terça-feira, abril 01, 2008

Maybe


Ela disse talvez pra fazer poesia. Tinha um medo grande de cair no chão. Muito mais fácil dançar com vários que se ater a um. Muito mais fácil não se entregasr que fazê-lo.
Então ela sempre dizia maybe. Sempre passava perfume forte e doce e saia bonita pra dançar com vários maybes.
Então surgiu um maybe que virou the one, mas continuaria maybe pra ela ser segura. E ela dizia talvez pra fazer poesia, pra não perder a dança.
Vários poemas pra nada ter estrutura de começo, clímax e fim.

quinta-feira, março 27, 2008

Vinho Barato

Texto velho, do ano passado, por que a falta de tempo e o cansaço não me permitem poesia nova


Gastei cinco reais com aquele vinho barato e acabei fumando um cigarro de menta. Ainda está me arranhando a garganta mais que minha gripe que também parece ter piorado por conta do choro. A cabeça dói do vinho e da raiva. Eu não consigo dormir.
Há tempos que já não tinha desses problemas, eu deitava e dormia onde estivesse.
Talvez eu não esteja cuidando bem nem do meu fígado nem de mim. Mas o fato é que ele disse que eu sou boa demais pra isso e o gosto do cigarro foi embora no ralo da pia depois que eu escovei os dentes.
Talvez o cigarro seja tão necessário quanto o Ed Motta no meu som. Não quero nenhum dos dois e enjoei de Ed Motta. Não to ligando para a Colombina ou o Arlequim.
Eu sou boa demais, ele disse.
Mas eu queimei o braço no ferro de passar e eu estou tão cansada de queimar o braço no ferro de passar. Tão cansada de me queimar tentando ajeitar as coisas pra fazer tudo dar certo.
Eu estou tão cansada de tentar fazer tudo dar certo.
Eu estou tão cansada que nem o vinho e o cigarro deram conta.
Os dois queimaram e não deram conta do meu braço com duas queimaduras leves e pequenas que vão virar marcas pra durar anos e anos a fio.
As queimaduras sempre são leves e pequenas e eu sempre curo com batatas que eu não sei onde foram plantadas ou que tipo de agrotóxico levaram. O importante é que as queimaduras deixam marcas, mas eu sempre agüento.
Mas hoje não.
Hoje eu não agüentei o braço queimado e não me agüentei disposta a me queimar mais. Ele disse que eu sou boa demais pra isso e tem razão.
Eu não preciso me queimar e não preciso não dormir.
São cinco da manhã e minha cabeça dói de vinho e falta de sono.
Não é meu porre de cinco reais que me dá dor de cabeça.
Foi um real o milho, dois reais o cachorro quente, dois reais a coca cola e cinco reais o vinho.
Parece que dizes, te amo, Aline
Na fotografia estamos felizes
Parece bolero te quero te quero
Tenho que ler Eva Luna e aprender a cantar Chico direito. E tenho que editar matérias e tomar sol. Tenho que dormir e tenho que mar e tenho que esfriar a cabeça. Tenho que fugir e tenho que mar e tenho que mar que mar que mar mar.
Tenho que desqueimar.
Tenho que desvinhar e despertar e correr.
Tenho que encarar de frente por que é esse o final que eu buscava para a história.
Ele perguntou enquanto segurava forte o meu braço:
- e o final?
Eu não sabia responder no pânico daquele dia. Mas o final sou eu aqui escrevendo mais um texto de vinho barato e insônia. O final sou eu sozinha mais uma vez e mais uma vez sem chão.
E no fim eu não devo ser tão boa assim.
Ou sim.
Foi cinco reais o vinho que não valeu.
Foi vinte reais o livro e foram muitos reais de nada.
Amanhã vão ser cinco reais de chocolate se o mar não der conta.
Ai eu preciso tanto de mar quanto de texto. Por que o mar sabe me ler e me lamber como ninguém. O mar é tão mar que eu mar no mar. Eu quero me misturar feito leite em pó instantâneo. Vou ver se durmo agora, às 5 e acordo às 8 pra nadar num sol de sete na praia que cheira cocô do show de ontem.
Mas é que eu preciso tanto de mar.
Mar pra me entender e desmistificar. Pra me ser talvez inteira como não tenho sido e provar pra mim que eu não preciso de colo e nem de ninguém e que passou o tempo de ser mimada como eu sou. Passou o tempo do sim.
E passou o tempo dos morangos que estamos em fins de outubro.
É hora de dormir.

segunda-feira, março 24, 2008

Devaneio

E ele me ignora mais uma vez.
Deve ser divertido em algum lugar do planeta.
Eu, no entanto, não me chateio, queria mesmo era estar no cinema.

quinta-feira, março 20, 2008

Beleza

Que bom que são dois meses de mim com você.

segunda-feira, março 17, 2008

Feminices

*sei que a resolução da imagem não está muito boa, mas vale à pena.



Uma não gostava da outra. Tinham um caso em comum e se suportavam por política e feminismo. Não podiam admitir que homem fosse motivo de discórdia. Ainda mais um homem baixo feito ele, menor que as duas. Elas não sabiam de onde vinha o imã que ele tinha e se viam no espelho quando se encontravam. Ainda assim, não gostavam de se ver e de saber que ele estava com a outra.
E isso durou até elas sentarem uma do lado da outra e começarem a falar quanto prazer tinham sob a pele quente dele. Como ele gemia e como mordia e como gostava. Discutiram tempos sem chegar a qualquer conclusão e o viram passando com uma terceira.
A terceira não tinha nada do físico das duas, nem nada da personalidade. Parecia oca e sem egocentrismo, chata e mole. Parecia flácida e mulher não perdoa flacidez alheia.
A terceira parecia traição e as duas inflaram as narinas pra brincar de raiva. Não sabiam quão grandes eram e nem queriam tomar forma. Uma não gostava da outra, mas engolia por que as duas eram bonitas e instigantes, mesmo uma para a outra. Todos os defeitos que uma via na outra eram inventados e as duas tinham se acostumado a partilhar. Eram iguais.
A terceira não podia, explodia e era mole. Mulher mole nenhuma das duas agüentaria. Politicamente, então, as duas se juntaram e fizeram uma festa em que ele não sabia que ia encontrar nenhuma, mas não poderia perder.
Começo foi simples, ele dançou e bebeu. O fim foi complicado. Ele tinha que se ajoelhar ante o deus de marfim pra vomitar, mas já tinha ingerido mais laxante do que qualquer pessoa normal agüentaria.

domingo, março 16, 2008

Carta ao Blogger

Venho por meio desta manifestar minha indignação em relação a este provedor maldito que volta e meia me impede de comentar em outros blogs, acessar alguns conteúdos, visualizar algumas imagens e –ultimamente- tem me impedido de postar imagens no meu blog. Saiba, senhor Blogger, que blogueiros de primeira, segunda, terceira ou quinta linha, tem necessidade de postar imagens quando bem entenderem. Não vou transformar isto aqui num fotolog, mas veja bem, não ando conseguindo mexer em html tem UMA SEMANA. Isso não é coisa que se faça com uma blogueira empolgada que se propões a escrever literatura diretamente do seu computador e recebeu selos bonitinhos recentemente. Inclusive, gostaria de linkar a Camila e a Darshany nessa postagem, agradecendo-as pelos selos, mas isso é muito difícil.
Senhor Blogger, querido, o wordpress tem me feito propostas indecentes e tentadoríssimas. Se eu soubesse como passar esse lindo layout rosa-pink-berrante-céquici para o wordpress, mudava logo. No entanto, o seu provedorzinho tem sido minha casa há mais de ano e eu até aprendi a botar contador em janeiro. Ó que bonitinho ali do lado!
Senhor Blogger, eu fico. Eu fico e eu sei que você não vai fazer nada pra que eu continue e nem faz questão da minha presença! EU SEI DE TODA A FARSA! Eu divulgo seu nome naquela comunidade do orkut. E divulgo em cada comentário. Divulgo no meu MSN! E me diga: PRA QUE? À troco de que?
Senhor Blogger, nenhum raio de imagem eu consigo postar. Só vídeo. Nenhum link eu consigo botar, só vídeo. Não vai ler esse meu apelo, que eu sei. Mas saiba que há mais blogueiros insatisfeitos e nós podemos nos unir, te jogar no expresso do oriente e depois iremos direto para o Wordpress. Muahahahahaha!!

terça-feira, março 11, 2008

Vem!

Deixa de besteira e vem aqui pra casa. Dorme comigo hoje à noite, eu faço a janta e deixo a cama quente. Lavo as roupas todas e até boto música bonita pra a gente ouvir. Deixa de besteira e confessa que se sente tentado a aceitar mais esse convite ficcional. Meu colchão é dos bons e a vista da janela tem cores bonitas de fumaça e construção.
Depois a gente pode caminhar na praia e dizer coisas idiotas um para o outro. Teríamos um mundo nosso e faríamos séries e séries de besteiras lindas.
Deixa de besteira que a lua está bonita e o céu parece ter sido bordado pra nos emoldurar.

sábado, março 08, 2008

Sobre escrita

Não gosto de palavras complicadas demais, nem de ritmos complicados demais.
Gosto das coisas quando dançam de leve ou pesado.
Gpsto das palavras quando dançam saindo da boca ou da mão.
Gosto de tudo que voa. Palavras que voam.
Gosto de palavras moles e fáceis, ritmos moles e fáceis.
Palavras e ritmos que façam dançar automaticamente, gramaticalmente, infinitamente.
Quero todas as palavras do mundo batidas no liquidificador e formando solos de guitarra.
Gosto quando as palavras me lambem as orelhas e me molham
E quando escorrem

segunda-feira, março 03, 2008

French kiss

Ele era o segundo cliente do dia e seguia o mesmo esquema do primeiro. Abraço, mão nos seios, cama e nada de beijo na boca. Pra ela não importava que ele fosse limpo ou sujo. Usava preservativos e sentia-se mais ou menos protegida. Fazia exames regulares pra nada assustá-la ou se tornar grave. Mais um cliente, um intervalo e nada de beijo na boca.
Naquela tarde, no entanto, alguma coisa fez a casa dela tomar cores diferentes. O cheiro dele invadia o lugar e todos os seus poros. O cheiro dele a dominava por completo e ela não sabia por que. Então ela tentou ser profissional e botou as mãos dele nos seus seios. Não era o que ele queria.
Ele se aproximava ameaçadoramente da boca dela e ela desviava. Pensava que pra isso devia haver mais. O contato entre bocas é mais íntimo que todos os outros. Se ele encostasse nas suas nádegas ela não se ofenderia nem fugiria.
Ela sabia que havia algo estranho na quantidade exagerada de perfume e sabia que tinha vontade de experimentar um beijo na boca simples e casto. Não era simples. Não era casto. Era vulgar e vil e pesado e ela não queria de forma alguma ter que encarar nenhuma boca que não fosse amor. Não podia ser nem paixão. Tinha que ser bonito e mágico e vir acompanhado de flores, danças e estrelas pintadas no céu pra tornar mais bonita a cena.
Ele continuava insistindo e ela o expulsou. Mais um cliente sem beijo depois.
E ele voltou com mais perfume e mais dinheiro e até perguntou-lhe o nome de verdade. Conversaram tardes inteiras com ele pagando o sexo que não queria e o vinho que gostava.
Talvez ela o amasse, talvez não. Mas no dia em que resolveu beijá-lo não cobrou a hora e cancelou todos os outros clientes. Beijou-o um dia inteiro sem nenhum vinho e quase sem mãos.

sábado, março 01, 2008

Perséfone

Olheiras enormes. Maiores do que se espera num rosto de mulher. Havia também alguma coisa no jeito de andar que não parecia simples, nem torto. Ela andava mole e preso ao mesmo tempo, gingado depressivo e lacônico. Olheiras grandes que não faziam o rosto ficar feio de forma alguma. Havia certa beleza nas sardas e na palidez ultrarromântica. E sim, o mal do século era ela que usava saias. Por que qualquer mal do mundo nela era mais intenso e só ela importava.
Gingado mole, olheiras e egoísmo superior a egoísmos leoninos. Ela se via rodar, então. Se via sem lugar e sem drogas que a satisfizessem. O que ela era e o que tinha era o gingado e as olheiras. O que ela tinha era o mistério que as olheiras davam, a curiosidade que o gingado provocava.
Não. Ela não tinha lugar. Continuaria pra sempre a rodar. Peso enorme no peito. Maior do que se espera no peito de qualquer mulher sem filhos.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Conto de fadas

Aviso aos navegantes: o texto que se segue tem trilha sonora. Fica melhor ao som da música do vídeo do que sem ela.


- Casa comigo?
- Tá com algum problema?
- Não, na verdade eu tenho pensado nisso há muito. Casa comigo e a gente passa a ter dois violões e uma casa e muitas pipocas.
- Não me parece certo.
- Sim, na verdade eu já quero há muito tempo, mas eu sou menina e não devia pedir por que é o homem que tem que ficar de joelhos. Mamãe que ensinou. Mas casa comigo e destrava que nem eu destravei quando senti seu cheiro?
- Pense bem, vamos estragar tudo.
- Não acho. Quero casar fugido e sem chamar ninguém. Vamos? A gente pode ter um sonho romântico de outono e inverno e primavera e verão e pular de problema em problema. A gente pode brigar um monte de vezes e depois dormir na mesma cama abraçado e de pazes feitas.
- Não pode ser simples assim, menina.
- Ah! Vamos! Deixe de ser bobo que casado a gente pode sempre brincar de roda e você pode me trazer flores. E eu nunca mais vou doer por homem nenhum que só você vai valer pra sempre até a morte ou mais.
No rosto dele então fez-se um sorriso por que ele se lembrava que sempre pensou que Romeu e Julieta deviam se encontrar depois em algum lugar. E tudo parecia tão simples quanto a simetria do rosto dela. Tudo parecia tão bonito quanto ela. Ele de sério e frio e travado foi ficando mole. Aí ela percebeu e pulou em cima dele num abraço e beijo de menina que é mulher.
E a fada madrinha providenciou muitas cenas de contos de fadas e brigas de romances adultos. Por que era assim que a mocinha pensava o final feliz.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Capitu

à Rayane almeida

Foi num dia como hoje que nasceu meu italiano. Um dia em que eu não tinha nada
pra escrever, mas aquela vontade enorme. O italiano não é um personagem meu. Me
encomendaram e ele tomou forma, até se tornar meu. E foi bom, por que ele é
grande e sórdido e nojento. Eu gosto de personagens que as pessoas me mandam
escrever. Por não ter nada que venha de mim, pego então o que vem de fora.
Comecemos:




Se Nabokov a tivesse visto, sua Lolita não seria ruiva nem sardenta. Teria pele branca rosada e lisa, rodeada de cabelos muito pretos e enfeitada por uma boca naturalmente rosada. Seria também magra e pequena, com a voz um pouco arrastada e um sotaque forte de quem se criou na roça. Seria brasileira e teria gingado de funk.
É uma pena, mas Nabokov nunca a viu. Morreu antes que ela desabrochasse e nem pode saber que ela desabrocha novamente a cada dia com sorrisos e teorias maléficas sobre conquista e dominação mundial.
Raio de Sol, como a chamam, poderia muito bem ser estrela de seriado adolescente americano e encareceria o orçamento com exigências monstruosas e muito justas. Contaria a história de sua própria vida com trilha sonora interessantíssima de quem tem um bom e eclético gosto musical. Por que Raio é daquelas que anda como se ouvisse Pretty Woman e sorri como se fosse Adriana Calcanhoto cantando. Então haveria Judy Garland over the rainbow, pra poder tornar bem bonita a trilha toda.
É que Raio tem cara de Dorothy, bate os sapatos e precisa achar um lugar. Dorothy e lolita ao mesmo tempo, mas sonhando ser Cinderella.
Fica assim, então, pra dizer que ela já foi inventada e é boa personagem sim. Menina feito Dorothy, atraente e mimada feito Lolita, princesa feito Cinderella e dona dos mesmos olhos de cigana oblíqua e dissimulada de Capitu.
Bento e Capitolina escrito no muro de trás da casa e olhos grandes de ressaca.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

A breguice nossa de cada dia



É preciso ser um pouco brega no dia-a-dia. E é preciso sorrir no dia-a-dia. Por que a breguice e os sorrisos fazem bem para a pele de qualquer mocinha espinhenta com ou sem problemas hormonais. A verdade é que sentimentos doces liberam toxinas, nem que seja por suor.
Agora ouço Paulo Ricardo, por que ele diz que há uma voz que diz pra pular de olhos fechados, que diz pra eu pular de olhos fechados. E não tem coisa mais brega que Paulo Ricardo gemendo sobre fugir e se permitir a ouvir a voz desse desconhecido: o amor. Então é a minha vez de ser brega. É a minha vez de sorrir.
Todos os dias têm sido a minha vez de sorrir. E todos os dias têm sido lindos e coloridos por toda essa breguice que me anima e me faz ouvir Paulo Ricardo, Wando, Celine Dion e Sinatra. ‘Cause i’m your lady and you are my man. E pense em Rosana também, por que como uma deusa você me mantém.
E eu preciso dizer que cada dia tem sido mais doce e mais bonito. Cada sorriso tem sido mais sincero e o Paulo Ricardo continua sendo muito estranho quando geme dando seu olhar quarenta e três, aquele assim meio de lado já saindo indo embora louco por você, princesa. Que desperdício!
Por que por mais brega e pedreiro que qualquer homem seja, sempre há Paulo Ricardo para ser um pouco mais.
E eu gosto de você tanto quanto ou mais do que todas as mocinhas da década de oitenta gostavam do Paulo Ricardo.
E que bom que você me agüenta e eu te agüento. Que nos agüentemos por mais muitos meses!
Por fim, não podia faltar Wando! O que seria de nós sem o Wando?!


segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Anúncio de toco

Avisa pra Maria que eu não quero ver o filho dela nem pintado de ouro. Avisa pra ela que ele já não faz parte da minha vida e assim eu fico muito bem. Avisa pro filho da dona Maria que as portas estão todas fechadas por que ele não soube aproveitar enquanto elas estavam abertas. Acabou, obviamente. Avisem ao filho da dona Maria que ele já não é a escolha faz mais de um mês.
Não me amarro em dinheiro não, beleza pura. Só formozura. Avisa pro filho da dona Maria que teria dado certo se ele tivesse pintado o céu de cores distintas e brilhantes. Avisa pra dona Maria que o bebê dela cresceu sórdido e bonito, mas peça que ela o coloque no colo e acalente, por que ele anda carente e vazio. Avisa pra dona Maria que o filho dela não vai me esquecer, mas eu não sou culpada.
Avisem, por favor, que eu tenho classe. Também avisem ao filho da dona Maria que ele não sabe dançar, por que ele pode tentar e vai ser constrangedor. Avisem-no que ele não sabe abrir os braços e fechar os olhos pra voar. Avisem pra dona Maria que se ele voar pode ser bom. Avisem pra dona Maria que ela tem que cobri-lo à noite e ajudá-lo a enfrentar os medos. O filho da dona Maria anda moleque demais pra quem já cresceu. Avisa pra dona Maria que o abraço do filho dela é gostoso apesar de tudo e que a secura dele é boa pra fazer gente crescer. Mas avisem que ele anda sendo baixo como não precisava. E fala pra dona Maria fazer sopinha e mandá-lo ao médico. Conta pra ela da máscara que ele usa quando sai de casa. Conta que ele é só um menino com frio e assustado com tudo. Manda a dona Maria dar um susto nele pra ver se ele cresce. Manda a dona Maria cuidar dele por que eu não vou mais. Avisa pra dona Maria que o filho dela ainda vai valer à pena pra alguém, mas anda fumando mais de um maço de cigarros por dia.
Avisa pra Maria que o filho dela precisa de pai pra entender que a mãe não é a mulher perfeita não. Por que enquanto a dona Maria for perfeita todas as mulheres do mundo vão ser apenas seres pra quem é imoral dizer não. Avisa pro filho da dona Maria que se for assim ele pode adoecer.
Avisa pro filho da dona Maria que ele vai continuar vazio e o buraco novo fui eu quem cavei. Avisa pra ele que eu fui em outra direção. Dá um abraço nele e faz ele entender.


dedicado com muito gosto à correnteza de qualquer rio.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Créu créu créu


Olho pra foto e vem automaticamente o cheiro. Disseram-me que só epiléticos tem memória de cheiro, então devo ser uma. E de pensar em epilepsia penso em pessoas trêmulas. Em mim trêmula. Em mim chão. Aí vem mais nojo ainda, por que é inevitável lembrar do chão vendo a foto. Não há saudade. Não. Não há nem vontade. É uma coisa incômoda que fica no peito e já ficava antes. Não é uma coisa bonita, é o avesso disso, que costuma ser desimportante, mas que trava a boca. Vem um gosto ruim que não combina com a minha trilha sonora constante.
A verdade é que todas as músicas que me lembravam as pessoas de antes já não tem o mesmo efeito. O asco da foto e a epilepsia não aparecem quando ouço “All Star”. As músicas não estão mais do mesmo jeito. Me toca ouvir “As time goes by”, por que é tema de Casablanca e nós sempre teremos Paris. De resto, as músicas que me faziam chorar pouco me importam. Ficaram apenas as músicas que dão vontade de tentar valsar e acabar pisando no pé do companheiro. Sempre o mesmo companheiro. Sempre os mesmos dois pés pisoteados por uma dançarina medíocre que só sabe mexer os quadris.Então o funk passa a ter efeito superior ao de fotos e ascos e músicas mais melodiosas. Por que todos os funks do mundo me fazem sorrir, já que me lembram sempre a mesmíssima pessoa (que por si já vale muitos sorrisos).

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Excelentíssimo senhor leitor,

Foi mamãe que me ensinou a fazer ofícios. Ela quem me disse da ironia, objetividade rapidez.
- Eles tem que ler, Aline, se não, não adianta.
E a verdade é que as pessoas acabam mesmo tendo medo de coisas com mais de três parágrafos corridos. É aterrorizante e pode ser chato. Pequenos apenas podem ser chatos, não dão tanto medo assim.
Mamãe me ensinou muitas coisas, como fazer brigadeiro e usar brinco e gostar de dourado e lavar as mãos com todo o cuidado do mundo.
Então eu termino pra você não ter medo de continuar lendo e deixo espaço pra você sentir toda a doçura que tem esse amor de mãe que faz ofício.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Trilha


“Pornografia é transgressão, libertação. É o sexo sem
vergonha de si mesmo, que se despe da cínica túnica do erotismo para expor o que
de mais humano existe nas relações amorosas.”
Trecho retirado do Blog do Grijó


Então ele ligou o som, se perfumou e esperou que ela viesse acesa e dele. Dizia que ela era um vulcão e devia ser mesmo. Ela parecia gostar de fazer tudo o que fazia com as mãos e a boca. Ela mordia a própria boca e gemia alto, sempre. Por que os dois tinham corpos que combinavam e cheiros que atraiam. Ele a via querendo meter-se e meter-lhe a mão em todos os lugares. Ela o via sem qualquer pudor.

“But that’s why birds do it,

Bees do it,

Even educated fleas do it,

Let’s do it, let’s fall in love.”

Ele olhava de canto de olho a saia dela que sempre passava balançando. Ele gostava da saia dela e de mais. Ela nem via, mas ele queria a moça que passava, bem como a saia no chão do quarto.

“You're so lovely, with your smile so warm

And your cheeks so soft

There is nothing for me but to love you

And the way you look tonight”

Então ela perguntou o que ele achava do vestido e ele engoliu seco. Ela não entendeu absolutamente nada, mas ele não podia escancarar que aquele vestido servia apenas para que ele se interessasse pelo que havia embaixo do vestido.

“Love for sale

appetizing young love for sale

love thats fresh and still unspoiled

love thats only slightly soiled

love for sale”

Na verdade, ela era pura. Em todos esses anos de puta ela sempre se assustava com os nomes feios e as taras esquisitas. Queria flores e sapatinho de cristal. Nem sabia de onde eles tiravam aquilo tudo, então ficava quieta. Talvez as esposas fossem mais depravadas.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Flor

A flor não era seca de forma alguma. Na verdade, poucos conseguiam entender exatamente o que ela era ou o que fazia. Sei apenas que ela era doce como poucas garotas e distribuía sua doçura como chuva. Por isso mesmo despertava antipatias como a minha. A flor encostava e tocava, era uma gracinha de chuva que eu não gostava.Era linda a flor, apaixonante. E numa dessas, ao vê-la chorando entendi a doçura e a mulher que havia na garota. Por que a flor distribuía açúcar e pimenta em sua chuva, e a pimenta dela ardia que dava raiva, por que ela não era flor que se cheirasse assim por nada.
A flor chorava que dava pena. Mas eu entendia o grito da flor. Entendia que ela era menina e ainda não sabia usar o veneno que tinha no néctar. Aí esguichava meio sem norte e meio sem noção.
Mas a flor vai desabrochar e ganhar forma. A flor vai dominar o veneno pra ser eterna. Vai se despetalar e se recompor muitas vezes.
A flor vai continuar chovendo e eu vou regá-la, que eu agora gosto dela e da sua fúria de flor.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Ana C.

Muitosentimentaldepoispoucosentimental.
Na verdade estou seca por que melosa demais pra escancarar. Na verdade estou seca por que preciso de um abraço.
Do you believe in poetry?

Chicago

Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais

Mais um ou dois passos de dança e quem sabe eu me embriague só de suor!
Parece bom pra mim.
Repito sempre a mesma frase pra ser original.
Não é uma gracinha?
All that jazz. All That jazz.
Eu não sabia que era Liza Minelli e nem que ela era filha da Judy Garland.
Tão gracinha ela tomando o palco inteiro!
Talvez me falte palco.
Talvez exceda aplauso.
Quero gozo, meu bem.
Quero ouro, neném.

terça-feira, janeiro 29, 2008

Suspiro


Aí eu suspiro, depois sorrio, depois suspiro, depois sorrio. Longe eu tenho sono e perto me sinto bem, não falo coisas que não quero e quase não ouço coisas que não gosto.
As mãos se encaixam e os carinhos combinam. E sem perceber nós andamos no mesmo ritmo de passos – o que faz pensar que daremos uma boa dupla pra dançar tango.
Precisamos apenas estar abraçados e ele comenta que eu respiro fundo quando durmo no cinema. Eu respiro fundo quando durmo e me encaixo perfeitamente nos seus ombros.
Disseram uma história de a gente se apaixonar e tudo ficar de uma cor diferente. Talvez isso acompanhe o riso bobo e as músicas que começam a ter mais sentido do que antes. Também entendo a graça que tem os mocinhos da novela, quando eu sempre preferi os vilões.
É vez de ser mocinha sem reclamar. Rir e suspirar.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Mariana XXI

Mariana me ligou meio retardada esses dias
Aí eu quis que ela me contasse tudo tim tim por tim tim.
O problema é que ela vomitava acontecimento atrás de acontecimento e eu me senti meio perdida naquela narrativa meio poema que ela disse ter virado comédia romântica americana.
Disse que a confusão teve fim.
Disse que daquela noite de ciúmes ela foi pra Bahia e as coisas foram se ajeitando confortavelmente. Ainda aqui, ela pôs um fim no caso óbvio.
Os dois riram e reconheceram que o lance tinha sido óbvio, mas turbilhão demais que Mariana já não merecia. Então faltavam o sonho e a flor.
Ela disse “que bom”, quando o cara que ela não consegue adjetivar disse que já não havia outra moça.
Ele disse “que bom” quando ela disse que o óbvio já não existia.
Ele disse que ainda tinha que falar “que bom” mais duas vezes - por que Mariana fora honesta desde o princípio e achava que era assim que devia ser.
Ela riu.
Mariana me confessou que gosta muito das risadas e dessa sensação nova de tranqüilidade e carinho que lhe faz bem para a pele.
Mas ainda havia sonho e flor.
Com a flor ela não falaria. As pétalas ficariam ali, cheiravam bem e não incomodavam. Não havia de ser paixão. A flor era só flor.
Aí ela foi pra Bahia e encontrou o sonho.
Ele tinha medo de Mariana querê-lo pra sempre.
Foi aí que ela riu e explicou que seria a última vez.
E foi bonito como tinha que ser. Teve cara de novela e filme, com trilha sonora perfeita e tudo o mais. Mesmo Mariana sabendo que de forma alguma daria seu coração, faria aquilo real, nem esqueceria. Foi Smooth. Por que ela não queria que o sonho lhe desse um amor de cinema em que não lhe faltasse carinho, plano nem assunto ao longo do dia. Nenhum dos dois queria largar nada um pelo outro.
E Mariana me disse que chorou no fim da noite, por que doeu mesmo por fim ao sonho.
Foi então avisar ao cara que ela não adjetiva. E dizer que era ele que ela queria para si.
Aí ele disse dois “que bom”.
Aí o cara que Mariana não adjetiva foi para a Bahia e os dois se encontraram, se abraçaram, riram juntos e foi tranqüilo e agitado como deve ser.
Por que ela me disse que é ele que ela quer pra si.
Ela me disse que ele tem olhos lindos e sinceros, como ela bem gosta de ver.
E eles cuidam um do outro.
E no fim,
It's still the same old story
A fight for love and glory
Acho que Mariana sossegou num galho só.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Xote das meninas

- Você acredita naquelas coisas de conto de fadas?
- Não não. Os homens são todos iguais.
- Não acho que seja assim... Deve ter um.
- Acredita em mim que sou mais velha. São todos a mesma coisa. Todos uns babacas.
- E você quer que eu faça o que?
- Brinque.
- Não tenho coragem.
- Isso é por que você tem quinze anos.
- Grande coisa você e os seus longos dezesseis!
- Meninas de dezesseis brincam, é esse o charme.
- Não tenho coragem.
- Vai ter.

***

Ela não comeu cebola por que se encontraria com ele logo depois. Então os dois saíram e cada um comeu um pastel. Tinha cebola no recheio, mas ele não falou nada por que sabia que ela gostava de vinagrete e não o tinha comido por consideração.

***

Os cabelos estavam arrumadinhos apenas para serem bagunçados e o perfume cumpria com exagero a sua função corriqueira. Agradava.
Ela também botou os brincos de pena que ele achava bonitos. Sabia que o brinco interessava menos que o decote e o jeans justo, mas sabia também que arrancaria dele alguns sorrisos.

***

- Elas não querem saber dos garotos de dezesseis.
- É por que eles costumam ser idiotas, Felipe.
- Ninguém diz que eu tenho dezesseis.
- Posso acreditar em você. Mas as meninas de dezesseis são impossíveis. Elas estão aprendendo a provocar. Estão perdendo o pudor. É muito difícil competir com uma menina de dezesseis.
- Elas só querem saber dos garotos de vinte e dois.
- Felipe, ouça uma coisa. Talvez você não precise usar, mas é preciso ter isso na manga. Leia poesia, querido. Especialmente de Vinícius de Moraes.
- Não acho necessário.
- Vá por mim. É bom ter Vinícius na manga.

***

As meninas de dezesseis tem despudor e medo. Elas não sabem bem até onde vão, mas querem saber de tudo e fazem cara de sapeca. Ter dezesseis pelo resto da vida pode ser extremamente atraente e Felipe não entende que não precisa falar poesia, apenas sabê-la.

***

Toda mulher acaba caindo de quatro por homens que lêem, mesmo não sabendo que eles lêem.

sábado, janeiro 19, 2008

Videoclipe

Ela botou o biquini e a saída de praia que não combinava nem com ele nem com a bolsa, soltou os cabelos e saiu sem rumo. Não precisava muito de companhia naquele dia, apenas mar e pernas trabalhadas. Música.
O grande lance do biquini e da bolsa e tudo o mais é que sozinha assim ela se sentia como num videoclipe de pop rock. Os cabelos bagunçados davam o ritmo da canção que ela dançava à beira-mar.
Era natural.
O céu estava azul e fazia muito calor.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

E aí, casa?

Então? Vamos morar juntas? A gente pode fazer besteira e bolo e macarrão. A gente viveria de queijo e chocolate, depois faria dieta.
Aí nenhuma conta nem pro papai nem pra mamãe nada de errado que a gente faça. Podemos combinar. Eu faço o que mamãe aprova e papai reprova e você faz o que papai aprova e mamãe reprova. Depois a gente reveza!
Aí a gente cozinha e chama os vizinhos pra comer. E depois limpa a casa e lava a louça. Não ligo de lavar o banheiro, mas você limpa as janelas, pode ser?
O armário a gente tira tudo e limpa às vezes. Lava toda a louça com cuidado de não quebrar nada.
E toda a semana a gente compra um galão de vinho e comemora. Por que somos jovens e tudo tudo é uma festa.
Aí quando você tiver prova eu faço silêncio. Quando eu tiver texto você faz silêncio.
E a gente reveza os silêncios e os choros e fala mal dos homens, da mamãe e do papai.
E vai ser legal que a gente cresce, irmã.
Vamos morar juntas e a gente toma banho de chuva, banho de mangueira e nunca vai faltar absorvente.
Aí ninguém conta nada pra ninguém e a gente engorda e emagrece sem parar.

sábado, janeiro 12, 2008

Dança

Quem sabe um dia ainda te pago um cinema?
O Sol nasceu meio torto, tenho quase certeza.
Talvez não seja certo sentir filetes de carne entre os dentes e pedaços de dentes na boca.
O Sol nasceu fazendo inchar.
Tenho certeza que o céu era o mais bonito de todos e o mar também.
Não gosto de escuro, mesmo. O céu parecia feito de diamante.
Já chamei as amigas pra sair.
Quem sabe não tomamos um vinho e conversamos fumando um cigarro caro e fino que não combina com nenhum de nós dois?
O mesmo cigarro por que somos dois nadas entre o céu, o Sol e o mar.
Quem sabe não nadamos e sentimos as carnes frias e sem pedaços.
Talvez lavemos a alma ao invéz de tentarmos nos machucar.
A próxima dança não deve ser lenta.
Você deve se aproximar, segurar-me pela cintura com força e sem dó.
Feito isso, vou onde você me levar, com as pernas no ritmo das suas.
Segurar pela cintura e guiar-se pelo cheiro, grave bem.
Dois nadas entre céu, Sol e mar.
Contradança sem nenhuma técnica de salão.
Filetes de carne.
Teria dado certo. Quem sabe?
O Sol já nasceu . Não tem mais escuro pra nos aquecer.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Guia prático da mulher machadiana

à Marcela Oliveira E Rayane Almeida



É preciso dividi-los em blocos, no mínimo quatro blocos. Há que se ter a lembrança daquele romance de um mês. E ele não deve durar muito mais que isso. Não precisa ser avassalador. O romance de um mês é apenas empolgação descartável. É preciso tê-lo e é preciso que o pivô masculino do romance balance a moça por tempo indeterminado. Mas o romance só dura um mês.
O segundo bloco consiste no do romance-problema. Toda mulher precisa passar pelas mãos de um garoto-problema. No mínimo um. Não importa se ele tem problemas de saúde, problemas com drogas ou álcool. É preciso que a neurose dele seja difícil de agüentar, irregular e química. A experiência, no entanto, só se faz válida se o garoto-problema for paixão de longa data. Mas esse, quando acaba, acaba e pronto. Não parece descartável, mas é. O problema tem que estar na cara o tempo todo. Se for bandido, tem um charme à mais.
O terceiro bloco é definitivo. O mais comum dos blocos. Se a mulher não passa por esse bloco, não consegue chegar ao quarto e à utopia, que foge à blocos por que seria paixão pura e simples com sabor de fruta mordida e noz na batida no embalo da rede matando a sede na saliva. O terceiro bloco é o bloco dos sacanas. O cara que te faz de idiota, que tenta fazer mais do que pode. O cara por quem a mulher se apaixona e não liga no dia seguinte. São caçadores, divertidos e instigantes. Costumam provocar vertigens e ataques epiléticos. Causam ciúmes mórbidos e taras doidas. Não são nem um pouco confiáveis, com raríssimas exceções. Este bloco é fundamental. É preciso passar por ele várias vezes para aprender alguma coisa.
O quarto bloco já é sinal de amadurecimento ou sadismo. Podemos chamar de bloco dos bobos. São aqueles homens que servem de estepe. Aqueles que devem ser feitos de idiotas desde o começo, mas que ainda assim estarão sempre disponíveis. Eles podem vir de qualquer um dos blocos acima. Podem inclusive ser bons partidos. A beleza física é muito importante neste bloco. É preciso que o bobo seja um troféu. Ele deve ter valor junto às amigas. Todas devem ter um bobo. O melhor bobo vence a disputa constante de egos entre as calcinhas.
São esses os blocos e são obrigatórios. Trata-se de amadurecimento e sadismo. Depois dos blocos, a mulher já não precisa experimentar muita coisa. Esses blocos resumem o que há. É depois dos quatro blocos que a mulher pode correr mais riscos. Só depois de fazer um homem de idiota uma mulher entende o tamanho (mínimo) do poder que tem. De resto, é preciso entender que tudo não passa de jogos e narrativas. São técnicas e sorrisos. Dissimulação. Olhos de ressaca. Instinto, queridas, salvação.
E há mais uma coisa. É preciso cozinhá-los em banho-maria. Mais de um ao mesmo tempo, de preferência. Quando existem diversas possibilidades o risco de queimaduras é menor. Ainda assim, uma panela cheia que derrama pode causar fortes dores e grandes hematomas.
É preciso tomar cuidado.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Mariana XX

Foi ciúme de novo.
Mariana tentava se convencer de que não tinha motivos,
No fim das contas ela era a parte mais confusa da situação (como sempre fora em todas as situações).
O fato é que Mariana tinha ciúmes apesar da flor e do sonho e do óbvio
Nem adjetivar seus ciúmes ela podia, por que tinha
Me contou que tentou se afogar em pipocas, mas não pôde.
Disse-me que lembrou-se dos Lucas, dos dois Lucas que tem nome por que são números. Lembrava deles por que nenhum deles parecia boca de leão.
Mariana perdeu o medo de escuro, mas continua sendo Mariana e não sabendo bem como agir.
Mariana não se conserta.
(travei o texto, que agora tem um buraco por que detesto que me interrompam enquanto escrevo. Não abram a porta do quarto, não parem a música e não falem comigo enquanto escrevo. Só se seu falar for escrever. E mesmo assim, só dou atenção quando quero e por que preciso)
Mariana sente ciúmes do cara que ela não adjetiva.
E se sente idiota.

domingo, janeiro 06, 2008

Crônica de verão

- Cocada! Cocada! Oooooo cocada! - da rua, o homem grita.
- Cala a boca! - do andar de cima, grita voz de criança.
- Quem foi? - Da mesa de almoço alguém pergunta entre risadas.
O menino estava bravo por que eu tinha desligado o playstation dele. Só puxei a tomada. Tinha sido sem querer, mas ele tinha ficado extremamente bravo. Tinha chegado numa fase difícil do jogo e uma alma sem coração tirou dele o mérito. Eu sou a vilã dessa história, por acidente, é claro - tudo culpa da alma desastrada que meu corpo carrega ou do corpo desastrado que minha alma possui.
Enfim, o barraco estava armado e o avô dizia que videogame não é coisa de praia e que ele iria esconder o t. Então eu era apenas um pau mandado que tinha desligado o playstation pq meu avô mandou.
Sei que os dois meninos choravam e o mais velho me queria ensinar a olhar quando o jogo estava ligado e quando não estava. Fiquei brava. Já tinha dito que tinha sido acidente e que não era mesmo por querer. Desliguei a tomada por que procurava um lugar pra carregar a bateria do meu MP4. Não fiz por mal, sou simpática sendo vilã.
Briguei com o menino dizendo que só ia olhar depois que almoçasse e ele que esperasse. Ora! Tinha dito já agumas vezes que tinha sido sem querer. Ele chorou. Devia pensar que eu faço parte de alguma corrente do mal.
Na mesa de almoço me mandaram escrever a crônica e eu disse que vinha à "Han louse". De repente, não mais que de repente, deixei de ser a vilã da história e passei a ser a prima amada. GTA é mais legal que playstation.

sábado, janeiro 05, 2008

Poema das uvas

Roubei uvas na cozinha
Não vou escrever nada hoje
Seria confessional
E piegas
Disse que não fazia poemas
As pernas dóem de caminhada
Tive vontade de mar,
como das uvas que roubei
Não pude entrar no mar
Não quero mais pieguice
Nem gosto de Poesia...
É mentira.
"Entre pés de laranjeiras
Entre uvas meio verdes
E desejos já maduros
Entre uvas meio verdes?
Meu amor, não se atormente
Certos ácidos adoçam a boca murcha dos velhos" *
As uvas eram roxas e pequenas e ácidas
fazem tudo funcionar
Não quero escrever mais nada
Seria poesia
E piegas.

*Trecho mal transcrito de Drummond

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Mariana XIX

Por que a centésima postagem desse blog tinha que ser sobre Mariana

Ela arrumou as malas, viajou no dia previsto
e me ligou, como é praxe.
Mariana está na Bahia, longe do mundo real e sendo cozida em banho maria pelo sonho.
Ainda tem vontade de escorrer feito água ou ventar
mas não vê mais graça nas coisas que via
Mariana está bem confusa e se divide
Espera a chegada da flor
acha que se ela vem tudo fica mais claro.
Nada está claro, ela me disse.
Ela não quer apressar nada, não quer nada.
Achava que queria tudo.
Gaguejava no telefone enquanto falava comigo de alguns sonhos que teve.
Mariana está assustada, mesmo muito bem.
Queria que o sonho do sono fosse o sonho que ela sempre vê e beija na Bahia
Queria beijá-lo também.
Mas havia outras pessoas sem adjetivos e Mariana se confundiu de novo.
Não sabe de nada e me torra o saco.
óbvio.

terça-feira, janeiro 01, 2008

Reveillon

Não acredito mais em promessas de ano novo. Vesti-me de branco pra ver se esse ano arurmo um pouco de paz (coisa que nunca quis, mas que anda me faltando por completo). O vestido é bonito e foi muito bem escolhido. Resolvi também que esse seria um ano de escolhas minhas e de tentar não deixar ninguém mais me pisar.
Tenho essa mania egocêntrica de querer carregar o mundo nas costas. Não dá certo. Então resolvi que não ia ficar na porcaria da festa que não era festa e na qual eu realmente não queria ficar. Mas ela ficou lá, mesmo eu querendo carregá-la nas costas.
Aí agora eu não consigo pegar no sono por que ela não vai chegar tão cedo e eu não confio nem nela nem em ninguém de lá. Meu lado sádico diz que é bom que ela fique e se estrepe inteira.
Meu lado mãe do mundo diz que eu devia tê-la trazido debaixo de chineladas.
Meu lado mãe até acha bom que ela se estrepe, mas não vai admitir por que isso não é coisa de mãe, é coisa de pai. Mãe dá colo.
Não quero dar colo. Quero dar chineladas ou deixar que ela tome as chineladas que tem que tomar.
Mas a tal paz eu não tenho e abro meu ano assim, insone, sem festa e preocupada por conta dessa mania ridícula e egoísta de achar que o mundo tem que estar nas minhas costas.

Um brinde?

domingo, dezembro 30, 2007

Narrativa de champanhe

à Natasha Siviero


Acordei de madrugada com a cabeça doendo forte como nunca. Tive enjôo também. Pensei que podia ser câncer – fatalista como sou, fazia sentido. Foi aí que lembrei que a minha cabeça doendo e o meu enjôo era resultado de excessos da noite anterior.
Tinha saído para dançar. Chão. Chão. Chão. A intenção era clara e o dinheiro era pouco, mas como a narrativa vive de coincidências, estávamos no lugar certo e na hora certa. Pra ser exata, sentamos, eu e Clara, na mesa certa.
Estávamos as duas com pés doloridos e sem gostar da música. Arriaríamos ali até as coisas se animarem naturalmente, como sempre acontecia quando com a gente. A mesa não era nossa. Havia um quarteto simpático que permitiu que sentássemos enquanto dançavam. Apresentamo-nos. Clara, Júlia, Patrícia, Júlia, Carlos e Paulo. Paulo namorado de Júlia (mesmo nome que o meu, mas não a mesma graça que a minha), Carlos em sua despedida de solteiro, Patrícia mineira irmã de Paulo. Eu e Clara de penetras por ali.
Nós duas conversávamos o que a música permitia e concordávamos que o vocalista da banda era das coisas mais bonitas do salão. Tínhamos nos perdido já uma vez. Achamo-nos no banheiro enquanto eu conversava com uma mulher de cabelo muito grande sobre a possibilidade de ela cortar o cabelo bem curto e fazer uma peruca. A mulher me disse que o cabelo dela valia 600 reais. Pensei ser um bom dinheiro. Lembrei que quando meu ex-namorado vendeu seu cabelo ganhou apenas 80 reais – e ele tinha um cabelo bem grande.
E daí voltamos à mesa. Pouco depois que nos sentamos um garçom apareceu com um balde de energético, depois uma garrafa de uísque. Eu e Clara tínhamos tomado apenas uma cerveja e uma Ice. O quarteto simpático da mesa fazia questão que bebêssemos com eles. Dissemos que não. Insistimos que não. Clara justificou que tinha que levar o carro para casa e não queria ser peã na blitz. Mas comigo eles não se deram por vencidos. Carlos me serviu um copo de uísque e energético.
Então eu já dançava como se nem ligasse. Mais uísque. Chegou uma garrafa de champanhe. Aí até Clara bebeu. Foi pouco depois disso que Patrícia se aproximou de mim e disse que seu irmão queria trocar de Júlia. Pensei “comigo não, nessa eu não caio”. Disse então pra Patrícia deixar isso pra lá e dançarmos até o chão.
Patrícia tinha sérios problemas para rebolar, estava escuro, mas ela tinha a vergonha que o uísque já tinha me feito perder.
- Ai meu Deus! Como é que você faz isso!
- Mexe o quadril, menina!
- Ai! Mas eu não consigo! Sabe, minha amiga lá de Minas disse que eu tenho que imaginar que estou fazendo amor.
- É mais ou menos isso, Patrícia. Pensa que as mãos dele estão guiando os seus quadris e vai.
E ela foi. Pouco depois mais gente da boate viu como ela ia, como já tinham visto Clara. Tinham me visto também, mas eu não queria ser vista. Carlos insistia que ficássemos juntos, mas eu só quis quando um outro cara resolveu que eu devia ser dele. Disse-lhe que estava com Carlos. Carlos então quis que eu de fato estivesse. Não fui. Disse a ele que Clara era a melhor opção- era ruiva e ruivas tem mais charme que castanhas como eu.
Carlos queria Clara, queria todas. Não tinha norte e quis que acreditássemos que ele estava solteiro na pista. Mais champanhe. Martini. Eu não estava bem. Cerveja, champanhe, Martini, uísque, energético, ice e dança. Os pés nem doíam mais. Clara disse que cuidaria de mim.
Fomos embora da boate, emersas na magia do champanhe e dos olhos verdes de dois caras que encontramos ao lado do carro de Clara. Clara me deixou na porta de casa, e eu não lembro o que aconteceu depois que eu subi o elevador. Acordei atrasada e com o quarto bem bagunçado.
Sobrou a dor de cabeça e a eterna paixão por dança. Uísque, champanhe, energético, Martini, cerveja e ice.

Sobre tesão

A tela é branca. Tem que ter maior parte branca pra ter tesão de papel. Escrever em tela não é a mesma coisa por que o pulso não dói e as coisas saem mais rápido e tem correção automática. A poesia, no entanto, não se perde. Há o tempo do raciocínio e tudo o mais.
Falo disso por que quero escrever e não tenho assunto.
Poderia gastar falando sobre como fim de ano me toca e me deixa nostálgica, mas quero falar de paixão.
Ando seca.
A narrativa continua tendo a mesma graça, mas não sei mais inventar histórias e frases.
Poderia então apelar para nudez absoluta e bela.
Descreveria a cena de dois amantes. Ele deitado, olhando pra ela. Ela sentada na beirada da cama. O ventilador que fica na cabeceira venta contra o cabelo dela e a luz que vem da janela incide na pele dela. Ele não consegue se conter em dizer o quanto ela é bela e ela sabe que a cena favorece isso.
A nudez é bela.
O branco da folha é uma coisa muito bela, como a tinta da caneta e toda a narrativa por traz das narrativas de papel. O atrito é mesmo muito belo.
Então escrevo e me dispo. Aí você vê e me diz se é belo.
O quadro todo favorece.
Minha mão pulsa e venta.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Luana


Imaginem que Luana era mais bonita que o necessário. Imaginem ainda que ela tinha um temperamento oscilante, mas um ótimo senso de humor. Não era, portanto, mulher de se jogar fora.

Eis então o ponto em que essa história começa, o dia em que Luana percebeu que não era mulher de se jogar fora. Foi aí que ela assumiu as próprias curvas e o próprio mau-humor. Começou a se cuidar e se perfumar, mais pra ela que para suas paixões.

Esta narrativa tem seu rumo nas muitas paixões concomitantes da mocinha. Como ninguém a jogava fora, ela também não jogava ninguém fora. Então ela ia acumulando paixão atrás de paixão e paixão em cima de paixão.

Luana dizia que as paixões não se atrapalhavam, mas ela se atrapalhava. Não queria esconder nada de ninguém e também não queria que ninguém se machucasse.

Mas a verdade é que Luana gostava de Mateus, que também a via mais bonita que o necessário e também gostava do senso de humor dela. Ele não fazia parte do bolo de paixões, era um caso à parte e talvez ela tenha se descoberto bonita como era por culpa dele. Era Mateus quem fazia questão de frizar como ela tinha pés bonitos e como as maçãs de seu roso pareciam feitas para receber carícias.

Mateus e Luana eram cafonérrimos quando juntos e era por isso que ambos tinham bolos de paixões à parte. Ambos temiam que sua cafonisse se estragasse se o bolo não existisse.

Mateus não era mais bonito que o necessário, nem sabia fazer poesia. Luana tinha sede de mais e Mateus tinha medo de menos.

Então Luana caia em braços fortes que pareciam aonchegantes, sentindo falta da falta de poesia de Mateus, mas gostando de saber que ninguém a jogaria fora. Nem Mateus.

Agora imaginem que Luana levava a história que queria levar e continuaria vazia, mesmo cheia de paixões.


A narradora não é moralista nem acha que Luana devia ter menos casos, mas Luana é cafona e por ser cafona queria ser flor de um só beija-flor. Mateus. Cafona assim.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

O rio continua pardo


Natal junta todas as coisas ao mesmo tempo. Família e redenção e presentes e todas as coisas que vc fez de mau e que podem fazer o Papai Noel ter um surto de falta de compaixão.
**
Aí eu fui na boate e queriam me barrar. A classificação era 16 anos. Eu com meus 19 me senti estranha e meio mico.
**
- Ela tomou jeito. Sabe... Está séria, namorando, mergulhou de cabeça na psicologia e cuida da casa.
- Não sei não.
- Ela tinha tudo pra dar errado. Eu achava que ela ia aparecer grávida por aqui.
- Eu sabia que não. Ela é filha da Maria. Sabe? A Maria sempre foi severa com essas coisas.
- Mas ela era doida.
- Ela dançava e bebia, mas nunca foi doida. - Pensei que se ela era doida eu também o era.
- Pois é... tá todo mundo casando ou tendo filho e a gente aqui...
- Mais alguém que eu não saiba?
- Só a Mírian mesmo.
- Não me assustei com ela.
- Me assustei com quem é o pai do filho dela.
- Quem é?
- Você não ouviu falar do cara que filmou as meninas com quem estava transando e colocou na internet?
- É ele?
- E o pior é que ele estava namorando a irmã da Mírian!
- Que cachorrice!
**

Os manacás continuam sendo uma flor bonita. Não entendo nada deles, mas as flores continuam no mesmo lugar, como o rio.
Tirei fotos.
**
Quero esquecer que existem livros e pessoas, por que livros e pessoas dóem quando na gente.
Todo livro tem o momento certo de a gente ler. Esse de agora comprei há tempos e deixei na estante.
Está me machucando...
Está me triturando. Está me batendo por que sou eu de novo.
**
Tenho novas amigas, todas de 16 anos. Sinto-me jovem forçosamente. Vamos juntas até o chão.
**
Feliz natal!

Paulo e Tereza

Ele gostou dela. Achou-a divertida e se impressionou com a capacidade que ela tinha de falar besteiras enquanto ele ficava quieto, se segurando para não fazer má figura diante de uma moça que ele não conhecia. A segurança com que ela demonstrou que falava muito, mas não era qualquer uma o impressionou ainda mais. Foi ela quem quis primeiro sabê-lo Paulo e se apresentar Tereza.
Ele ficava meio sem fala com a impetuosidade dela, que além de tudo era amiga do amigo dele, que dizia que há mulheres e mulheres e Tereza é dessas que se ganha com diamantes e mais.
- Ora, você não vê ninguém falando nada de mim, embora eu fale um punhado de besteiras.
E o amigo em comum de Paulo e Tereza fez questão de dizer que com ela ele podia falar.
Paulo seguiu seu caminho pelo clube enquanto Tereza nadava feito sereia. Depois ela sentou-se ao lado do amigo e Paulo finalmente pode ver como era bonito o corpo da mulher divertida que ele conhecera há pouco. Não pode conter a admiração por aquele par bem torneado de coxas bronzeadas, nem pela simetria e equilíbrio de um corpo todo fresco. Sem contar que o sorriso dela era branco e certo, bonito e fresco como a boca também parecia ser.
Ele frizou o prazer em conhecê-la ao ir embora e ela fixou na lembrança a composição mui bela dos olhos dele emoldurados por um céu azul e sol forte.
Pois esse foi o flerte de Paulo e Teraza, que ficou só flerte por que ela dormiu pra não fazer exposição da figura à noite, na praça.

sábado, dezembro 22, 2007

Mariana XVIII

Mariana tinha decidido ficar quieta
O óbvio andava tropeçando um bocado e ela se irritava mais e mais.
As malas estavam prontas pra Mariana ir pra Bahia ver o sonho de sempre e dar um sorriso a mais.
Depois de Lucas e números que não valiam, os galhos de Mariana eram previsíveis.
Ela tinha dito que queria algo a mais.
Ela ficou quieta e ele veio.
Mariana, que continuava sem sair do seu costumeiro galho óbvio que andava confortável apesar dos tropeços, não tinha um nome pra dar para o galho novo em que ela esbarrava volta e meia e com o qual ela até brincava.
Mariana não conseguiu dizer pra mim nenhum adjetivo sobre ele.
Sabia que ele era agradável. Tinha frutos, ao contrário dos outros galhos.
Parecia firme e ainda assim ela não ia de vez pra lá.
Nem vai.
Pelo que sei de Mariana e seus medos que prosseguem mesmo com os anos passando,
ela vai se misturar feito areia e vento ao sonho
e depois vai voltar aos cantos óbvios
talvez se desmembre e busque a outra flor que tem estado presente, mas que ela não comenta.
Mariana tem medo de galho fixo, lembra do álibi e do bicho-papão.
Mariana sabe que o galho novo não é nenhum dos dois, nem é óbvio, nem é sonho.
O problema é que ela ainda não sabe o que é.
Eu disse pra ela que é aí que mora o perigo.
(É que Mariana está perdendo aquele medo doido e apertado, mas ainda não pode saber, então sejamos discretos, que aí ela volta pra boca do leão...)

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Mesa de bar

Ele pegou nas minhas mãos e disse que eu devia parar de brigar com ele. Pensei que ele não tinha razão e que eu deveria continuar gritando, como era costume. E foi aí que Estevão me acertou em cheio:
- Clara, chega disso. Sabe o que estamos parecendo? Dois namorados brigando no meio de um bar.
Pensei que aquilo era aterrorizante. Eu não era namorada de Estevão. Bem quis ser um dia, mas a idéia então me apavorava. Por que, então, brigávamos? Ele não me devia nada. Eu não devia nada a ele. O que nos prendia eram os meus gritos e o jeito malandro dele.
Não adiantava. Eu continuaria brigando e continuaríamos sendo namorados sem admitir. Nenhum dos dois podia se assumir fraco a ponto de se comprometer. Nenhum podia assumir compromisso.
Éramos nós estreitos nós, mesmo laço frouxo.

domingo, dezembro 16, 2007

sábado, dezembro 15, 2007

10/05/07

Estou doce. É bem verdade que sou doce e que mais doce do que eu já sou fica enjoativo e nem eu aguento. Fofura demais afoga e gasta. Acontece que tive stress e ternura o dia inteiro e que matei meias saudades de quem me faz muita falta. Deu vontade de abraço que nunca tive pra ver se a saudade dos assuntos sempre interessantes passa. Não passa. Se os assuntos não forem correntes e diários e se a minha vida não estiver atualizada na cabeça dele enquanto a dele está na minha a saudade fica fixa no nosso peito. Estou doce por que um amigo assim tatuado é coisa que precisa ser consumida em doses constantes. Estou doce por que falta um pedaço de mim e sobra outro. E por que eu sempre estou lá, mesmo quando digo que não e quando fujo. Estou doce por que sou irresponsável e feita de luz e sombra como uma estrela - agora eu sou um cometa. Tenho que correr e qualquer força gravitacional me puxa e me gasta. Eu gosto dessa coisa gasta. Outra coisa, descobri que não sou romântica como pensava. Esses símbolos e esse exagero e toda aquela coisa da idealização estão longe dos meus pés fixos em chão. Mas eu vôo. Eu vôo e vou aonde precisar. Descobri que não sei quando é onde ou aonde. Este cansaço me faz sem pedaço e partida, mas eu não parto. Eu fico, e inteira. Sou teimosa e orgulhosa demais pra não ficar.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Chuva e pastel.


Cheguei e chovia. Dormi durante todo o percurso. Nem vi o tempo passar, só quando o carro estacionou em Venda Nova e provavelmente alguém comprou um pastel bom. Poucas coisas conseguem ter o sabor de um pastel de Venda Nova, poucas tem um hálito tão gostoso.

Algumas bocas que marcam são como pastéis de Venda Nova. São quentes e sempre que a gente passa por ali quer mais. Há a desculpa da dieta ou dos pequenos dez minutos de parada, mas se a boca é um pastel de Venda Nova a gente compra. Não há dieta que justifique um não a um pastel de Venda Nova.

Só é possível ser completamente fiel a um pastel de Venda Nova. Pastel de Venda Nova é bom de queijo ou de carne, não provei o resto. Fica bom na chuva ou no Sol, com coca ou guaraná.

Não está fazendo frio hoje, nem calor. Chove.

Eu chovo e não comi nenhum pastel de Venda Nova. Dormi durante todo o percurso.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Sobre como fico bonita de azul


Fico mesmo bonita de azul. Estive olhando fotos. Faz um contraste interessante com a minha pele morena e fica ainda melhor se pinto os lábios de vermelho. Fico bonita de verde também. A verdade é que sou muito bonita. Não posso contar aos outros que sei. Fico parecendo mais prepotente do que já sou. Fazer o que?
Botei a foto bonita no MSN pra todo mundo ver. E ele não apareceu. Eu queria que ele visse como fico bonita de azul com brinco grande e batom vermelho, mas as horas foram passando e nada. Esse é um problema da modernidade. Espero no MSN como se esperasse na janela pra ver o meu amor passar.
Ele não é meu amor ainda. Nem vai ser. Sou forte, lembra? Não caio assim por um sorriso.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Falta










Eu imaginei que fosse ser assim. Desde o começo de tudo, quando a gente não sabia direito o que era. Tudo sempre foi disputa de egos. E eu fiquei igual. Os joelhos ralados, o nó na garganta, a cara lavada e a espera.
Eu não devia esperar nada depois de um não.
Por que eu disse o primeiro não, mas ele devia me ouvir depois. Eu devia ter estado presente, mas eu sempre estive e naquele dia eu simplesmente não podia. Ele devia entender. Eu não podia dizer sim, ou perdoar. Mas eu precisava de um ombro e os dele são mais confortáveis e menos trabalhosos. Ele conhece as histórias e os medos que eu não quero ter que contar de novo.
Dói.
Meus ossos estão desestruturados e a falta é estruturante.
O que é que eu vou fazer?

domingo, dezembro 09, 2007

Piegas

- Do you believe in love?
Mamãe disse que eu não devia beber mais uma cerveja por que ficaria tonta. Fiquei. Ocorre que ela não sabe que ficar tonta implica em cervejas e vinhos e vodkas ao mesmo tempo.
A verdade é que não gosto de vodka. Gosto de Martini e cachaça e cerveja e todos os vinhos.
Gosto de azedo.
Ela não sabe do que gosto e tenta se preocupar com o que não devia. Agora é sua vez. Agora passou minha vez. I don’t believe in love anymore. Só cerveja.
Pessimista sim. Só pra aparecer.
- Do you believe in me?

domingo, dezembro 02, 2007

A menina e o medo



Sempre disseram que ela devia ter medo de tudo. De parar e de seguir e de sentar e de levantar e de correr e de pular. E ela tinha mesmo todo esse medo. Ficava sempre parada em cima do muro. Ela tinha vontades, mas o medo era maior.
Ela não seguia.


*O final feliz está em outra história.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Poema cansado

Dormi desde ontem
A noite inteira e de cansada.
Não ficava pensando em compromissos ou versos.
Nem sonhei.
Só deixei que o corpo parasse e fosse.
Talvez minha escrita mole não seja tão boa quanto alguns versos rasgados.
Não quero que minha escrita dance, hoje.
Quero minha escrita sono e confissão.
Ironia talvez.
Quero escrita comendo carne vermelha e doce.
Por que dizem que carne humana é meio doce.
Não gosto mais de poemas,
Já disse?
Não tenho paciência pra essa rapidez de versos que se alongam quando ecoam.
E também não quero essa prosa curta que ecoa por que bate em mim.
Quero nenhuma história.
Desaprender a ler pra retomar a inocência.
Utópico demais.
Talvez seja hora apenas de um banho e não de escrita ruim.
Talvez seja dia para cerveja e preparo pra futura cirrose.
Não é hora pra canto,
São dez da manhã.
Não é hora, então forço.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Mariana XVII

Ele era o segundo Lucas de Mariana.
Ela não se lembrava de ter encontrado nunca um homem tão boçal.
É claro que havia o bicho papão.
Mas ela tinha se acostumado ao sonho e ao óbvio
E ela não gostava que lhe puxassem o cabelo assim, vulgar.
Mariana sentia-se suja e não gostava da própria boca
Por que a barba dele machucava e as mãos dele não tinham freio.
Tudo ali machucava e ela fez-se forte pra firmar um tapa.
Ele se encheu de razão.
Ela teve saudade da paixão.
Pular de galho em galho já não tinha tanta graça.
O corpo do sonho era tão carinho.
As mãos do óbvio eram como as dela.
Esse Lucas tem nome por ser mais um número.
Não era homem pra Mariana. Não era homem.
Todos os galhos pareciam tão firmes, mesmo sem raiz.
Mariana gosta de segurança, mesmo com medo de fall in love.
‘cause she is falling in love again every day
and she likes flirt
but is not the time.
Mariana não sabe o timing.
Ela está perdida.
E todos os homens eram iguais até a última noite.
São pessoas, ela me disse. “Não são números como eu não sou.”
Mariana queria banhos mil e sal purificante.
Um óbvio a mais.
Um sonho a mais.
Nenhum dos dois e os dois juntos.
Ou nada.

segunda-feira, novembro 19, 2007

O italiano

Tenho um italiano.
É uma personagem que me mandaram escrever eu aceitei o desafio. Ele deixou de ser algo postável logo na primeira parte. Tenho medo de personagens grandes demais e ele se tornou um problema agora. Tudo nele é intenso, vazio e cheio ao mesmo tempo.
Meu italiano é frustrado e não gosta de si. É muito difícil escrever sem me enfiar na história.
Ele não é o avesso de mim. Ele não sou eu. O italiano me toca e eu preciso escrever por ser um bom canal.
Foi ele quem me escolheu. Sabe que sou piegas e que terei dó de dar-lhe um fim triste. Mas a verdade é que eu ainda não sei qual será seu fim ou o que ele merece. É sujo. É vil. É sórdido e bonito. Gosto da sordidez dele, por mais que me assusto. Ele tem a vida toda mal resolvida e cancros que se espalham por toda a sua alma.
Li que os sintomas da sífilis são cancros duros.
Eu diria que ele é sifilítico de alma. Ele é duro. Ele não convive bem consigo e quer que o mundo pare pra que ele passe.
O nome ele não fala, mas o sobrenome é Giordano e é assim que ele gosta de ser chamado. Meu italiano não conseguiria mascar a própria língua por não gostar de jiló.
O lance é que a Esfinge o persegue desde o começo.
- Decifra-me ou te devoro?
Meu italiano vai ter que sair de cima do muro e deixar de ter medo. Vai ter que parar de atirar e botar flores no cabelo.
Acontece que eu não estou na história pra ser pontinho de luz.
Meu italiano vai ter que se resolver sozinho e talvez deixe de ser só.

E aí o problema fica comigo.

Decifro-o ou ele me devora?

quarta-feira, novembro 14, 2007

Hamlet

Ele disse que cresci. Disse que o corpo mudou e a voz e a cara e o jeito de me vestir. Talvez eu tenha mesmo perdido um pouco do pudor que eu tinha de me ser. Ora, não sei qual o problema nisso. Crescer não é como construir personagens pra teatro. Exato oposto. Desconstrói-se a princesa de conto de fadas e constrói a mulher. Até aí não sei pra onde vai e de onde vem e nada.
E o depois também não sei.
E sentimento não é de se saber.
Ela disse que psicólogo deve ganhar uma grana sem resolver os problemas dos outros. Aí eu pergunto se os outros não devia saber resolver seus próprios problemas.
Todos somos Atlas e temos que carregar nosso mundo nas costas.
Crescer é fazer escolhas, uma terceira pessoa cujo sexo não me lembro disse.
Então eu devia ganhar um martelo e sair quebrando todas as dores e estourando bolhas de felicidade.
Agulha talvez fosse mais eficaz.
E ficas, fixas, fichas e sentas.
A segunda pessoa eu não sei usar bem. Ou sei? Ambiguidadegramaticaldespropositadaeproposital.
No fim, todo poeta é um inconseqüente num mundo de letras e sons.

sexta-feira, novembro 02, 2007

O sonho

Tive mais um sonho daqueles que cortam na alma e dóem no peito. Então estou doendo até agora. Sei que aquele sonho inteiro é pura vontade minha nua. Se fosse vida aquele sonho naquelas formas eu sorriria ao invés de doer. O problema do sonho é que ele é só desejo e desejo é falta. O problema desse sonho é que ele me falta e eu não quero essa falta. Eu quero o sonho inteiro e pra mim até de ponta cabeça.
Eu era eu descabelada e desleixada. Ele era ele nos mesmos moldes, só que homem. E ele sussurrava que me amava e de novo eu não sabia o que fazer. E eu ficava distante e esperava que ele dormisse pra me aninhar nele e deitarmos juntos no chão. Harmonia visível à quem passasse, mas ninguém passava por que nós dormíamos e nós dois estávamos enroscados só pra nós dois. Ligados. Foi ele acordar e eu disse que o amava.
E eu acordei.
Não tem felizes para sempre quando a gente está acordado. E o que eu desejo me falta. Aí eu fico doendo mesmo. Eu fico só. Eu fico.

quarta-feira, outubro 24, 2007

abunda

Eu não entendo nada de Marx nem de Hegel.
Pra mim, o que importa é a frequência do samba.
E se o samba filosofa enquanto a bunda mexe, que mal há?
Há que se considerar o bronze das nádegas tropicais.
Não há que se considerar o racionalismo, materialismo, dialética ou utopia de uma bunda.
A bunda ideal não há.
O mestre disse que existe gosto pra tudo, ele mesmo não se aguenta vendo bundas grandes, largas e com covinhas espalhadas em montes de rachaduras. Há quem goste de bundas secas e inclusive há quem não goste de bundas.
Marx é materialista e fala que há que se considerar o contexto. O material, o palpável, o trabalho, vem antes do resto e constrói esse resto. (Talvez eu esteja falando besteira, mas é litearatura e são minhas impressões) eu encaro como se pra Marx as coisas viessem de fora pra dentro.
Hegel viaja e fala de idealismo, que existe primeiro a razão, depois o resto. As coisas vão de dentro pra fora.
Ainda prefiro samba e bunda que essas discussões sem fim. E pra mim, a frequência que a bunda meche durante o samba é muito mais relevante que a função da bunda na sociedade.

desbundei.

Aline Dias escreve textos bizarros e sem argumentação palpável, talvez ela apenas precise desabafar sem pensar e queira registar pra rir depois.

domingo, outubro 21, 2007

O barco

Eu não queria que doesse, mas dói. São as mulheres e as crianças que desistem de afundar os navios, a Ana C que disse. Eu não sou poeta que nem ela e ontem me disseram que eu não podia me comparar. Eu sou forte e devia ficar no navio até o final, mas eu tenho tanto medo de afundar e não valer à pena. E eu queria tanto que valesse à pena e não afundasse.
E está doendo. Eu pulei e bati na hélice. Agora congelo nesse meio de Atlântico. Eu não fui feita pra congelar.
Eu queria que o Rô estivesse aqui e me ouvisse por que ele ia entender tudo e eu ia precisar falar muito pouco.
Eu não gosto de falar nem de afundar navios. Nem de pular fora antes do fim. Eu não gosto de decidir o fim. Não gosto de fins, é bem verdade. Apesar de tudo precisar ter final.
Fui eu quem quis embarcar no navio. Eu queria parar na ponta, abrir os braços, fechar os olhos e voar. Ficar olhando mar no navio eu queria. Sentir vento na cara eu queria.
Mas não são navios e não é história.
Vou ver se agüento nadar a braçadas.
Eu não queria que doesse, mas dói e a musculatura pega firmeza enquanto eu nado nesse atlântico gelado e sem barco.

domingo, outubro 14, 2007

Mariana XVI

Mariana se sentia dentro do furacão.
Os sonhos e a realidade ainda óbvia se chocavam
E ela doía por todos os lados,
Era uma ilha.
Mariana não chorava, mas não estava bem
O óbvio devia ser ombro amigo mais uma vez
E ele estava sempre lá, sempre sendo saída óbvia
E Mariana sempre amando e se ferrando
Mariana ilha de dor
E forte, cada dia mais.

terça-feira, outubro 02, 2007

Cinema

Os dois se encontraram na cantina ao lado do cinema. O cinema tinha uma sala só e era famoso por passar filmes alternativos. Fernanda estava esperando seu filme começar quando cruzou com Rodrigo. Ele tinha cara de quem sabia demais e ela era extremamente curiosa. Ela queria saber o que Rodrigo tinha a esconder. Ela saberia mais cedo ou mais tarde. Os dois sentaram-se na mesma mesa.
Ele tinha cabelos castanhos e a pele morena de sol. Ela tinha cabelos claros e longos, não era bonita, era mediana. Tinha cara de mulher comum e não tinha muito o que falar e o que esconder.
Os dois ali, na mesma mesa, travavam uma luta para ver quem escondia mais e quem mostrava mais. Nenhum queria ou podia perder. Os dois estavam errados em começar aquela briga. Fernanda não foi ao cinema.
Rodrigo disse que podia fazer muitas coisas e que tinha muita coisa a dizer, mas não disse nada e não fez nada. Fernanda esperou. Na verdade, ela tinha um medo grande e uma vontade grande de saber.
Antes daquele dia os dois nunca tinham conversado.
Nenhum sabia quem era o outro.
“por que você o está defendendo?”
“Eu não estou defendendo ninguém.”


E por que usar aspas em vez de travessão? A Aline que escreve esse texto nunca gostou de aspas. Ela sempre usou travessão por que aprendeu na primeira série que era assim que se escrevia diálogos. Mas ninguém nunca disse à Aline que se deixa claro num diálogo quem é o sujeito que fala. A Aline desaprendeu a escrever, ou talvez nunca tenha aprendido a fazê-lo.


E Fernanda não sabia bem como se posicionar. Não tinha nada a perder e se perdia no tempo por pura curiosidade. Talvez não valesse à pena insistir. Rodrigo não devia valer nenhum verso. O filme ela já tinha perdido.
Ele parecia por à prova o tempo inteiro tudo que ela tinha a dizer. Ele punha a prova quem ela era. Descreditava.
Ela ainda queria saber de tudo e não queria tomar banho ou ir embora. Os outros deviam esperá-la. Havia vida além dali.
Fernanda tinha gastado o dinheiro do filme e não o teria de volta.
Rodrigo não falava nada que prestasse, apenas acusava.
Ela tinha nojo dele e de tudo que ele falava.
Ele percebia que na verdade, era ele quem estava sendo descreditado.
Era hora de ataque.


E a Aline que escreve esse texto sente necessidade de cortar a história no meio por medo do fim.


Rodrigo conhecia a vida de Fernanda e tinha que jogar isso na cara dela. Ele não sabia o quanto ela detestava que o fizesse. Talvez soubesse. Talvez ele fosse dissimulado a ponto de saber controlar toda aquela situação.
O que ele sabia?
Ela não era prática. Já tinha percebido que não tinha o que fazer e não ia embora dali.
Devia sair.
Rodrigo tinha o que esconder, então jogava com o passado dela. Escancarava pra ela o que ele sabia.
E ele não sabia nada demais.
Ela fez questão de frisar que era mentira.
Se perdeu.
É claro que ele sabia que aquilo a atingia e ele jogaria pra ser ouvido, mesmo não tendo o que dizer.
E ela se viu desesperada e sem razão nenhuma.
Tinha que ir embora.
Foi embora.
Uma pena ter perdido a sessão de cinema.

terça-feira, setembro 18, 2007

O que eu quero

Talvez seja pretensão em larga escala. Mas hoje, lendo teoria e buscando quase-literaturas, eu tive uma vontade grande de ser Rubem Braga. Sempre disse Nelson. Sempre falei que queria escrever feito Nelson Rodrigues. Mas é que Rubem escreve tão lindo que prenderia qualquer criança desatenta que não goste de histórias. Ainda assim, ele fala manso e certo. E ele não deixa de ser jornalista. Ora, as crônicas cantam, mas ainda estão ligadas ao tempo, como ao sempre. Chamavam-no sabiá. Stanislaw Ponte Preta chamava-o Sabiá da crônica.
Quero escrever como quem samba. Quero na escrita todo aquele gingado de coxas que não param quietas e quase saltam com graça. Quero escrever bonito e atraente como um quadril que balança. E quando me lerem, quero que pensem que é bonito e é sentimento. Quero que sintam a minha escrita como eu sinto pulsando em mim a escrita de Rubem ou Clarice. Nelson não pulsa tanto, ele bate e a gente gosta. Geralmente gosto de tapas verbais, mas hoje quero dança.
Escrita como junção de corpos.
Não quero escrita-vômito.
Vamos todos escrever pelos joelhos. Vamos todos cantar pra espantar todos os males. E brincar de roda. Escrever é manter a roda. Vamos rodar em diversos poemas. Vamos rodar sem versos. Poesia em prosa, não era assim a crônica?
Vamos rodar pra não ser atemporais.
Vamos brincar com o tempo? Vamos! Vamos!
Sentimento é hoje e é sempre, literatura. Eu gosto de jornalismo. O que ela falava de jornalismo, uma coisa dura e madura (no sentido de prestes a apodrecer) pra mim é mentira. Somos todos história e formados de histórias. Então, essa brincadeira com fatos registrados em papel ruim, ou sites, ou fitas na tv é atemporal, por que congela o tempo. A gente sabe hoje e se fuçar os arquivos sabe ontem. Não apodreceu.
Jornalismo não é pra apodrecer, ainda mais o cultural. Ora, cultura é coisa que fica, não morre assim. Jornalismo é novo sim. Mas é de virar história.
E eu queria escrever feito Rubem Braga, pro meu jornalismo ou meu autismo sair por aí tocando corações e tomando rumos.

domingo, setembro 16, 2007

Mariana XV

E Mariana se viu sem galho.
Sem galho mais uma vez.
Não era hora e não era assim tão óbvio.
Mariana devia buscar o inesperado, sem esperar nada.
Mariana devia sossegar.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Isso

Então tá.
Não ando com cabeça de pessoa-leitora. Na verdade, tenho sono e preguiça de dormir.
É meu diário.
Eu devia publicar um texto que eu escrevi ontem e se chamava Beatriz.
Pensávamos as mesmas coisas, no fim.
Devíamos questionar o mesmo vilão, o grande monstro que me atrapalha a vida. O nome é sociedade, eu acho.
Sou sociopata com cara de menina moça.
Sou gracinha.
Mas isso tudo, como as atrocidades as bombas e as minhas ameaças sobre mim que não sou eu ou mais e menos e pernas, é mentira.
Na verdade, eu minto.
É que se a gente não faz propaganda, as pessoas não vêm.
Foi isso que ele me disse quando eu perguntei pelas promessas que ele me fez.
E eu respondi que a propaganda era enganosa, rindo.
A questão é que eu não gosto que mintam pra mim. Quero mais que mentira.
Se ele não precisasse mentir pra mim teria tido segundas e terceiras chances. Mas mentir pra mim é burrice.
O outro não mentia.
Era um escroto.
Mas não mentia.
E aí entra em voga essa coisa de vínculos.
Não sei por que estou escrevendo algo parecido com um poema se ando sem cabeça pra poesia. Tentei ler. Juro. Mas não desceu e poesia tem que ser degustada feito vinho.
Não consegui.
Ainda sou eu quem mora nesse corpo e a dona dessa mente.

Não foi dessa vez, mas quase.
Estou pensando em coisas que rimam com mente.
Você mente?

Veio uma música velha na cabeça e eu fico pensando se o que eu escrevo é ou não é atemporal.
É sentimento, minha flor, quase magia.

Eu acho que não sinto tanta falta assim de poesia.
É.
Eu minto.

domingo, setembro 09, 2007

O vizinho

Ele morava numa das casas no final da rua e ia à praia todos os dias. Eram as únicas coisas que ela sabia ao ver aquele cara passando de bermuda, carregando a prancha. Ele provavelmente usava filtro solar, já que ela nunca o tinha visto vermelho demais ou descascando. Aquilo era um sinal de que ele se preocupava minimamente com o próprio corpo e consigo. Na verdade, o corpo dele já era um grande sinal de que ele se preocupava com o próprio corpo. Ela não babava por que isso era grosseiro, mas salivava e respirava falhado quando ele passava. E ele passava todos os dias.
Ela nunca tinha parado para imaginar como era a vida dele, era apenas alguém que passava e mexia com a libido. Mexia um bocado. Ele se mexia e ela queria se misturar àquele corpo. Se imaginava poeira grudada em suor, água de mar e areia. Imaginava cenas mil e nenhuma fala. Todo aquele jogo unilateral era muito visual. E ele continuava passando.
Foi assim por alguns verões.
Felizmente, existe o carnaval, em que as pessoas matam seu superego e mergulham num mar de coragem e fantasia. Naquele carnaval, ela fez a amiga apresentá-la a ele. Se conheceram na sexta, e no sábado se encontraram mais uma vez. Ele sabia que ela morava numa casa no começo da sua rua, já a tinha visto. Isso a permitiu sorrir. Ou foi isso, ou foi a tequila. Não importa. O que importa é que, no segundo dia, os dois resolveram descobrir o que havia nos olhos um do outro com a desculpa de tentar não sorrir. Mas os sorrisos vinham. Eles vinham dos dois lados e o jogo do sério já tinha se perdido. Aí ele empurrou o cabelo dela com a ponta dos dedos e puxou-a pela nuca. Era um beijo.
O carnaval continuou e os dois se beijaram na terça-feira gorda pelo tempo que conseguiram.
Ela foi embora na quarta-feira de cinzas. Não morava na casa do começo da rua, apenas passava ali os verões e alguns carnavais. Voltou na páscoa. Ele ainda estava ali, a quaresma acabou mesmo na quinta-feira de lava-pés. Entre sins e nãos e discussões bestas, mais beijos e mãos paradas na cintura.
Ela gostava dos braços dele. Gostava muito.
Os verões demoram a chegar, mas ela teve que voltar no sete de setembro para a tão sonhada independência. Os feriados não davam tempo de paixão e conhecer alguns defeitos impediu-a de continuar. Foi fim.

segunda-feira, setembro 03, 2007

O sono e afins

Eu não quero brincar de blogue
Nem de poemas.
Quero brincar de cama no sentido sono da coisa.
Não quero sonhos.
Sonhos são maus e me mostram pra mim.
Também não quero nenhum ato-falho.
Já disse à minha analista que essa coisa toda de Freud nunca foi pra mim.
Não, não é pulsão de morte.
É impulso de sono e necessidade de olhos abertos.

quarta-feira, agosto 29, 2007

poema de mim-carne-alma

Eu odeio cortar a mina carne
por que é minha
e por que é carne.
e esse não é um daqueles ódios que são amor.
eu não gosto de cortar carne minha por que dói.
simples assim.
dessa dor de corte eu não gosto.
amor corta?
se amor corta eu gosto.
não. Eu não tenho que gostar, nem que cortar.
hora de dormir.

sábado, agosto 18, 2007

Daniela

Daniela tinha curvas arredondadas e uma voz fina com traços de pato. Era bonita, mas sua beleza não influencia em nada nesta história.
O fato é que naquele dia ela tinha perfeita conciência que se tratava de uma personagem minha. E me torcia a cara por não gostar de saber que era eu quem ditava os rumos daquela história. Não falava nada pra mim e evitava sentir pra que eu não escrevesse. Daniela tinha raiva de ser personagem e mais raiva de não estar no cinema. Pra ela, o que valia era a imagem e não o resto. A minha poesia não valia, era banal e sem fogo.
Mas a minha personagem queria mais que ser minha e seu espírito rebelde e indecente me dá vontade de escrever. Coloquei-a então, sentada num carrossel, vivendo uma história bonita de amor ao som de uma música de trilha sonora de comédia romântica. A vi sorrir e até esqueci que ela só existe por que eu quero. E resolvi que ela deveria saber que se chama Daniela por ser um nome forte e que incomoda.
Ela é morena de olhos mui pretos. E ela gosta de me irritar por esperar mais de mim. me bota num jogo doido pra ser mais que mais uma das mulheres que eu escrevi.
O problema é que as curvas de Daniela não se completam com meus joelhos e ela não tem as minhas cicatrizes. Daniela é um pedaço de uma ferida velha e uma personagem sem narrativa, por castigo meu a seu gênio indomável.

segunda-feira, julho 30, 2007

Eu acho que ganhei um prêmio

WUBA

Estava eu preguiçosa e bocejante no meu sábado cinzento de fim de férias e resolvi, como de praxe, visitar o orkut. Nada mais normal pra quem tem preguiça de se locomover. Eis que vejo uma fotozinha ruiva no meu scrapbook falando:
- olha o que vc ganhou!!!

http://worldub.blogspot.com/2007/07/wuba-winners.html

parabéns, psicaaaaaaa!!!!
tou super feliz por vc...
[e desculpa n ter avisado antes q ia te indicar, mas vc mereceu msm. muitooo! xD]

Tudo bem... Eu vi o link e pensei que podia ser vírus, mas como é que a praga do vírus ia saber que a minha prima me chama de psica? Aí eu vi lá o site em inglês e uma bandeirinha do Brasil do lado do meu nome. E minha não só tinha me indicado pra parada sem me avisar, como tinha agradecido o prêmio-que-eu-ainda-não-sei-
o-que-significa em meu nome. Aí depois ela disse que meu blog ganhou de melhor do Brasil e eu (com a imagem do Márcio Garcia na cabeça)fiquei pensando em quantos blogues participaram desse treco, quantas pessoas votaram e por que, diabos, quem votou em mim não comenta neste pobre blogue cor-de-rosa.
E aí meu ego inflou e eu fiquei feliz e agradecida.
E é o que eu tenho a dizer, obrigada por dizerem para esta criatura insana que o que ela escreve vale alguma coisa.
E obrigada, Bia. Muito obrigada.
No mais, o blog da Bia, a prima-coisa-ruiva, tá linkado ali do lado.
comam a poesia dela com gosto.
www.meninadeluz.blogspot.com

terça-feira, julho 17, 2007

Patrícia

Patrícia tinha postura reta e lábios artificialmente vermelhos. Tinha chegado antes de Carlos àquele encontro. É certo que devia haver algum medo nela, mas ela sentia-se fria dum jeito que só o calor do momento podia proporcionar. O vestido preto ficava bem com o cabelo preto e os sapatos de salto fino. As mãos tinham cheiro de maçã-verde e enquanto ele não vinha ela pensava que tipo de corante era aquele, já que maçãs verdes não tinham cheiro de maçã-verde nem gosto de bala de maçã-verde.
Carlos e Patrícia eram amigos de alguma data. Ele não era daqueles que tinha se aproximado dela exclusivamente pelo tamanho e o balanço de seus quadris. Mas o fato é que os dois eram mais próximos do que ela agüentava e menos do que ela queria.
Ele chegou. O café dela já estava frio e ele era enfadonhamente pontual. Ela chegara antes pela ansiedade que disfarçava enquanto ele perguntava se tinha demorado demais.
Era hora do show. Ele se sentou na frente dela, pediu um capuccino com pouco açúcar, penteou os cabelos louros com os dedos e respirou cansado, enquanto ela sorria e olhava para as próprias unhas.
- Sinto saudades do seu corpo. – Patrícia era direta e sentia não ter por que não prosseguir.
- É...
- Sinto saudades que chegam a me dar choques noturnos. Tenho sonhado. Sinto falta do seu corpo um tanto que tenho sonhado com o calor da sua pele. E você sabe que digo calor querendo dizer temperatura. Eu gosto da textura. Eu tenho vontade diária de falar todas aquelas besteiras que eu contive por pudor da última vez. Eu tenho vontade de botar a boca em todos os pedaços da sua pele. De te cobrir de saliva e de te morder feito uma cachorra filhote. Morder pra conhecer mesmo. Eu preciso dar pra você.
- Eu também sinto fal...
- Você gosta da minha pele que eu sei. E você está olhando para a minha boca e sentindo as mesmas vontades que eu. Mas eu sou a vilã dessa história e eu vou dizer não só por ser mulher.
- Eu não...
- Carlos, sossegue. O amor é isso, hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo. Roubei de Drummond e sempre quis falar isso a algum Carlos. O Carlos de hoje é você, que eu sou pérfida e volúvel. E você não faz mais que isso por que me conhece e sabe que sou pérfida e volúvel. Sabe que são vinte homens por vez e todos sem futuro algum. Sabe que eu tento ser mulher de um dia só e tenho marcas de todos os meus dias.
- Tem marcado muita gente, Patrícia?
- Não. As marcas que ficam são internas, as marcas que eu deixo são externas.
- Não é verdade.
- Sabes que sou inofensiva e mudo a pessoa do verbo quando quero. Sabe que não tenho concordância e que hoje vim aqui por que realmente quero que você me coma por tesão e sem amor.
- Você não se dá valor.
- Então diz que não está tentado.
- Eu não estou.
- Mentira. Você olha pra minha boca e quer comer esse vermelho feito morango. E digo morango por que você sabe como eu sou azeda. E você não agüenta minha acidez nem minha doçura. Mas meu corpo você quer. Quer as pernas e a boca. Só que não quer gozo de uma noite, ou não sabe que quer. O fato é que você me quer.
- Eu não quero.
- Tudo bem. Eu não acredito em você.
Patrícia manteve a mesma postura séria e casual durante todo o diálogo. Tudo que dizia tinha o mesmo tom. Ela se levantou e foi embora. Tinha a alma lavada e sem não.

domingo, julho 15, 2007

É preciso

ao meu melhor amigo


É preciso não tratar pessoas como objetos
É preciso respeitar espaços
É preciso que o sangue circule
É preciso bom gosto musical
É preciso travar a língua pra agüentar a vida social
É preciso tomar café
É preciso não perder a fé
É preciso agüentar o tranco
E não se apaixonar
E esquecer o que as coxas pedem e pra onde os olhos desviam
É preciso fingir não sentir o cheiro
É preciso agüentar o não.
É preciso dizer o não.
É preciso esquecer a razão
Por um momento de sentimentalismo besta
É preciso travar todos os palavrões e saber andar de salto
É preciso estudar e fazer as unhas
É preciso que sumam
É preciso sumir
É preciso virar pó
E agüentar o tranco de se apaixonar por tudo.

domingo, julho 08, 2007

Eu estava no meio de uma multidão. Era uma festa de igreja ou coisa do tipo. Mas eu me concentrava nos quadris de Maria. eu não sei o nome de Maria, mas Maria sou eu e eu dei meu nome a ela, que dançava linda e livre com sua saia verde longa e sua lusa preta curta, feito mulher mesmo. maria dançava com sua trança grossa que só deixava uma mecha solta. Ela ondulava quando se mexia. se mexia em meu nome, que eu já não podia. A Maria que narra o que não sabe ser ou não uma história tem dentro dela uma coisa forte e ardente, densa e pesada. Eu amo. Eu amo e disse à Carlos que o amo.
Acontece que amor é um estado de espírito, um deboche de uma força maior para dcom um pobre mortal. O amor é bonito e grande e nada simples, mas ao mesmo tempo preto e branco e doce. Faltam-me letras suficientes pra descrever qualquer coisa.
Sei que Maria como sou, não quero me assumir Salomé, que também sou. Aquele livro me doeu nas entranhas por que era eu. E eu tive nojo de mim ao lê-lo. Eu tive nojo do livro e de mim e do meu amor tão zonzo e doente que anda comigo e de quem eu tenho raiva por que não quero sentir. E aí Carlos me diz que eu não valorizo meus próprios sentimentos. Ele devia admitir que sentimentos não tem lugar na vida. Mas ele só assume que eu sou vazia e fatalista como realmente sou. Está cedo e eu não sou uma boa companhia. Queria rasgar o ar como Maria dançando. Queria saber se o nome dela é Maria como o meu. Eu queria comer a carne daquela Maria. Talvez Maria resolvesse o Carlos que é calo entalado na minha garganta. E a minha garganta dói.
Eu avisei que era melhor observada que tocada. Eu não deixei isso claro na primeira vez que bebemos juntos, bem antes de eu pensar em ter Carlos como mais que um amigo? Pois era verdade. Eu não sirvo para ser tocada nunca, por que meu corpo perde o rumo e o prumo. Meu corpo é volúvel e se vicia fácil em coisas demais. Ele gosta de temperaturas de mãos e de texturas de pêlos. Meu corpo é tão cheio quanto eu sou vazia. Ele treme, eu travo.
Talvez eu devesse ter escancarado meu eu-te-amo tímido e xôxo há mais tempo. Todavia, esse não era o meu tempo. E eu tenho que respeitar meu tempo e o tempo de Carlos como respeito a mecha solta do cabelo de Maria que dança de trança. Eu disse que iria pra casa e dormiria. E fui. Mas eu não podia ficar parada, nem manter os pés no chão.
E depois dos meus turbilhões de sentimentos e da uma lágrima que caiu de meu rosto quando eu me dei conta que aquilo que queimava e que eu não podia era realmente o que eu temia. Me vi Maria.
E parecia que eu já não precisava dizer nada, mas precisava dizer tudo. todas as coisas tinham sido ditas, mas tinham sido trocadas por um tudo novo.
Sentei-me e ele veio falar comigo, alguém que não era Carlos, mas era carinho, quase ternura.
Serei Maria pra ele. Serei ternura pra ele. Agora, preciso ser doce.

sábado, junho 30, 2007

Manutenção de medos e virtudes

Eu talvez seja uma manutenção constante dos meus próprios ciúmes.
É fato que eu mesma às vezes acho que o que eu digo e o que eu faço são estranhos e imutáveis, talvez mutáveis demais. Talvez seja imediatice mediata. Não sei ao certo o que é e o que não é.
Mas ele incomoda como ela e como as saudades todas. Talvez haja fuga e o ridículo seja apenas carta de amor.
E toda essa coisa é ridícula justamente por não ser nada ridícula, então eu rio.
É por mim que eu boicoto a face.
É por mim que eu tento esquecer os ciúmes e os medos.
No entanto, eu sou ciúme e medo constantes como se não pudesse não ser isso.
Era uma vez uma menininha de tranças e nariz vermelho. Ela chorava e queria dançar balé.
Fez-se constante e eterna a minha falta de postura.
Era uma vez alguém que gostava de rir.
Eu gosto de rir.
Os joelhos ralados dizem mais do que eu gostaria.
A manutenção constante dos ciúmes não enxerga nada bem.
Era uma vez um nó cego no meio das tranças.
era uma trança. uma transa.
Era um medo.
Era fatal.

E eu era chama.

domingo, junho 24, 2007

Noite

Parece que dizes
te amo, Aline.
Sem fotografias ou caras felizes.
me vejo apertada
um peso grande que eu nunca quis.
é desconcertante e eu não sei sair.
Quero folhetim, ou digo que quero.
Cansei da mocinha, mas a vilã dói.
Parece que pensas e corro, assopro.
Parece que grito, mas você não sai.
Não quero ouvir nada, sou fraca, sou chata.
Não tenho resposta, aguente, que eu não.
eu não quero isso, não sonho e nem tiro os pés do chão.
A noite passada não vai passar mais não.
Um número estranho, os fatos, as fotos.
Um luxo que é lixo.
Refocilhar na merda enche o saco.
Ele ensinou truques, você nem sabe do que eu sou capaz.
Se não me conhece, não pode querer mais.
Parece que tentas, e tento não tentar te fazer mal.
Parece que corro,
a vilã não se dá bem no final.

quarta-feira, junho 06, 2007

Fossa

Nem luxo, nem lixo
Filmes divertidos e conjuntos de clichês
pés na areia e se
um espaço
sem nome.