sábado, março 17, 2012

Crônica do Dia da Mulher

veiculada 8 de março na Rádio Universitária


Dona Candinha disse que é muito feio uma moça de família sair beijando um monte de rapazes. Imagine se eles estão numa roda e mais de um deles já beijou a mesma moça! Segundo dona Candinha, é caso grave de moça refestelada.
Dona Candinha ainda diz que as moças não devem nunca dizer aos rapazes que elas tem algum interesse, pois iniciativa é coisa masculina ou de moça refestelada. Que é muito feio a moça ser fácil.
Com dona Candinha na cabeça nesta crônica de dia da Mulher, resolvi conversar com alguns amigos do sexo masculino buscando saber qual conceito eles tem de vagabunda. Moço x, no alto de seus 20 anos, acredita que vagabunda é a moça que se envolve com vários rapazes do mesmo grupo. Moço x acredita que as moças possam ficar com quem quiserem, desde que isso não seja público e também que não dá pra namorar uma moça que fica com vários rapazes. Questionei Moço x do porquê. Moço x disse que uma moça vagabunda não quer namoro.
Veio em minha cabeça uma pulga que dividi com meu interlocutor. Então uma moça vagabunda está incapacitada para o amor? Moço x não soube responder. Disse nunca ter pensado no assunto.
Mas, então, o Zé me disse que não acredita em vagabunda. Acredita que a mulher deva ter liberdade de estar com quem quiser é que é muito hipócrita aquela velha coisa de um homem ser garanhão e a moça uma refestelada. Respirei um pouco mais aliviada. Me senti de volta ao século vinte e um.
Pra mim, uma moça dizer que quer determinado sujeito significa apenas que ela quer esse determinado sujeito, não todos os outros. Além disso, se ela quer todos os outros, o problema é apenas dela. Mais ainda. Se ela foi fácil para um, não precisa ser para todos. Pois se o corpo é da moça, é ela quem decide o que faz dele. E aí, meus filhos, não tem discussão. O não continua sendo não mesmo quando foi dito pela Geni para o homem do Zepelim.
Também ouvi mais um rapaz. Um amigo meu que disse “Já me deparei em situações que eu pensei "nóóssa, que vagaba". Mas, assim, luto pra caramba contra isso. Sério. É só lembrar que as mesmas coisas que eu quero, elas também querem. A diferença é vetorial, só. E, pô, se a promiscuidade não deteriora meu caráter, por que vai fazer isso com alguma mulher?”
Lembrei-me então da dona Neusa que fazia questão de frisar ter sido sempre muito séria em seus namoros. E ela sempre disse o muito séria no sentido de estar com seus namorados pelos namorados e não por outro motivo qualquer. Pra dona Neusa, com seus 73 anos, o importante é a honestidade das pessoas.
Mandei mentalmente a dona Candinha pastar. Pra mim, o importante é a gente ser honesta com a gente mesma, com o mundo e se auto-respeitar. Não ultrapassarmos nossos próprios limites de um jeito que seja humilhante.
E se fosse possível cair agora na minha frente uma estrela cadente atendedora de pedidos, eu quereria pedir a ela que nenhuma de nós se anule, nunca mais, por nada.

terça-feira, março 13, 2012

o prato

Transpirante, ofegante e trêmula, acordei angustiada. Mesmo sendo você a minha primeira visão todos os dias ao olhar pra frete naquela sua foto bonita, tinha me esquecido de como era seu corpo. Deixei cair no chão um prato azul que, da minha mão ao chão, se fez em mil pedaços. Seu corpo na cabeça.
Eu não era só sentimento, enfim. Eu fora gente perto de você. Eu tinha pele. Não sei que força tem esse esquecimento. Seis meses apagando sexo. Acabou. Lembrei que o amor não veio romântico como havia sido posto. Você era um corpo inteiro no meu pulsante e admirado com a perfeição das medidas.
Não deve haver outro assim complementar. Eu só lembrava do choro e do peito latente e da ternura e dos abraços. Acordei nua e só com sua foto colada na parede.
O prato caiu e eu me espatifei em lembranças muito físicas. Então fiquei densa, dura, contida. Não há volta, por enquanto.
Melhor varrer bem o chão.

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Ode à doçura

crônica veiculada na Rádio Universitária, no início do mês
Eu queria contar uma história bonita, dessas em que passarinhos estão na janela e o sol faz aquela cor amarela num fim de tarde. Eu queria um velhinho e uma velhinha de mãos dadas numa pracinha comendo pipocas.
O romantismo. Eu queria uma ode ao romantismo nesses tempos corridos em que um bom dia é quase sempre seguido por um porque e um tudo bem nunca é respondido. Eu queria, nesta terça, que o mundo todo parasse quietinho pra que a gente pudesse simplesmente sentir rajadinhas de vento quente de verão.
Você que ouve essa crônica deve entender que estamos aqui, entre notícias, bombas, greves de fome, bolsa de valores e horários de avião pra que você possa respirar. Não vou, então, ser agressiva, incisiva, precisa nem nada.
Quero crônica com gosto de bolo de chocolate. Um conto de fadas que venha no carnaval. Deixa o turbilhão pra mais tarde!
Hoje ainda há tempo de brincar de roda sem pensar que não há a menor finalidade em cirandar.
O primeiro amor passou, o segundo amor passou, o terceiro amor passou. Passou também o ônibus lotado sem parar e com uma passagem cara pra dedéu. Você deve ter chacoalhado muito, balançado o esqueleto e se for baixinho como eu, deve ter feito alongamento nas barras do alto. E é claro que isso diariamente é absolutamente desagradável. E é claro que há contas a serem pagas e o dinheiro quase acabando embora o mês não seja ainda nem metade.
Mas no mundo ainda há som de pandeiro. Na tarde ainda há fruta madura e, na noite, lua. E se a lua sorri em quarto crescente e minguante mês a mês, a gente também pode.
Você talvez tenha medo de palhaço, mas isso não impede que seja contada uma piada. Quando foi a última vez que você andou de bicicleta? E o último beijo de língua? O último ombro amigo? O último abraço? O último suspiro doce com casquinha levinha de limão?
Eu acredito que não pode ser triste um mundo em que há cheiro de pipoca e milho verde. Depois de tudo que tem na semana, há sexta à noite e domingo de tarde.
Eu não sou otimista, ao contrário, descrente e desconfiada de tudo quanto é gente nova que se aproxima. Mas e se a gente parasse e comesse uma carambola?
Se for verdade que o universo todo cabe na garganta? Se o seu chefe comprar trinta picolés?
E se houver vitamina de abacate? Língua estrangeira? Pernas bonitas? Olhinhhos brilhantes? Cachorro dizendo eu te amo?
Olha. Passou muita coisa já e o ano mal começa. Eu, você, sua tia e esse senhor aí perto que não para de olhar a hora estamos muito estressados. Temos um medo tácito do mundo.
Mas, lembre: quando chover de novo, vai ter cheiro de terra molhada e a qualquer momento você pode comer um pedaço de pizza. Então, que seja leve o resto da semana! Que seja doce, a vida!

sábado, fevereiro 25, 2012

unha e depois

Você nem tem ainda uma música. Algumas festas e um carnaval. Quem sabe um corpo? Quem sabe? Hoje eu não te vi, mas ontem tinha outra menina até mais bonita, mais fina, mais blush no rosto. Então não vou te fazer rimas, quem sabe? Quem sabe as rimas que um corpo nu é capaz de fazer? De corpo inteiro, você é bom como se fosse sério. não há, ainda, intimidade. Mas seu corpo entende do meu como se fosse machucado ou qualquer coisa de arranhão. Seu corpo flui como se fosse físico e tivesse carne. Como se fosse pênis e eu tivesse algum buraco.
Meu deus! Que coisa é seu corpo nessa madrugada? Que coisa foi seu corpo na manhã?
E como fica, depois de tudo, a boca? A boca iniciou as coisas anos antes até dos dentes. Meu deus a boca premeditou todo e qualquer carnaval.
Então, você, não quero.
Mas me devolva a boca ainda essa semana que ela hoje aprendeu como se faz quando a garganta precisa ao certo dilatar. Você, sem saber, me ensinou. Não volte. Embarque neste mar de coisas matemáticas e me deixe agora com a boca grande e o corpo certo. Arranhe. Arranhe. Vá.

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

das carnes prontas

De quando passa o bloco, eu passo os olhos nos ombros e nas barrigas, depois nas caras. Que quando passa o bloco o amor é de confete. Que quando passa o samba o que fica é nadica de nada. Um sopro cujo marco é sorriso.
Ausência completa de gravidade.
Leveza.
Guarde você o tanto que bebe. E não dividamos nada. Nada. Principalmente não telefone. O depois não existe no carnaval. Pensamento, se existe, está errado.
Veja se no sangue circula samba.
E resplandeça.

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Lady is a tramp

Pensou em mim como a Olga Benário ou Anita Garibaldi. Olhou e achou que teria uma fiel escudeira que volta e meia se enfiaria nas suas brigas e as tomaria como minhas. Sabia que eu não seria a mãe perfeita de louça lavada e comida no forno.
Pensou que eu pegaria em armas e apanharia e bateria e rodaria a baiana sambando e de salto. Pensou que eu fosse cuspir na cara do guarda e não quis nunca que eu te tirasse do olho do furacão. Nem eu pensei em tirar ninguém do olho de nada.
Mas você não pensou que talvez eu quisesse volta e meia ser Julieta. Que eu quisesse ser protagonista de outra história. Por que o herói é você, Robin Hood, mas eu não sou Mary Ann...
Eu não tenho sangue de briga nem doçura de princesa. Não estou dentro dos seus moldes, nem dos outros moldes.
Você não entendeu o que eu mesma não entendi. Das mocinhas, eu tenho aquela inocência besta de achar que as coisas podem durar e que eu preciso de fazer alguma coisa para que os laços se mantenham. Ao mesmo tempo, eu sou besta a ponto de acreditar em mágica.
Eu podia parar por aqui essa coisa estranha. Mas eu queria que você soubesse que eu sou a atriz principal. A Salomé. A Lady Macbeth. Os meus tapas são sutis, ou são verbais.
Comigo, o lance é veneno.


quinta-feira, fevereiro 02, 2012

BOOM

Eu quero de novo aquele amor doente. Aquela coisa úmida, pastosa, densa, pesada. Aquela coisa que saía da sua boca quando você dizia mole que seria eu a mulher mais feliz do mundo.
Eu quero de novo a lua vista com as minhas mãos nas suas mãos e uma pausa. Eu quero as folhas de janeiro sendo cheiro de janeiro e a gente com cerveja meio batido, meio choco, meio quente se embebedando mesmo da gente.
E se não for você, não importa mais. Eu quero de novo a doença de pele que se pega quando se gosta tanto a ponto de explodir.
Eu quero de novo uma coisa tão grande, tão forte, tão verdadeira que eu mesma não tinha coragem de acreditar que acontecera. Eu quero de novo passar anos duvidando da memória do momento mais bonito da história.
Os roxos no braço. A necessidade. O grito mudo dia a dia todos os dias de mãos dadas e os olhares cúmplices de quem tem culpa por ter absurda, absoluta, inegável paixão.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Um banquinho, um violão

Quando for pra a gente se envolver, que seja lento. Que a gente se conheça antes, um pouco, aos poucos. Que os mínimos detalhes sejam postos na mesa, personalíssimos. Que você implique antes com meu jeito e eu com seu corte de cabelo. As noções de mundo sejam compartilhadas junto com cerveja, vinho, vozes altas e embaraços. A gente se desembarace sei lá como.
Que o toque venha natural e depois fique vulcânico. E a gente se irrite um com o outro, discuta, brigue. Antes. Você se atente para o meu ontem, eu me atente para o seu amanhã.
Então, que eu não te sugue a alma por inteiro em três dias, nem chore. Que você não declare posse de nada, nem do meu corpo. E que nossos corpos se entendam num ritmo outro, menos punk e mais bossa.
Sobre, então: amor, sorriso e flor.

sábado, janeiro 21, 2012

esfinge

Qual o tamanho do medo que você tem das minhas pernas? A velocidade das coisas aparentes talvez não seja sincronizada cabeça a cabeça. Olha, não é nada. Só um sorriso ou outro, umas conversas, sincronia.

Eu não sou exatamente perigosa. Ao contrário, volátil. Uma dessas coisas pequenas de se por no bolso. Só que arde. Queima. Um amontoado ambulante de hormônios e a cabeça cheia de histórias.

Você não sabe a briga que foi pra que eu tivesse hoje essa forma, essa cara e esse furacão. Mas é bem simples, ferro e fogo, pronto.

Não tome cuidado. Abrace e pronto.

terça-feira, janeiro 17, 2012

desconselho

Não requente o amor. Mesmo que dourado. Mesmo que língua presa. Mesmo que um dia excelente, não requente. Deixe pra lá, frio mesmo. Deixe apodrecer num canto longe onde você não veja. Esqueça. As horas nunca voltam para trás e o que foi desfeito que pereça. Mesmo que pareça não ser ainda morte, ou só pequena morte.
Você que é moça sabe de dentro se foi fim ou não. Você sabe o tanto de cartas na manga e o quanto agüenta com as sobras. E se já foi, se partiu, se morreu, não coma. Não arrisque a intoxicação do que o tempo deixa borrachudo.
Não pense em possibilidades, não deixe pra mais tarde.

Não se morra por ninguém.

terça-feira, janeiro 10, 2012

A vida é (em dois mil e) doce.

E de todas as coisas grandes e pequenas que eu podia querer falar hoje neste fim de ciclo que vem com o doze, o doce e os números todos é só o eu te amo que sai.
E eu só quero dizer de verdade.
Eu só quero dizer a verdade.
A vida as vezes é muito azeda a começar pela boca e pelos verbos que não sucedem crases - e se fosse tudo crase eu acharia mais bonito. Você não sabe o quanto eu gosto de sinais gráficos e notas musicais, só sabe dos superlativos. Pois este ano eu quero ser diminutiva e mais lenta, mas ele não sabe. Ele não sabe que eu pretendo sorrir e tenho sorrido e me estressado menos.
Ele ainda sabe aquelas coisas do ano passado e sabe que mãe é bom e sabe o que passou e também como me fazer chorar. E eu não vou dizer nada que não seja puríssimo, límpido e verdade, mesmo que me digam que só é possível verdade em pensamento.
Eu não acredito.
Há direito ao primitivo.
Eu quero o bruto da vida. O chifre do elefante e as coisas mais bregas que forem feitas no mundo.
A verdade, essa moeda gasta e quase sem valor. Bruta.

sábado, janeiro 07, 2012

o que os maias fazem comigo

Se o mundo acabar mesmo em 2012, eu quero passar mais tempo com você. O resto dos dias sem o resto do mundo, dormindo de conchinha em cama de solteiro e acordando como se o colchão fosse de molas, o travesseiro de penas e o lençol de seda. Eu quero aprender a cozinhar coisas gostosas, limpar camarão, fazer moqueca de sururu com requeijão pra gente comer, amassar massa de pão, rolar macarrão, massa de pastel, fritar mais coisa. Fazer iogurte, comprar uma máquina de waffle e comer de manhã waffle com mel ou com manteiga ou com sorvete.
Se for mesmo pra ter só até dezembro, eu quero ir com você ao Maranhão e ao Acre. E dançar forró em Itaúnas e voar de asa delta e andar de balão com você. E te levar num karaokê. E cantar a noite inteira com a cara cheia de cachaça que é pra acreditar que meu timbre é aceitável. E eu quero gastar o dinheiro todo que eu vou ter pra a gente comprar um piano pra você que aí você me ensina a tocar e você toca.
Um filho, também, eu quero fazer. E ter a nossa casa. O nosso cachorro. As nossas estantes de livros e partituras. A gente arruma um empréstimo e deixa rolar.
O mundo não vai acabar?
E, também, antes de tudo, se for mesmo o mundo acabar, eu quero ter coragem pra dizer que eu ainda te amo.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

red nose

Ele as vezes tem a língua meio presa e isso é bonito. Ele pra mim mostrou os doces, a ternura, a ajuda e o papel de herói. Mui bien composto, escondeu-se em gritos altos, força e nariz.
Eu disse assim que queria um nariz assim num filho meu. Reto. Bonito. Ele pra mim mostrou um monte de loucuras, uns devaneios, uns xingamentos. A cara feia, o adeus, as tatuagens.
Defeito mesmo, qual? As coisas estúpidas eu ria, as brigas eu cria, os risos eu tinha.
Então era conforto todo dia a existência. A língua presa. O jeito de falar que as coisas são bonitas. O nariz.
E do nariz, meu tombo.
Travei.
I don’t believe in that love anymore.

quinta-feira, dezembro 29, 2011

Para o porquinho da índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
Manuel Bandeira



Eu te amo de boca aberta e de boca fechada. De língua. Mordendo. Sobrancelhas absurdas. Eu, então, nem se fala. Absurdíssima, sentida, sentinte. Ouvindo sem ouvir todas as coisas, gostando até de suor. Mantendo.
Eu te amo cabeça nos peitos, pernas enrolantes, boca mordendo nariz. A língua morde as coisas que são suas. Os braços me sustentam de manhã, enquanto dormem.
Eu te amo pelos arrancados, um monte de agrado. Eu te amo sentada. Em pé. Acordada. Dormindo. Absolutamente desconfortável.

quarta-feira, dezembro 28, 2011

água e sal

Metafísico, o amor me come. Músicas que eu não cantei. Sonhos que eu não sonhei. Dores que eu não quis. O amor me açoita. Espreme. O amor de ontem, errado, me entrou na porta de casa com pressa e funcional. O amor de hoje quis dar boa noite.

Cabe nalguém assim tanto amor?

Estico-me.

terça-feira, dezembro 27, 2011

Da falta

Então agora você me castiga só por existir. Eu fico sabendo que no mundo é possível coisa grande, sentimento puro, afeto gratuito e vontade de ser melhor. Eu fico sabendo que há gente grande, que há um pra mim e sei lá o que mais.
Daí que longe é seu estado imutável. E eu fico tentando jogar com o resto do mundo num lance meio absurdo de desespero enquanto espero você chegar da guerra. Não sei ser assim antiga. Também não sei ser moderna.
A gente quando?
Sem resposta.

domingo, dezembro 18, 2011

a moça bonita

Eu só não quero chegar em casa. Parar. Pensar. Não quero descobrir nada hoje, nem amanhã. Quero tomar algumas pílulas programadas pra tornar a gente mais interessante. Fazer a unha do pé, sobrancelha, cabelo. Ficar mais bonita que ontem.
Não adianta eu ter o mesmo tom de pele, cabelo parecido, olhos assim, sorriso assado. Em mim você nunca vai encontrar o que procura. É ela. Tranqüilidade, ordem, este tipo aí de doçura. Não, eu não tenho isso não. Eu não sou, nem seria, o que você procura.
É ela.
E se você gosta dela, é ela. Pronto. Não vai achá-la em mim nem ontem nem nunca. Nós, eu e ela, não nascemos no mesmo mês, não temos as mesmas unhas, a mesma paciência, os mesmos cílios, nem as mesmas necessidades. Eu não espremo espinhas como ela e não me tornarei o que ela é.
Ela é única, moço. Como ela, só ela. Pronto.
Vá lá.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Macaquinho


Davi tem quatro aninhos e hoje estou de babá dele.

- Davi, você continua namorando a Isadora?
- Não.
- Ela te deu um pé na bunda?
- Um tênis na bunda. Ela pegou, tirou o tênis e chuaaaaaaaaaaaaaaff - Davi fazia gestos e montava no encosto do sofá.
- Mas você não quer mais namorar com ela?
- Não.
- E ela quer namorar com você, Davi?
- Eu sou um macaquinho!
- Davi, ela quer namorar você?
- Ela quer, mas eu não quero.
- Por que? Por que você prefere ser criança?
- Não. Porque eu sou um macaquinho e prefiro pular de galho em galho.


true story.

sábado, dezembro 03, 2011

cantada

E se for? Mais que samba, mexida de quadris, braços longos. E se for, mesmo, atração de olhos castanhos com olhos castanhos e boca pequena com boca pequena. Pele morena com pele morena. Cabelo crespo com cabelo crespo. E se a textura da pele talvez combinar?

E se, mesmo parecidas, duas criaturas forem diferentes o suficiente pra complementarem-se. Se todo o passado não foi acidente prevendo o presente?

Se a gente não dança? Se a gente não ri? Se a sua voz for o que eu preciso pra me ninar e você não me irrita? Se o meu cós for a diferença pra sua inocência acabar?

Se for a manhã?

Se for mais lógico do que a gente pensa. Se dispensa apresentação? Se não tem mais interrogação? Se pulsa forte?

Por que não?

sexta-feira, novembro 18, 2011

chá

Vá embora, então, do mundo. Da minha vida. Saia do meu ontem e da minha cabeça e do meu jeito de rir. Eu pareço um passado ambulante. Um reflexo de sei lá. Uns cacos colados de cansaço com saliva e azedume.

Trêmula feito xícara em mão de velho, eu sinto ainda suas mãos no meu corpo que nem existia antes.

Preciso sê-lo sem tê-las por mim, em mim, à mim. Preciso ter-me sem contato seu e sem querer te tatuar em mim. Você podia não ser metade. Esconda Mr. Hide de volta no armário e volte mais tarde. Eu faço um chá.

Ainda tem ternura aqui no armário. Ainda tem você no assoalho. Ainda há boca em peito e olhos de ver o que já foi.

Deixa o presente pra lá. Eu não pedi pra saber.

sexta-feira, novembro 11, 2011

Matemática

Você nunca diz euteamo. Um cadinho só de dor. Dois bocados inteiros de angústia.

Eu acho que gosto mais de você do que você de mim, entalei e não disse.

Cinco tornados no peito.

quinta-feira, novembro 10, 2011

pequeniníssimo ensaio sobre ternura

A única coisa que eu te dei, nesse pouco tempo que foi longo ou longo tempo que foi pouco, foi ternura. E eu até entendo que ternura seja, de fato, algo de muito dolorido que toma as entranhas da gente e fica insuportável.

Mas é essa mesma ternura insuportável que faz com que a gente não se sinta completamente sozinho no mundo. Você me disse que precisava de alguém que cuidasse de você e eu (que sou essa maluca, alucinada e que adora ver gente precisando de cuidado porque sente que a própria sina na vida é ajudar) quis ser isto. Quis te por no colo, curar a febre, fazer compressa, passar colarinho, cuidar do almoço, dos pés, da coluna, das dores de cabeça, aplacar a raiva e o que mais de ruim tiver no mundo.

Essa semana, eu estive escorrendo. Eu estava tão cheia de mim que não cabia, aí me fiz em muco de gripe e escorri pra esvaziar um pouco. Às vezes, a gente precisa se escorrer pra suportar a existência.

Quem te suporta?

Eu fico pensando se você consegue lidar com qualquer coisa que mexa nessa sua intocável e magnífica solidão produtiva. Daqui a pouco, você fica velho. Não vai demorar muito, não.

Daí tudo o que você vai querer vai ser um pouco de ternura. E vai ser triste, ficar sem ternura. Sem a dor que a ternura traz consigo. In su por tá vel.

domingo, novembro 06, 2011

ao contrário do pressuposto

Ele não é muito de elogios.

- Cabelo bonito. Olhos bonitos. Pele boa. Bonita, você.

Estranhei. Não sei porque fico. Caímos no chão.

Algum imã existe, não sei.

- Você quer tudo o que você demonstra?

Eu disse sim. Com a boca na dele, eu disse tanta coisa que eu nem sei direito o que ficou.

Eu disse que ia embora, mas a gente perdeu o controle. Ele me puxou sei lá pra onde, guardou meu brinco no bolso como se fosse um pedaço de mim. Disse que gosta.

Temos medo de nos apaixonarmos um pelo outro.

Não somos nem parecidos. Nada em comum.

Ele tem gosto de folha na boca e eu uso terno. Ternos os braços que ele tem, a textura da pele, as pintas, o crucifixo.

- Bom te ver, eu disse no fim. Por que você gosta de mim?

Ele disse que era a loucura de tudo e eu entendi que era eu mesma, não reflexo, nada. Eu gosto de volta. Irracional.

domingo, outubro 30, 2011

Tapa

Agora, Aline, você para de falar e se aquieta um pouco. Bote uma Elba, sei lá, pra tocar e descanse. Não tente agora abraçar o mundo todo. Sossegue.

O amor é isto mesmo que você está vendo.

Trabalhe. Confie. Trabalhe mais um pouco e desconfie. Descanse. Leia. Faça alguma coisa pra mudar de cara. Contenha-se. Depois cante, que quando você canta nem se cuida quem não é seu irmão.

Continue inteira, íntegra, desperta. Não dance ainda, nem pense que vai tudo dar certo no primeiro sorriso. Brigue mesmo. Não abra nunca mão de si.

Aprendeu?

Se reprovar, vai esfolar a cara inteira mais uma vez.

Agüenta?

quarta-feira, outubro 26, 2011

Saudade

Eu sinto falta do que a gente foi um dia. Daquela pressa, da sua calma, de você bravo, do seu regaço, do volume do peito e da gordurinha da cintura. Você nunca foi muito de me olhar, mas cantava.

Eu sinto falta de sentir sua falta em cada segundo e eu sinto falta de dizer apelidinhos que eram nossos. Rir com você. Os filmes, o álcool, o escuro, o frio – que quando é junto é muito mais gostoso. A vergonha que você tinha às vezes de falar as coisas e o jeito de olhar pra baixo.

Eu sinto falta do encantamento, da sua mão na minha nuca, da implicância, dos jogos de tabuleiro, do desenho, da lógica e da Avenida Paulista. Eu completamente sem paciência pra museu, mesmo o Masp, e você querendo apreciar e explicar aquelas coisas que também te fazem e eu não sei ver.

Eu sinto medo de a desistência ser um erro e de os defeitos que eu botei serem todos inventados.

O que é que eu vou fazer depois de você, se parece que nada vai conseguir ficar bonito e os outros homens do mundo vão ter qualidades insuficientes?

Como é que eu faço pra manter-me sólida estando sem você?

segunda-feira, outubro 24, 2011

Essa aflição é paixão ou café? Quilos e litros de droga, sei lá. Tem folga semana que vem? A rima, de fato, não tem. Escrevo em prosa como quem automatiza, máquina.
Eu não sei mais coisa quente. Semana que vem a gente troca de sangue. Eu não sei mais cheiro novo. Esse café é pé ou paladar?
Vixe Maria o que foi isso maquinista?
Fumaça cor de rosa que este mundo noite a dentro fica blue. Letra, depois letra, depois tempo, depois forma, depois letra.
Os braços pesam muito antes de escrever. Os dedos não deslizam mais. O sexo está desaprendido, preso – quase casto.
O ontem sustenta o talvez de amanhã. O ontem eu não sei há quanto tempo passou.

sexta-feira, outubro 14, 2011

depois da páscoa

Um amor grande desses que não cabem. Volta, mas eu não quero. Volta, mas acabou. Um amor desses que queima. Termina hoje. Volta. Termina hoje comigo. Foi ano passado que a gente tentou e ainda dói. Um amor desses que não termina.

Eu quero ontem amor novo. Eu quero amor novo amanhã e hoje.

Eu quero não chorar por amor que não acaba nunca, nunca.

Eu quero nunca mais esperar.

Porque parece que a vida toda, mesmo curta, foi ensaio. Porque parece que o peito todo não cabe a coisa grande que vem quando o nome é citado,

Porque parece que a academia serve pra estudá-lo e parece que eu sirvo só pra isso.

Parece que eu fui feita pra pensar em como seria se fosse alguma coisa.

Parece que eu doía se não fosse alguma coisa.

Eu fico doendo.

Eu fico longe.

Eu tenho, eu juro, outros carnavais.

quinta-feira, outubro 06, 2011

destroço

Tem certeza que não há pontas? Moeda esquecida, roupa perdida, toalha, livro, causa? Nenhum nó na coluna? Um não sem dizer?

Ontem eu não te vi, nem anteontem, nem semana passada. O adeus, dolorido que fosse, ficou facada certa, profunda, infinita. Definitivíssimo como se amanhã fosse coisa sem dúvida. Como se o ontem fosse sem reparos.

Nada, ninguém. Amor puro fantasma que nos passeia de leve.

Eu não sei mais insistir.

sexta-feira, setembro 30, 2011

Prancha

Nem o sarro. Eu não tenho o ritmo, Carlos. Desespero. Se fosse uma cor seria este marrom cor de madeira de violão. Quente. Se fosse cor seria quente, Carlos. Sossegue. Fingir que nada, Carlos. Nada. There is not an us. Can you understand?

Mil vezes seu nome pra ver se mancha. Marcha pra outras freguesias. Longe do meu litoral. Carlos longe, Carlos perto, Carlos arranha. Calos nos pés esperando por massagem. Amor?

Comé que pode jogar palavra assim do nada ao vento. Sem medo de que? De mim tem que ter, Carlos, que eu sou coisa dura de agüentar. Nem o sarro, Carlos. Você que tem as mãos maiores que as minhas costas que nos ombros quase chegam no peito. As mãos, Carlos. Quantos calos têm?

Nem o sarro, Carlos. Nem o beijo.

Amor? Nem no baço.

sábado, setembro 10, 2011

cloro

Vou arrumar mais oito braços pra nadar no mar. O amor antes do grande amor é amor? Há algo mais terrível que o não sei?

O corpo, sim. Prender respiração embaixo d’água e não morrer. Nadar. O corpo, sim, em si, mistério. Arrepios por segundo.

O amor antes do medo é puro?

Amor sem sol. Amor sem morte. Amor sem peso. Paixão? O corpo não diz. Grita. Os cabelos ocultam a verdade.

Can you understand a no?

segunda-feira, agosto 29, 2011

textinho que eu acho que escrevo

Pare de me machucar, apelo em português correto. Ele vem com rimas e gerúndios dizendo que fui eu quem errou. Chorei rios de pedras pra escrever talvez amor rolante.
Ganhei olhos pesados de saudade, ombros duros de falta. Mãos vazias.
Me ama só um pouquinho, desviei a concordância. Fiquei sendo terceira e segunda pessoa. Você e tu ao mesmo tempo um só ele. Ele vem me confundindo. Mudei de língua. Don’t live me alone.

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quarta-feira, julho 13, 2011

18h

Quando eu chego em casa, fico tão frágil quanto não posso ser no trabalho. Ouça aqui você, fazedor de questão de sumiços descabidos: estou precisada de dois cafunés, cinco abraços, nove massagens em cada pé e uma infinidade elevada à quinta potência de beijos na boca.

domingo, julho 03, 2011

Boa noite

Eu choro quando você vai embora.
Você não entende que o que falta
me falta
é chão.

sexta-feira, junho 24, 2011

"Tereza, você parece uma lagarta listrada"

- Me dá dois instantes?
- Dois instantes de quantos segundos?
- Já foi. Era o tempo de passar um recado.
- Três segundos cada instante.
- Podia cada instante com você ter tempo elástico, sabia? Aqueles tempos de série de ficção científica. Passam 20 anos que cabem em três dias.
- hum...
- Aí depois o mês que eu fico longe fica tendo o tempo que tem mesmo. Nem devagar, nem rápido. E o tempo que a gente tem junto fica sendo maior.
- Massa!
- Isso até o tempo da gente junto ser o tempo todo. Aí a velocidade que for pra ser, que seja.
- Velocidade quatro.
- Da dança do créu?
- Yep
(sem ponto final)

terça-feira, junho 14, 2011

labuta

Não precisa de muito não.
Só de acreditar.
Aí a gente fica feliz com muito pouco. A gente briga que nem dorme. Aguenta todos os rojões.
A gente ri.

quarta-feira, junho 01, 2011

Sessão noturna

Insônia vestida de rosa-pink e óculos de coração aprochega-se do meu canto. Freqüenta-me. Em cara moldada de madeira de demolição, diz-me:
- Perde este tempo escrevendo não, moça. Cuide das olheiras e deixe de ser tão monótona. Se meu trabalho respeitasse fuso horário e me desse período sem clientes, aprenderia a tocar violão. Ao menos teria controle dos dedos que é coisa que você devia caçar tempo de ter.
- Monótona, eu?
Lesão por Esforço Repetitivo.

quarta-feira, maio 25, 2011

estoque

Não há tanto sentimento assim acumulado. Só irritações que viram ferida no canto da boca e dor nas costas. Estou aprendendo a me vazar e queria amanhã saber fazer música.
Não tenho nenhuma carta de amor para escrever. Em camadas, guardo saudades diárias. Saudade de carinho fica nos pés, saudade de abraço fica no estômago, de massagem, nos ombros, de colo, no peito. As outras saudades vão se espalhando em cantos devidos do corpo e os meus pedaços ficam me cobrando a dívida.

Aí eu acumulo espalhada de saudade que só vaza quando morta.

segunda-feira, maio 09, 2011

poeminha submisso

Quando ele fica bravo comigo
parece que o mundo acaba.
Eu fico toda entalada.
Pareço até mulherzinha,
c'oas tripa cortada a navalha.

sábado, maio 07, 2011

Mas se eu não falar que eu gosto de você, como você vai ter idéia do tamanho das coisas?
Também, se eu guardar, como é que eu vou respirar?

sábado, abril 23, 2011

Sobre as primaveras

Tia Glorinha e tio Renê são casados há uns quase 50 anos. Da última vez que os vi, ele ainda chegava em casa com uma rosa cortada do quintal de presente pra ela, chamando de linda. Ela ainda sorria e dava beijinho de agradecimento.
Minha avó disse que meu avô ainda achava os peitos dela bonitos mesmo depois de estarem caídos e envelhecidos de amamentação e tempo. A Nice e o Fróis ainda se chamam de amor e dão abracinhos e beijinhos e, na verdade, juntos parecem dois adolescentes. Ela se enfeita pra ele, ele fica grande perto dela. Os dois tem mais de vinte anos juntos.
Com você, eu não quero nada além disso: tempo pra ver direito todos os defeitos e as qualidades e ainda assim lembrar de volta e meia fazer ternurinhas.

domingo, abril 03, 2011

Junto

Eu queria que você soubesse que eu não digo as coisas enquanto eu agüento não dizer.
E quando eu digo que sinto saudades, é porque ela é grande o suficiente pra ter que saltar da língua.
E se eu disser que te amo, é por que isso não cabe em mim e eu tenho que fazer vazar um pouquinho pra não sufocar.

Era pra você a música, a cara, a ausência de beijo, a vontade de grito. Era pra você entender que o desejo vem da falta e você falta demais aqui.

Eu te assalto quando complico?

quinta-feira, março 17, 2011

inominável

Se eu me apaixonar, também, além dos olhos, você vai ser o primeiro a saber. Vi as sobrancelhas dele em quatro ou cinco faces durante o dia. Retas. Queimei no esôfago tempos e tempos de uma coisa que, meu deus, só a adolescência permite.
Voltei no tempo.
Expectativas e coração batendo. Quis sabê-lo como há muito tempo não queria nada. Não comê-lo, não, como é de praxe. Sabê-lo cada canto de sobrancelha, descobrir de onde vêm os olhos, entender o ritmo das mãos. Tocar todas as notas do corpo e sugar todas as frases do mundo.
Quis mais ainda que ele me quisesse saber.
Também, se o óbvio passou, qualquer coisa passa. Quero mergulhar de cabeça, agora. Queimar e pronto, inteira, junto. Descobrir a beira das coisas. Vê-lo se sendo e me contando que dor e delícia se faz no meio.
E me doer. E dividir.

quarta-feira, março 02, 2011

um, dois, três

Quis gritar amor como se fosse fácil. Amor. Amanhã eu não tenho barriga nem flacidez, nem pele sobrando e nada que incomode. Amor. Inventei um ritmo nosso pra fazer carne e feijão e sonho.
Feijão e sonho. Assim vive o homem.
Como é que a gente compõe mulher? Eu sei que a culpa tem que ser minha. Eu nasci com a rachadura e tudo o que ela implica.
Apesar disso, quero inventar um filme e muito choro, amores. Amor.
Vou dizer eu te amo todos os dias inundada de coisa bonita – sem ser banal.
Você brinca de pique comigo e me põe pra dormir?

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Dueto (de mãos com meias)

Eu só sei insistir. E também nada. Se fosse outro dia nem choro tinha, nem unha feita, nem cabelo, nem perna depilada.
Eu não sei explodir. Se fosse outra data quem sabe bolo bastava?
Fumaça pra todos os lados. Chocolate. Cafeína.
Tentar com açúcar refinado preencher os buracos absurdos de solidão. Eu não sei implorar.
Se fosse outra casa quem sabe desprendimento.
Nada.
Consta nos signos, nas bulas, nos dogmas.
Não vai passar.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Panfleto do escritório da maior empresa resolvedora de problemas pessoais do mundo.

Trabalhamos contra o romance. 48 horas/dia contra o açúcar. Administramos insulina cardíaca e ingerimos menos de mundo para digerir certa acidez. Não fazemos bolos.
Fatalistas que somos, ligamos bolo a veneno.
Pequena morte não queremos neste mês.
Trabalhamos de mau-humor. Lindos, penteados e de mau-humor. Ostentamos olheiras laborais e temos lesão por esforço repetitivo.
Final feliz, também fazemos. Tudo muito calculado e racional.
Só não sabemos falar direito. Vendemos texto. Afeto mecânico. O seu trabalho de escola em revisões nada precipitadas.
Tiramos cartas.
Serás amor?
Trabalhamos contra o tombo.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Estômago embrulhadíssimo

Mandei um poema. Coisa grandíssima é mandar palavra. Talvez não faça ainda muito sentido essa coisa toda que eu sou. Com calma, vamos. Meu brinco de roda-gigante foi confiscado e eu com ele deixei um pouquinho de sonho.
Está tendo um surto de gente sumida reaparecendo.
Estraçalhando coração.
Desaprendo a escrever todos os dias e tento ser sincera.
Sinto dores de cabeça e acordei com a boca ruim. Sinto dores nas coxas e os calcanhares em bolhas.
Talvez eu fique coxa mês que vem. Seria bonito, também, ser bailarina coxa. Rodopios mancos desses que nêgo até acreditaria em vida.
nunca entendi como é que nêgo assim de circunflexo não está no dicionário.
Sabendo ou não, eu vou escrever sincera.

sábado, fevereiro 12, 2011

in time

Acordei inteira. Você dentro de mim, nos poros. Meu peito inteiro seu e o ventre com memória própria de coisa que nem houve. Meus dedos prontos.
De noite, angústia pura sem resposta.
Como é que eu vou ser prudente apaixonada?
Medo tão grande de não, meu deus. Medo tão grande de ser unilateral.
Depois são borbulhas. Madrugada e bolhas.
Essa noite eu devo sonhar.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Faz mal?

Se foi bonito, que mal tem? Esse resto de coisa que as pessoas inventam pra tirar um do outro assim são muito menos do que signos complementares. Ninguém se força a nada e a textura da boca é muito mais grave que o resto.
Se coube, então, minha boca na sua, que mal tem? Ritmo e pronto. Tocou aquela música que ultimamente tem me tocado e eu aposto que você mesmo nem ouviu.
Foi bonito.
Bonito.
=]
eu tive que sorrir com o corpo inteiro - já tinha tempo que eu não ria à toa.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

outra coisa engasgada - dor de esôfago quase peito

Em algum momento ia ter que ter tensão. Ninguém mantém romance a seco. As tabuadas eu escondi todas na prateleira sem desaprender a multiplicar. Operações básicas eu sou rapidíssima. Achei que você também não custaria a somar dois e dois pra ver que eu aqui não deixei de querer pele, nem colo, nem abraço e muito menos o cheiro.
Estranho seria se eu ficasse invulnerável. Mas o mundo perdeu um pouco a graça e o tempo passa estranho com você longe.
Você não entendeu.
Aí vem tensão botando o peito num espremedor de batatas.
Sangrando.

sábado, janeiro 22, 2011

ontem

Pára com isso.
Eu sou só mais uma dessas garotas que queria saber tocar piano.
E não sabe.
nem jogar.
mas se você quiser, eu reinvento o mundo inteiro. Danilo disse até que você tem sorte...
Será mesmo que eu não sou mais tão chata?
chega.
Não quero mais pensar além da pele.
Também, como é que eu vou me auto-inventar se eu aprender a brincar com silêncio?

sexta-feira, janeiro 21, 2011

guerra (puríssima)

Você usava máscara.

Tinha um rosto quadrado, com pontas. nariz bonito.
Achei que não devia falar. Mas é que eu derreto com tão pouco! Aquele livro que eu lia segundos antes de você me beijar eu nunca acabei de ler. Tenho medo de chegar em certos fins de história. aquele livro caindo da mão foi um beijo muito bonito.
Inventei de novo meu sorriso pra ver se ficava igual ao seu e eu te via no espelho. Agora eu rio todo dia desse jeito que eu gravei seu em mim.
Aí você me irrita. complica. assalta.
então eu não decifro nem devoro.
(nós dois temos os mesmos defeitos)
Ele disse no outro dia que você talvez me ame.
Eu fico com medo de saber de alguma coisa. Invento ciúmes. Mantenho a doçura. Fico maluca. Descontrolo. Perco a cabeça e acho que é obrigação você ficar perto.

Eu tenho que lembrar que não fui eu quem te inventou - embora te olhando pareça mesmo coisa feita neste molde.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

esperança

A esperança a me arrancar todos os cabelos, sonhei. Minha tia escandalizada com tanto cabelo a ser tirado fio por fio por um bicho verde.
É que era tempo de mudança, casa nova, fechamento de ciclo e abertura de ciclo. Eu não sabia que esperança pulava, nem que voava, e muito menos que não era grilo. Aos sete anos, contaram que bicho é esperança, verde.
A esperança acabou de entrar pela janela. Acabou de mostrar que existe, acabou de brincar na sala. Acabou de sair pela varanda. E ela grita:
- Intua-me, que esperança não é grilo falante.
Siga-me.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

quando nada tido, tudo - inclusive atos falhos

A senha é chocolate. Algo parecido com blues e a gente tem de novo dezesseis anos. Amizade surgindo até sem política. eu ainda olho o teclado pra poder digitar. e erro.
Letras minúsculas passando desapercebidas.
Quem de vocês se doeu de paixão?
A gente sempre volta nos problemas dos meninos. A música mais alta do mundo pra aguentar o show.
meu deus, por que o tempo cisma em passar?

terça-feira, janeiro 11, 2011

Toda a culpa de Cinderella

Ô! Eu sou uma romântica incurável ano a ano, mês a mês. Caso a caso. Crença a crença. O espelho mágico me pergunta todos os dias, pela manhã:
- do you believe in love?
Eu sorrio em resposta e me apego a cada pontinha besta de sentimento. A culpa é dos desenhos animados e da doçura existente no mundo – alheia a mim, inclusive.
Há certo fraco por tipos encantadores de mesma fisionomia.
Brancos, invariavelmente. Castanhos, invariavelmente. Sorriso, arrebatadoramente.
Besta, besta. Não nasci ainda o tipo padrão de mocinha. Eu falo.
Passei até boa parte do tempo pensando que só ia dar pra ser núcleo cômico.
Um, dia, então, um cara inventou a Fiona e eu inventei a esperança.
Betty, a feia.
- do you believe in happy end?

sábado, janeiro 08, 2011

sentimentalíssima

Parece que ele se escondeu no meu esôfago. Fiquei entalada. Paixão é bicho que sufoca.
Cabelo desgrenhado e uma montanha de não seis.
- Do you know if?
Perguntava gravíssima a professora de inglês do colégio. If. If. If.
Prefiro se.
aimeudeuseusoumenina.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

aviso brevíssimo

Me desculpa, mas eu não quero escrever.
Estou vivendo.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Só danço samba.

- Move your hips with your feets - dizia eu às gringas todas com aquele inglês porco que é conhecido dos que já me viram ébria. Dizia sóbria, inclusive.
- Dance is like sex, you see your men with his hands on your hips, and move it.
Porque se não fosse assim, era muito difícil visualizar rebolado. Aprendi num filme - nem lembro qual.
As únicas palavras que eu precisava dizer em inglês eu não dizia. Se era pra ensinar a sambar, eu devia saber falar barata em inglês.
Pisa na barata, joga ela para o lado.
Eu só ia até o step.
Impressionadíssimas ficaram com a gente que mexia a bunda assim com tanta facilidade.
Diz Nayara que está no sangue, eu mesma acho que é coisa que a tevê ensina pras crianças. Dessas coisas boas.
E eu só danço com ele, digo que é sem compromisso e tudo.
Hips and feets.
bad, bad, baaad feets!

domingo, dezembro 26, 2010

Salada de riso com azeite

Eu quis uma música bonita de natal. E doçura.
Como é que é mesmo aquela história de luz baixa que eu disse outras vezes?
As coisas precisam ser vistas na luz certa. Se claro, se escuro, se penumbra, a gente escolhe.
Transparente escuridão, disse a Ana C.
Banho quente, digo eu. pu ri fi ca ção
Então música bonita de natal, atrevimento e luzes enchendo a cidade. Crônicas por minuto. Poemas que eu não aprendi a escrever.
Paz.
No ano novo, eu vou aprender a relaxar.
Do you believe?

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa postal.



Se eu gritasse alto que te amo no meio da rua, no meio da lama, no meio de todas as pessoas que a gente conhece, que cara você não teria. Está tudo posto, está tudo claro. Eu que não disse nada. Eu que não fiz nenhuma loucura além daquelas com as quais você certamente já se acostumou.
Então me beija mais um pouco, mais uma noite.
A gente muda de cara quando amanhece, você sabe.
Fica. Deixa a cara da gente amanhecer e o tempo cuidar de fazer tudo.
Daí te liguei pensando em dizer tudo logo e nunca foi tão bonito ouvir som de caixa postal.

sábado, dezembro 18, 2010

our song

Johann me bate que é uma beleza. São mãos muito calejadas, as dele. Cabo de enxada, cano de ônibus, martelo pra pregar nossos quadros na parede. Johann me bate no intervalo entre uma ou outra música de Bach.

Depois viaja.

Aí eu fico apanhando de saudade.

Quando a mão bate, estala e fica, eu gosto. Meu calor dissolvendo nos restos de calo e a pele avermelhando. Depois ele puxa e segura os braços que dói um monte. Bach tocando dessa vez. Depois é rock.

Johann gosta mesmo de metal enquanto me morde as coxas. Johann me abate. As mãos se moldando direitinho nos meus contornos. Johann me sabe desde antes de inventar fotografia.

Agora quieto, longe, me faz carinho na cabeça. Johann não deve estar bem. Morro de medo de ele me deixando. E quando ele se cala, aí é que eu me ralo.

terça-feira, dezembro 14, 2010

Pra não dar dor de cabeça

Eu menti. Precisei de nada. Foi uma pergunta. Foi um sim que era não e pronto. Menti. E depois ninguém torrou o saco. Ninguém quis confirmar.
Mentir foi libertador.
Ele não quis crer, parece. Perguntou de novo algumas vezes, quis detalhes. Mas mentira pré-programada é quase verdade.
Então não menti. Disse mesmo o que sentia e aquele sim que era não era sim de peito.
- Tem alguém?
- Sim.
- Onde?
- Outra cidade. Você não conhece.
Descrevi os detalhes. Disse profissão e tudo. As faces de alguém eu vi. E pronto. parou. parou a maré.
Meu deus, como quis letras minúsculas e nenhum começo de frase. Inventei inclusive várias rimas. Você não sabe.
É muito boa essa sensação de não ter encantamento. Lidar com o humano, bonito, verdadeiro. Essa coisa que brota na cabeça da gente.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

amor, o nome.

Meu amor, meu amor, meu amor – ele dizia e ela se doía toda.
Resolveu questionar - de incomodada que estava com essa amorzice toda.
- Cê me chama disso por quê?
- De que?
- Esse troço aí.
- Amor?
- Isso. Isso.
- Você não gosta?
- Acho esquisito.
- Quer que eu chame de que?
- Cê sabe... Cê pensa no peso das palavras?
Ele professor de português.
- Trabalho com isso, meu bem.
Ela ficou de formiga na cabeça, pensando que ninguém amava ninguém assim de estalo, mas se ele dizia, devia talvez ser mesmo amor.
Depois ele disse um tchau muito convicto. Avisou que era fim e que estava muito bravo com ela.
O amor continuava vocativo.
- Me responde uma última coisa. Por que cê fica me chamando de amor?
- Eu e você. A relação é amorosa.
- Então me deixa ficar.

Mas ela doeu a noite inteira.

domingo, dezembro 05, 2010

anonimato e outros poemas

Uma ou outra piada, claro. Disse querer o que é óbvio que eu quero com palavras não minhas. Planas, diretas, óbvias. Boca, delícia, gozo, verdade, vontade, desistir, esperar, tentar, contar, plantar. Disse tudo tudo tudo. Todo o impensável. Até o que nem é feminino foi dito.
Que mal tem, desejo?
É claro que ri sozinha no escuro pensando em reações a côrtes anônimas. Cortes? Laceraria você o meu querer com espátula de bolo?
Você faca só quando desejo. Faca nunca não. O não em si é ácido, áspero, grande – impossível de recorrer.
Estou sem forças. Com saudades.
Estou dispersa. Desperta.
Que mal tem, desejo?

sábado, dezembro 04, 2010

fim de noite

- E você?
- Como assim?
- Você mesmo.
- Não sei.
- Acho engraçado.
- O que?
- Como é que você está?
- Cansado. Muita coisa. Um chicote atrás do outro.
- Mas e você?
- Eu o que?
- Está bem?
- ...
- ...
- O que você quer saber?
- De você, mesmo. Nada demais. Gosto de você e quero saber as coisas.
- A mídia?
- Que se dane a mídia. Eu quero saber se você está bem.
- Eu estou cansado.
- Ninguém nunca te pergunta sobre você...
- É.
E um monte de olhos comendo o mundo todo.

terça-feira, novembro 23, 2010

Aquele cara (que tinha me consumido com seus olhinhos infantis)

Eu tinha esquecido como fazia pra ter medo de olhar nos olhos e encostar quando ele chegou. Também não sabia mais velocidades. Sabia nadica de flirt.
Ia e pronto.
Ele me chamava de Michelle. Uns olhos de bicho papão e eu inclinada pra baixo. Nomes mil em mim, ele cafajeste. Michelle ele queria, Michelle eu era mesmo de outros nomes, outra vida.
Queria que eu tivesse certeza sim que nada daquilo era meu direito e que tudo é sim, que o sim alegra a vida. E eu Sim. Tanto sim eu dizia que o sorriso crescia.
É que ele entendia só sim . E eu tão mole ficava perto que não sabia que existia outra palavra.
Então ele dizia as coisas que sabia que eu ia entender:
- i love you! i love you! i love you...

sexta-feira, novembro 19, 2010

se existisse

Ninguém diz o que existe por trás daquela moça. Ela mesma diz demais - o tempo inteiro. Não se diz, nunca, nunca, nunca. Fica em casa ouvindo Fiona Apple e falando com um ou outro nas velhas plataformas novíssimas, digitais.
Sabe de quase tudo, acompanha todos os reality shows. Ri um riso sincero demais. Gargalhadas estridentes, altas, graves. Garagalhadas em notas mil.
Sabe os preços do supermercado, mas não compra nada.
Tem caspas que formariam constelações no cabelo. Cabelo pra fazer mil tranças. Nunca teve coragem de rastafari. Tem doçura, a moça. Doçura que ninguém diz.
Só não tem cara. Ninguém sabe o que ela esconde embaixo do vestido. A moça, fulana, não tem moral de história.

quinta-feira, novembro 11, 2010

imã

Pode ser chato o que for, a voz continua bonita. Arranha que você nem sabe o tanto. Se não existisse o resto, juro que acreditava em final feliz.

segunda-feira, novembro 08, 2010

Se não conta

Faz assim não. Não bota uma coisa na isca e depois pega de volta. Eu aqui anzol mordido, obcecada, louca!
Sabe, quieta. Confabulando ainda comigo, tentando caçar aquele rato. Saber aquelas coisas. Tentando achar os piolhos nas cabeças com pensamento. Meu deus, chega a ser cruel me trazer curiosidade de bandeja!
Diz que não, só. Diz que não conta. Diz que não vem. Diz que era mentira antes. Diz que eu sou besta mesmo.
Mas é que se ontem foi dita uma coisa, hoje outra, amanhã uma terceira, eu fico inchada. Arrepio que você nem sabe o quanto.
Ai meu deus - virei solo puro de guitarra. Escorregando, escorregando.
Não me aguento gente não, sabe?

quarta-feira, novembro 03, 2010

daquele troço preso

E se você estiver certo e eu tenho mesmo um monstro no estômago?
Como viver sem conviver na praça de convites? - já tinha perguntado o poeta.
Mas se eu não estou com fome e como vozes alternadamente como se nada fosse de fato importante, eu fico com azia. meu estômago vai inflando e a azia vai crescendo e o pescoço fica insuportavelmente dolorido.
Então esse monte de advérbios de modo e superlativos. Eu tristíssima, calmíssima, perdidamente estouradíssima.
Coisas bregas por metro quadrado. Revoluções por minuto.
Não te faço a pergunta de sempre. Já sei a resposta do mês.
Agora, you don't believe in love.
Tento de novo semana que vem assim que conseguir digerir mais da metade.
Favor anotar na agenda pra tentar dessa vez algo de formal fora do corpo.

(mas tem também uma coisa. Quando eu fico chorosa e entalada assim, nunca sei se é paixão ou parte do ciclo menstrual.)

sábado, outubro 30, 2010

quântica

Olha, passei da fase de fingir. Não vou dizer que faço questão da presença quando é irrisória. Não vou passar mão na cabeça nem fingir que a paixão de semana passada é pra sempre.
Paixão é vento, gente. Venta. Vai embora e pronto. Vale à pena, claro.
Tudo muito bonito essa semana toda. Meu deus meu ego é um problema sério. Nem é coisa de gente isso de querer ser centro de universo.
Porque se fossem vários universos faria sentido ser centro local.
Mas quem? Quem? Quem tem tanta gravidade?

sexta-feira, outubro 29, 2010

alfa - macho

É a Gal, eu acho. Gritando que você precisa ver que bonito.
Quando eu vejo coisas bonitas eu fico querendo te mostrar - que você mesmo é muito bonito. Só queria te pedir que não me invadisse. De uma vez por todas - agressiva mesmo - qualquer coisa que eu sinta é problema apenas meu.
Não posso mais brincar de ser confessional que te incomoda.
Você é muito pesado.
mas tão leve que se eu soubesse fazia mesmo uma tatuagem. tem nada não. a única coisa que já quis tatuar foi você.
e pronto. Tinha que ter alguma coisa latina ou grega dizendo você em todas as letras.
Mas é que a lírica é tanta meu deus que não dá.
Um desses designers teria que recriar os tipos todos e um alfabeto novo.
Quando eu ficar rica contrato um linguista, coisa assim. Um cara desses bem inteligentes que te pegue a pele e faça letra.
Alguém aí que te congele.
mas aí a imagem fica tão doída.
Em mim você tão quente. Tão quente!

segunda-feira, outubro 25, 2010

co-ra-ção de eterno flêrte.

Avulsa e desatenta. Fugindo do mundo. desafinada, menino, precisa ver. A voz está falhando e meu corpo agora parece que tem cheiro. Pouca coisa mudou depois da última vez.
Tenho sentido vontade de escrever carta de papel por causa da Nayara, mas desaprendi sem teclado e acredito que tinta é coisa muito forte. Que terror, meu deus, caneta!
Não sei mais. Desaprendi o acúmulo das coisas e das pessoas na gente. Acho que nunca soube assim tanto acúmulo de uma só pessoa e tenho medo.
Sabe, ternura?
Semana passada e mês passado a ternura incomodou.
Aquele outro dia a ternura em forma de peso de corpo doeu nos ossos mais do que o colchão que me atrapalha a dormir.
Precisa ver, menino, preciso ver-te.

quinta-feira, outubro 21, 2010

É bonito, você.
Ela disse que estou apaixonada.
Não quero.
Não vou. Não quero.
Leram tudo, sim.
Se rima te quero pra mim.
Então chega, chega. depois vira mentira.

sexta-feira, outubro 15, 2010

entre os peitos

Entre meus peitos seria encaixe perfeito você. Então os dedos fariam o trabalho do carinho lógico. Da ternura irracional. Depois o resto do corpo todo em minhas mãos como reconhecimento, como fruta, como pão. Amasso as costas, mordo as orelhas, apalpo cada canto e seguro firme nas mãos pra não cair de cara. Pra não ficar sem nada. Seguro as mãos pra dizer que a posse nem existe quando existe. Que na verdade mãos e pele e tanto cheiro é tudo acordo.
Você não faz idéia de quanto eu chovi. Ah você não sabe que eu ainda estou chovendo. Chovendo. Encharcando o mundo todo e eu mesma de você e de umidade física. Sentimentalíssima. Essa alegria nova, verde, doce. Esse seu gosto azedo de manhã. Essa sua cara de sono bonita. Essa cabeça desacordada e perto. Esses braços que não soltam nunca.
E pele. Pele. Pele.
Depois é tanto braço, mão, boca, arranco e eu exposta, entregue, vestida, nua, pesada, leve, marcada. Marcada. Marcada. Marcada. E os ritmos. E a sua cara.
E chuva.
Foi pra isso que eu te farejei no mato até achar.

terça-feira, outubro 12, 2010

é preciso manter a calma

Não vai adiantar tentar moldar minha vida na sua. Nem se eu passar manteiga na forma e me untar bem. Há cantos certos de se grudar, independente de quem maneje a fórmula. Há letras certas de se errar.
E não posso aguentar sins e nãos de outrem. A busca é doce. Esse negócio de molde e de mãos eu não sei quando aguento, se aguento. Esses hormônios eu não sei se ajudam ou se deveriam não existir.
Essa mãe natureza às vezes é muito cruel.
Minha nossa senhora da TPM, rogai por nós.

domingo, outubro 10, 2010

Sujos

Tá vendo?
Meio encontro nem de perto e eu completamente besta. Foi por isso que eu disse que não dá pra gente junto, nem pra gente amigo, nem pra gente nada. Podia também dizer que é TPM e que eu não sinto nada, que eu não sou menina, que eu não gosto nem um pouco desse seu tom prepotente na voz.
Mas é que cada eu te amo mexe com todos os pêlos e com a cabeça inteira. Eu fico rodando. de besta, eu fico caindo. Depois eu penso que não é nada e que não devia e que ficou claro pra nós dois que não dá certo.
Joana sempre exige demais de Jasão.
Então melhor uma mais nova, mais fresca, mais burra e menos sentimental. Melhor alguém que só se importe com telefonemas e clichês e nunca olhos. Melhor alguém, pra você, que não saiba ler.

segunda-feira, setembro 27, 2010

medo

That eyes. Keep looking me from the dark. From everywhere. Não sei dizer ao certo de onde vieram, como chegaram. Que força tem, that eyes. Eu sei que em foto os olhos parecem densos. Ficam me desnudando pelos olhos sem sequer existirem. Pictures. Fantasia.
Cada vez que olho parece que li um conto novo de Clarice Lispector. Me pegam os olhos pelo esôfago. Pelo estômago. Pelos olhos. Os olhos me fazem pura azia e pêlos eriçados.
Preciso parar de deixar pontas pelo mundo, like that eyes.
E todos os sentidos parecem que se submetem aos olhos novos. Os olhos velhos.
Não posso com contato real. Não estou pronta para de novo tanta ficção.
Que tudo então se desmanche e saia do meu tórax. Que saia do meu tórax. Que não exista raio laser.
Posso exitar?

quarta-feira, setembro 22, 2010

Primavera

Se enfia de cabeça em mais uma história. Poemas refeitos, quadros expostos. O mesmo caso de antes de todos os outros casos.
i'm sixteen.
Soam então saxofones bonitos e sonoros.
A praia agora tem areia. Não dá mais pra sentar na calçada e esperar onda nas costas. Céu aqui azul.
Agora tem piscina e a realidade é toda fragmentada.
atravanco na contramão.
Do you believe in love?

quinta-feira, setembro 16, 2010

Quando a gente existe e o mundo fica sendo resto

Quando vem, a mão é lógica. Óbvia óbvia. Parece talvez algodão. Parece que o lugar é mesmo a pelanca atrás da cintura. Parece que pode. Parece que é de casa. Parece que é mão e que é parte e que é dele e que é mais meu ainda.
Consciência de corpo parece que só existe quando existe aquela mão. Toca, assim, tão natural como se fosse língua.
Então ele inventou meu corpo quando apareceu pela primeira vez. E cada pedacinho de unha só existiu depois de fincar a pele branca e lisa, quase sem pelos. E o sovaco também nem tinha cheiro. E os dentes se fizeram mais fortes.
E eu existi. Existi tão inteira em espasmos. Existente. Desistente.
Quando vem, a mão não erra. Dança, vacila, escorre, encosta, se fixa, passeia, volta, mora.
Ah se morasse mão aqui e a gente misturasse um no outro as peles, as mucosas e todas as gotas de saliva!
Vem a mão e eu fico querendo bater no liquidificador.

sábado, agosto 28, 2010

Todas as cartas de amor são ridículas

Te reconheço pelos títulos. De longe. Você que não usa perfume, que zomba dos outros, que rima, esquece?
Existem vírgulas certas que parecem erradas. Valas. Pontuações muito distantes da fala que é sem pausas abstrata bêbada. Há vírgulas explicativas em orações restritivas. Inexistentes.
Já não posso correr, já não posso ligar. Dormir já não posso.
Te reconheço pelos verbos empregados. As cordas de aço do violão.
Está sem destino?
Está sem carinho?
Está sem mulher?

sábado, agosto 21, 2010

quiz

Os dados jogados pro alto. Pergunto de novo:
- Do you believe in love?
Os grilos continuam coachando e nós botamos os sapos pra fora.
quem disse que não podia?
No fim da história, seguimos juntos e o arco-íris fica pintado sem que a gente passe por ele. Sempre chuva. Sempre sol.
Leão é signo de fogo. Áries é meu ascendente. Fogo também.
- Do you believe?
Nem eu preciso botar cartas na mesa, nem você. Por certo temos canastras inteiras na mão. Você não abaixa o jogo. Eu não faço questão do morto.
Se as cartas acabam, no bolo, como fica?

domingo, agosto 15, 2010

Janela sobre o mar

Cecília aqui diz estar caçando sua face em algum espelho. Eu, por outro lado, mantenho a mesma cara de sempre, mas não me pareço em nada comigo.
Algumas espinhas novas, fato. Alguma coisa mais recente na playlist.
Ruga mesmo, nenhuma.
Eu mesma, nenhuma.
Em algum momento desses, me deixei de lado e botei outra coisa no lugar, focadíssima numa coisa só. Eu que sempre mil agora elemento utilitário. Máquina.
Descobri há pouco. Não sei mais contar histórias pra criança.
Heitor disse que a última foi muito curta e que a anterior nem era história. Eu, de insensível, fui embora querendo só dormir.
Cecília caçando o rosto, eu caçando as letras.
O mundo, mesmo, nem aí.

terça-feira, agosto 10, 2010

Amarelinha

Ele disse assim: não tem paixão, a gente só precisa fazer coisas legais, como andar de patins, bicicleta e pular pedra. Eu gosto dela, ela gosta de mim. A gente não vai casar, mas faz companhia um pro outro. E cafuné.
Aí veio aquele lá que disse que na verdade a gente precisa mesmo não esquecer de viver conto de fadas. Veio um outro querendo fazer tudo intenso e descartável, tipo fogo e vela e tal.
Mas não tem como ser simples assim quando a gente é menina, teve caderno rosa e cresceu vendo filme da Disney e comédia romântica. Não. As mulheres e as crianças não querem afundar navio nem quando é de papel.
E se não veio ainda a parte mais bonita, a gente acha que vai achar lápis de cor e pintar tudo conforme a nossa vontade e o nosso gosto. Porque, na verdade, a disposição dos móveis é coisa de escolha feminina. Menos televisão. Televisão depende do lugar do cabo.
A madrasta disse que é tudo muito jogo, mas que a presa tem que saber se posicionar.
Eu mesma não quero nada de estratégia.

Só cafuné.

sábado, agosto 07, 2010

Love?

- Do you believe in love?
Não contei, mas o útero dói de cólica. Garganta tem sido elemento quase inútil. O esôfago parece que tem bola de ar.
Amanhã você me bota no colo e conta uma história bonita. Aprende a fazer carinho na cabeça. Me abraça.
Sinto todas as coisas no corpo e não queria assim. Queria que ontem não tivesse acontecido e que as palavras valessem qualquer coisa.
Que você tivesse mais peso do que as moedas no meu bolso. Talvez, se houvesse um pouco menos de uísque com Shakespeare, as coisas incomodassem menos e fossem menos cômicas ao mesmo tempo.
Nunca quis tanta distância. Colo.

Amanhã te vomito.

- Do you believe?
Love?

domingo, agosto 01, 2010

something about the way

Direto sem nem ver pontuação. Corpo ficando flácido, caído, mole. Perdi talvez ontem a capacidade de arremesso. Não faço mais tanto samba. Choro.
Bossa nova eu você rock'n roll.
70 nossa juventude aparente.
Sinto muita falta de acentos diferenciais.
Ontem eu não vi você.
Busquei em outras tardes muitos carnavais. Te quis muito perto. Quiz.
- do you believe in little prince?
Brinca de roda comigo amanhã? A gente sai gritando alto, cantando, fica tendo algum tempo de sonhar e tira folga do trabalho.
Posso te ensinar a pular elástico e corda. Aguento mais de 100.
Agora eu era cibernética.
Você conserta as crases. Eu de egocêntrica conserto o mundo. Agora eu era grande.
Aí veio o moço com a guitarra e tocou que we all come out to montreux. Aí a gente riu um monte.
Te dou um saco de risadas e você me arruma uma mola. Daí eu posso ver televisão e você tem um jeito de ter sempre alguém pra rir daquelas piadas de pintinho.
Depois a gente toca hardcore. punk rock. Samba.
Amanhã eu prometo que vou dormir.

terça-feira, julho 27, 2010

Pernas eletrônicas

Cortou o cabelo e a barba cresceu como se fosse ciência exata. Estive ontem em outras promessas. Esteve semana passada num país mais tropical. Juntos não, nunca. Espelho e reflexo não são uma coisa só.
Estive sem volume, fria, fraca. Ele nunca constante. Gastrite talvez antes do ataque. Queria que fosse coisa fixa de barba espessa.
Mordeu a boca com a força precisa de quem tem muita fome. Tocou as pernas como se não fossem escuras e pudessem ter sido feitas de porcelana. Deteve-se em dedos de pés. Descobriu que a ciência é toda fora das orelhas e perguntou se tinha cotonete.

Não quis rotina, claro. Nem fez promessas.

Cuidou do sono e deteve as lágrimas. Deu uma dessas chaves de pescoço para que eu fechasse os olhos por algumas horas. Falou de madrugada e ficou dono do meu sono, do corpo e do volume da voz.
Tem dedos grandes, largos.

Distância precisa. Exata.

Não há nenhuma mentira por dizer.

sexta-feira, julho 23, 2010

Primavera

Tô te achando tão bonito longe de boca fina assim sorriso largo. Pensei talvez em entrar dentro que nem fio dental. aí quem sabe se fosse mais constante talvez não tivesse assim tanta graça.
Fiquei cheinha de atenuantes e caçando conectivos mas não tem nada demais além de boca, você sabe. Quando tem pele assim que nem naquele outro dia, a gente fica muito sorriso.
Fica o mundo todo muito bonito.

quinta-feira, julho 22, 2010

Romance

Fiquei sozinha ouvindo você cantar. Gritava nos meus ouvidos aquela história toda e muitas tramas rocambolescas de vida e ficção misturadas como se tudo fosse uma coisa só. Em certo ponto, não sabia mais o que era inventado, o que existia no mundo real ou se a verdade é mesmo uma moeda gasta e quase sem valor.
Quis aconchego que não tive cedo ou tarde. Quis travesseiro de peito, e ossos seus e meus se batendo. Quis entender até que ponto vai a equalização e os ruídos de uma música sem razão.
Quis nenhuma razão.
Quis gritar com a solidão.
Quis dançar à dois como quem beija.
Fiquei em pares ouvindo você chorar. Quis ser mais velha e engolir todas as dores como um pacman. Quis brinquedos novos e gritei com força sem nem abrir a boca.
Ninguém tem nada para entender, nem eu.
Vontade de ser mãe do mundo e transformar gente em ursinho de pelúcia – sem eliminar com isso os ossos (do ofício).

terça-feira, julho 20, 2010

Sem noite

É que eu tenho corpo, verbo, vírgulas. Sangue também talvez muito. E sombras. Talvez um ontem a mais faça textos automáticos e talvez as coisas todas sejam muito palavra. E de ser palavra, fica tudo forte, fixo, carne.
Palavra carne eu quase nada. Resto das outras coisas que eu não fiz e sintaxes inventadas.
Busca.
Obsessões por minuto.
Tanto ombro que parece que mais nada.
É que eu tenho crases em mim, conjunções diversas adverbiais, verbais, adjetivíssimas.
Já comentei o quanto gosto de superlativos?

quinta-feira, julho 15, 2010

Extrema

Morreu agora, na minha frente. Sem sequer segurar a minha mão, morreu e não deixou nenhum cigarro que me ajudasse a entender.
Morreu morrida, inevitável, tácita - como quem morre mesmo. Como quando não tem jeito. Como até se a morte fosse coisa que fosse certa quando se fala de vida. Nem nunca conheci nada a respeito dela e da família e dos amigos. Não sei se era boa gente ou se fazia diferença no mundo.
Morreu e trataram de por no jornal a foto mais bonita que ela tinha. A boca toda vermelha de batom e uma sensualidade que não vai nunca mais fazer a menor diferença num plano que não seja onírico. Morreu e fica sendo um pedaço ilustrativo de classificados.
Como celebração. Como se fosse bonito morrer. Como se morrer fosse o fim.
Doeu
em mim.

segunda-feira, julho 12, 2010

heterontem

Se ela volta de outras épocas escandalizantes, espero que traga absinto. Disse que não bebemos ainda o suficiente e que talvez não tenhamos paladar para o tal anis. Conheci antes de tudo e de todos e dos sexos aqueles drops.

Tive um tanto bom de alucinógenos contínuos embaralhados com letras e remédios controlados.

Descontrolado.

Fico sendo um pouco sido agora.

Um passado imperfeito quem sabe futuro do presente do pretérito e as conjunções verbais amontoadas todas com vinho.

Não precisa hoje fazer qualquer sentido; mas se ela volta, que traga éter.

Que seja heter

domingo, julho 11, 2010

Contágio

Definitivamente: fui feita para e por contágios. Sou dessas que se derretem e buscam buscam inteirce. E mesmo o vazio, quando vem, eu quero inteiro.
Principalmente, tenho medo de solidão dessas fatais. Solidão, no fim, seria voltar ao barro que me fez mais gente.
Mas eu não quero regresso. Eu quero amparo. Contágios.

sexta-feira, julho 09, 2010

Me desculpe, mas eu sou mulher

à Natasha Siviero

Eu até sou bonita. Mas infelizmente eu sou primeiro intelectual - uma espécie de protótipo disso, eu mesma diria. Devo reconhecer, entretanto, que é muito difícil conviver com uma mulher que lê. Gaston (aquele do desenho da Disney) mesmo já disse que uma mulher não devia ler, se não começa a ter idéias.
Desculpem as feministas, mas ter idéias não é coisa de mulher. E eu, infelizmente, sou dessas pessoas cheíssismas de idéias grandes por minuto. Então não é estranho que logo ela diga que não me imagina mãe.
Achava, antes, que ninguém nunca conseguiria me ofender. Mas ela conseguiu, no fundo do peito, como se tivesse uma agulha grande. Disse só “não te imagino mãe”.
Me desculpem os leitores, mas eu sou mulher. Tenho sim essa falha de caráter que é gostar de escrever mais do que de todas as outras coisas da vida. E o pior, gosto de ler e gosto muito de saber todas as coisas que eu mesma não imagino que existam.
Descobri - penosamente -, não devia ser assim. Assim não posso fabricar menino no ventre pra depois querer engolir de volta ou não entregar para o mundo ou todas essas coisas de mãe. Não posso pedir a meu filho que não saia sem casaco, nem posso dar colo.
É que nessas escolhas da vida, me fiz dura. Sou dessas que trabalham.
Mãe deve ser outra coisa.

terça-feira, julho 06, 2010

Garganta

Acordou com aquela imagem grande de olhos enormes num rosto pontudo. Olhos ainda maiores que os seus. Queixo nem tão grande, mas as pontas todas ali. As pontas do rosto que pareciam definitivas, fatais.
E vazio.
Faltava um nariz aberto que desintegrasse toda a força das pontas. Talvez também algum criado mudo no qual se segurar.
Cobertores muitos. E muito vazio.
Pensou no grau daquela coisa toda. No grau da falta de preenchimento e pensou que não cabia em si.
O grau das coisas tornava tudo maior. Do tamanho do rosto do sonho. Do tamanho da vida cotidiana. Do tamanho da falta de vazio. Do tamanho até do vazio.
O rosto de novo na cabeça. Pontudo. Bonito.
Olhos.
O que fica é o não-estar.

domingo, julho 04, 2010

O mito

Então ele trancou a porta, virou e me puxou pelos cabelos. Língua e língua e bocas e eu desci a escada totalmente trêmula. Bêbada de beijo. Sem controle nenhum das pernas.

Completamente cheia. Surpresa. Pele.

Completamente emoção.

quarta-feira, junho 30, 2010

The wonderful wizard of Oz

Um pouco mais de música. Só. Pra dar ritmo ao jeito de andar pela rua. Havia um tempo em que eu automaticamente ouvia pretty woman e caminhava de acordo. Todo aquele balanço baiano moldando os quadris e um charme meio forçado de filmes.
Você não sabe, mas eu parei de morar naquele musical de outros tempos – em que sempre morei (tudo sempre foi música). O tempo inteiro músicas que não sei se me moldavam ou se era eu quem moldava as notas.
Agora um tanto de sorrisos falsos. e faltas. Um tanto grande de dissimulação e treino constante para olhos de ressaca. Não sei onde andam meus muros, mas mesmo antes do musical estava lá escrito Bento Capitolina.
Nada foi invenção minha. Tudo antes tinha sido escrito e há poemas certos para cada cena. Não é mais musical. É clássico. E se fosse filme mesmo ganharíamos o Oscar. Trilha sonora principalmente.
Eu estou naquela estrada de tijolos amarelos e gostaria talvez de um espantalho com cérebro feito todo de fé. Razão muito bem treinada e talvez não aquela ternura do homem de lata.
Um pouco mais de música e seguimos saltando os padrões das calçadas. Talvez talvez estejamos de verdade mais em circo do que em filme.

sexta-feira, junho 25, 2010

Das moças da janela

Dizem que as moças ficavam na janela, vendo navios, para esperar os maridos voltarem das guerras, ou das navegações. Para ver se um navio daqueles lhes trazia de volta o homem que nenhuma queria que o mar engolisse.
Depois passaram os navios e inventaram os aviões. As moças começaram a ir também para a guerra. Queimaram até sutiã. Até criaram as próprias brigas e tomaram a tal da pílula.
E depois inventaram o silicone e as plásticas pra ninguém mais reclamar a falta da cara e do corpo da Barbie.
E o Index Librorium Proibitorium parou de valer para quase todo mundo no ocidente. E também mandaram aquela cachorrinha para o espaço e a bandeira americana balançou lá na lua.
Inventaram jeito até de andar no mar e também o GPS pra ninguém ficar perdido.
Eu gosto de bússola. Acho muito bonito que ela sempre aponte para o norte. E gosto das constelações guiando os navios como antes de tudo. Gosto até que o tempo tenha passado.
Mas as moças, com seus machos, mesmo fortes quando sozinhas, continuam a ver os navios da espera que alimentam o desejo constante – apontado pra outro peito como bússola e sem nem precisar olhar estrelas pra saber o caminho.

segunda-feira, junho 21, 2010

Fóssil remexido de caso de mãos

Mandei pra ele um texto grande falando todo de amor. Ele mesmo é muito grande. Muito forte. Muito acima de qualquer amor que seja meu.
Antes fosse apenas isso. É esperto a ponto de eu não conseguir enganá-lo, mesmo sendo mulher.
Ele leu tudo. Diz que gosta bastante de ler as coisas tortas que eu escrevo.
Depois ele perguntou se o texto tinha sido escrito apenas para um leitor – ele-leitor. Eu menti que não. Era um texto que falava sim de um homem de nariz bonito e mãos precisas, mas falava de muitas outras coisas.
Então eu disse que era texto velho, escrito há tempos e que não era autobiográfico. Confessei que o nariz era dele. Apenas.
Riu.
- As mãos não?

sábado, junho 19, 2010

Jaiminho

Marcela Rangel acabou de avisar. Nasceu hoje o Jaiminho, filho da Natasha. Mas a Marcela mesmo não sabe o nome do menino, se é Jaime, Samir, Quintiliano, Benedito, Tiago, Felipe, Chico ou sei lá.
Pra nós, o nome é Jaime e pronto - e o menino vai ser chamado assim não importa qual nome venha a ter.
E antes da Marcela ligar eu estava meio triste, irritadiça, com muita raiva de ser mulher, de ter tpm e de ter tanto sono.
Aí ela liga e fala:
- Jaiminho nasceu.
Pronto.
É vida, gente. É mais importante do que qualquer tpm e é a coisa mais bonita do mundo. E saio dizendo essas coisas sem nem ter visto o Jaime ou a cara da Natasha sendo agora uma cara também de mãe.
Hoje é aniversário do Chico Buarque.
Hoje é uma data bonita pra nascer um Jaiminho, filho da nossa amiga, que a gente vai tratar de mimar bastante e de ensinar a fazer um monte de traquinagem.
Parabéns, Natasha e Rafael.
E muita saúde ao Jaiminho cujo nome eu ainda não sei.

quarta-feira, junho 16, 2010

A parte final de Lord V

Pois é. Agora é fim de papo. Não vou quebrar nada da aura de mistério que me junta a Lord V. Estou fugindo do reino. Fugindo alto. Longe. Intacta como se fosse virgem.
Ninguém comigo, nem plebeu. Em pouco tempo inventam o rock’n roll e talvez eu me reconheça em alguns gritos. Mas agora eu não quero saber de paixão ou mais que flêrte. Cruzando as terras com pés no chão, levo Lord V lambuzado no corpo, empedrado na garganta. Entalado.
Talvez em terra nova me apareça outro Lord, ou só um menino. Talvez assim eu me disperse.
Não importa. Nada deve ficar mais denso do que os dentes de Lord V, que só em sonho estiveram cravados em meus peitos.

Não quero saber de lirismo que não é libertação.