quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Segredo

Ele não pode saber que sou poeta.
Se sabe, eu não viro musa.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Ela

Os cabelos já não eram anelados por conta da escova definitiva. E as paixões já não eram as mesmas por conta da racionalização constante de qualquer sentimento. Decompunha paixões em suspiros e desejos idiotas. E decompunha ódio em êxtase e idiotice.
Pra ela qualquer sentimento e qualquer arrepio eram absurdamente idiotas e desnecessários. A vida devia ser levada a pulso firme e olhos duros. As relações interpessoais eram mera necessidade capitalista. E ela gostava do mundo virtual por conta dos contatos distantes e frios. Ela não gostava mais de gente.
Se mantinha linda com postura perfeita pra ser inacessível. E chorava todas as noites pra agüentar o tranco de ser uma máscara.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Mariana X

E antes que o mundo real voltasse a existir
Mariana precisou me contar dos dias que passou no seu refúgio lá na Bahia.
Ela disse que dançou até não aguentar de dor nos ossos.
E disse que aquele cara a quem ela olhava de longe a tirou do sério no jogo do sério.
Disse que os beijos todos eram esfomeados e ininterruptos.
Disse que ainda sentia falta.
Disse que não queria o mundo real.
Mariana sorria e não se sentia confusa.
De galho em galho, aquele era especial e efêmero.
Um galho de carnaval.
Lolita da cidade foi pr'aqueles cantos.
Mariana não fez nada, mas na despedida foi uma hora sem parar.
e ela não queria se despedir.
Mariana agora sente falta e sorri.
Problema vai ser voltar pro mundo real.





*Nota- Exitem dois textos não publicados que falam sobre Mariana. A situação óbvia se esclarece, mas não é hora de publicar.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Eu disse que sou consumista.
Eu disse que sou foliã.
Eu disse que sou fria.
Eu disse que não sinto nada.
E disse que tá tudo bem.
Vai empedrar,
vai passar.
Ou não.
A palavra é uma roupa que a gente veste.
Por hoje ando nua.
Os olhos pretos dizem tudo e nada.
E me solto do chão que me falta sob os pés.
Eu disse que sou consumista.
tenho logo que comprar sapatos, ouchão.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Mariana IX

Eu realmente preferia não ter que falar dela hoje.
Eu tinha prometido a mim que a deixaria de lado.
Mas a Mariana adora insistir.
Já disse que não sou boa em falar de raiva, mas ela está com raiva e sou eu quem tenho que falar da raiva dela.
A Mariana hoje viu o cara de quem ela não gosta.
Ele pediu uma caneta emprestada e depois a fez tremer na hora de devolver.
E a caneta, agora, está com o óbvio.
Obviamente Mariana não sabia o que aconteceria depois, ao emprestar a porcaria da caneta.
Ele bem disse que não era assim, tão óbvio.
Ela devia ter levado mais à sério e mantido um pé atrás.
A Mariana anda se sentindo uma idiota,
mas o problema é dela, não meu.
Ela pode ser fria,
mas é problema dela.
Ela pode gritar,
mas é problema dela.
Por mim, que ela sambe.
Por mim, ela devia é ir ver o mar.
Mariana é bonita, quem não vê?
Se pegasse um bronze talvez deixase de ser idiota e esquecesse de todas essas coisas óbvias.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Sobre escrever, ou algo do tipo.

Todo mundo sabe que a minha escrita é meu alicerce. Tá na minha cara que a minha vida não seria a metade do que é e eu não seria a metade do que sou sem a escrita. Na verdade, Eu não seria sem escrita. Sei que são três e quarenta e cinco da madrugada e a única justificativa mais ou menos plausível que eu encontrei pra ter acordado foi a escrita.
A escrita é minha porta de entrada e minha porta de saída. E eu não tenho porque esconder escrito algum. Não tenho que esconder nada de ninguém. As personagens já são domínio público. Eu devo um final à todas. Mesmo querendo que elas não tenham fim. E elas continuam jorrando de mim feito pus e pocando feito espinhas. Gosto de todas, é bem verdade, mesmo daquelas que eu crio só pra matar- e assim, sobreviver ao meu próprio mau humor.
Está tarde quase cedo e eu queria ouvir uma história. Contar uma história pra mim mesma não seria o ideal.
Eu sempre fui a Eva Luna e a Sherazade- mesmo nunca tendo lido “As mil e uma noites”. Eu queria uma história pura e natural, feito suor. E provavelmente minhas metáforas não são assim, tão agradáveis.
O que quero dizer é que a escrita faz parte do corpo. A escrita faz parte do corpo feito pus e cravo e suor. A escrita é vômito e secreção, sim. Se fica dentro tempo demais ela faz mal. A escrita tem que ser posta pra fora, se não ela fede, inflama, empedra.
São quase quatro horas da manhã e eu tenho que trabalhar logo que o sol nascer. Estamos em horário de verão e ele custa. O sol não é metáfora minha.
Eu preciso muito de uma rima, já que não posso mais dormir.

sábado, fevereiro 10, 2007

Mariana VIII

Mariana hoje, se lembrou do Bicho Papão.
O Bicho Papão é um babaca com quem Mariana esteve, mas que nunca esteve de verdade com ela.
Por esses dias ela também esbarrou com o álibi, aquele que não a deixava mentir sobre nada, mas que era álibi por que provava que por um tempo ela teve paixão fixa.
O Bicho Papão tem barba grande e anda assustando Mariana.
Ela não quer esbarrar com ele, flertar com ele, beijá-lo ou simplesmente perceber que ele ainda existe.
Mariana rompeu com o Bicho Papão há tempos atrás.
Ela disse a ele que ele a fazia sentir nojo e ter vontade de vomitar.
Não mentiu.
O Bicho Papão não é uma boa.
Não vale à pena.
Não cabe nem como rima de um poema.
Mas eu posso falar, que ele é problema só da Mariana.
E ela não quer esse problema.
Mariana anda entretida com pontadas óbvias de nada que parece alguma coisa.
Mariana riu-se do álibi.
Ela já teve paixão, álibi e Bicho Papão.
E do óbvio ela foge, faz parte do show.
O óbvio só traz confusão.
Saudades até do Bicho Papão.
Mariana foge é da contramão.
o óbvio não, tem que ser mão, e eu apóio.
Não adianta nada, Mariana não me ouve.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Tem horas que a gente pensa
que pode ser Nelson Rodrigues
mas não aguenta o rojão.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Azia

Eu não sei.
Sinto essa azia de vontade de vomitar alguma coisa em letras que eu não sei de onde vem. Eu me amontôo é que o verso se perde e eu também me perco. São muitos os assuntos que eu quero tratar nesse único texto.
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A menina do elevador tinha medo da chuva. Ela e sua bolsa rosa tinham que subir e buscar o guarda-chuva. Se não fizesse isso simplesmente não ia sair. A mãe que esperasse tomando na própria testa os pingos grossos.
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Comprei mais um livro de poemas. O segundo da semana. Eu não sei ao certo por que essa compulsão. Eu não sou intelectual. Assisto novelas e gosto de conversar com pessoas aparentemente burras. Eu bebo.
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Hoje de manhã eu fui abrir a porta de vidro e ela caiu. Segunda vez que isso acontece. Eu devo ter o corpo fechado. Aos dez anos a porta do box quebrou em cima de mim. Hoje foi a porta de vidro. Não me cortei. Nem um arranhão. Varri o chão e ficou por isso mesmo.
Acho que não vou morrer de vidro em pele.
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As minhas personagens todas eu levo pra cama. Agora mesmo Mariana dança sem cara do meu lado. Eu não sei se as sou, se elas me são ou se eu as vejo. Preciso falar daquela nordestina se não sufoco.
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Eu queria um poema de sete faces pra ser importante, que gauche eu já sou. Ser esquerda não é assim tão ruim. Ando de mãos dadas com a poesia toda. Irene preta no céu nem liga pra mim. Acho que não dou Bandeira. Talvez Ana C.
O problema é minha tpm, não dá frutos tão interessantes quanto a de todas aquelas poetas importantes.
Eu queria ser doce feito Florbela.
Eu tenho cheiro de flor, comprei na loja.
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Iracema é maravilhosa, cuida da minha casa como se fosse dela. A casa é mais dela do que minha. Talvez esse meu lugar não seja tão meu quanto é dela. Acho que Iracema ama esse chão. Iracema não entende de bactérias. Eu também não. Eu fervo a bucha, ela guarda todas. E eu jogo fora por que tenho nojo. A bucha custa um real.
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Agora eu trabalho. Antes eu era só a filhinha do papai. Acho que não faz meu estilo ser filhinha de papai.
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Passar maquiagem é mais complicado do que parece, a simetria dos olhos é importantíssima ao charme.
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Ele me perguntou o porquê dos olhos escuros. Eu respondi que era pra estar bonita e ele pensou que eu estava triste. Ser bela e triste parece poético. Eu não sou bela. Quero Florbela.
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Vou ter mais um irmão, é o sétimo agora. Os outros 6 são todos lindos e simpáticos. Eu adoro todos os meus irmãos. A gente briga, quase se mata. Já dei na cara da minha irmã algumas vezes. Ela me disse que a culpa de tudo dar errado é toda minha. Eu sei que a culpa não é dela. Não posso ser assim, tão cruel.
Meu irmão mais novo aprendeu a falar meu nome.
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Eu não ando procurando muito sentido nas coisas. Me disseram que eu reclamo e não busco soluções.
Solução me lembra química e eu sempre disse que não gosto de biomédicas.
Estequiometria parece divertido, é mais matemática que o resto. A tabela me dá a massa.
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Ele me olha como quem ensaia os passos. Ele ainda não sabe andar sem mão de mãe.
Ele sorri e é lindo.
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Me ligou bêbado.
Me senti um lixo.
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Não quero ser resto. Isso me parece sonho. Mais um daqueles textos iguais. Eu devo ter alguma espécie de molde.
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A Cinderela tinha um pé grande e a fada madrinha arrumou um sapato que disfarçava. O problema é que todas as garotas do reino podiam por o pé ali. Cinderela era um monstro rústico. Tão agressiva e piranha que levou aquele príncipe.
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Eu sou burra feito uma porta.
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Não quero ter filhos, não sei.
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Meu pai está demorando no banho. Minha mãe espera pra conversar com ele agora. A minha azia poética não está passando. Acho que de mim não sai mais poesia. Ou sai. Não sei. Gosto da repetição dos fonemas todos. Podia pedir que me dessem versos prontos de vozes veladas veludosas vozes, mas não sei fazer igual.
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A azia não vai passar e eu não vou tomar bicarbonato. Ana C. do meu lado diz que é Jazz do coração.
Tenho que parar de ler texto de mulherzinha. Elas me tocam muito. Eu sou todas elas. Tenho medo de escrever como todo mundo. Tenho um medo danado de ser igual.
Parir poemas não é como parir crianças.
Tenho medo dos poemas do carnaval, eles nascem antes de novembro.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Mariana VII

É que de uma hora para a outra o charme deixou de ser importante. Tinha coisas que Mariana guardava apenas para ela.
Por mais que tudo fosse óbvio.
O óbvio insistia que ela falasse. Ele pedia que ela dissesse algo, que não fosse assim tão Mariana e explodisse.
E ela não queria boca-de-leão.
O que parecia óbvio não era.
Era ela quem não sabia ler.
Mariana não gostava de saber que não sabia ler.
Nem flirt!
Nem flirt!
De Nelson Rodrigues à Shakespeare, Mariana sabia que havia mais coisas entre o céu e a terra que podia sonhar a filosofia dela.
Atemporal não significa sabe-tudo.
E Mariana queria, por um instante, ter paz.
Suas narrativas e poemas de vida sentimental tinham que estacar.
E ela seria Mariana sem rima, por alguns instantes
Mariana não morreria, não.
Mariana é imortal e controla o tempo.
Lolita sem idade!
Mariana não quer ir embora daqui.
Mariana sentia-se perdida e isso não era ruim.
Eu não tinha o que falar, Nelson Rodrigues, Presença de Anita, Nabokov...
Eu sou péssima conselheira e Mariana entra numas de avestruz.
Mariana-vazia não se sente triste.
Só vazia.
Sem tempo.