segunda-feira, dezembro 25, 2006

Novela

Ele era bonito, tinha o charme daqueles vilões de novela. Tinha aquele sorriso cínico e eu desmanchava. Claro que não descia do salto. Aquele charme todo era pouco. O charme era todo meu. Ele tinha que abanar o rabo e eu tinha que ser rainha.
Aí eu fazia jogo. Fingia que não ligava. Fingia que o charme não existia. Fumava um cigarro e lia um bom livro na sombreira da árvore pela qual ele certamente passaria.
E ele passava.
Ele dava aquele olhar de relance e eu sabia que ele não prestava.
Mas eu gostava. E não cabia mais em mim aquele flerte. Só que era flerte e daquilo só passaria quando ele não fosse o vilão da novela, ou eu deixasse de ser a mocinha.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Trecho do espetáculo "Tarde"


Diana E tanta coisa que eu queria ter dito, mas não disse...

Maria Eu sempre dizia. Dizia tudo. Nem que fosse pra dizer baixinho sem nem a pessoa ouvir. Dizer eu sempre dizia.

Diana Mas, Maria, se o outro não ouve você diz pra que?

Maria Pra desanuviar, ué? Pra dizer. Coisa demais que a gente não diz vira corcunda.

Diana Ah! Mas tem coisa que a gente não pode dizer.

Maria Tem que dizer. Se não diz, escreve uma carta. Não pode é ficar corcunda.

Diana É meio egoísta.

Maria Eu lá vou carregar o mundo nas costas? Isso sim seria egoísmo!










Tarde_ 3º lugar no Juri popular do V Festival de Esquetes do Espírito Santo.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Mariana IV

Lembra da Mariana?
Hoje ela deu um tapa na própria cara.
O cúmulo da falta de pudor, eu diria.
Vê?
Naquelas tentativas de não se queimar ela se bate!
A Mariana não bate mesmo muito bem.
Deixou de ser questão de charme.
A Mariana anda admirando aquele óbvio,
E por não poder, se bate.
É pra se conter.
Mas ela não se contenta.
Dessa vez ela nem está jogando.
Mariana sabe que não tem tempo
O óbvio não é atemporal.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

O caso do duende

Antes de qualquer coisa, eu não acredito em duendes, fadas, gnomos ou qualquer coisa pequena e verde com formas humanas e poderes supostamente mágicos. Ocorre que eu tinha que passar uma idéia num cartaz. A colega sugeriu falar do pote de ouro no fim do arco-íris. Segui. A idéia “O pote existe. Corra!” me pareceu bem convincente. Usar um mito como metáfora para trabalho, capacidade, força ou algo parecido era uma boa idéia.
Há que se quebrar a história, mas é por uma boa causa. Pra que você entenda como tudo aconteceu logo comigo, você deve ter a ciência de que Murphy, aquele desgraçado autor de uma lei horrorosa, me odeia.
Continuando: o cartaz foi feito. Tinha um arco-íris e um duende feliz de gorro verde sentado nele. Uma gracinha. Mágico. Tudo seria perfeito, se ele não tivesse que ser entregue a um professor aterrorizante com cara de maluco. Saí de casa com 50 minutos de antecedência e fui ao posto de gasolina esperar a amiga que me buscaria. Ela não apareceu. Faltando 15 minutos para a aula, entrei num ônibus que provavelmente chegaria ao meu destino em meia hora, e fui. Por sorte tinha um lugar. Pensei que o cartaz estava seguro. Eu ia sentada!
Aí vem o clímax da história. Tandandandan, rufaram os tambores imaginários de um além cruel. O vento aumentou proporcionalmente à velocidade do ônibus. E, por alguma lei física muito bizarra: meu cartaz lindo com um duende sentado num arco-íris voou na ponte.
Seria cômico, se não fosse trágico. O importante nessa palhaçada toda não é a cara do professor, mas a minha angústia e dúvida em dizer ou não a verdade. Creio que tive minha nota. Fique feliz por essa pobre mortal. Enfim, essas histórias malucas podem perfeitamente acontecer. Aconteceu comigo. Sorria!

sábado, dezembro 16, 2006

O fim dos atos-falhos

Com sorte alguma pedra entraria no sapato e ela sentiria tanta dor que estancaria.
Ela precisava de um motivo para não seguir em frente. Aquele filho-da-puta não entendia que ela simplesmente não podia mais? Respirou o mais fundo que pode antes dos tapas na cara temperados com lágrimas dela. As faces dele se coloriram dum vermelho lógico e ela pode recuar. Foi para a sua casa e ele que ficasse só.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Mariana III

É, a Mariana anda me enchendo o saco.
Agora ela inventou de enxergar o óbvio.
E fica naquela de "não pode ser"...
Acontece que eu tô sem paciência
e quero esganá-la sem rima alguma.

domingo, dezembro 10, 2006

Fonte que não vale

-Não ouvi barulho algum.
-Como não?
-Não ouvi, oras. Estava prestando atenção em outra coisa.
-Foi um tiro!
-E daí? Eu tava trepando ao som de jazz. Eu não tenho obrigação de prestar atenção em porra de tiro nenhum.
-Foi do seu lado.
-Eu tava trepando.
-No quarto ao lado!
-Não me interesso nos fetiches do casal ao lado. Eu tava gozando.
-Tudo bem. Não lembra de nada estranho.
-Não. Tudo correu às mil maravilhas. Champanhe maravilhosa, morangos, sexo e boa música. O cheiro dele me deixava arrepiada sem precisar forçar.
-É só com isso que você se importa?
-Com o que mais?

domingo, dezembro 03, 2006

Mariana II

E ela continua naquelas...
Fugindo da boca do leão,
e, claro, atemporal.
A Mariana agora está confusa.
Ela não acredita que possa pensar em tanta gente.
Mariana muda rápido.
Ela não acredita no próprio charme.
Esqueceu-se que Lolita destruia corações.
Acho que se acostumou à Presença de Anita.
Mariana acha a Mel Lisboa sem graça.
Mariana não quer não ter graça.
Mariana hoje nem quer flertar.
Ela quer ficar quietinha curtindo seu medo de escuro.
O coração vale mais que a razão, eu dizia.
A Mariana pensa em coração como músculo involuntário que bombeia o sangue.
Ela quer ser racional.
E perde o sentimental.
Romântica.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Ácido congelado

Eu estava procurando um texto velho pra postar.
Não achei nada que dissesse do meu humor.
Sei que as minhas paixões andam entaladas.
eu não sei mais fazer teatro.
Peguei nojo de todas aquelas mentiras
que já me dava asco há tempos.
Respiro de leve que fundo machuca.
Eu não queria que fosse assim.
Não era pra você ser assim
você tinha que ser verdade.
E cada vez eu dou mais valor a palavras que me ferem sem querer.
Prefiro verdades, sempre.
Mentira faz vomitar.
Não gosto mais de você(eu também posso mentir).