Ele passou a mão na barba branca e disse que a paixão acaba quando o mistério acaba. Gelei. Não podia assumir que ele estava certo por gostar de manter paixões por muito tempo. Mas a verdade é que a inconstância e os segredos e os medos acabam. É a espera e o não-saber que mantém a paixão, feito fogo de dúvida. Lembro ainda dele sorrindo e dizendo que grandes amores não. Logo pensei em ternura. No fim das contas eu concordava com toda a coisa do mistério e queria logo começar minha próxima paixão sem nunca dizer o nome verdadeiro.
Seria eu cada dia uma personagem nova com todos os cabelos que a tesoura permitisse e perucas. Iria à praia e aprenderia novas danças para impressionar de jeitos diferentes as novas e velhas pessoas. E a paixão me faria de besta, não iria quando eu chamasse e depois chegaria na hora não-marcada que eu quereria. Daria telefonemas e me diria como queria cada coisa (que eu obviamente não faria, pra manter a paixão).
E a barba dele me lembrava que eu nem devia pensar em nada daquilo. Devia manter a ternura e não ter dúvidas. Devia gostar de ternura como eu bem gostava e gostar de carinho como eu ainda gosto. Eu devia manter no peito a coisa quente que sempre vem. E me mantive quieta e muda.
Tive que repensar todos os dias uma inconstância cansativa para manter tudo constante e forte.




Este selo verde, com essa cara psicopata, tem cara de Flora. E é pra ela mesmo que ele vai. 









