Você nunca diz euteamo. Um cadinho só de dor. Dois bocados inteiros de angústia.
Eu acho que gosto mais de você do que você de mim, entalei e não disse.
Cinco tornados no peito.
Você nunca diz euteamo. Um cadinho só de dor. Dois bocados inteiros de angústia.
Eu acho que gosto mais de você do que você de mim, entalei e não disse.
Cinco tornados no peito.
A única coisa que eu te dei, nesse pouco tempo que foi longo ou longo tempo que foi pouco, foi ternura. E eu até entendo que ternura seja, de fato, algo de muito dolorido que toma as entranhas da gente e fica insuportável.
Mas é essa mesma ternura insuportável que faz com que a gente não se sinta completamente sozinho no mundo. Você me disse que precisava de alguém que cuidasse de você e eu (que sou essa maluca, alucinada e que adora ver gente precisando de cuidado porque sente que a própria sina na vida é ajudar) quis ser isto. Quis te por no colo, curar a febre, fazer compressa, passar colarinho, cuidar do almoço, dos pés, da coluna, das dores de cabeça, aplacar a raiva e o que mais de ruim tiver no mundo.
Essa semana, eu estive escorrendo. Eu estava tão cheia de mim que não cabia, aí me fiz em muco de gripe e escorri pra esvaziar um pouco. Às vezes, a gente precisa se escorrer pra suportar a existência.
Quem te suporta?
Eu fico pensando se você consegue lidar com qualquer coisa que mexa nessa sua intocável e magnífica solidão produtiva. Daqui a pouco, você fica velho. Não vai demorar muito, não.
Daí tudo o que você vai querer vai ser um pouco de ternura. E vai ser triste, ficar sem ternura. Sem a dor que a ternura traz consigo. In su por tá vel.
Ele não é muito de elogios.
- Cabelo bonito. Olhos bonitos. Pele boa. Bonita, você.
Estranhei. Não sei porque fico. Caímos no chão.
Algum imã existe, não sei.
- Você quer tudo o que você demonstra?
Eu disse sim. Com a boca na dele, eu disse tanta coisa que eu nem sei direito o que ficou.
Eu disse que ia embora, mas a gente perdeu o controle. Ele me puxou sei lá pra onde, guardou meu brinco no bolso como se fosse um pedaço de mim. Disse que gosta.
Temos medo de nos apaixonarmos um pelo outro.
Não somos nem parecidos. Nada em comum.
Ele tem gosto de folha na boca e eu uso terno. Ternos os braços que ele tem, a textura da pele, as pintas, o crucifixo.
- Bom te ver, eu disse no fim. Por que você gosta de mim?
Ele disse que era a loucura de tudo e eu entendi que era eu mesma, não reflexo, nada. Eu gosto de volta. Irracional.
Agora, Aline, você para de falar e se aquieta um pouco. Bote uma Elba, sei lá, pra tocar e descanse. Não tente agora abraçar o mundo todo. Sossegue.
O amor é isto mesmo que você está vendo.
Trabalhe. Confie. Trabalhe mais um pouco e desconfie. Descanse. Leia. Faça alguma coisa pra mudar de cara. Contenha-se. Depois cante, que quando você canta nem se cuida quem não é seu irmão.
Continue inteira, íntegra, desperta. Não dance ainda, nem pense que vai tudo dar certo no primeiro sorriso. Brigue mesmo. Não abra nunca mão de si.
Aprendeu?
Se reprovar, vai esfolar a cara inteira mais uma vez.
Agüenta?
Eu sinto falta do que a gente foi um dia. Daquela pressa, da sua calma, de você bravo, do seu regaço, do volume do peito e da gordurinha da cintura. Você nunca foi muito de me olhar, mas cantava.
Eu sinto falta de sentir sua falta em cada segundo e eu sinto falta de dizer apelidinhos que eram nossos. Rir com você. Os filmes, o álcool, o escuro, o frio – que quando é junto é muito mais gostoso. A vergonha que você tinha às vezes de falar as coisas e o jeito de olhar pra baixo.
Eu sinto falta do encantamento, da sua mão na minha nuca, da implicância, dos jogos de tabuleiro, do desenho, da lógica e da Avenida Paulista. Eu completamente sem paciência pra museu, mesmo o Masp, e você querendo apreciar e explicar aquelas coisas que também te fazem e eu não sei ver.
Eu sinto medo de a desistência ser um erro e de os defeitos que eu botei serem todos inventados.
O que é que eu vou fazer depois de você, se parece que nada vai conseguir ficar bonito e os outros homens do mundo vão ter qualidades insuficientes?
Como é que eu faço pra manter-me sólida estando sem você?
Um amor grande desses que não cabem. Volta, mas eu não quero. Volta, mas acabou. Um amor desses que queima. Termina hoje. Volta. Termina hoje comigo. Foi ano passado que a gente tentou e ainda dói. Um amor desses que não termina.
Eu quero ontem amor novo. Eu quero amor novo amanhã e hoje.
Eu quero não chorar por amor que não acaba nunca, nunca.
Eu quero nunca mais esperar.
Porque parece que a vida toda, mesmo curta, foi ensaio. Porque parece que o peito todo não cabe a coisa grande que vem quando o nome é citado,
Porque parece que a academia serve pra estudá-lo e parece que eu sirvo só pra isso.
Parece que eu fui feita pra pensar em como seria se fosse alguma coisa.
Parece que eu doía se não fosse alguma coisa.
Eu fico doendo.
Eu fico longe.
Eu tenho, eu juro, outros carnavais.
Tem certeza que não há pontas? Moeda esquecida, roupa perdida, toalha, livro, causa? Nenhum nó na coluna? Um não sem dizer?
Ontem eu não te vi, nem anteontem, nem semana passada. O adeus, dolorido que fosse, ficou facada certa, profunda, infinita. Definitivíssimo como se amanhã fosse coisa sem dúvida. Como se o ontem fosse sem reparos.
Nada, ninguém. Amor puro fantasma que nos passeia de leve.
Eu não sei mais insistir.
Nem o sarro. Eu não tenho o ritmo, Carlos. Desespero. Se fosse uma cor seria este marrom cor de madeira de violão. Quente. Se fosse cor seria quente, Carlos. Sossegue. Fingir que nada, Carlos. Nada. There is not an us. Can you understand?
Mil vezes seu nome pra ver se mancha. Marcha pra outras freguesias. Longe do meu litoral. Carlos longe, Carlos perto, Carlos arranha. Calos nos pés esperando por massagem. Amor?
Comé que pode jogar palavra assim do nada ao vento. Sem medo de que? De mim tem que ter, Carlos, que eu sou coisa dura de agüentar. Nem o sarro, Carlos. Você que tem as mãos maiores que as minhas costas que nos ombros quase chegam no peito. As mãos, Carlos. Quantos calos têm?
Nem o sarro, Carlos. Nem o beijo.
Amor? Nem no baço.
Vou arrumar mais oito braços pra nadar no mar. O amor antes do grande amor é amor? Há algo mais terrível que o não sei?
O corpo, sim. Prender respiração embaixo d’água e não morrer. Nadar. O corpo, sim, em si, mistério. Arrepios por segundo.
O amor antes do medo é puro?
Amor sem sol. Amor sem morte. Amor sem peso. Paixão? O corpo não diz. Grita. Os cabelos ocultam a verdade.
Can you understand a no?
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