sexta-feira, julho 17, 2009

Davi


Davi, se soubesse ler, sentiria ciúmes. Não sei se o leitor está a par de minha vida familiar, mas eu tenho sete preciosos irmãozinhos. 6 meninos e uma menina, a Marcela(oi mocréia!).
Acontece que entre esses textos todos sobre o sexto irmão, o Heitor, não falei hora alguma sobre o sétimo, o Davi.
Esta coisa pequena de nome Davi é desses que não tem medo de qualquer Golias. Meu pai mesmo tomou-lhe a chupeta anteontem dizendo "é meu". Davi não se assustou. Pegou a chupeta de volta entre gargalhadas e gritou "é meu". O detalhe é que o menino tem um aninho de idade apenas e nenhum medo do papai. Apenas respeito.
Quando ele foi tomar vacina mesmo, dia desses, não berrou. Deixou escorrer apenas uma lágrima enquanto olhava nos olhos de meu doído pai que talvez sentisse em si mais que as agulhadas, a dor da traição que acreditava ter cometido. Ocorre que eu me lembro bem de ter visto meu pai avisar para o Davi que ele iria tomar uma injeção que dói muito. E o pequeno não arregou nem assim.
Também aconteceu esses dias de o menininho levar uma mordida de um coleguinha da escola. Mas ele não me contou o episódio entre lágrimas. Apenas declarou:
- Nini, minino modeu o neném. - E mostrava o bracinho.
- E o neném fez o que? - perguntei.
- Bateu no bumbum dele. - E gargalhava, o pestinha.
Como podem ver, Davi é um sujeito extremamente perspicaz com sua longa jornada de um ano de vida. Sabe se virar sozinho em diversas situações e, inclusive, tem um excelente senso de humor.
Anteontem eu fui contar uma historinha para ele (aquela da Chapéuzinho Amarelo, escrita pelo Chico Buarque) e me empolguei. Eu batia na mesa enquanto narrava alto a fala de um lobo de voz muito mais grossa do que a minha. Davi então se empolgou junto. Eu dizia "SOU UM LOBO" e ele gritava, engrossando a vozinha "SOU UM LOBO".
Depois seguia com aquela gargalhada gostosa e acompanhava todas as histórias. Quando se cansava, pulava da minha perna e ia embora. Pronto.

terça-feira, julho 14, 2009

folga

É por que quando tudo parece ser ao mesmo tempo e não ter mais espaço pra coisa alguma é que a cabeça fica mais ativa e respirar fica mais gostoso.
Da próxima vez eu juro que tento escrever coisas legais no twitter, mas agora eu preciso pensar em frases curtas e viradas radicais. Como se voz fosse surf e tudo fosse extremamente divertido.

Mencionei alguma vez que eu gosto muito mesmo de trabalhar?
(e de buscar intervalos entre tempestades)

quinta-feira, julho 09, 2009

O que se pensa

Vamos ficar assim, eu boto a cara amarrada e você bota a cara de sono. Então contamos um ao outro todas aquelas desventuras que acontecem. Nada demais não, apenas clichês e um pouco de boa companhia.
Mas aposto que ficaríamos muito melhor se dormíssemos mais, principalmente bem acompanhados.
Naquele outro dia eu sonhei com alguma coisa de cores quentes e eu sei que você sabe que o clima pede mais do que salada.
É por isto que tomamos sorvete neste sol quente de inverno. A gente não vai chegar a conclusão nenhuma se continuar negando que a pele só quer pele.

terça-feira, junho 30, 2009

mau-humor

Eu sinceramente não consigo entender por que as pessoas insistem em falar baixo, sussurrando de forma que os esses fiquem saltando irritantemente.
Todos esses pequenos barulhos me irritam de forma que a reação imediata do meu corpo é abrir as mãos o máximo possível e fazer cara de nojo. Como quando ficam sugando coisas, arranhando coisas ou quando uma única gota repetitiva insiste em cair da torneira.
Eu fico me segurando, mas de repente sobe tudo ao mesmo tempo e eu simplesmente grito como se nada houvesse a ser feito além de impedir a continuação do meu martírio.
Mas quando falam alto perto de mim eu nem ouço. Quando martelam ou quando passam ônibus eu desligo depois de um tempo. E se o chuveiro fica ligado eu não ouço.
O problema é sempre a gota d'água.

segunda-feira, junho 22, 2009

Atlas

Quando toda a raiva subiu, Ana não quis comer nada. Enfiou umas roupas na mala e saiu gritando, chorando, bamba e sem se conter. Por onde passava sempre aparecia um lenço e uma voz ou outra perguntando se ela estava passando mal.
Mas era o fim de tantas coisas que Ana só queria seguir com seu choro pra longe e aguentar o tranco de tudo. Se lavava com sal, saliva e lágrimas, mas não ficava ainda limpa.
Precisava parar um pouco, mas o mundo não parava de girar, o pulmão não deixava de puxar ar, as mãos não deixavam de tremer e os carros não deixavam de passar. Se nada parava, Ana tampouco.
Seguia tentando ser firme e aguentar toda aquela dor explodindo no peito.



















Então ficou desacordada no meio da rua por um desmaio e tudo o que acontecia em volta passou em branco.

quinta-feira, junho 18, 2009

ID

Um pouquinho de coisas novas faria muita diferença se eu não estivesse ouvindo as mesmas músicas e não tivesse tanto medo.
Gente fina é outra coisa.
Queria guitarras distorcidas e um pouco mais de calma talvez pra talvez sumir e talvez falar menos e talvez virar noites num movimento circular e retilínio, curvo e nada nada nada uniforme.
Então parar de pensar em qualquer coisa e deixar que os dedos guiem as danças sem qualquer freio enquanto o teclado de computador faz música com cordas postas atrás. e um ritmo de letras num ritmo de som e melodias novas finalmente.
e filosofia.
Quando ela acordou daquele sonho em que a navalha lhe cortava o olho transformando-o em uma grande bolha d'água que explodia e molhava todo mundo, sentiu muito gosto de lágrima na boca. Cheiro de batata frita.
É por que sem coisas novas, nada que não seja pedaço de sonho faz qualquer sentido.

quarta-feira, junho 17, 2009

Confiança

Fiona Apple - Criminal


Fingia que aquele salto todo finíssimo não fazia a menor diferença. Mas era no equilíbrio sobre os pés elevados que ela fazia todo o seu charme. Mexia os quadris num ritmo firme e se mostrava capaz do equilíbrio supremo de bico fino.

Coração a mil. Uma hora ou outra aquela máscara ia pro chão e ele ia entender que sem sapatos, ela era apenas ela.

Respirou fundo e retocou o batom.

Enquanto houvesse dor nos pés, não haveria outra.


Nota da autora: se eu fosse vocês, ouvia a música. Valeu Mike pela música e Ariel pela foto.

sexta-feira, junho 12, 2009

manhã

Tanto cheiro de cebola e óleo e tudo tão quente que eu quis ir embora.
Aquele casaco grande dele e aquela cara de não ter dormido da gente parecia combinar com o bacon da panela.
Me senti muito americana com aquele café todo. Mas o cheiro de cebola com bacon, óleo, pão e café torturava tanto quanto o calor.
Eu me sentia parte de outra coisa que não incluía café.
Foi muito difícil deglutir tudo, mas se eu saísse correndo ele talvez quisesse me ver de novo. Fui simpática e grudenta como toda mulher fácil demais.
Quis que ele me pensasse vagabunda pra simplesmente não ter amanhã.
Mas ele insistia em cafuné e eu doía junto com o bacon, como se eu estivesse com as beiras queimadas em óleo. Como se tudo fosse lento e as paredes estivessem quentes como uma panela, me oprimindo.
Quando eu fui embora, quis não comer bacon nunca mais e torci muito pra ter outro café torturante.

quarta-feira, junho 10, 2009

Tédio

Estou cansada.
Ontem, quando eu fui embora, você não achava que eu ia.
Talvez quisesse que eu ficasse mais e mais te esperando pra sempre com um sorriso no rosto e nada além disso na cabeça.
Mas eu não sei mais. Estou cansada.
Tive que ir dormir e talvez esperar que chegasse o dia seguinte.
E não teve mais nada.

sábado, junho 06, 2009

Manifesto

Quando eu te quis, também quis que fosse apenas por razão. Mas este músculo involuntário idiota continua pulsando sem que eu mande numa velocidade extraordinária.
Quando eu sinto gosto de cerveja e cigarro, te odeio por que é como se tivesse acabado de sair de um beijo.
Vai, músculo imbecil, continua pulsando por gente idiota de forma idiota!
Eu mesma prometo ser fria, dura, forte - como terra.
E não quero mais saber de qualquer raiz.

Ontem, quando eu vi, tinha tirado um peso enorme das costas por dizer o que devia ter sido dito há cinco anos. Nunca soube que um pronome seguido de um verbo pudessem juntos fazer tanto bem para a coluna.
Mas depois de desculpas, abraços e sorrisos, tomei mais uma facada.
Vai, músculo idiota!
Controle-se por que eu já disse que não confio em você.

domingo, maio 24, 2009

Tentativa de ficção ligeira

Dormi com Henry Miller e acordei com seus tapas. Odeio tudo.
Principalmente os comentários secos sobre tudo com essa arrogância de ogro. 
Mas não precisa de nenhuma palavra doce.
Ver os lábios grossos e sentir o cheiro basta pra eu cair sem amanhã nem nada.
Depois o gosto é só azedo.
Estou cansada de tanta emoção.

quarta-feira, maio 20, 2009

Impulso

Não quero saber de automatismo!
Por favor, alguém, aí!
Me coordenem antes que eu caia!

domingo, maio 17, 2009

Sobre livros e novas paixões

Eu ando apaixonada por cachorros e bichas, duques e xerifes. Por que eles sabem que amar é abanar o rabo, lamber e dar a pata.
É nova pra mim essa coisa de não esperar absolutamente nada. Acho que nisso consiste uma liberdade muito mais sólida e nova, mesmo que baseada no descrédito de toda e qualquer pessoa.
Não se trata de pessimismo. É cálculo de probabilidade, tabela de co-senos e carta de expediente com ponto, protocolo e manifestações de apreço ao senhor diretor.
Tudo velho mesmo, eu não reinvento nada. Eu não construo nada.
Vou na corrente como Henry Miller depois de uma luz no meio do livro.
E não criar expectativas garante um bom humor desmedido, por que nada se frustra se você não espera nada.
Apenas surgem no meio da noite vontades novas de gargalhadas velhas e eu vou me entregando à maré. Abano o rabo pra coisas bonitas e continuo sonhando com o inalcançável que eu sei que não precisa chegar.
Paixão é coisa de cheiro e encantamento. Assunto.
Não é quase nada, mas movimenta tudo - como a gravidade faz com os peitos ao longo do tempo.

quarta-feira, maio 13, 2009

Crônica de perfume doce

Minha avó me ligou hoje pela manhã com um tom gravíssimo na voz. Pensei obviamente que tinha feito alguma besteira das grandes, mas não.
- Aline, não tenho sentido mais aquele cheirinho que eu gosto em você. Está sem capricho agora?
Logo me assustei. Onze horas da manhã e minha avó parecia dizer que eu já não tinha asseio. Respondi de pronto:
- Não é nada disso não, vó.
- Ô minha filha, estou perguntando se você mudou de perfume. Aquele Capricho que eu gosto tanto acabou?
- Não, vó. Continuo usando Capricho, só que ando numa pindaíba tão grande que não uso em dia a dia o perfume que já está no fim.
Depois, fui extremamente indelicada avisando que normalmente eu estava em aula naquele horário e que podia ser que eu não atendesse uma ligação pela manhã. Aí ela mandou que eu me danasse, por que eu também tenho aula à noite e ela pode me ligar a hora que quiser.
Tem razão. Preciso de um vidro novo de perfume e muito mais telefonemas.

terça-feira, maio 12, 2009

Mais um flerte

Queria ter te botado na boca como um cigarro e te aspirado aos poucos. Soltaria o que não coubesse nos pulmões e nas veias.
Está claro que essa nicotina sua me entra pelos olhos.
Vou fumar essas palavras que saltam e mexer a boca em ritmo de fumaça.
Farei círculos no ar e darei voltas.
Estou sem fôlego.

sexta-feira, maio 08, 2009

Salomé

É que você tinha essas marcas na testa. Umas cicatrizes de cortes de criança levada. E depois tinha também os olhos grandes e bonitos e castanhos e uma boca que eu queria que me envolvesse.
E quando eu andava todo mundo olhava, menos você. E quando eu dançava até a lua parava, menos você.
Então eu disse que queria beijar-lhe os lábios. Implorei, me fiz de menos. Ajoelhei. Fui tão oferecida e tão sedenta que você apenas disse não.
Quis tanto que senti dor.
Foi quando o rei perguntou o que eu queria por uma dança. Pedi que cortassem a sua cabeça e dancei.
Depois, me serviram a sua cabeça numa bandeja de prata e eu pude beijar os lábios e as cicatrizes.

domingo, maio 03, 2009

O fantástico diário de Aline Dias (parte 1)

Sobre ser confessional? Não ligue, Aline. Não deve se importar com isso. Ninguém tem nada com isso.
Francisco Grijó


Descubro agora: Nunca quis paixão. O que eu queria era a visão que eu tinha dos meus dois amigos na sala da casa da minha mãe. Ela deitada nele e ele fazendo carinho. Ele conversava e mantinha a pose, mas não perdia de vista os cabelos dela ou o movimento das mãos.
Ela apenas ficava ali, pequena. Se bastando pequena.
Não. Minha questão maior não é a loucura, mas a ternura (essa que não cabe numa noite, nem nunca coube). Meu medo é exatamente o de estar me bastando pequena por instantes nos braços de um homem que se faz maior comigo ali.
Talvez a força toda das paixões esteja nessas conchas. Na vontade tosca de preparar um almoço.
Me dei por completo quando tentei dedilhar os pés daquele sujeito que sentia cócegas. Ele não agüentava a carícia terna. Gargalhava.
Depois, eu disse te amo.
Ele respondeu: que merda.

sábado, maio 02, 2009

Sobre olhos

Flertes de ônibus tem um problema: eles acabam no ponto. Não há paixão sem exagero ou pontos perdidos.
Fui a primeira a olhar. O cabelo me parecia o de um conhecido. Depois ele virou a cara e era mais um desconhecido. Barba por fazer. Óculos. Cabelo mal-cortado e bagunçado. Olhos castanho-claros. O rosto ainda me era familiar e eu olhei por isso. Mas ele olhou de volta então mudei de motivo.
Num excesso de despudor, mantive-me olhando e desviando ritmicamente. Troquei de lugar e ele sentou onde eu estava antes.
Ficamos de frente um para o outro. Da boca dele surgia um começo de sorriso e eu ainda olhava. Acabei sorrindo também.
E reparei nos detalhes. Tênis gasto, jeans, blusa grossa e mochila velha no colo. A manga do moleton tinha uma mancha escura. Ele tinha cara de quem dorme pouco e não ouvia música. Olhava a paisagem quando não olhava para mim. Parecia se perder.
Quis desesperadamente que saltássemos no mesmo ponto. Abri um livro que não li pra tentar me distrair. Troquei de rádio algumas vezes.
Sorrimos quase gargalhando um para o outro.
Descemos no mesmo terminal.
Ele disse um 'Opa', eu disse uma coisa ou outra, banal.
Só sei o nome e mais nada.
Paixões que começam no ônibus deviam ser intinerantes.

quarta-feira, abril 29, 2009

Para uma menina com uma flor

Wilson Simoninha & Bossa Cuca Nova - Essa Moça Tá Diferente

Se fosse uma dessas paixões seria muito mais fácil. Fumaria cigarros, dormiria e acordaria disposta a ficar bem. Mas sendo amor é muito difícil não ser confessional e chorar.
Eu tive que baixar a guarda e me mostrar muito mais sentimental do que eu gosto. Tive que cuspir que você é das coisas mais bonitas e importantes e completas que já passaram por mim. Tive que escancarar que eu não tenho chão.
Essa coisa de expor demais os sentimentos com gritos me deixa fraca. Eu gosto de gostar de pessoas por dentro. Eu gosto de sentir as coisas e pronto. Às vezes eu acho que sorrisos e sinceridade bastam.
Mas eles não bastam e é muito ruim quando eu-te-amo é seguido de tapa na cara.
Como é que eu não vou me expor e me humilhar se toda a insanidade do dia a dia faz falta? Se o choro com vinho faz falta! Se os xingamentos eram tão cantados!
É tão estranho te ver me escapar entre os dedos como uma dessas flores que desabrocham bonitas e vão com o vento.
Não são flores nem folhas.
Eu decidi que não gosto de vínculo e mentiria se dissesse que gosto de te ver crescer tanto pra tão longe.
Eu quero ficar perto.
Mesmo sombra (por que amar é dar o que não se tem a quem não precisa).

terça-feira, abril 28, 2009



Novamente pernas e jogos de cena. Ela parou no centro do palco e ele ao fundo. O foco de luz estava no rosto dele e contra ela. Ficava contornada, um vulto visível com um contorno belíssimo.
Ele olhava de canto e dizia belíssimas juras de amor.
Ela dançava contra-luz e triste. Usava um figurino de saias esvoaçantes e coques no cabelo.
Não havia humor ou entendimento. A cena que devia ser uma era vista com confusão pelos espectadores e aqueles atores não desemaranhavam nada.
Criavam correntes e teias no palco. Os focos de luz alternavam-se e então ele dançava sozinho.
Ana ficava de costas e gritava trechos longos de Lady Macbeth, quando devia ser Ofélia. Pedro esquecia seu Hamlet e soltava falas salteadas de Rei Lear.
Não era mais pra ninguém que não fizesse parte daquela dança.
Ofélia era Ana pura.
Pedro nem lembrava de príncipe nenhum.
A luz não tinha foco. Estava toda acesa no palco.

Cena 2

Ana – gritando – Ai que enjôo me dá esse açúcar do desejo!

Blackout

quarta-feira, abril 22, 2009

Janelinha qualquer

Pessoas entre frases feitas
links esperando setas
achar seguir juntar.

A foto vai devagar.
Os followers vem devagar.
As mensagens vão devagar.
Devagar... as pessoas postam.

Como o Twitter é besta, meu deus!





à propósito, follow-me.

segunda-feira, abril 20, 2009

Heitor


Bonito mesmo é o meu irmão. Tem três anos de idade, corre e pula o tempo inteiro, aponta pra todos os lados seus olhos verdes sedutores e ainda ostenta belíssimos cachos louros e bochechas rosadas. Um escândalo.
Atualmente, ele tem andado com um curativo grande no queixo. Fez alguma coisa errada quando ia subir a escada e tomou pontos no mesmo lugar da outra vez (o queixo do meu irmão parece ser mais atraído pela gravidade que o resto). Ainda assim, aquele protótipo de barba branca parece dotá-lo de um charme a mais. Uma coisa, assim, ressaltadora de sapequices!
Mas o que deixa ele mais bonito não são as bochechas rosadas. Ele entrou numa loja de instrumentos musicais no shopping e resolveu tocar todas as baterias com as mãos. Pedi que ele não o fizesse, mas se eu não deixasse, seria pior.
- Nini, pode tocar violão?
Depois ele tentou bater nos pratos expostos separadamente, mas a mão dele não era capaz de produzir barulho com aquilo. Expliquei.
- Meu bem, pra você fazer barulho aqui precisa de uma baqueta, como aquela ali na mesa do moço.
Mas ele não se inibiu com a presença do gerente enorme que detinha o poder das baquetas. Simplesmente levou toda a sua autoridade em direção ao homem, piscou seus olhos verdes e disse:
- Moço, me empresta a sua baqueta, por favor?
- Só um pouquinho. – o gerente da loja respondeu.
Então ele saiu pulando e batendo com a única baqueta cedida em todos os tambores sem produzir qualquer som coordenado. Quando descemos as escadas, o papai estava esperando de mãos na cintura.
- Eu sabia que era o Heitor fazendo esse barulho!
E aí ficou tudo mais bonito ainda. Na livraria, ele sentou quietinho e ficou folheando livros na seção infantil.

sexta-feira, abril 17, 2009

Surto

Acordou em êxtase, tinha tido um sonho absurdamente real em que havia beijo da melhor língua (exatamente a proibida). Esqueceu durante o dia e caminhou descoberta, sensível e cheia de todas as coisas.
Disse que o coração bombeava sangue 1500 vezes por segundo o dia inteiro. Tratava-se de um sério caso de pressão alta que nenhuma genética podia explicar. Culpou frituras e esqueceu o óbvio.
Embaralhou todos os caminhos e se encheu de café sem lembrar as consequências.
Depois pensava na trema e decidiu que aplicaria Nelson Rodrigues em todas as pessoas. Das pontas dos pés aos diálogos pré-programados.
Parou. Imagens muito brancas e sol muito forte.
Se ficasse nua, correria sério risco.

segunda-feira, abril 13, 2009

Post Coitum

Foi tudo verdade e representação ao mesmo tempo. Os pés meio inchados, meio bestas, meio moles, ficaram misturados sem que se visse quais pernas eram donas de delicados e rústicos pés.
Olhava apenas para baixo pensando em como podia tanta dor num pé tão contente. Talvez fosse culpa do vinho com salto da noite anterior em que não havia outros membros que não fossem seus.
Teve então uma ânsia análoga a ânsia dos amantes românticos em se encontrarem. Precisava ir para casa botar os pés de molho e ficar longe pra fixar o resto.
Os vasos sanguíneos sentiam-se parte de uma coisa maior e universal e as cores todas precisavam ser lambidas como tijolos e pedras de chão.
Os pés doiam e ela sentia-se meio estranha, meio sangrando, meio apertada e mole - mesmo sem corte, prensa ou sono.
Continuaria andando com poses e fingindo tudo, menos a barriga que precisava esconder e não escondia.
Seriam cigarros que lhe queimariam as beiras e fariam da ânsia de casa uma ânsia de gente.
Ela sempre dizia que seu fumar era fuga de timidez.

quarta-feira, abril 08, 2009

Discurso do Método

Eu quero saber de academia
rigor de forma
Tudo bem moldado (martelado)
Consoantes pulsando ritmo
duro
bruto
abrupto
Forte
batendo na cabeça o canto
Quebrando, pulsando, cortando.
Rápido

e depois ficando leve
lento
ritmo de vogais soantes
com ar saindo todo da boca
Ah!

segunda-feira, abril 06, 2009

Mais

Parece que a ânsia só aumenta
enquanto tudo melhora.

quinta-feira, abril 02, 2009

Mariana XXIX - Segunda temporada

Ela me disse assim, sem gravidade,
Foi só um flerte, Aline.
Todavia, eu sei que Mariana estava doendo muito por dentro.
O italiano sumiu e Mariana não tinha apoio.
Mariana sem galho fica chata.
O ombro então seria só conversa,
Mas Mariana não passa de
um amontoado ambulante de hormônios.
- Aline, Um flerte à toa não faz mal!
Ela dizia sem se ouvir e desmoronava.
Não queria ver o que estava na cara
- em baixo do nariz: o ombro -
Ela disse se preocupar com o italiano.
Eu fingi acreditar enquanto eu via
Mariana se embolando cada vez mais
num mesmo novelo
sem sonho, sem óbvio, sem futuro.
Eu tive que calar por que ouvindo
eu-besta não sabia o que fazer por ela
ou o que dizer.
Deixei, mas não sem culpa,
a minha amiga num navio sem vela

à deriva

terça-feira, março 31, 2009

Sobre a casualidade

A Marilyn disse e a Nicole também:
Diamonds are a girl's best friend.
E você acha que eu vou ficar querendo pulseirinha de camelô?

Sem medo

O que eu pensei quando disse aquilo?
Pouco importa, era mero recurso retórico pra flêrte. Entenda que não me importo com causas, mas efeitos.
Xadrez maquiavélico sem nada de conto de fadas.
Foi Vênus que resolveu me acompanhar um dia inteiro e me fazer dizer muito mais do que o que eu digo.
Foi passsar o dia sem desodorante e sentir cheiros naturais. Foi a lembrança das raízes dos pelos(agora sem acento) eriçados tão bonitos que me vinha vontade automática de carícia.
Tenho que parar de ficar ouvindo Rita Lee pra saber bem o que digo e esquecer que as minhas pernas gostam muito mesmo de tremer.
Vou ver se esqueço esses pudores e grito como legítima personagem de Nelson Rodrigues.
Na bandeja outra vez.

sexta-feira, março 27, 2009

Jornalismo e tal

"Pra que tantas aspas, meu deus?", pergunta o meu coração.
Porém a boca não pergunta nada.

segunda-feira, março 23, 2009

Confissão

Esses dias eu ouvi dizerem que pra escrever a gente não pode ter o editor nos ombros, nem o copidesque, nem nada. Entretanto, o leitor continua em cada tecla e cada mexeção de pulso.
Escrevo com a minha avó nos ombros sempre. Provavelmente por que eu sei que ela sempre lê. Quanto mais doce, mais avó no texto. E quando é ácido, é ela quem suaviza.
Então começam a brigar minha avó e minha falta de pudor pra sentimentalismos- que é o que permite a escrita-, mas a minha avó muitas vezes cede. Ela entende que se essas coisas não se soltam e viram palavras elas congelam, mesmo inventadas. Minha avó sabe que quando engulo fico com azia e dor de cabeça e ela nunca nunca me quer doente - me dá água de coco e leite com banana e biscoito que tudo curam.
E mesmo quando eu finjo que não, eu sei que sim. Ela está ali e isso faz parte de mim.

sexta-feira, março 20, 2009

Mariana XXVIII - Segunda temporada

Foi aí que Mariana precisou
de afago preciso.
Surgiu na frente dela,
perdida e sem placa
- mas com love for sale -,
aquele Italiano de outra hora.
Nem fugiu nem nada.
Cabeça de ombro e velho amigo
confusa e cansada.
Queria nada.
Nem sabia.
Entretanto, um aviso de manhã e um colo de noite.
Um cheiro e pronto.
Italiano na mesa com Mariana.
Perdida entre mais pernas.
Sem ombros.

quinta-feira, março 12, 2009

Suruba

Se eu te mordesse a cabeça à Saturno
arrancasse os pedaços
E ainda guardasse Minerva na telha...
Baco na perna todo dia.

segunda-feira, março 09, 2009

Psicosomatismo

Nada de nada.
Foram pares de olhos como um porre.
Palavrões não falados e verdades não ditas.
Foi a bola na garganta que não sai e esquenta e não sai.
Pares de olhos e mais mudez.
Paixão presa na garganta.
mudez mudez.

Acordei gripada e a garganta dói.

terça-feira, março 03, 2009

fim de caso

Agora que está tudo muito bem engolido
eu posso até voltar a dançar
assim, sem compromisso.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Outra paixão rotineira


Tinha sido um dia um caso de amor.
- Olhe, eu conheço muito bem todas as peças do meu xadrez. – ele disse, olhando bem no fundo dos olhos dela com seu sorriso sacana.
E ela:
- Se é um jogo, combinemos de não sacrificar a dama.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Mariana XXVII - segunda temporada

Mariana confundiu
as pernas com o velho amigo
e se confundiu
com palavras mais
que versos(que não tocam)
Mariana esqueceu do mundo
e queria assim um sonho virtual
pra ela quase óbvio
tudo no velho amigo
que era delírio - e nada.
Mariana devia verter-se
em mãos apenas
Mas as trocas de palavras
fizeram dela peixe
na rede
do velho amigo
que, sabendo,
arredou para o lado.
Mariana queria mais que pernas.
Aconteceu: Mariana escorregou com força
mesmo estando peixe na rede.

Então houve choro
e pra choro: ombro.

Calma

Na casa dela há muitas flores. Olhando, Olívia pensava que queria ter dinheiro apenas pra ter flores assim na janela. Então ela entrava na casa escura e era como atravessar um portal pra entrar num túnel de calma, paz e doçura. A tia estava sempre deitava na cama e mantinha-se muito bonita e aprumada apesar dos seus quase setenta anos.
Olívia, de dezoito, queria ficar mais velha tendo aquela pele e aquele gosto por comprar jóias. Sentava-se ao lado da tia e então conversavam sobre tudo, principalmente sobre flores na janela.
A tia dizia que não adianta nada ter carro se na casa não tem nenhuma flor. E todas as vezes perguntava a Olívia se ela já tinha lido O Pequeno Príncipe. Olívia fingia que não notava aqueles lapsos de memória e dizia que sim, que lia todo ano e que a história era das mais bonitas e tocantes.
As duas então recordavam-se da raposa falando que a rosa era única por ter cativado o príncipe.
Aí falavam de outros livros e de muita calma. Gostavam de samba e de vermelho da mesma forma, mesmo em idades tão distintas. Queriam conhecer a França e Olívia tinha ainda que aprender toda a língua. Ao contrário da tia, ela não tinha lido Madame Bovary no idioma original, muito menos a Simone de Beauvoir.
Depois risadas. Muitas e sem qualquer freio.
Era pouco depois que a tia tinha sono e Olívia ia embora pensando que queria uma casa cheia de flores.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Quarta-feira de cinzas

Decidi.
Vou enterrar a paixão - com encanto e tudo - bem no fundo do estômago
e deixar o coração batendo forte
a torto e a direito
Por várias bocas
distintas
do que significa úlcera.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

(Í) caro II.

Senti as asas mais pesadas ainda. Era de se esperar que eu não me acostumasse em dois dias, mas estava entrando em desespero sem poder sair de casa nem nada. A desculpa de intoxicação alimentar já não colava no trabalho.
Por Deus, quem consegue vomitar tanto?
Era melhor dizer qualquer coisa do que sustentar ao patrão que eu não queria sair de casa por ter adquirido involuntariamente um belíssimo par de asas de cera.
Andei de um lado para o outro com todas as dores, depois fucei minha bolsa e achei um último cigarro. Acendi e me arrependi profundamente. Na primeira tragada senti meus dentes esquentando e amolecendo.
Joguei logo fora o cigarro e fui ao espelho.
Então, eu tinha dentes de cera.
Fiquei nua diante do espelho checando cada parte minha. Eu sou clara com carnes firmes e fico muito bonita com asas.
Meus dentes também viraram cera e as unhas pareciam cera ao meu tato.
Acho que agora tenho ossos de cera.
Tenho muito medo.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Mariana XXVI - Segunda temporada

Acelerou os seus motores
Pisou fundo e foi pra longe
Nem queria ombro algum.
Queria nada que não fosse vento
E fuga.
Mariana nem sorria nada por dentro.
Ficava longe e aquilo por si só parecia bastar.
Então, foi um gole de cerveja com um velho amigo
Sem nenhuma ponta de dedo.
Era pra ser só uma fuga
Mas ele chegou com sorrisos
E ela usava uma bela saia.
Mariana se enroscou entre as belas pernas
Do velho amigo
Mariana beijou corpo inteiro
E se fez vento
Entre feridas abertas dela e dele
Entre tudos e nadas
Compromisso de nem sim nem não.
Estava ali quase afogada em suor
Querendo apenas sentir as suas ancas flácidas
Pressionadas por mãos fortes
De amigo estranho
De sempre.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Plim!

Eu juro que tinha pensado algo inteligentíssimo e altamente relevante para escrever. Mas aí fiquei pensando que confessional por confessional, os textos podem ter sim um tom de conversa.
Não importa. Isso aqui não é diário, então as confissões tem que ter requinte de metáfora.
Nem vou cantar vitórias. O que eu queria mesmo era uma crônica dessas de vista de janela. Aquela sensação de olhar a árvore bonitinha e sonhar com várias coisas ao mesmo tempo (sentindo cheiro de mato).
Não sei de mais nada. Acontece que com esta gripe eu ando mais ligada a cheiros do que já sou – e olha que cheiro sempre foi fundamental.
Também queria broa saindo do forno.
Queria tanto férias pra poder não pensar!
Juro que da próxima vez eu invento histórias pra não ter que ficar assim egocêntrica.

Ah!

Tem post novo no Batata Quente!
É a História de um amor de pré-adolescência que ressurge aos 20 anos.

passalá.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Mariana XXV - Segunda temporada

Mariana parou de me ligar.
Fiquei me sentindo órfã sem as suas histórias,
Mas não procurei.
Depois de uns dias, ela apareceu na minha frente numa lanchonete e disse que muitas coisas tinham acumulado. A mais assustadora delas era a postura do ombro.
Mariana contou que para ele não havia nenhuma tempestade.
O ombro disse a ela que tudo era muito bonito entre os dois.
Que com ela tudo estava tranqüilo.
Então ela me demonstrou toda a vontade que tinha de morder travesseiros pra não gritar alto demais.
E de socar pessoas.
Por que pra ela nada era tranqüilo.
Mariana estava bem alojadinha na boca de um leão.

Dessa vez eu nem achava engraçada a cara de desespero dela.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Bandejão é Mara!

the ramones - i wanna be sedated


É que eu comecei o ano de azul e dourado querendo apenas duas coisas. Tranqüilidade e dinheiro. Gente. Eu não pedi paixão, nem saúde, nem amor, nem festas, nem quis espantar mau-olhado.
Aí vem o contrário.
É por que o cara que vê os pedidos de ano novo, anota, faz relatoria e presta atenção nas cores das roupas resolveu ser daltônico justo no segundo em que olhou pra mim. Eu estava tão bonita de vestido azul! Sapatinho combinando, brinco grande, maquiagem trabalhada, cabelinho arrumadinho e cacheadinho...
Gente. Eu juro que fiz tudo certinho na virada de ano. Eu não tinha como pular ondinhas, mas eu abracei pessoas, sorri e desejei tudo de bom pra todo mundo.
Agora, dá pra alguém me explicar por que eu estou nessa pindaíba e não tenho um dia tranqüilo sequer?




à propósito, Mourito Cabrito fez um blog maior legal pro Bandejão (programa de rádio feito por estudantes da zoofes). Bacana todo mundo passar lá e ser alto-astral depois do meu papo maníaco depressivo. Tem musiquinha e fotos felizes. Moura = S2.

www.bandejao147.wordpress.com

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Depois

Andou desprendendo os fluidos do próprio corpo. Como se derretesse. Tinha um certo sorriso e um certo destempero. Andava como quem se perde. Desmancha.
Era tudo um acúmulo de coisas não ditas e de palavras ouvidas fora dos horários. Devia haver peles de outras pessoas grudadas em camadas suas.
Sentia-se feita de areia e tinha muito medo de não conseguir continuar.
Pararia.
Devia ficar quieta por um bom tempo.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

(Í) caro.

Acordei com asas de cera e um sol assim tão quente que quase não levantei. Tinha medo de todas as coisas com asas.
Inclusive paixão.
Acordei caindo. Estava meio morta e meio viva. As asas não me deixam andar normalmente. Ficam pesando e regulando coisas.
Aliás, devem ter sido elas as responsáveis pela minha dor nas pernas.
Acordei meio sem conectivos e avessa. Não me sinto assim muito normal sendo tão Ícaro.
Vou ficar repetindo palavras e me escondendo do sol.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Só de sacanagem (ou Pra você se achar sem se procurar muito)

Alguma coisa ficou grudada nos meus cantos. Na raiz dos cabelos e dos pelos (agora sem acento) e na boca e nos dedos.
Ficaram restos, pedaços, gostos.
Eu não quero sentir cheiro de nada. Nem gosto. Textura muito menos. Eu não quero pelos e não quero dedos pelos meus cabelos.
Eu não quero vento, eu não quero acento. Nem risadas sem horários e manchas vermelhas de barba no pescoço. Não quero pescoço roxo, nem marcas rasas de mãos, nem falhas.
Ficaram pedaços.
Ficaram pedaços.
Fiquei aos pedaços.
Desencontrada, descabelada e longe.
Fiquei faltando


Nem tudo é sobre você – é preciso manter a pose, o porte e principalmente a distância.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Epístola muito cruel

janis joplin - Piece Of My Heart

Donatela,

Toda a vez é a mesma coisa. Eu funciono como um copo com gotinhas que enchem e transbordam. Você, mais do que ninguém, devia saber disso desde sempre. O copo tinha um bocado de açúcar no começo - pra tudo ser doce com bolos e batatas fritas.
Acontece que eu acabo ficando quieta e não falando das pequenas gotas. Aí o copo vai ficando cheio e já são gotas inumeráveis.
Com alguma sorte, ele fura e você vaza. As gotas não enchem nada. Acontece que meu copo é duro, grosso, seco e forte. Copo multicolorido não necessariamente significa não-transbordante.
Ele avisou que copos são mesmo muito inconvenientes quando transbordam.
Sorry, mas com duas gotas à mais eu não vou ter escolha.
Você que segure firme e aguente seus próprios pingos.
Love,

Flora

domingo, janeiro 18, 2009

Mariana XXIV - Segunda temporada

Mariana se envolveu
Em alguns novelos
Em coisas tortas.
Mariana se perdeu.
Sentia dores constantes no peito
De achar que não devia
Gostar de quem gostava
(o rato da história que ela não quis me contar no outro dia - e ainda brigou quando viu que eu chamei de rato.
Mariana disse que se for pra eu inventar um nome, que o chame ombro)
Tentou dizer não
Fugiu como fazia sempre
Mas Mariana sem medo e pudor acaba se embolando – ainda que seja racional.
Mariana embolada no novelo desse ombro
Ficava constantemente
Rodando num tornado.

sábado, janeiro 17, 2009

Acúmulo de coisas e nada pra dizer

Olá, queridíssimos leitores.
Não tenho nada pra falar e nenhuma criatividade.
Assim, lembrei hoje de uns memes que eu tinha ganhado e resolvi colocá-los aqui pra não quebrar a corrente.
Primeiro, recebi do fofíssimo blog Sonhos amadores este meme chamado prêmio dardos. Isso faz com que eu tenha que postar o selo aqui e indicá-lo para outros 15 blogs, incluindo o seu manual de instruções acoplado. Os 15 blogs - que valem o seu sedento clique- serão:

1 - Caixa de Vinis, o blog do Dam, com suas dicas psicopatas.
2 - Garota do Casaco Verde, o blog da mais amada pessoa sem coração que já existiu na face da terra. Vale à pena.
3 - As aventuras de uma eterna criança, o blog mais doce da Bia mais doce.
4 - Caio Lamas, o blog mais desatualizado do amigo mais esquisito que eu tenho.
5 - Sincopado, o blog do Hup, que ainda tem Hope.
6 - Ipsis Litteris, o superblog(tem hífen ou não, agora?) do meu querido Grijó, que nunca responde memes.
7 - A garota do copo d'água, o blog da Pagani que está escrevendo cada vez melhor e se esquecendo de mim cada vez mais.
8 - Penny Lane Blog, o blog que mais me traz sorrisos.
9 - Saco de Filó, o blog do Marcelo, que não liga pra memes e sempre tem boas sacadas.
10 - Perovs, o blog alucinado e psicótico do Perova.
11 - Do cacos, o blog muito útil do Centro Acadêmico de Comunicação Social da Ufes.
12 - Com açúcar, com afeto, o blog da Marcelinha - o mais gostoso dos blogs.
13 - Livro de anotar, o delicioso blog da Mara.
14 - Avec Poivre, o blog da Luiza que não atualiza.
15 - Esfera dos intocáveis, o blog sempre cortante do Léo Viso


Manual de instruções

- Primeiro, é importante saber que: "Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web".

- Depois, siga, por favor, essas instruções:

1) Você deve exibir a imagem do selo em seu blog
2) Você deve linkar o blog pelo qual você recebeu a indicação
3) Escolher outros 15 blogs a quem entregar o Prêmio Dardos
4) Avisar os escolhidos, claro!

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Eis que Senhor Raphael Perovano Bernardo também me deu um meme com manual de instruções.

Os recebedores do meme devem:

1
Linkar a pessoa que te indicou;
2 Escrever as regras do meme em seu blog;
3 Contar 6 coisas aleatórias sobre você;
4 Indicar mais 6 pessoas e colocar os links no final do post;
5 Deixar a pessoa saber que você a indicou, deixando um comentário para ela;
6 Deixar os indicados saberem quando você publicar seu post.

Então, seguem as seis coisas aleatórias.

1 - Eu gosto de música de velho.
2 - Morro de vergonha de falar inglês em público.
3 - Usei óculos até os 14 anos.
4 - Quando eu botei aparelho, com 11 anos, fiquei me achando o máximo por que a minha boca ficava maior do que realmente é.
5 - Chorei vendo Star Wars III (quando o Anakin virou Darth Vader).
6 - Eu batia nos meus amiguinhos de colégio com a minha merendeira da turma da Mônica por que eles me chamavam de bruxinha.



Agora, 6 pessoas:
Penny, por Penny Lane Blog
Bru, por De amor e de Letras
Rafael Arcanjo e Arcanjo, por Jornalismo incompetente
Sylvia, por Blog desatualizado da Sylvia.
Amanda Mariano, por Verba Volent



Thats all, folks!

terça-feira, janeiro 13, 2009

perfume

Me senti mitômana
Quando te inventei cachinhos
São coxas
E eu toda coxa
Deixando meus pedaços jogados
Na sala
Chupando uma bala
De menta.
Enquanto você me atenta
De longe
E venta
Esfria a boca
De bala de menta

Esquenta.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Sim


Delírio é uma palavra tão bonita! Delírio-palavra dá vontade de dança e de repetir muitos eles num texto-muito-mais-língua-do-que-mãos.

Um texto de cantos escondidos de corpos delirantes!
Sorrisos então.
Espalhados, cantados, cansados.
Gargalhadas novas e velhas e vozes roucas – veludadas.
Vontade de tudo!

Delírio,
língua.

Nada de nada.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Poeminha quase erótico

Se eu achava que podia
Ser tão escorregadia
sozinha
É por que não conhecia
As molas dos cabelos
De quem parece sabonete,
Bolhas de sabão,
E borboletas
Ao mesmo tempo
- E ao vento

Escrevi versos sobre mãos
Senti longos pingos de suor
E não escorreguei
Nem das molas
Nem das mãos
Nem das gotas
E principalmente não das pernas.
Bambeei entre elas.
E por elas...

Bocas.

Bambeei em bocas.
Deslizei por braços
Amoleci em pedaços
E não escorreguei.

Fiquei parada
Em palmas de mãos espalmadas
Me equilibrei em pontas de pés
Depois rolei
Suei
Suguei
E fiquei.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Alone

Saí belíssima e fui andando com os sapatos grudando nos paralelepípedos. Nenhuma classe mesmo com vestido e cabelo impecáveis.
Não pode haver desilusão sem ilusão.
E mais nada além de paralelepípedos e sapatos que grudam e passam. Machucam tanto!
Havia baratas na rua e se elas passassem sobre meu pé eu gritaria fortissimamente. Faria um escândalo absurdo!
Ninguém iria socorrer.
Saí sozinha.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Muito confessional, depois pouco confessional

Vamos lá:
O que significa o reveillon pra você?
Eu diria que muitas coisas e antes de todas um ritual de passagem. Quase que como um aniversário coletivo. Enterra-se o passado e pede-se coisas muito boas para um futuro possivelmente glorioso!
Sei que sou cheíssima de superstições. Acho que o último dia do ano é importante como o primeiro. Terminar o ano bem parece que significa ter um ano excelente depois.
Eu quis terminar em paz. Vim para Iúna fazer uma surpresa para a minha mãe que não me esperava.

Nem quero muita farra como sempre tenho. Quero boas conversas, um pouco de dança e muita comida.
Amanhã quererei sol, biquini e água. Começar o ano com coisas das quais gosto e terminar com coisas que ainda quero...

Em Iúna, encontrei as pessoas de sempre que sempre fazem falta e as pessoas de nunca que eu muitas vezes esqueço.

Ando dando abraços e sorrisos, prometendo coisas incumpríveis e me apaixonando por pedaços de pessoas e coisas.
Ando devagar.
Eu, andando devagar?
Pois continuo sendo eu e afoita mesmo devagar.

Comecei o dia com o vinho do lado depois da meia noite e antes de um telefonema. Nenhum gole.

Estranho.

Muitos goles.
Ainda assim...

Diz a Fabíola que eu estou melhor do que era. Nem sei se sim nem se não. Sei que me preocupo como não me preocupava antes.

Vou deixar o branco de lado passar a virada de azul com dourado.
Quem sabe eu não me acalmo de vez?

Feliz 2009!

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Fim de ano na praia

Toda vez é a mesma coisa. Uso a minha habitual tirania e estrago o verão das crianças dando gargalhadas de bruxa. Ano passado eu puxei a tomada do Plaistation, não se se vocês se lembram.
Esse ano peguei uma cadeira que estava sendo usada como caixa de banco. Inclusive, acho muito injusto as crianças usarem a cadeira mais confortável de todas para ser caixa de banco.
Acho que as nádegas das pessoas mais velhas e ranzinzas merecem conforto. Como acho que as minhas nádegas merecem conforto e um bom papel higiênico - aliás, papel higiênico não deve ser um item com o qual se economiza: comprem neve!.
Como ia dizendo, roubei a cadeira, estraguei o verão, virei bruxa malvada e tentaram me jogar vinagre pra estragar o meu verão.
Corriqueiro.
O bonito disso foi como eu salvei o verão depois.
Fui lá fazer intriga - sou a vilã da história sempre - por que meu tio tinha pegado a televisão das crianças jogarem videogame e botado no quarto dele. Aí as crianças estavam cabisbaixas e muito pouco revoltadas como eu queria. Minha tia passou e disse que tinha uma televisão no meu quarto.
Tinha mesmo. Mas eu nem assistia.
Eles perguntaram se podiam pegar e eu disse que sim, desde que conversassem com a Maura - minha colega de quarto- e só usassem a televisão num horário em que ela não estivesse assistindo coisas.
Ficaram absurdamente felizes. Foram jogar aquelas coisas que eu não sei jogar por que não são bomberman e contaram pra vizinhança inteira:
Aline salvou o verão.



Da próxima vez eu devo esconder as barbies. Talvez dê certo.

domingo, dezembro 21, 2008

Boca.

Tinha cabelos castanho-claros que viviam úmidos de oleosidade natural e raízes com muitas caspas. O cheiro não era dos mais agradáveis mas a tez branca era das mais belas que podiam ser vistas. Tinha feições delicadas e olheiras fundas. Tinha pouco tempo de se cuidar e quadris largos. No fim das contas era tão bonita quanto se permitia mesmo não gostando nem um pouco da própria beleza e das sardas que carregava nas bochechas.
Chegou ao café com pouca fome e muita pressa. Esperava o capuccino e o namorado que não tardaria a chegar. Tinha sono e raiva do mundo.
- Dani? – ela nem viu quando ele se sentou, já pedindo um pedaço de torta de chocolate que ela não comeria pela manhã.
- Bom dia, amor.
- Você precisa dormir...
- Que horas?
- Você precisa dormir.
- Achei que quisesse me ver ao invés de passar sermão.
- Caramba, Dani, eu nem posso mais me preocupar com você?! – e continuou falando coisas que ela não ouvia por não saber bem onde estava nem o que queria além de uma cama quente e músicas de uma rádio de baixa estimulação. Ele tentava agradá-la de todas as formas que não eram funcionais. Ela tinha que ir trabalhar e não dormir, novamente.
Ele não gostava de ela ser tão brilhante e tão esquecida de si. Não conseguia entender por que ela se entregava tanto a tantas coisas que não eram ele, nem tinham carne. Era como se Daniela o traísse com cada papel, cada caneta e cada projeto. Era como se as paixões dela nunca pudessem ser pessoas.
E ele não entendia que a boca dela estava em toda a parte. Que ela comia tudo o que fazia com uma voracidade que nunca teve na cama.
- O corpo é pouco, meu bem. É quase nada. – ela dizia e ele nunca ouviu.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Mariana XXIII - segunda temporada

Mariana – a louca – pendurou um cartaz.
LOVE FOR SALE
Letras garrafais e eu desesperada
Preocupadíssima com Mariana fiquei.
Então ela disse pra eu cuidar dos meus casos
E foi arrumar casos pra si.
Sarna atrás de sarna que a bichinha gosta de se coçar.
- Um flirt, Aline, um flirt à toa não faz mal!
Mariana sapeca me deixa desesperada.
Enquanto ela é despudorada pulando de galho em galho
Eu nada.
Mariana pendurou um cartaz e nem precisou indicar o local.
Cachorros, bois, galos e ratos apareceram pra se casar
Com a dona Marianatinha
Que pôs fita no cabelo
e dinheiro na caixinha.
O boi ela logo não quis. Mugia.
Pro cachorro ela bem que abanou o rabo
Passou noites acordada e depois percebeu que ele ladrava
E mordia.
Então Marianatinha se encontrou as escondidas com o galo.
Depois não ficou com nenhum dos dois.
Voltou a pular de galho em galho.
LOVE FOR SALE
E o rato fica em outra história

[que Mariana não quis me contar.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Talk to the hand

À Flora




A conversa é pesadíssima. O termo, inclusive, lembra várias coisas a serem resolvidas e que não querem ser resolvidas.
Tomava guaraná como quem toma conhaque e no som, ouvia Ella Fitzgerald. Lembrava bastante do violão de mais cedo e o quarto tinha um estranho cheiro de fumaça.
Pensava muito na pesadice das coisas. Na pesadice de tudo, inclusive do que não é dito e fica só no peito. Pensava muito em peitos e cheiros estranhos de fluidos de corpos.
Queria parar de tentar levar o mundo nas costas e então pensava em outras costas, queixos e principalmente pés.
Não gostava de pés, achava-os muito feios. Mesmo os seus eram horrorosos e tinham muito peso e calos e bolhas. Na cabeça, muitas moças e rapazes que lembravam diversos problemas distintos. A conversa devia vir depois de Ella e depois do sábado.
Sábados sempre foram gravíssimos por culpa das sextas-feiras.
Sua pele de sábado mesmo tinha uma plasticidade estranha e uma textura meio graxosa.
Pensava mais do que queria e tentava se distrair arrumando os próprios cabelos em tranças. Ficava com cara de outra pessoa quando fazia tranças infantis e pensava em ganhar presentes de natal.
Mais um gole de guaraná e presentes.
Tomaria gim no dia seguinte.
A conversa ela não sabia. Pesada demais pra quem ouve Ella cantando Jobim.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Boxe, duelo ou queda de braço

À Amanda Mariano e Mara Coradello


Você é assim, um rapaz bastante bonito com simpatia nos olhos e um sorriso que desmonta pessoas. Eu sou até razoável, não muito alta, cabelos bem cuidados e dotada de quadris que balançam num ritmo unicamente meu.
Nos esbarramos algumas vezes, em algumas ruas e resolvemos conversar.
Você elogia o vestido querendo elogiar o decote e eu elogio o sorriso querendo tirar dele um pedaço. Falamos coisas engraçadas, trocamos telefone, sorrimos e eu digo que é hora de ir embora.
Nos esbarramos outras vezes. Tomo coragem e pego logo a ficha completa. Existe uma série de testes que preciso aplicar em todos os homens.
- Você é arrogante?
- Não sei. Acredito que não. – você responde e perco metade do meu interesse.
- Prepotente?
- Um pouquinho só. Só as vezes... – você vai murchando e eu também.
- Misantropo! Você deve ser misantropo pelo menos!
- Não. Sou sociável e tudo.
Vou embora.
Te encontro outro dia e você vem com voz arrastada fazendo pouco do meu rebolado. Depois me ataca com doses cavalares de sarcasmo.
Volto a te olhar.
Você tenta forçar sorrisos meus e eu não dou a mínima. Então é a hora de me ver com outro homem, rindo bastante e tocando o braço dele constantemente.
Você chega perto e tenta roubar para si a atenção. Depois arruma uma mulher muito mais bonita do que eu e eu nem olho. Sorrio um bocado por dentro.
Conversamos entusiasmadamente no fim da noite. Te acho interessante e você me acha intrigante.
Tenta me tocar e se aproxima. Faço questão de frisar com os olhos que não sou nada sua.
Nos encontramos num desses meios de tarde e você conta vantagem de tudo. Entendo perfeitamente a sua competência profissional mas não me comovo. Começo a ficar irritada e repito o teste.
- É ciumento.
- Não. Nunca precisei disso. – Sei que você mente e começo a me sentir levemente encantada pela sua presença.
Rimos juntos e bastante. Tento passar mentalmente a carta que passaria a todos os homens.
“É preciso que você seja um bêbado, arrogante, prepotente, egoísta e misantropo. Pode até ser um pouco carente, mas se for demais me enche o saco. Não quero saber de crises de ciúme que eu não provoque, e o mais importante: devo ter o que quero na hora que for, mas você não deve evitar dizer não”.
Você me beija. Eu te beijo. Evitamos mãos e nos gostamos por algum tempo.
Eu não me entrego, nem você.


Eu sou uma mulher bonita e você é até razoável. Tem um olhar simpático e sorriso tímido. Não faço testes e nos aproximamos aos poucos.
Caio de amores e nem quero saber.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Get Happy

As pontas dos dedos que encostam de leve são quase fatais.
É feito um recorde e em outro corpo surge uma boca com gosto de restos de café.
Saliva e café com pontas de dedos compõe arrepios impróprios pra qualquer horário ou lugar.
Mais um corte e toca de fundo um tango eletrônico.

Companhias distintas e muita provocação.

Surge o homem que toca com seu nariz reto e a pretensão de ser levado a sério mesmo quando tudo o que diz só a faz rir.
As mãos espalmadas e fortes espantam.
Mais recorte e arrepios.

Aparece uma barba fechada e um sorriso cínico que integram um corpo dono de bela voz.

Vários olhos aparecem e nenhum deles diz nada.
Recortes e tango eletrônico.

As pontas dos dedos encostam mais uma vez e a mocinha quer ir embora pra qualquer recorte que não seja fatal.


terça-feira, dezembro 02, 2008

Mariana XXII Segunda temporada.

Mariana perdeu o medo.
Sei que você, leitor, deve estar pensando que a personagem descaracterizou-se, mas não.
Mariana me ligou por esses dias e contou que muito se deve ao homem que já não está mais com ela e que ela ainda não adjetiva.
Mariana também não vê mais óbvio nem sonho nem flor nem nada.
Disse que semana que vem vai à Bahia.
Se encontrar o sonho não sei.
O sonho agora tem dona e nada de Mariana nela.
Mariana disse que está vacinada,
Mas eu mesma não acredito.
Depois, pra me enrolar, ela contou de certo italiano que conheceu há meses atrás
Paixão avassaladora de uma noite só.
Disse que ele custou a sair da sua cabeça.
Eu nem quis saber.
O que importa é que Mariana já não tem medo nem de boca-de-leão
E eu não sei o que pode acontecer daqui pra frente
Continua sendo ninfeta, continua sendo atemporal.

Torçam, queridos, que Mariana agora ganhe um pouco de pudor!

sexta-feira, novembro 28, 2008

Detalhe

GAL COSTA - Lí­gia


Eu fico tão burra quando me apaixono que eu detesto me apaixonar. Inclusive ultimamente andei prometendo que não mais me apaixonaria.

Então eu fujo de todos os olhos e das caras e o tempo todo. Estou cansada do velhinho de barba branca e de Mariana e de todas as paixões novas e velhas.

Não tem nada de novo.

É que eu fico tão burra que não sei como agir nem nada. Eu detesto estar burra e ser burra e dizer sim e dizer não e agüentar talvez e esperar abraço.

E eu gosto de tudo isso. E gosto tanto que eu fico burra e bamba e tonta e suspirando e queimando e com vontade constante de gritar e dançar e ir e voltar e brincar.

Eu fico tão burra quando me apaixono que eu esqueço que nada disso é sério e levo tudo profissionalmente.

Então trate você de parar de ser galante o tempo inteiro e de não me abraçar quando eu quero por que eu apaixonada fico tão burra que só faço o que eu quero. E quero que todo mundo também faça. Trate de parar de sorrir e de me fazer ciúmes assim fortes. E pare de se perfumar por que eu não consigo manter a pose sentindo esse cheiro forte que parece que toma o espaço inteirinho.

Trate de parar de ser você por que corro sério risco de emburrecer e eu não quero.

terça-feira, novembro 25, 2008

Mais um texto besta feito pra blog

Ao Léo.

Chico Buarque - Mil Perdões

A chuva foi embora e levou com ela muitas coisas. O sol se abriu e Maria acordou deseperada e suada de um sonho ruim.
- Não queime as coxas dela com cigarro! – Gritava como se já não tivesse aberto os olhos.
João chegou e fez barulhinhos de acalentar e silenciar pessoas. Abraçou Maria como um bebê e ela ainda pensava na visão loira do sonho.
“Não as coxas. Por favor não queime nada. Se queimar vai marcar pra sempre e ela não vai voltar. Nem que ela peça. Me jure! Não queime!”
João não entendia nada e continuava usando o sopro da boca pra ver se Maria esquecia o que via.
- Já estou bem, meu bem, me deixe só. – Ela tentava e João não soltava nem soltaria. Tinha, na verdade, um medo grande que Maria lhe escapasse entre os dedos e escorresse.
“Você não entende, João, a gravidade das mãos de um homem que fuma. Ele segura o cigarro como se fosse parte do corpo e quando tem mãos nuas também. Nas mãos nuas o cigarro continua invisível como um indicativo de que tudo vai queimar.”
- Me deixe, João.
- O que foi que aconteceu?
- Vivia a te buscar por que pensando em ti corria contra o tempo... – Cantava baixinho e rezava que ele fosse embora e ela voltasse com coxas limpas.
- A chuva já parou.
- Nada de nada mesmo. Esquece que já foi, meu bem.
- Eu não estou entendendo nada.
- Foi só um sonho ruim.
- Não se preocupe então.
- Me deixe só, João, por favor.
E João foi como se tivessem lhe arrancado um pedaço porque ele nada poderia fazer sem nadar na mente possivelmente suja de Maria.
- Nada de nada. Nada de nada. Nada de nada. Nada. Nada. Nada.
“Por favor não queime as coxas dela com cigarro”. Maria pensava com a imagem loira cada vez mais forte e o autor do ato sumindo e correndo num sonho já desperto e muitíssimo real.
- Maria, o que foi? – João voltou a perguntar sem chegar perto.
- Nada de nada. Só amor de irmã.

domingo, novembro 23, 2008

Meu tempo é quando



Quando ela fala dele os olhinhos brilham. Talvez se eu não fosse tão suspeita ou ao menos não fosse a autora dos crimes pudesse lhe dizer para tomar cuidado. Preciso contar pra ela que ele é nada do que ele pensa(e do que ela pensa). É porcaria das mais violentas e das que menos se pode querer.
Então ela me perguntaria por que raios eu caí e eu não saberia o que dizer se não paixão. E seria uma mentira absurda.
Também não poderia lhe dizer que estou blindada nem que essas coisas e pessoas não me afetam.
Mas ela tem menos raiva do que eu e menos vontades absurdas. Ela tem menos pancadas na cara e um sorriso muito menos amarelo. Devia antes de tudo encontrar um príncipe e depois ralar a cara no chão.
Mas com ele ela se tornaria muitíssimo próxima de mim, com as minhas cicatrizes e as minhas crises - embora sem a minha verdade.
Meu medo é que ela se derreta como eu me derreto constantemente e não se recomponha como eu sempre faço.
Ela é mais sentimental que eu.
Não digo nada. Sacudo os cabelos, passo meu batonzinho vermelho-fútil e saio pra me bagunçar.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Oi ou à cabeça

Aí você chega e diz um oi morena assim gratuito. Eu por outro lado fico sem saber e sem dizer nada. Ando cansada de dizer coisas e de dizer as coisas. Acho que estou tendo muita coisa pra esconder.
De mim mesma principalmente.
Minha cabeça está doendo muito do que eu tomei ontem e não foi tombo. Minhas pernas estão dizendo estórias que eu não devia contar. Meus cabelos parecem intactos e devem ter cheiro de mato a uma hora dessas.
Aí você chega e diz um oi morena só pra me irritar. Assim gratuito.
Estou muito cansada de você e principalmente dos seus ois inapropriados e fora dos meus horários.
Aí você vai e eu completamente reclamo. Quase choro. Mentira que não choro nunca.
Minhas pernas dizem coisas que eu mesma não queria.
Cabeça dói. Queria vomitar essa cabeça da minha dor.
Aí você volta pra minha cabeça que eu não vomitei.
Queria vomitar você fora de mim por que eu não gosto de você.
Mentira.
Queria vomitar essa cor (rubra) pra fora da minha cara.
Aí você chega e diz um oi assim gratuito e eu morena fico vermelha e você me lembra que nada. Lembra que eu já devia ter te tirado da minha dor e da minha cabeça e das minhas pernas.
As pernas continuam contando estórias e o pescoço também.
Meu pescoço absurdamente é fácil.
Dei o telefone na grama ontem. Aí você chega antes de o telefone tocar e eu esqueço que queria que ele tocasse.
Minhas pernas também.

quinta-feira, novembro 13, 2008

For you

E totalmente não.
Não disse que sim e nem nada.
O que, raios, é uma mulher interessante?
Bonita eu até sei.

Eu juro pra vocês que não houve paixão.
Questão pura e simples do não.

Vou acreditar agora.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Não lembro

Só literatura que eu quero hoje. E das mais baratas eu quero.
Escrever um bando de porcarias seria tão bonito que um monte de borboletas voariam ao redor de mim.
Estaria com um vestido verde em um campo de flores com borboletas à volta e ao som de qualquer coisa doce.
E mel eu tomaria.
Escrita absurdamente clichê eu faria – como faço e finjo que não faço por que adoro fingir todas as coisas.
Só literatura eu quero hoje. E nada.
Não quero nadica de nada.
Um sorriso talvez me renda um poema.
E mais nada.
Quero um copo cheinho de nada.
Música barata.
Vinho comprado na padaria.
Pão dormido. Quero cachaça!
Parece que dizes te amo, Aline.
Nada não.
Só automatismo.

terça-feira, novembro 11, 2008

Ombro

Puxei o braço da Flora e reclamei horrores.
Ela tinha que ouvir absolutamente tudo o que eu tinha a dizer - mesmo tudo sendo nada demais.
E aí ela entendeu e mandou eu ir pra frente e parar de botar presilha no cabelo.
Entendi e contei que só boto a presilha por preguiça.
A Flora sabe direitinho o que se passa comigo.
Eu mesma não sei.
Estava um caos pessoal total hoje pela manhã.
Aí arrumei o armário e comecei a juntar meus pedaços pra me organizar melhor.
O lobo mau eu não encontro tem tempos. Queria que ele viesse me aconselhar e dizer que sou melhor que a fábula que eu mesma inventei.
Mas enquanto o lobo não vem fico buscando as borboletas que não dizem nada.
A Flora diz.
Fico buscando poemas perdidos em mares que não existem.
Arrumei o guarda roupa e o quarto pra ver se a casa melhora e o cheiro melhora.
Suei horrores. Reclamei Horrores. Fiz bons e maus poemas.



Vou botar uma saia
E um tomara-que-caia
Pra que tudo caia e saia.

sábado, novembro 08, 2008

Diário

Totalmente uhul a quarta dose.
Fiquei assim bamba e pensando em nada. E é muito legal esquecer de pensar. Aí passou e a quinta e a sexta vieram e eu lá.
Aí ela disse que eu sou paradoxal e eu não respondi. Também disseram que eu sou claríssima.
Sou confusíssima.
Fui corrigir uns erros de português em texto velho e eu não sei usar o Se. É sintomático.
É automático talvez quem sabe naquele dia fosse a quarta ou a terceira mas a quarta na banca cortou.
Eu não sei mais pensar. Aí eu fico quarta. Eu fico branca. Eu fico quarta-branca-nada.
Eu tenho filhos novos esse mês. Semana que vem eles envelhecem espero.
Se o filho não cair eu nem posso nada. Ai caramba eu caio. Caio quarta.
Hoje é sábado.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Ritual

Quando ele cruzou a sala de estar larguei imediatamente a xícara de chá. Tinha que me levantar e analizar cada pequeno pedaço de corpo.
E ele tinha justamente que passar por mim pra arrancar com os olhos cada pedaço de corpo que eu tinha. Não tenho mais.
Pusemo-nos frente a frente e vimo-nos arrancando os braços um do outro. Comi-o cru.

Comecei pelos dedos das mãos e passei imediatamente para as coxas. E ele fez o mesmo comigo até sobrarem as cabeças vibrantes e sem ar. Morremos atolados de paixão.

Aí eu sacudi a cabeça e fiz uma mesura. Vesti meu sorriso mais bonito e deixei que ele fosse.

Não ia demorar a voltar. Sorri por dentro. Voltei ao chá e o cuspi num reflexo. Estava frio.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Não, menina, não sonhe demais. Não deixe essas coisas tocarem você. Não precisa e nunca precisou.
Sinta apenas os pés gelados de praia e sujos de muita areia.
Depois corra. Indefinidamente corra pra bem longe de tudo - menos do mar.
Menina, escuta: só o mar é seu amigo. Eu não.
Eu tenho medo e sumo.
Molhe os pés, querida.
Vá embora.

terça-feira, outubro 28, 2008

O futuro já começou

Texto que poderia muito bem ter sido escrito pelo Marcelo

Quando comecei a estudar história, ainda no ensino básico, achava muito estranho falar de coisas que já não existiam. Havia uma sensação de estranhamendo maior ainda em se tratando de objetos. Aquela bicicleta que tem uma roda grande e uma rodinha me parecia comicíssima.
Na quarta série, primária, minha professora me deu as primeiras noções básicas de antropologia ao dizer para a turma inteira que cada tempo tinha seus objetos.
- Crianças, daqui a um tempo as pessoas vão achar estranho qu um dia tenha havido carros. Vamos todos voar em naves que nem os Jaksons.
Me vinha uma imagem muito estranha na cabeça. Tudo que é contemporâneo e, naquela época moderno, hoje pós-mederno, me parecia muito fixo e eterno.
Acontece que hoje tive uma espécie de revelação. Os liquidificadores vão acabar, secadores e microondas e batedeiras também. E os carros não serão mais usados - gasolina é totalmente fora de mão. Teremos bicicletas a vapor multifuncionais.

No armário de chaves havia uma caixa de disquetes.

domingo, outubro 26, 2008

Passado

O vi de longe, tinha quase certeza que ele também tinha me visto. Não me cumprimentou e eu passei direto pensando que ele estava diferente.
Os olhos azuis mantinham-se, mas havia uma barba espessa e uma barriga que não faziam parte daquele corpo quando cada detalhe nele me fazia palpitar.
Saí despreocupada e sentei no ponto de ônibus pensando que voltar para casa tinha essas consequências desagradáveis.
Talvez, tendo me visto, ele tenha ficado tão decepcionado quanto eu. Não havia mais cabelos longos e nem a magreza que me fazia única.
Haviam caixos curtos e maquiagem borrada de uma semana seguida de festas. Era ele quem ia pras festas e a cara estava descansada.
Então ele passou novamente e fez questão de me beijar no rosto.
Não tinha mais nada. Nem calafrios nem gotas de suor.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Regressiva

Faz quase um ano que eu escrevi e que todas as coisas mudaram. Eu na bandeja não sou a mesma que era na bandeja de 2006 ou 2007. Veriam-me mais doce.
Disseram também que as mudanças físicas só se passaram comigo e ninguém mais. Engordar e mudar o cabelo é fundamental a qualquer camaleão medíocre.
Eu não me visto igual todos os dias. Não sei se tenho padrão ou não.
Em um ano eu me sinto muito mais tranquila.
Foi em 2006 que me dei conta de que era sim uma mulher decidida. Ri sozinha muitos dias na praia e vou sempre me lembrar da minha avó perguntar de um cheiro de cigarro que eu não fumei.
Lugares fechados e cheios acabam fedendo pessoas.
Pessoas fechadas e cheias machucam.

Não sei mais me por na bandeja.

sexta-feira, outubro 17, 2008

O dia em que assisti Gota D'água, do Chico.

Deixa em paz, menino.
Deixa pra lá.
Quando eu fui lá e vi o que eu era em palco e o que eu dizia eu já sabia!
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia.
Eram tão bonitos eles cantando e rebolando enquanto eu chorava e via!
E era tudo tão bonito quando falado.
Todos os motivos estavam nas canções eu sei e eu vi.
É palco e infinito e é peça e é chama.
É a gota e a água e a Bibi e eu.
E todos nós brincando de roda e cantando bonitas canções de ninar.
Deixa em paz meu coração, menino, deixa pra lá.

domingo, outubro 12, 2008

Pós-tpm.

Eu gosto muito do Chico. Ouço e tremo.
Mas hoje nada.
Estou só cansada de cabeça e com sono de nunca.
Tenho que desativar pra ver se ativam.
Mas nada. Não adianta brigar.
É bom desligar as pilhas.
E hoje nada.
Só Chico.

domingo, outubro 05, 2008

Festa


Vamos todos ouvir clássicos nunca antes ouvidos por nós. E dançaremos colados, sim. Dançaremos valsa e foxtrote - mesmo sem saber- e rodaremos pelos salões clássicos com vestidos longos.
E seremos, todos nós, movie stars. Cantaremos, também. Mas não samba. Cantaremos jazz e depois pop e depois bolero e depois tango. E Funk. Cantaremos funk vestidos em trajes passeio completo. Eu soprano, ele tenor e todo um coro atrás.
Gritaremos tantos funks clássicos com vozes distorcidas e amplificadas pela acústica local!
Ah! Ficaremos todos roucos. Rouquíssimos.
E bailaremos até o dia raiar, sem raiar, sem beber e sem parar.
Já no fim, haverá muitas mentiras pra contar.

quarta-feira, outubro 01, 2008

That

Andava muito jornalista e pouco poeta. Toda a literatura ia para as matérias que contavam histórias de gente que muitas vezes não importava.
O problema era a rotina que era bonita e bacana com gente bonita e bacana, mas que cansava. Ela queria um dia parar de comer porcarias e parar de reclamar. Voltar pra litreratura e descongelar - mesmo nunca estando gelada.

segunda-feira, setembro 29, 2008

Ficou exausta. Não queria mais nenhuma daquelas coisas, apenas café.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Vento

Se o texto é curto como é que faz?
Passa?
Se o texto passa como fica o pé?
Se não tem pé como é que corta?
Pode cortar pé ou dói? Ou dois? Ou dez?
E se não é nada como é que faz?
Se ele não entende como é que fica? Como é que vai?
Tudo bem?
Tanto faz.
Que corte. Que fique. Que corra. Corra. Corra.

terça-feira, setembro 16, 2008

Solução

O problema todo é que os poemas resumem as coisas que a gente não fala.
São os silêncios que ficam ali.
São eles que vazam. E eu fico.
Sempre ficam poemas presos na garganta, formando nódulos, fazendo fumaça, em forma de lágrima, poemas dançando e dor de cabeça.
Sempre forço a narrativa pra fingir que não sou eu. Não sou lírica.
O problema todo é que os poemas são feitos no molde do corpo, feito suor.
O problema é o suor secar e o cheiro que fica.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Poema-narrativa-minuto-pós-moderna

O Orkut, muito sábio, disse: siga o coração.
Ela seguiu
e se estrepou

segunda-feira, setembro 08, 2008

Trama

Olharam-se corriqueiramente. Ninguém diria que havia ligação alguma. Apostariam que os dois nem se conheciam direito ou eram indiferentes um ao outro.
Mas a verdade é que os dois se sabiam em cada pedaço de alma e pele. Confidenciavam um ao outro coisas que ninguém jamais poderia saber. E volta e meia se amavam sem contar pra ninguém e sem qualquer paixão. Se viam nus e depois se olhavam corriqueiramente e ninguém diria que havia qualquer ligação.

domingo, agosto 31, 2008

Pírulas

Estou cansada e sem histórias.

Preciso ler um pouco e dormir muito.

Falta aquela paz que eu nunca quis.

***

Ela tinha uma paixão absurda por orelhas. Não as olhava ou analisava detalhes. Gostava de sentir com a língua e os dentes o potencial erótico do que servia só para ouvir.

***

Não iriam morrer de nada. Eram fortes e muito bem apanhados. Mas quando ela entrou bonita, pequena e de batom vermelho, disparou dois tiros na barriga dele, depois se matou.

***

Que a gratuidade seja infinita enquanto dure, feito amor de carnaval.

sábado, agosto 23, 2008

sem título

Não gosto nunca de te ver triste. E eu fico triste com você triste por que me importo e sempre achei tudo muito sorriso. Acontece que eu preciso de tempo e besteiras. Dos contágios que se adquire com loucuras periódicas e saudáveis. Preciso mesmo não ter chão pra me entender um pouco e te entender muito.
Preciso arrumar um chão novo que suporte as minhas loucuras mesmo sabendo que não haverá cumplicidade nem carinho. Preciso estar vazia pra depois encher e transbordar.
Sinto falta do desprendimento que sustenta a minha poesia. Tenho tanto medo de tudo sério. Tanto medo.
Não se estrague e não se mate que eu não me perdoaria. Me deixe ficar quieta e muda tendo inveja das pessoas que não estão tão sozinhas. Me deixe sorrir e fingir que nada importa.
Me deixe. E não fique triste.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Carta-crônica para Luiza

Ô Luiza, sua irmã me disse que você disse que não escreve sobre pressão. Disse a ela que você está certa, mas meu processo é diferente. A Viviane Mosé diz que precisa de vazios para escrever. “Faço poemas dos silêncios que ouço”, eu li ela dizer.

Eu não. Eu preciso estar cheia e escrevo pra esvaziar. Preciso de toda a pressão.

Se me pedem, não. Aí é outra coisa. Luiza, eu não escrevo para agradar a ninguém. Até acreditava que sim, mas quando tento a escrita fica tão ruim. Fica tão vazia.

Eu preciso de escrita cheia como preciso de mim cheia para conseguir continuar me locomovendo e fazendo alguma coisa dar certo. Eu preciso que tudo dê certo pra trabalhar e preciso que nada dê certo para escrever. Eu preciso estar cheia e não dormir para me sentir útil.

Talvez eu não seja mesmo normal. Acontece que eu preciso estar full de paixão, feito fool. Aí eu fiquei lembrando da música do que guiava tudo no princípio. Eu cantava que era such a fool for you. E agora canto que it’s time to start changing the rules. E I’m a fool de novo.

Qual é a minha, afinal de contas? Por que é que eu tenho que botar o fool no meio? Por que é que eu tenho que ser a fool, Luiza? Isso de fool não ajuda em nada a escrita. Ao contrário, inibe. Enche de um jeito que é tipo ar. Eu fool me sinto bexiga. Full.

Pois é. A pressão está toda aí, mas a bexiga é forte e não vai estourar. Me passe a sua pressão e escreva, Luiza.

terça-feira, agosto 19, 2008

Pedaços

O vermelho era exatamente o que faltava ao cabelo para o meu rosto ser o que eu queria que fosse.
Agora sou o que quis. Muito estranho pensar que projetei coisas como projeto sempre e agora todas deram certo. Tenho achado que a paixão se dá por culpa de filetes de carne. Tiras. Pedaços moídos e principalmente cheiro.
Eu me apaixono por pedaços. Tons de vozes, olhos, peles, pêlos e nádegas.
Ele tinha carnes fartas e duras, boas de apalpar, e eu gostava de cada filete da carne que eu tinha que sugar e morder.
Ele era forte e grande e eu sumia num abraço.
Ele era do meu tamanho e tinha mãos finas.
Ele era magro e garregava o peso de um dia não ter sido assim.
Ele era bonito.
São os filetes que determinam a intensidade da paixão. Se a gente morde se apega mais que se não morde. Se a gente cheira e fica cheirando é pior ainda.
Filetes de cheiro grudam e fazem falta.
Muitas vezes é melhor não sentir o cheiro pra não correr risco.
Filetes de carne.
Vermelho.
O plano era esse.

domingo, agosto 17, 2008

Liquidificador

à Jeanne Bilich (que dificilmente vai ler este texto)
Ela me disse que os conhecimentos todos vão acumular na minha cabeça. Tenho muito medo de esquecer todas as coisas como já me esqueci dos problemas de física que tanto gostava de resolver. Gosto de me meter em tudo que não diga respeito a esportes. Ela disse que, como ela, eu gosto das coisas interdisciplinares.
O que eu queria saber é por que é que o campo de saber tem que estar delimitado e sê-lo apenas por ele mesmo. Biografias, por exemplo, são história, literatura, jornalismo e até psicanálise. Tudo batido no liquidificador com tanta uniformidade que você não sabe qual é o fator principal.
Estou me sentindo muito melancólica nesse texto. Me falta a doçura ou a ironia de outras crônicas. Nem tenho onde pisar agora. Estou com vontade de engolir o mundo e o meu próprio rabo, feito serpente.
Preciso correr atrás de mim.

O intelectual

Ele era tão temperamental e fraco que confundia. Não era possível saber se gostava de alguma coisa. Ele era responsável e dedicado, mas ranzinza. Não queria ninguém por perto que não fosse uma enciclopédia ambulante.
“Afetos a gente joga no lixo. Não servem pra nada.” Dizia e depois se apaixonava por várias mulheres que não gostavam dele só pra ele ter certeza que não devia mesmo sair do rumo.
E vivia triste e sozinho.

sábado, agosto 16, 2008

Fossa

Tinha perdido totalmente a graça. Não queria ver nenhum amigo nem nada. Ninguém. Tinha que ficar sozinha e pensar e rodar e dançar sem direção e sem voz.
Queria se esquecer que só uma pessoa importava.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Cotidianidades 001

Aí ele entrou com tudo na sala. Veio rápido. Acreditava estar voando por ter um lençol branco e azul amarrado no pescoço. Blusa vermelha. Sunga azul. Meias azuis sem nenhum tênis encostando no chão.
No alto de seus dois anos de idade ele tinha poderes e cantava "tan tan tan tan" com os bracinhos esticados para frente. Virou pra mim e disse “você é a mulher gata”. Acreditei. Ele ficou voando de um lado para o outro e eu caí na besteira de perguntar:
- Você é o Super Homem?
- Não! Sou o Batmaaaaan!!









Na foto, o Homem aranha

terça-feira, agosto 05, 2008

Da nada

Meninos, estive me pensando cronista. Mas cronista dessas que não tem absolutamente nada para escrever e escreve por que tem prazo pra entregar o texto.
Não tenho nenhuma história para contar, as minhas se esgotaram todas e ando vivendo uma rotina sadia, quieta e com picos constantes de raiva que mantem-me viva. `Preocupo-me, então, com a rotina alheia que por vezes parece muitíssimo interessante. Aí cansa. Cansa por que a história do outro a gente não vive, só ri. Nalgumas vezes a gente tem ciúmes de tanta emoção e suspiros que nós, meros mortais, não temos na rotina calma que se faz entre corridas de empregos, projetos, estudos, amores e colos.
Só que eu tenho que me forçar a escrever pra ser escritora de verdade. Esses dias alguém me falou de certa rotina. Acho tudo muito forçado. Acho que texto tem que vir da alma e com suor. Ou com vontade. A vontade é fator fundamental em qualquer texto escrito por qualquer pessoa.
Ultimamente, não tenho tido muita criatividade com palavras. Tenho mexido com cozinha.
Pra fazer angu você frita o alho, joga fubá, água e sal. De preferência, só isso, mas eu sei que você acaba pegando aquele tempeiro pronto que tem na geladeira e joga em tudo. Fica bom também. Mas o Angu sozinho não tem tanta graça.
Precisa ter carne moída em cima. E você deve fritá-la com cebola bem picada, jogar tempeiro pronto, sal, salsa, ervas finas e todas as coisas temperísticas que achar na geladeira. Depois de bem frita, joga água e deixa cozinhar. A cebola, nisso, derrete. Aí a água seca e você frita mais, depois cozinha mais.
Aí depois joga pomarola.
Por fim, uma camada de angu, uma camada de queijo e outra de angu e outra de queijo. E aí vem a carne moída.
Pronto, almoço.
Pronto, fiz crônica.

quarta-feira, julho 30, 2008

Marketing pessoal II


Prometo que depois dessa eu paro.
Acontece que são tantos links e fotos e tudo tão bonitinho que eu tenho mesmo que mostrar pra vocês.

Eu, na verdade, nem tenho muito o que dizer. Tinha uma frase pra copiar do Mário de Andrade e misturar com um poema da Viviane Mosé. É por que a Viviane fala que queria escrever pessoas inteiras, mas não hão. E o Mário fala que não existe uma pessoa inteira nesse mundo e nada mais somos que discórdia e complicação (tudo em caixa alta). E aí eu-metida-a-escritora-contista-ou-sei-lá fiquei pensando em como se passam pessoas por papel. Eu mesma faço tudo por instinto. Vejo um ou outro na rua que eu roubo. Roubo as histórias e as mágoas e principalmente os olhos.
Queria congelar muitas coisas. Espalhar muitas coisas e escrever pessoas pela metade mesmo, todas matusquelas, estranhas e estorvos. Eu gosto mesmo de personagens que fedem e não sabem cantar.
Comecei a escrever pra contar que eu fiquei gatinha no jornal, mais até do que eu fico de azul. E olha que eu, em azul com brinco grande, sou um arraso.
Estavam me falando de uma cronista lá que escrevia e que não gostam. Por acidente, li um texto dela hoje que gostei. Uma amiga até passou-a para o papel em versos apaixonadíssimos.
Eu não me atrevo. As pessoas que eu passo para o papel apaixonam. É como se eu virasse canibal e comesse uma ou outra pessoa - sem os ossos. E os ossos eu empresto ou invento.
Não sei bem o que escrever, mas gostei mesmo do que escreveram.

Olha que bonitinho!

Blog da Darshany
gazetaonline1, gazetaonline2,

terça-feira, julho 29, 2008

Idílio

à Simone Azevedo

Tinha uns olhos misteriosíssimos que ela tentava adivinhar o que diziam. Não sabia. Os olhos nunca tinham sido a janela da alma e ela devia não pensar em mergulhar neles. Tinha que se concentrar na pauta e voltar a ser jornalista.
- À respeito da teoria Gramsciana dos partidos políticos atuais...
- O que?
- Desculpe. Me perdi.
- Certo. Entendo. É novata?
- Não exatamente. Queria falar de ética.
João era forte, grande e professor do departamento de psicologia daquela Universidade. Pâmela tinha que falar de ética na matéria. Ela nem se lembrava mais do mote. Nem lembrava por que tinha que falar de ética.
- E por que eu?
- É uma pesquisa, João. Diferentes visões à respeito do mesmo tema.
- Entendo.
- Então eu queria saber até que ponto a ética profissional vale mais que a ética pessoal.
- Ética é um conceito de maioria.
- Como?
- É convenção. Vale pra grupos. Nunca é universal.
- E jornalistas?
- O que quer saber?
- A relação jornalista-fonte deve ser regida por qual ética?
- Em que ponto?
- Do envolvimento. A psicanálise não fala de transferência?
- Não é a mesma relação. Um jornalista pode perfeitamente se envolver com uma fonte, sem que isso se transfira para o objeto final.
- Tem certeza?
- A imparcialidade?
- Não há nunca. Teria que me esquecer de toda a carga que tenho e que me enriquece. Imparcialidade nunca foi pretenção de ninguém. Envolver-me com alguma fonte feriria minha ética profissional?
- Na verdade, não sei se é mais importante a profissional ou a pessoal. Feriria a ética pessoal?
- Ética não era um conceito de maioria?
- O que você pensa disso?
- O que você pensa disso?
- Pâmela, talvez, como pesquisador, eu queira conhecer à fundo todos os tipos de éticas pessoais de todas as pessoas. Seria um modo de melhor encarar a subjetividade do ser humano.
- E a transferência?
- Não sou Freudiano.

segunda-feira, julho 28, 2008

Marketing pessoal

Olá, queridos.

Dei duas entrevistas essa semana por culpa do blog.
Ou seja, estou me achando.
Uma é esta aqui.
A outra, sai no Caderno 2, de A Gazeta, quarta-feira, com foto e tudo.

That'a all...

Kisses

sábado, julho 26, 2008

Diálogo de surdos (não amistoso, no frio)

- Não, querido. Pode parar logo. Você não tem o menor talento em ser otimista.

- É verdade.

- Não me importa. Seu elogios despretensiosos demais têm uma pretensão que eu mesma não agüento.

- Você soa falsa quando fala.

- É a mania de dizer que é tudo verdade. A minha obviedade tem culpa também.

- Não te acho óbvia.

- Não elogiaria se não achasse.

- Por que?

- Se eu te intrigasse você ficaria quieto e nem saberia o que fazer. É um pessimista.

- Eu só disse que vai ser melhor depois.

- Não vai.

- O que você quer?

- Não sei.

- Incisiva demais... pra nada.

- Pra tudo.

- Pode parar. Você não tem o menor talento em ser arrogante.

- Como? É só o que sei.

- E meu otimismo?

- Você deixou que eu o engolisse como faço com sapatos, mancadas e sapos.

- Às vezes você me dá medo.

- É tudo simbólico. Em pouco tempo me torno uma xícara. O conteúdo você já bebeu. Aí deixa em cima da mesa pra encher de novo quando quiser.

- Por que xícara?

- Pra ser branca e de porcelana.

- Há recipientes melhores.

- Copos de requeijão são transparentes demais. De resto, não sou eu. A caneca de lata é outra pessoa, como os copos de plásticos. Eu hei de ser pra sempre a xícara que você deixou suja em cima da mesa.

- Não te deixei.

- Seu otimismo não convence mais.