
Transparente escuridão, disse a Ana C.
Banho quente, digo eu. pu ri fi ca ção
Então música bonita de natal, atrevimento e luzes enchendo a cidade. Crônicas por minuto. Poemas que eu não aprendi a escrever.
Paz.
No ano novo, eu vou aprender a relaxar.
Do you believe?

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa postal.



Se eu gritasse alto que te amo no meio da rua, no meio da lama, no meio de todas as pessoas que a gente conhece, que cara você não teria. Está tudo posto, está tudo claro. Eu que não disse nada. Eu que não fiz nenhuma loucura além daquelas com as quais você certamente já se acostumou.
Então me beija mais um pouco, mais uma noite.
A gente muda de cara quando amanhece, você sabe.
Fica. Deixa a cara da gente amanhecer e o tempo cuidar de fazer tudo.
Daí te liguei pensando em dizer tudo logo e nunca foi tão bonito ouvir som de caixa postal.

sábado, dezembro 18, 2010

our song

Johann me bate que é uma beleza. São mãos muito calejadas, as dele. Cabo de enxada, cano de ônibus, martelo pra pregar nossos quadros na parede. Johann me bate no intervalo entre uma ou outra música de Bach.

Depois viaja.

Aí eu fico apanhando de saudade.

Quando a mão bate, estala e fica, eu gosto. Meu calor dissolvendo nos restos de calo e a pele avermelhando. Depois ele puxa e segura os braços que dói um monte. Bach tocando dessa vez. Depois é rock.

Johann gosta mesmo de metal enquanto me morde as coxas. Johann me abate. As mãos se moldando direitinho nos meus contornos. Johann me sabe desde antes de inventar fotografia.

Agora quieto, longe, me faz carinho na cabeça. Johann não deve estar bem. Morro de medo de ele me deixando. E quando ele se cala, aí é que eu me ralo.

terça-feira, dezembro 14, 2010

Pra não dar dor de cabeça

Eu menti. Precisei de nada. Foi uma pergunta. Foi um sim que era não e pronto. Menti. E depois ninguém torrou o saco. Ninguém quis confirmar.
Mentir foi libertador.
Ele não quis crer, parece. Perguntou de novo algumas vezes, quis detalhes. Mas mentira pré-programada é quase verdade.
Então não menti. Disse mesmo o que sentia e aquele sim que era não era sim de peito.
- Tem alguém?
- Sim.
- Onde?
- Outra cidade. Você não conhece.
Descrevi os detalhes. Disse profissão e tudo. As faces de alguém eu vi. E pronto. parou. parou a maré.
Meu deus, como quis letras minúsculas e nenhum começo de frase. Inventei inclusive várias rimas. Você não sabe.
É muito boa essa sensação de não ter encantamento. Lidar com o humano, bonito, verdadeiro. Essa coisa que brota na cabeça da gente.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

amor, o nome.

Meu amor, meu amor, meu amor – ele dizia e ela se doía toda.
Resolveu questionar - de incomodada que estava com essa amorzice toda.
- Cê me chama disso por quê?
- De que?
- Esse troço aí.
- Amor?
- Isso. Isso.
- Você não gosta?
- Acho esquisito.
- Quer que eu chame de que?
- Cê sabe... Cê pensa no peso das palavras?
Ele professor de português.
- Trabalho com isso, meu bem.
Ela ficou de formiga na cabeça, pensando que ninguém amava ninguém assim de estalo, mas se ele dizia, devia talvez ser mesmo amor.
Depois ele disse um tchau muito convicto. Avisou que era fim e que estava muito bravo com ela.
O amor continuava vocativo.
- Me responde uma última coisa. Por que cê fica me chamando de amor?
- Eu e você. A relação é amorosa.
- Então me deixa ficar.

Mas ela doeu a noite inteira.

domingo, dezembro 05, 2010

anonimato e outros poemas

Uma ou outra piada, claro. Disse querer o que é óbvio que eu quero com palavras não minhas. Planas, diretas, óbvias. Boca, delícia, gozo, verdade, vontade, desistir, esperar, tentar, contar, plantar. Disse tudo tudo tudo. Todo o impensável. Até o que nem é feminino foi dito.
Que mal tem, desejo?
É claro que ri sozinha no escuro pensando em reações a côrtes anônimas. Cortes? Laceraria você o meu querer com espátula de bolo?
Você faca só quando desejo. Faca nunca não. O não em si é ácido, áspero, grande – impossível de recorrer.
Estou sem forças. Com saudades.
Estou dispersa. Desperta.
Que mal tem, desejo?

sábado, dezembro 04, 2010

fim de noite

- E você?
- Como assim?
- Você mesmo.
- Não sei.
- Acho engraçado.
- O que?
- Como é que você está?
- Cansado. Muita coisa. Um chicote atrás do outro.
- Mas e você?
- Eu o que?
- Está bem?
- ...
- ...
- O que você quer saber?
- De você, mesmo. Nada demais. Gosto de você e quero saber as coisas.
- A mídia?
- Que se dane a mídia. Eu quero saber se você está bem.
- Eu estou cansado.
- Ninguém nunca te pergunta sobre você...
- É.
E um monte de olhos comendo o mundo todo.