quinta-feira, julho 24, 2008
Lia
Tinha que saber onde ele estava e o que fazia a cada instante. Fuçava as fotos e os fatos antigos pra ver um buraco. Procurava se encher pra não dar falta.
E a saudade doía.
Ardia feito cachaça que ela tinha que tomar.
Se embriagava.
sábado, julho 19, 2008
Encontro I
Mariana nem sabia que ele existia. Ela – Lolita sem idade e dotada de vários atributos e histórias todas rodrigueanas- encontrou com ele por esses dias. Mariana funciona quando quer, sem tempo e sem me avisar que vai aparecer. Giordano trava.
Os dois juntos – óbvio – não dariam certo. Ela tinha toda a impetuosidade de quem não sabe dizer não e ele tinha medo.
Mariana queria ler o livro que ele tinha deixado pela metade por medo de resolver os próprios problemas. E Mariana se interessou por ele mesmo sem coerência e coesão nenhuma. Ela queria descobrir o que ele guardava atrás da barba mal feita e dos cabelos mal-aparados. Pensou até que ele pudesse ser, noutro corpo, o óbvio. Mas não, Giordano era diferente e cansado. Não tinha os medos do óbvio, mas coisas novas com as quais Mariana não sabia lidar e nem queria. No fim das contas, ela o achava babaca por saber que ele não resolvia nada do que devia.
E Giordano não sabia lidar com Mariana, era confusa demais, idiota demais, sonhadora demais e romântica demais mesmo fingindo não ser.
Os dois tomariam apenas um café e seguiriam seus caminhos, sem os medos dela e os dele, que juntos fariam os dois entrarem em colapso. Com ela ele não conseguiria usar os elogios falsos de sempre pra conseguir o que quisesse. Ela sabia o que era e só faria o que desse na telha. No fim das contas, Mariana gosta mesmo é de pular de galho em galho.
sexta-feira, julho 18, 2008
Vermelho
Eu não quero saber de você, nem do seu cheiro nem dos seus versos.
No fim das contas, tudo que antes era Vinícius agora é Neruda.
E eu continuo um chameur volante pela pista à toda que enfia a carapuça e canta
Do soneto de fidelidade ao soneto de separação.
Foi o lobo quem disse que ele tinha nome de poeta e que isso já era metade do caminho. E o lobo não é mau e nunca me mandou seguir o caminho errado. O lobo me manda ler livros bons que muitas vezes eu não leio e disse-se sem qualidades. "Chapeuzinho, o livro parece comigo, você tem que ler". O lobo sempre foi um cara bacana.
Semana passada, o lobo mandou a Vovó avisar que me queria num churrasco fechadíssimo que só os outros bichos iam (inclusive uns porquinhos cuja casa meu amigo freqüenta e me disse que são muito bem feitas).
Nem soube de mais nada no fim. Encontrei com a Cinderela no caminho e ela me ajudou a vender os doces que mamãe pediu. Estamos precisando de dinheiro e eu não posso ficar parada. Mamãe cozinha e eu sigo os caminos de floresta e estrada.
Vovó não compra os doces, mas mamãe não sabe. Mamãe acha que Vovó é cliente assídua. Sim, eu sempre levo os doces pra Vovó.
É uma pena que tenha tempo que eu não vejo o lobo. Espero que ele entenda que esse tempo vendendo doces vai servir pra muito. Quero ter loja, atender encomendas mil e cozinhar muito.
Na verdade, quero mandar em todo mundo e encontrar muitos poetas sentados com charutos acesos e quindins nas mesas. Eu gosto de olhar as casacas e os bigodes espessos sujos de café.
Já avisei pra mamãe que não vou servir quindim pra sempre.
O lobo me disse "Chapeuzinho, você vai longe."
E eu gosto de acreditar nele, mesmo sabendo que o longe pode ser bem perto daqui.
E lembrar do lobo faz esquecer todos os cassadores do mundo. Eu mesma não queria admitir, mas são todos poetas. Não quero mais encontrar eu-lírico de ninguém, se não eu suspiro no contrafluxo e me torno a mulher mais discreta do mundo.
Espera
Devia ter nascido com cabelos lisos para não precisar de chapinhas, formol nem nada. Devia não se preocupar com o cabelo ou com as ancas fartas. Queria pensar em coisas além do corpo que ela mesma não via - nem veria.
E ele continuava sentado no sofá esperando que ela estivesse pronta - e bonita com qualquer cara. Mas ela não estaria pronta sem fazer a sobrancelha, enfiar formol na cabeça e voltar a cantar.
segunda-feira, julho 14, 2008
Anna
Anna foi por que não podia ficar e nem sabia como é que as coisas continuariam naquele lugar de banheiros sujos e brigas constantes. A colega de quarto nem tinha acordado. Se bem que, pra ela, pouco importava o que quer que acontecesse com a outra.
O sono já não era companhia constante e talvez não voltasse a ser enquanto a conciência pesasse mais que a mala. Toda a melancolia ela anotava com letras trêmulas no caderno que não saia de perto dela.
Desceu na rua errada e não sabia mais como seguir, nem pra onde. Ia puxar o caderno pra anotar alguma coisa, mas sentiu um cano frio na altura da cintura.
- Passa a bolsa.
- Por favor, não, moço.
- Eu não tô brincando.
A mala ficou, o caderno foi. No fim das contas, Anna só sentou e chorou.
sexta-feira, julho 11, 2008
O peito
Ele passou a mão na barba branca e disse que a paixão acaba quando o mistério acaba. Gelei. Não podia assumir que ele estava certo por gostar de manter paixões por muito tempo. Mas a verdade é que a inconstância e os segredos e os medos acabam. É a espera e o não-saber que mantém a paixão, feito fogo de dúvida. Lembro ainda dele sorrindo e dizendo que grandes amores não. Logo pensei em ternura. No fim das contas eu concordava com toda a coisa do mistério e queria logo começar minha próxima paixão sem nunca dizer o nome verdadeiro.
Seria eu cada dia uma personagem nova com todos os cabelos que a tesoura permitisse e perucas. Iria à praia e aprenderia novas danças para impressionar de jeitos diferentes as novas e velhas pessoas. E a paixão me faria de besta, não iria quando eu chamasse e depois chegaria na hora não-marcada que eu quereria. Daria telefonemas e me diria como queria cada coisa (que eu obviamente não faria, pra manter a paixão).
E a barba dele me lembrava que eu nem devia pensar em nada daquilo. Devia manter a ternura e não ter dúvidas. Devia gostar de ternura como eu bem gostava e gostar de carinho como eu ainda gosto. Eu devia manter no peito a coisa quente que sempre vem. E me mantive quieta e muda.
Tive que repensar todos os dias uma inconstância cansativa para manter tudo constante e forte.
domingo, julho 06, 2008
Velha
Tinha dito que queria estar longe, ser forte e não ter mais nenhum medo. Mas estava assustada com tudo que poderia ser e inclusive com o que tinha acabado de perceber que já era.
Olhando à volta via pouco além de leite na lata e crianças sujas. Olhando pra dentro via pouco além de mágoas e vontade de não se ser.
Teria que assumir que o problema não era da árvore nem das crianças. O leite deveria ter sido tirado há pouco tempo da vaca e, se ela tivesse forças, derramaria-o e se esqueceria de tudo que não queria se lembrar enquanto ele se misturasse ao chão.
Levantou, devia pegar as goiabas antes que elas caíssem do pé.
segunda-feira, junho 30, 2008
Psi
Entreguei um envelope vazio e fui.
Não sei se a casa está cheia ou vazia, mas os mitos eu guardo na bolsa, na aba do chapéu e na memória.
A verdade é que tenho muita vergonha dos meus atos-falhos.
quinta-feira, junho 26, 2008
Crônica de domingo
Não quis esperar na fila e deixei no balcão dinheiro à mais pelo iogurte que deveria ser meu café da manhã. Acontece que o mau-humor, quando não-ressaca, é muito mal visto aos domingos e eu não sei bem lidar com essas regras. Todos os sorrisos e as lerdezas me incomodam.
Aos domingos, a pressa só está certa quando diz respeito ao último horário do cinema.
domingo, junho 08, 2008
cortina
Com todas as onomatopéias que eu invento e falo
é lá que u me acho e me perco sem nenhum pudor
é lá que eu me sou sendo outras e todas iguais
é a minha gargalhada que ecoa e é pra mim que olham
com qualquer cara
voltei até à fase dos poemas sem nenhuma rima
poemas por puro gozo
por puro palco
poemas pra palco e de salto
pra testar a lingua e passar a lingua nas coisas que vejo
passando as coisas que vejo pra lingua
no palco eu sou tão genial, meu nêgo
toda mulher gosta de rosas
toda mulher gosta de aplausos
sexta-feira, maio 23, 2008
Chico
Ô Bárbara, se deus dará eu não vou duvidar
Nunca é tarde, menina, nunca é demais
Deus dará
E se deus negar
Sou Ana do dique e das docas
De vinte minutos
Sou Ana da brasa dos brutos na coxa.
Vou me indignar e chega!
Deus dará!
Chico e Caetano - Partido alto
Chico Buarque - Bárbara
domingo, maio 18, 2008
quatro
Acontece que o ímpeto vem antes de tudo, até de ter histórias pra contar.
A verdade é que não tenho nada senão ímpeto.
A verdade é que gosto de não falar nada fingindo que falo tudo.
E o título não tem nada a ver.
sexta-feira, maio 16, 2008
terça-feira, maio 13, 2008
Roda
Há dias em que a gente simplesmente não quer.
A gente estancou de repente?
Tem dias que o corpo todo é fumaça e nada de versos.
Há dias em que ninguém versa, nem conversa, nem nada.
Há dias água.
Há dias chão.
sábado, maio 10, 2008
Espetáculo
A gente fica pulando naqueles balanços que ficam no alto.
Como era mesmo o nome?
Vamos botar narizes de palhaço e brincar até mais que meia noite por que não precisamos dormir!
Vamos pular e dançar e eu vou me amarrar naqueles cordas que me fazem balançar e enrolar o pé.
Aí eu vou ser bonita, mais do que já sou.
Por que bailarinas são sempre mais bonitas. Nas cordas, então, ficam estonteantes.
Vamos mergulhar na porpurina e perder o medo.
A gente sabe fazer tudo, beibe!
Show most go on.
quarta-feira, maio 07, 2008
Gota D'água
Não quero sua saliva e não quero seu abraço.
Quero antes o lirismo dos loucos e dos bêbados
o meu lirismo rasgado, como era quando original.
Eu quero meus sais e suor em versos perdidos por paredes, flores e gotas.
Legal pensar que quero todas as gotas d'água.
quero inclusive Joana pra cozinhar temperos de vento e raiva com sangue e botar no bolo de chocolate das crianças.*
Quero tudo ter estrela, flor e estilo.
É que eu sou muito sentimental.
rock'in roll e bossa.
Sou bossal: Samba dançado na fossa.
Eu nem sei rimar, quero empobrecer os fins de versos com sempre substantivos.
Quero aquilo.
É que eu sou muito sentimental.
Quero à quilo.
É que sou mesmo bem racional.
* referência à peça Gota D'água, de Chico Buarque, uma releitura do clássico Grego Medéia.
terça-feira, maio 06, 2008
Um selo que é um abraço.

O sexto é o Gota D'água.Vejam, eu
também leio o Gota d'Água. Não com a frequência com que leio os outros cinco,
mas este, coisa que já é extremamente conhecida, também é altamente
recomendável. Aline escreve naturalmente: é um fato decorrente de ela mesma,
como as gotas de sereno se juntam numa folha até pingarem, de manhã. E toda
escrita fluente como essa é coisa que não se deve perder, mesmo que, o que não é
o caso, não se goste do que está escrito. Só a fluidez já é suficiente para
deixar os neurônios descansados. Ela não faz a mínima idéia da existência deste
meu blogue, e peço a Darshany que lhe avise do selo, por favor. Não que vá fazer
muita diferença, uma vez que o Gota d'Água já deve ter uns cinco
deste.
Harry, no seu blog modernista
Pois é, eu não sabia mesmo que o blog dele existia, infelizmente. E eu realmente já tinha esse selo e é engraçado, que no mesmo dia a Bia me deu esse selo de cima. E bem, eu não esperava um outro selo, dois outros selos, assim.Eu achei tão bonito isso, moderno e universal e não-totalizante. Achei tão com gosto de abraço.
Eu precisava dizer obrigada. à Bia e ao Harry.
Obrigada.
sábado, maio 03, 2008
De amor e fumaça
Ele nem sabia das vontades todas delas. Achava que ela achava apenas que ele fedia. Passava mais perfume do que agüentava pra que ela sentisse menos cheiro de fumaça e mais cheiro de paixão. Ela reclamava do cheiro de cigarro, mas não confessava que gostava do cheiro de fumaça que ele tinha, especialmente quando misturava suor, perfume e shampoo anti-caspa.
E nessas de cigarro, perfume e nenhuma resposta, os dois dançavam uma bonita história de amor que não era constante, mas entregue e nada saudável. Se gostavam nos detalhes, mas sem respostas. Se gostavam no corpo e na volúpia constante de tentarem se agradar mais do que eles mesmos podiam. A verdade é que eles eram tão bonitos quanto a fumaça que saia da boca dele, vista por ela.
quinta-feira, maio 01, 2008
Lactopurga

- E quando sai o texto?
- Assim que o bloqueio passar.
- E quando é isso?
- Não faço a menor idéia?
- E está assim, calma?
- Escrita não se força, meu bem, é que nem cocô. Se você toma lactopurga dói a barriga e fica mais fedorento que o normal. Cocô bom é o que sai natural, tipo escrita.
- Certo. Você escreve como caga?
- Sim. É fisiológico e tem que sair, se não eu passo mal.
- Interessante.
- Vou desligar, preciso ir.
- E quando me entrega o texto?
- Quando eu não precisar de lactopurga pra escrevê-lo.
terça-feira, abril 29, 2008
O meu amante

Por mais que os ombros doam, os olhos fechem e eu não queira fazer mais nada, só durmo se for pra acordar amanhã e fazer as mesmas coisas, ou mais.
Talvez o cansaço seja um temperamental. Amante desses de uma noite ou outra, que chega sem querer compromisso, me toma e me deixa em paz quando acordo.
Imagino agora o cansaço de chapéu preto e sorriso malandro me massageando os ombros e querendo me beijar a boca. Ele vem como um apaixonado que não quer largar meu braço. Ele vem como paixão e não me deixa ver mais nada. Ele vem e vai, constante e inconstante ao mesmo tempo.
O cansaço é engraçado. Estou apaixonada por ele, mas ele não pode saber. É um cafageste.
domingo, abril 27, 2008
Todos os selos do mundo ao mesmo tempo


Aí, depois da Camila, a Darshany lindona me indicou um selo, que é esse aí:
Este selo verde, com essa cara psicopata, tem cara de Flora. E é pra ela mesmo que ele vai. Um blog se desmanchando.Por último, a Fiorella me indicou de novo o mesmo selo que a Camila tinha me indicado, do blog muito bom sim senhora. Só que a Fiore é mais exigente que a Camila e quer que eu indique 7 blogs.
Aí vão:
Ipsis Litteris
De amor e de letras
Thiara Pagani
Saco de Filó
Cacos Blog
Caio Lamas
Penny Lane
Enfim, todos os blogs linkados nesse post valem totalmente à pena.
beijos e queijos!
sábado, abril 26, 2008
For all

Não são apenas cheiros e pernas. Existe toda a melodia e o ritmo dos corpos inteiros entregues. Acompanha-se a letra da música com os lábios que não cantam e os corpos que tentam requebrar e se agarrar pra não cair. É preciso que se dance junto, rodando, dando passos pra frente e pra trás. É preciso mais que dois pra cá e dois pra lá.
Não são apenas cheiros e pernas por que a beleza vai além disso e a dança, quando de dois, pode ser sim pura e dança. Pode ser apenas espetáculo, com paixão de dança e não de corpo.
Mas é preciso que se sinta todo ritmo e que se dance toda música. É preciso não ter vergonha e mexer bem os quadris. Há que se entregar à melodia e aos sorrisos que ela traz por si só.
Trio virguline e Trio forrozão - Até mais vê
sexta-feira, abril 25, 2008
Isabella é minha vizinha
A verdade é que todo o dia aparece uma coisa nova, como se a minha vizinha me dissesse da janela o que acontece na casa dela. Eu não quero que o pai e a madrasta da Isabella a tenham matado por que ambos são também meus vizinhos, como ela. Tive mais contato com ela, é verdade. Criança doce que era, vinha volta e meia aqui em casa brincar com meu irmão e comer pipoca. Só me dei conta disso agora. Não me lembrava de tê-la conhecido antes da morte.
Não me lembrava de ter conhecido seus pais, tios, avós e conhecidos. Nunca vi Isabella de uniforme de colégio, mas é como se a tivesse visto e ela fizesse parte da minha vida todos os dias. Por que todos os dias o jornal me mostra uma coisa e eu quero saber de outra. Parece mesmo telefone. Eu fico sabendo mesmo sem querer saber, como se me contassem na cozinha enquanto tomo o café.
A morte da Isabella é como a morte da vizinha. E quem é ela? E por que ela?
Ela era doce e brincalhona como muitas crianças. Ela acabou virando um mártir. Eu não queria que ela morresse, na verdade. Queria mesmo que ela brincasse. E há dois meses atrás nem me importariam os culpados por que eu simplesmente não saberia.
Isabella morou do meu lado a vida inteira, mas só agora eu percebi. Mas não é só a Isabella que morre, nem só o João Hélio. Chorei pelos dois e gosto muito dos dois. Lindos. O João Hélio até fazia Kumon e poderia ter sido meu aluno lá.
Ainda assim, por que Isabella especificamente? Por que a morte dela tem que ser transformada em folhetim?
Alguém disse que a mídia explora isso por conta da cultura de achar que família é sinônimo de segurança e quando a família não trás segurança é notícia.
Mas eu, sem nenhuma base científica a não ser meu achismo, digo que não tenho nada a ver com Isabella. Nunca a vi. Eu não quero saber e nem tenho por que. Nunca nem gostei de páginas policiais.
Só que é tanta gente e tanta mídia e tv e tanta coisa que nem tem como não querer. Me contam da Isabella enquanto eu tomo café. Ela sempre esteve na porta do lado.
terça-feira, abril 22, 2008
Jornada
Os ossos inteirinhos e a mente funcionando à mil.
A pilha não tarda a acabar.
Come dois quilos de macarrão com molhos diversos, esfihas e coca-cola.
A pilha não deixa de enfraquecer.
Come as unhas.
Não mata a fome, mas desestressa.

domingo, abril 20, 2008
Três meses
terça-feira, abril 15, 2008
Choque [trecho]
Falta alguma coisa.
Ele
A menor distância entre dois pontos é uma reta.
Ela
Botão de flor.
Ele
Falta achar o ponto.
Ela
Talvez traçar a reta.
Ele
Falta o traço.
Ela
Já sabe da reta, dos pontos, sabe que falta. Falta o que?
Ele
Eu achar meu ponto.
Ela
E quem traça a reta?
Ele
É instantâneo. A reta é lógica. Tomo um ponto. Toma outro. Ficamos um de frente para o outro e caminhamos até nos chocarmos.
Ela
E tem mesmo que chocar?
terça-feira, abril 08, 2008
Aplauso

Obrigada por reconhecer como eu sou foda e aumentar um pouco mais meu ego.
É por isso que um ator se inclina.
Obrigada por que o meu show é foda.
Obrigada por perder seu tempo comigo e obrigada por estar de pé. Entenda, te dar prazer a ponto de você aplaudir me dá prazer.
Eu tenho tesão de aplauso. Meu olho brilha mais que o seu e meu coração dispara, os seios ficam rijos e eu entro em colapso positivo e de espasmo. Ai. Aplauso é gozo e eu gosto.
Lembrei hoje qual era a minha com o teatro.
O lance é palco e não texto.
O lance é sempre o aplauso. Ai! Adoro arte que não é solidão. Adoro por que solidão dói e aplauso não. Adoro a responsabilidade de ter que dar um show e ter que ser aplaudida.
Eu gozo e a adrenalina vai à toda.
Eu fico à toda e fico toda e tremo. Eu gosto.
sábado, abril 05, 2008
Casulo
Estou com pressa e completamente sem direção. Incompleta. Estou com fome e sem fome e com ânsias de vômitos e diarréias que não saem nem sairão por que eu me travo e engulo tudo.
Estou queimando e não é de paixão, mesmo sendo tudo paixão. Estou fedendo paixão e com sono e com fome e com raiva.
Questionaremos então a vida, o universo e tudo o mais. Questiono a roupa que eu visto e o cheiro que eu exalo. Questiono pra tudo e pra nada. Os ombros dóem.
Parece que veio uma furadeira furar minha coluna e me deixar mole.
Estou fedendo e sou uma lagarta.
quinta-feira, abril 03, 2008
Vício

Baralho é das poucas coisas que me descansam de verdade. Me relaxa. Baralho e escrita me relaxam. Se você me disser que são vicios manuais, digo que na verdade não.
Qualquer um dos dois é vício de corpo inteiro, oratória e olhar.
Por que a graça das cartas é o blêfe e a bricadeira. O mistério de mãos e a lógica envolvida.
terça-feira, abril 01, 2008
Maybe

Ela disse talvez pra fazer poesia. Tinha um medo grande de cair no chão. Muito mais fácil dançar com vários que se ater a um. Muito mais fácil não se entregasr que fazê-lo.
Então ela sempre dizia maybe. Sempre passava perfume forte e doce e saia bonita pra dançar com vários maybes.
Então surgiu um maybe que virou the one, mas continuaria maybe pra ela ser segura. E ela dizia talvez pra fazer poesia, pra não perder a dança.
Vários poemas pra nada ter estrutura de começo, clímax e fim.
quinta-feira, março 27, 2008
Vinho Barato

Há tempos que já não tinha desses problemas, eu deitava e dormia onde estivesse.
Talvez eu não esteja cuidando bem nem do meu fígado nem de mim. Mas o fato é que ele disse que eu sou boa demais pra isso e o gosto do cigarro foi embora no ralo da pia depois que eu escovei os dentes.
Talvez o cigarro seja tão necessário quanto o Ed Motta no meu som. Não quero nenhum dos dois e enjoei de Ed Motta. Não to ligando para a Colombina ou o Arlequim.
Eu sou boa demais, ele disse.
Mas eu queimei o braço no ferro de passar e eu estou tão cansada de queimar o braço no ferro de passar. Tão cansada de me queimar tentando ajeitar as coisas pra fazer tudo dar certo.
Eu estou tão cansada de tentar fazer tudo dar certo.
Eu estou tão cansada que nem o vinho e o cigarro deram conta.
Os dois queimaram e não deram conta do meu braço com duas queimaduras leves e pequenas que vão virar marcas pra durar anos e anos a fio.
As queimaduras sempre são leves e pequenas e eu sempre curo com batatas que eu não sei onde foram plantadas ou que tipo de agrotóxico levaram. O importante é que as queimaduras deixam marcas, mas eu sempre agüento.
Mas hoje não.
Hoje eu não agüentei o braço queimado e não me agüentei disposta a me queimar mais. Ele disse que eu sou boa demais pra isso e tem razão.
Eu não preciso me queimar e não preciso não dormir.
São cinco da manhã e minha cabeça dói de vinho e falta de sono.
Não é meu porre de cinco reais que me dá dor de cabeça.
Foi um real o milho, dois reais o cachorro quente, dois reais a coca cola e cinco reais o vinho.
Parece que dizes, te amo, Aline
Na fotografia estamos felizes
Parece bolero te quero te quero
Tenho que ler Eva Luna e aprender a cantar Chico direito. E tenho que editar matérias e tomar sol. Tenho que dormir e tenho que mar e tenho que esfriar a cabeça. Tenho que fugir e tenho que mar e tenho que mar que mar que mar mar.
Tenho que desqueimar.
Tenho que desvinhar e despertar e correr.
Tenho que encarar de frente por que é esse o final que eu buscava para a história.
Ele perguntou enquanto segurava forte o meu braço:
- e o final?
Eu não sabia responder no pânico daquele dia. Mas o final sou eu aqui escrevendo mais um texto de vinho barato e insônia. O final sou eu sozinha mais uma vez e mais uma vez sem chão.
E no fim eu não devo ser tão boa assim.
Ou sim.
Foi cinco reais o vinho que não valeu.
Foi vinte reais o livro e foram muitos reais de nada.
Amanhã vão ser cinco reais de chocolate se o mar não der conta.
Ai eu preciso tanto de mar quanto de texto. Por que o mar sabe me ler e me lamber como ninguém. O mar é tão mar que eu mar no mar. Eu quero me misturar feito leite em pó instantâneo. Vou ver se durmo agora, às 5 e acordo às 8 pra nadar num sol de sete na praia que cheira cocô do show de ontem.
Mas é que eu preciso tanto de mar.
Mar pra me entender e desmistificar. Pra me ser talvez inteira como não tenho sido e provar pra mim que eu não preciso de colo e nem de ninguém e que passou o tempo de ser mimada como eu sou. Passou o tempo do sim.
E passou o tempo dos morangos que estamos em fins de outubro.
É hora de dormir.
segunda-feira, março 24, 2008
Devaneio
Deve ser divertido em algum lugar do planeta.
Eu, no entanto, não me chateio, queria mesmo era estar no cinema.
quinta-feira, março 20, 2008
segunda-feira, março 17, 2008
Feminices
Uma não gostava da outra. Tinham um caso em comum e se suportavam por política e feminismo. Não podiam admitir que homem fosse motivo de discórdia. Ainda mais um homem baixo feito ele, menor que as duas. Elas não sabiam de onde vinha o imã que ele tinha e se viam no espelho quando se encontravam. Ainda assim, não gostavam de se ver e de saber que ele estava com a outra.
E isso durou até elas sentarem uma do lado da outra e começarem a falar quanto prazer tinham sob a pele quente dele. Como ele gemia e como mordia e como gostava. Discutiram tempos sem chegar a qualquer conclusão e o viram passando com uma terceira.
A terceira não tinha nada do físico das duas, nem nada da personalidade. Parecia oca e sem egocentrismo, chata e mole. Parecia flácida e mulher não perdoa flacidez alheia.
A terceira parecia traição e as duas inflaram as narinas pra brincar de raiva. Não sabiam quão grandes eram e nem queriam tomar forma. Uma não gostava da outra, mas engolia por que as duas eram bonitas e instigantes, mesmo uma para a outra. Todos os defeitos que uma via na outra eram inventados e as duas tinham se acostumado a partilhar. Eram iguais.
A terceira não podia, explodia e era mole. Mulher mole nenhuma das duas agüentaria. Politicamente, então, as duas se juntaram e fizeram uma festa em que ele não sabia que ia encontrar nenhuma, mas não poderia perder.
Começo foi simples, ele dançou e bebeu. O fim foi complicado. Ele tinha que se ajoelhar ante o deus de marfim pra vomitar, mas já tinha ingerido mais laxante do que qualquer pessoa normal agüentaria.
domingo, março 16, 2008
Carta ao Blogger
Senhor Blogger, querido, o wordpress tem me feito propostas indecentes e tentadoríssimas. Se eu soubesse como passar esse lindo layout rosa-pink-berrante-céquici para o wordpress, mudava logo. No entanto, o seu provedorzinho tem sido minha casa há mais de ano e eu até aprendi a botar contador em janeiro. Ó que bonitinho ali do lado!
Senhor Blogger, eu fico. Eu fico e eu sei que você não vai fazer nada pra que eu continue e nem faz questão da minha presença! EU SEI DE TODA A FARSA! Eu divulgo seu nome naquela comunidade do orkut. E divulgo em cada comentário. Divulgo no meu MSN! E me diga: PRA QUE? À troco de que?
Senhor Blogger, nenhum raio de imagem eu consigo postar. Só vídeo. Nenhum link eu consigo botar, só vídeo. Não vai ler esse meu apelo, que eu sei. Mas saiba que há mais blogueiros insatisfeitos e nós podemos nos unir, te jogar no expresso do oriente e depois iremos direto para o Wordpress. Muahahahahaha!!
terça-feira, março 11, 2008
Vem!
Depois a gente pode caminhar na praia e dizer coisas idiotas um para o outro. Teríamos um mundo nosso e faríamos séries e séries de besteiras lindas.
Deixa de besteira que a lua está bonita e o céu parece ter sido bordado pra nos emoldurar.
sábado, março 08, 2008
Sobre escrita
Gosto das coisas quando dançam de leve ou pesado.
Gpsto das palavras quando dançam saindo da boca ou da mão.
Gosto de tudo que voa. Palavras que voam.
Gosto de palavras moles e fáceis, ritmos moles e fáceis.
Palavras e ritmos que façam dançar automaticamente, gramaticalmente, infinitamente.
Quero todas as palavras do mundo batidas no liquidificador e formando solos de guitarra.
Gosto quando as palavras me lambem as orelhas e me molham
E quando escorrem
segunda-feira, março 03, 2008
French kiss
Naquela tarde, no entanto, alguma coisa fez a casa dela tomar cores diferentes. O cheiro dele invadia o lugar e todos os seus poros. O cheiro dele a dominava por completo e ela não sabia por que. Então ela tentou ser profissional e botou as mãos dele nos seus seios. Não era o que ele queria.
Ele se aproximava ameaçadoramente da boca dela e ela desviava. Pensava que pra isso devia haver mais. O contato entre bocas é mais íntimo que todos os outros. Se ele encostasse nas suas nádegas ela não se ofenderia nem fugiria.
Ela sabia que havia algo estranho na quantidade exagerada de perfume e sabia que tinha vontade de experimentar um beijo na boca simples e casto. Não era simples. Não era casto. Era vulgar e vil e pesado e ela não queria de forma alguma ter que encarar nenhuma boca que não fosse amor. Não podia ser nem paixão. Tinha que ser bonito e mágico e vir acompanhado de flores, danças e estrelas pintadas no céu pra tornar mais bonita a cena.
Ele continuava insistindo e ela o expulsou. Mais um cliente sem beijo depois.
E ele voltou com mais perfume e mais dinheiro e até perguntou-lhe o nome de verdade. Conversaram tardes inteiras com ele pagando o sexo que não queria e o vinho que gostava.
Talvez ela o amasse, talvez não. Mas no dia em que resolveu beijá-lo não cobrou a hora e cancelou todos os outros clientes. Beijou-o um dia inteiro sem nenhum vinho e quase sem mãos.
sábado, março 01, 2008
Perséfone
Gingado mole, olheiras e egoísmo superior a egoísmos leoninos. Ela se via rodar, então. Se via sem lugar e sem drogas que a satisfizessem. O que ela era e o que tinha era o gingado e as olheiras. O que ela tinha era o mistério que as olheiras davam, a curiosidade que o gingado provocava.
Não. Ela não tinha lugar. Continuaria pra sempre a rodar. Peso enorme no peito. Maior do que se espera no peito de qualquer mulher sem filhos.
terça-feira, fevereiro 26, 2008
Conto de fadas
- Casa comigo?
- Tá com algum problema?
- Não, na verdade eu tenho pensado nisso há muito. Casa comigo e a gente passa a ter dois violões e uma casa e muitas pipocas.
- Não me parece certo.
- Sim, na verdade eu já quero há muito tempo, mas eu sou menina e não devia pedir por que é o homem que tem que ficar de joelhos. Mamãe que ensinou. Mas casa comigo e destrava que nem eu destravei quando senti seu cheiro?
- Pense bem, vamos estragar tudo.
- Não acho. Quero casar fugido e sem chamar ninguém. Vamos? A gente pode ter um sonho romântico de outono e inverno e primavera e verão e pular de problema em problema. A gente pode brigar um monte de vezes e depois dormir na mesma cama abraçado e de pazes feitas.
- Não pode ser simples assim, menina.
- Ah! Vamos! Deixe de ser bobo que casado a gente pode sempre brincar de roda e você pode me trazer flores. E eu nunca mais vou doer por homem nenhum que só você vai valer pra sempre até a morte ou mais.
No rosto dele então fez-se um sorriso por que ele se lembrava que sempre pensou que Romeu e Julieta deviam se encontrar depois em algum lugar. E tudo parecia tão simples quanto a simetria do rosto dela. Tudo parecia tão bonito quanto ela. Ele de sério e frio e travado foi ficando mole. Aí ela percebeu e pulou em cima dele num abraço e beijo de menina que é mulher.
E a fada madrinha providenciou muitas cenas de contos de fadas e brigas de romances adultos. Por que era assim que a mocinha pensava o final feliz.
segunda-feira, fevereiro 25, 2008
Capitu
à Rayane almeida
Foi num dia como hoje que nasceu meu italiano. Um dia em que eu não tinha nada
pra escrever, mas aquela vontade enorme. O italiano não é um personagem meu. Me
encomendaram e ele tomou forma, até se tornar meu. E foi bom, por que ele é
grande e sórdido e nojento. Eu gosto de personagens que as pessoas me mandam
escrever. Por não ter nada que venha de mim, pego então o que vem de fora.
Comecemos:
Se Nabokov a tivesse visto, sua Lolita não seria ruiva nem sardenta. Teria pele branca rosada e lisa, rodeada de cabelos muito pretos e enfeitada por uma boca naturalmente rosada. Seria também magra e pequena, com a voz um pouco arrastada e um sotaque forte de quem se criou na roça. Seria brasileira e teria gingado de funk.
É uma pena, mas Nabokov nunca a viu. Morreu antes que ela desabrochasse e nem pode saber que ela desabrocha novamente a cada dia com sorrisos e teorias maléficas sobre conquista e dominação mundial.
Raio de Sol, como a chamam, poderia muito bem ser estrela de seriado adolescente americano e encareceria o orçamento com exigências monstruosas e muito justas. Contaria a história de sua própria vida com trilha sonora interessantíssima de quem tem um bom e eclético gosto musical. Por que Raio é daquelas que anda como se ouvisse Pretty Woman e sorri como se fosse Adriana Calcanhoto cantando. Então haveria Judy Garland over the rainbow, pra poder tornar bem bonita a trilha toda.
É que Raio tem cara de Dorothy, bate os sapatos e precisa achar um lugar. Dorothy e lolita ao mesmo tempo, mas sonhando ser Cinderella.
Fica assim, então, pra dizer que ela já foi inventada e é boa personagem sim. Menina feito Dorothy, atraente e mimada feito Lolita, princesa feito Cinderella e dona dos mesmos olhos de cigana oblíqua e dissimulada de Capitu.
Bento e Capitolina escrito no muro de trás da casa e olhos grandes de ressaca.
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
A breguice nossa de cada dia
Agora ouço Paulo Ricardo, por que ele diz que há uma voz que diz pra pular de olhos fechados, que diz pra eu pular de olhos fechados. E não tem coisa mais brega que Paulo Ricardo gemendo sobre fugir e se permitir a ouvir a voz desse desconhecido: o amor. Então é a minha vez de ser brega. É a minha vez de sorrir.
Todos os dias têm sido a minha vez de sorrir. E todos os dias têm sido lindos e coloridos por toda essa breguice que me anima e me faz ouvir Paulo Ricardo, Wando, Celine Dion e Sinatra. ‘Cause i’m your lady and you are my man. E pense em Rosana também, por que como uma deusa você me mantém.
E eu preciso dizer que cada dia tem sido mais doce e mais bonito. Cada sorriso tem sido mais sincero e o Paulo Ricardo continua sendo muito estranho quando geme dando seu olhar quarenta e três, aquele assim meio de lado já saindo indo embora louco por você, princesa. Que desperdício!
Por que por mais brega e pedreiro que qualquer homem seja, sempre há Paulo Ricardo para ser um pouco mais.
E eu gosto de você tanto quanto ou mais do que todas as mocinhas da década de oitenta gostavam do Paulo Ricardo.
E que bom que você me agüenta e eu te agüento. Que nos agüentemos por mais muitos meses!
Por fim, não podia faltar Wando! O que seria de nós sem o Wando?!
segunda-feira, fevereiro 18, 2008
Anúncio de toco
Não me amarro em dinheiro não, beleza pura. Só formozura. Avisa pro filho da dona Maria que teria dado certo se ele tivesse pintado o céu de cores distintas e brilhantes. Avisa pra dona Maria que o bebê dela cresceu sórdido e bonito, mas peça que ela o coloque no colo e acalente, por que ele anda carente e vazio. Avisa pra dona Maria que o filho dela não vai me esquecer, mas eu não sou culpada.
Avisem, por favor, que eu tenho classe. Também avisem ao filho da dona Maria que ele não sabe dançar, por que ele pode tentar e vai ser constrangedor. Avisem-no que ele não sabe abrir os braços e fechar os olhos pra voar. Avisem pra dona Maria que se ele voar pode ser bom. Avisem pra dona Maria que ela tem que cobri-lo à noite e ajudá-lo a enfrentar os medos. O filho da dona Maria anda moleque demais pra quem já cresceu. Avisa pra dona Maria que o abraço do filho dela é gostoso apesar de tudo e que a secura dele é boa pra fazer gente crescer. Mas avisem que ele anda sendo baixo como não precisava. E fala pra dona Maria fazer sopinha e mandá-lo ao médico. Conta pra ela da máscara que ele usa quando sai de casa. Conta que ele é só um menino com frio e assustado com tudo. Manda a dona Maria dar um susto nele pra ver se ele cresce. Manda a dona Maria cuidar dele por que eu não vou mais. Avisa pra dona Maria que o filho dela ainda vai valer à pena pra alguém, mas anda fumando mais de um maço de cigarros por dia.
Avisa pra Maria que o filho dela precisa de pai pra entender que a mãe não é a mulher perfeita não. Por que enquanto a dona Maria for perfeita todas as mulheres do mundo vão ser apenas seres pra quem é imoral dizer não. Avisa pro filho da dona Maria que se for assim ele pode adoecer.
Avisa pro filho da dona Maria que ele vai continuar vazio e o buraco novo fui eu quem cavei. Avisa pra ele que eu fui em outra direção. Dá um abraço nele e faz ele entender.
sexta-feira, fevereiro 15, 2008
Créu créu créu
A verdade é que todas as músicas que me lembravam as pessoas de antes já não tem o mesmo efeito. O asco da foto e a epilepsia não aparecem quando ouço “All Star”. As músicas não estão mais do mesmo jeito. Me toca ouvir “As time goes by”, por que é tema de Casablanca e nós sempre teremos Paris. De resto, as músicas que me faziam chorar pouco me importam. Ficaram apenas as músicas que dão vontade de tentar valsar e acabar pisando no pé do companheiro. Sempre o mesmo companheiro. Sempre os mesmos dois pés pisoteados por uma dançarina medíocre que só sabe mexer os quadris.Então o funk passa a ter efeito superior ao de fotos e ascos e músicas mais melodiosas. Por que todos os funks do mundo me fazem sorrir, já que me lembram sempre a mesmíssima pessoa (que por si já vale muitos sorrisos).
quinta-feira, fevereiro 14, 2008
Excelentíssimo senhor leitor,
- Eles tem que ler, Aline, se não, não adianta.
E a verdade é que as pessoas acabam mesmo tendo medo de coisas com mais de três parágrafos corridos. É aterrorizante e pode ser chato. Pequenos apenas podem ser chatos, não dão tanto medo assim.
Mamãe me ensinou muitas coisas, como fazer brigadeiro e usar brinco e gostar de dourado e lavar as mãos com todo o cuidado do mundo.
Então eu termino pra você não ter medo de continuar lendo e deixo espaço pra você sentir toda a doçura que tem esse amor de mãe que faz ofício.
segunda-feira, fevereiro 11, 2008
Trilha
“Pornografia é transgressão, libertação. É o sexo sem
vergonha de si mesmo, que se despe da cínica túnica do erotismo para expor o que
de mais humano existe nas relações amorosas.”Trecho retirado do Blog do Grijó
Então ele ligou o som, se perfumou e esperou que ela viesse acesa e dele. Dizia que ela era um vulcão e devia ser mesmo. Ela parecia gostar de fazer tudo o que fazia com as mãos e a boca. Ela mordia a própria boca e gemia alto, sempre. Por que os dois tinham corpos que combinavam e cheiros que atraiam. Ele a via querendo meter-se e meter-lhe a mão em todos os lugares. Ela o via sem qualquer pudor.
“But that’s why birds do it,Bees do it,
Even educated fleas do it,
Let’s do it, let’s fall in love.”
Ele olhava de canto de olho a saia dela que sempre passava balançando. Ele gostava da saia dela e de mais. Ela nem via, mas ele queria a moça que passava, bem como a saia no chão do quarto.
“You're so lovely, with your smile so warmAnd your cheeks so soft
There is nothing for me but to love you
And the way you look tonight”
Então ela perguntou o que ele achava do vestido e ele engoliu seco. Ela não entendeu absolutamente nada, mas ele não podia escancarar que aquele vestido servia apenas para que ele se interessasse pelo que havia embaixo do vestido.
“Love for saleappetizing young love for sale
love thats fresh and still unspoiled
love thats only slightly soiled
love for sale”
Na verdade, ela era pura. Em todos esses anos de puta ela sempre se assustava com os nomes feios e as taras esquisitas. Queria flores e sapatinho de cristal. Nem sabia de onde eles tiravam aquilo tudo, então ficava quieta. Talvez as esposas fossem mais depravadas.
quinta-feira, fevereiro 07, 2008
Flor
A flor chorava que dava pena. Mas eu entendia o grito da flor. Entendia que ela era menina e ainda não sabia usar o veneno que tinha no néctar. Aí esguichava meio sem norte e meio sem noção.
Mas a flor vai desabrochar e ganhar forma. A flor vai dominar o veneno pra ser eterna. Vai se despetalar e se recompor muitas vezes.
A flor vai continuar chovendo e eu vou regá-la, que eu agora gosto dela e da sua fúria de flor.
sexta-feira, fevereiro 01, 2008
Ana C.
Na verdade estou seca por que melosa demais pra escancarar. Na verdade estou seca por que preciso de um abraço.
Do you believe in poetry?
Chicago
Mais um ou dois passos de dança e quem sabe eu me embriague só de suor!
Parece bom pra mim.
Repito sempre a mesma frase pra ser original.
Não é uma gracinha?
All that jazz. All That jazz.
Eu não sabia que era Liza Minelli e nem que ela era filha da Judy Garland.
Tão gracinha ela tomando o palco inteiro!
Talvez me falte palco.
Talvez exceda aplauso.
Quero gozo, meu bem.
Quero ouro, neném.
terça-feira, janeiro 29, 2008
Suspiro

As mãos se encaixam e os carinhos combinam. E sem perceber nós andamos no mesmo ritmo de passos – o que faz pensar que daremos uma boa dupla pra dançar tango.
Precisamos apenas estar abraçados e ele comenta que eu respiro fundo quando durmo no cinema. Eu respiro fundo quando durmo e me encaixo perfeitamente nos seus ombros.
Disseram uma história de a gente se apaixonar e tudo ficar de uma cor diferente. Talvez isso acompanhe o riso bobo e as músicas que começam a ter mais sentido do que antes. Também entendo a graça que tem os mocinhos da novela, quando eu sempre preferi os vilões.
É vez de ser mocinha sem reclamar. Rir e suspirar.
segunda-feira, janeiro 28, 2008
Mariana XXI
Aí eu quis que ela me contasse tudo tim tim por tim tim.
O problema é que ela vomitava acontecimento atrás de acontecimento e eu me senti meio perdida naquela narrativa meio poema que ela disse ter virado comédia romântica americana.
Disse que a confusão teve fim.
Disse que daquela noite de ciúmes ela foi pra Bahia e as coisas foram se ajeitando confortavelmente. Ainda aqui, ela pôs um fim no caso óbvio.
Os dois riram e reconheceram que o lance tinha sido óbvio, mas turbilhão demais que Mariana já não merecia. Então faltavam o sonho e a flor.
Ela disse “que bom”, quando o cara que ela não consegue adjetivar disse que já não havia outra moça.
Ele disse “que bom” quando ela disse que o óbvio já não existia.
Ele disse que ainda tinha que falar “que bom” mais duas vezes - por que Mariana fora honesta desde o princípio e achava que era assim que devia ser.
Ela riu.
Mariana me confessou que gosta muito das risadas e dessa sensação nova de tranqüilidade e carinho que lhe faz bem para a pele.
Mas ainda havia sonho e flor.
Com a flor ela não falaria. As pétalas ficariam ali, cheiravam bem e não incomodavam. Não havia de ser paixão. A flor era só flor.
Aí ela foi pra Bahia e encontrou o sonho.
Ele tinha medo de Mariana querê-lo pra sempre.
Foi aí que ela riu e explicou que seria a última vez.
E foi bonito como tinha que ser. Teve cara de novela e filme, com trilha sonora perfeita e tudo o mais. Mesmo Mariana sabendo que de forma alguma daria seu coração, faria aquilo real, nem esqueceria. Foi Smooth. Por que ela não queria que o sonho lhe desse um amor de cinema em que não lhe faltasse carinho, plano nem assunto ao longo do dia. Nenhum dos dois queria largar nada um pelo outro.
E Mariana me disse que chorou no fim da noite, por que doeu mesmo por fim ao sonho.
Foi então avisar ao cara que ela não adjetiva. E dizer que era ele que ela queria para si.
Aí ele disse dois “que bom”.
Aí o cara que Mariana não adjetiva foi para a Bahia e os dois se encontraram, se abraçaram, riram juntos e foi tranqüilo e agitado como deve ser.
Por que ela me disse que é ele que ela quer pra si.
Ela me disse que ele tem olhos lindos e sinceros, como ela bem gosta de ver.
E eles cuidam um do outro.
E no fim,
It's still the same old story
A fight for love and glory
Acho que Mariana sossegou num galho só.
quinta-feira, janeiro 24, 2008
Xote das meninas
- Não não. Os homens são todos iguais.
- Não acho que seja assim... Deve ter um.
- Acredita em mim que sou mais velha. São todos a mesma coisa. Todos uns babacas.
- E você quer que eu faça o que?
- Brinque.
- Não tenho coragem.
- Isso é por que você tem quinze anos.
- Grande coisa você e os seus longos dezesseis!
- Meninas de dezesseis brincam, é esse o charme.
- Não tenho coragem.
- Vai ter.
***
Ela não comeu cebola por que se encontraria com ele logo depois. Então os dois saíram e cada um comeu um pastel. Tinha cebola no recheio, mas ele não falou nada por que sabia que ela gostava de vinagrete e não o tinha comido por consideração.
***
Os cabelos estavam arrumadinhos apenas para serem bagunçados e o perfume cumpria com exagero a sua função corriqueira. Agradava.
Ela também botou os brincos de pena que ele achava bonitos. Sabia que o brinco interessava menos que o decote e o jeans justo, mas sabia também que arrancaria dele alguns sorrisos.
***
- Elas não querem saber dos garotos de dezesseis.
- É por que eles costumam ser idiotas, Felipe.
- Ninguém diz que eu tenho dezesseis.
- Posso acreditar em você. Mas as meninas de dezesseis são impossíveis. Elas estão aprendendo a provocar. Estão perdendo o pudor. É muito difícil competir com uma menina de dezesseis.
- Elas só querem saber dos garotos de vinte e dois.
- Felipe, ouça uma coisa. Talvez você não precise usar, mas é preciso ter isso na manga. Leia poesia, querido. Especialmente de Vinícius de Moraes.
- Não acho necessário.
- Vá por mim. É bom ter Vinícius na manga.
***
As meninas de dezesseis tem despudor e medo. Elas não sabem bem até onde vão, mas querem saber de tudo e fazem cara de sapeca. Ter dezesseis pelo resto da vida pode ser extremamente atraente e Felipe não entende que não precisa falar poesia, apenas sabê-la.
***
Toda mulher acaba caindo de quatro por homens que lêem, mesmo não sabendo que eles lêem.
sábado, janeiro 19, 2008
Videoclipe
O grande lance do biquini e da bolsa e tudo o mais é que sozinha assim ela se sentia como num videoclipe de pop rock. Os cabelos bagunçados davam o ritmo da canção que ela dançava à beira-mar.
Era natural.
O céu estava azul e fazia muito calor.
segunda-feira, janeiro 14, 2008
E aí, casa?
Aí nenhuma conta nem pro papai nem pra mamãe nada de errado que a gente faça. Podemos combinar. Eu faço o que mamãe aprova e papai reprova e você faz o que papai aprova e mamãe reprova. Depois a gente reveza!
Aí a gente cozinha e chama os vizinhos pra comer. E depois limpa a casa e lava a louça. Não ligo de lavar o banheiro, mas você limpa as janelas, pode ser?
O armário a gente tira tudo e limpa às vezes. Lava toda a louça com cuidado de não quebrar nada.
E toda a semana a gente compra um galão de vinho e comemora. Por que somos jovens e tudo tudo é uma festa.
Aí quando você tiver prova eu faço silêncio. Quando eu tiver texto você faz silêncio.
E a gente reveza os silêncios e os choros e fala mal dos homens, da mamãe e do papai.
E vai ser legal que a gente cresce, irmã.
Vamos morar juntas e a gente toma banho de chuva, banho de mangueira e nunca vai faltar absorvente.
Aí ninguém conta nada pra ninguém e a gente engorda e emagrece sem parar.
sábado, janeiro 12, 2008
Dança
O Sol nasceu meio torto, tenho quase certeza.
Talvez não seja certo sentir filetes de carne entre os dentes e pedaços de dentes na boca.
O Sol nasceu fazendo inchar.
Tenho certeza que o céu era o mais bonito de todos e o mar também.
Não gosto de escuro, mesmo. O céu parecia feito de diamante.
Já chamei as amigas pra sair.
Quem sabe não tomamos um vinho e conversamos fumando um cigarro caro e fino que não combina com nenhum de nós dois?
O mesmo cigarro por que somos dois nadas entre o céu, o Sol e o mar.
Quem sabe não nadamos e sentimos as carnes frias e sem pedaços.
Talvez lavemos a alma ao invéz de tentarmos nos machucar.
A próxima dança não deve ser lenta.
Você deve se aproximar, segurar-me pela cintura com força e sem dó.
Feito isso, vou onde você me levar, com as pernas no ritmo das suas.
Segurar pela cintura e guiar-se pelo cheiro, grave bem.
Dois nadas entre céu, Sol e mar.
Contradança sem nenhuma técnica de salão.
Filetes de carne.
Teria dado certo. Quem sabe?
O Sol já nasceu . Não tem mais escuro pra nos aquecer.
sexta-feira, janeiro 11, 2008
Guia prático da mulher machadiana
O segundo bloco consiste no do romance-problema. Toda mulher precisa passar pelas mãos de um garoto-problema. No mínimo um. Não importa se ele tem problemas de saúde, problemas com drogas ou álcool. É preciso que a neurose dele seja difícil de agüentar, irregular e química. A experiência, no entanto, só se faz válida se o garoto-problema for paixão de longa data. Mas esse, quando acaba, acaba e pronto. Não parece descartável, mas é. O problema tem que estar na cara o tempo todo. Se for bandido, tem um charme à mais.
O terceiro bloco é definitivo. O mais comum dos blocos. Se a mulher não passa por esse bloco, não consegue chegar ao quarto e à utopia, que foge à blocos por que seria paixão pura e simples com sabor de fruta mordida e noz na batida no embalo da rede matando a sede na saliva. O terceiro bloco é o bloco dos sacanas. O cara que te faz de idiota, que tenta fazer mais do que pode. O cara por quem a mulher se apaixona e não liga no dia seguinte. São caçadores, divertidos e instigantes. Costumam provocar vertigens e ataques epiléticos. Causam ciúmes mórbidos e taras doidas. Não são nem um pouco confiáveis, com raríssimas exceções. Este bloco é fundamental. É preciso passar por ele várias vezes para aprender alguma coisa.
O quarto bloco já é sinal de amadurecimento ou sadismo. Podemos chamar de bloco dos bobos. São aqueles homens que servem de estepe. Aqueles que devem ser feitos de idiotas desde o começo, mas que ainda assim estarão sempre disponíveis. Eles podem vir de qualquer um dos blocos acima. Podem inclusive ser bons partidos. A beleza física é muito importante neste bloco. É preciso que o bobo seja um troféu. Ele deve ter valor junto às amigas. Todas devem ter um bobo. O melhor bobo vence a disputa constante de egos entre as calcinhas.
São esses os blocos e são obrigatórios. Trata-se de amadurecimento e sadismo. Depois dos blocos, a mulher já não precisa experimentar muita coisa. Esses blocos resumem o que há. É depois dos quatro blocos que a mulher pode correr mais riscos. Só depois de fazer um homem de idiota uma mulher entende o tamanho (mínimo) do poder que tem. De resto, é preciso entender que tudo não passa de jogos e narrativas. São técnicas e sorrisos. Dissimulação. Olhos de ressaca. Instinto, queridas, salvação.
E há mais uma coisa. É preciso cozinhá-los em banho-maria. Mais de um ao mesmo tempo, de preferência. Quando existem diversas possibilidades o risco de queimaduras é menor. Ainda assim, uma panela cheia que derrama pode causar fortes dores e grandes hematomas.
É preciso tomar cuidado.
quarta-feira, janeiro 09, 2008
Mariana XX
Mariana tentava se convencer de que não tinha motivos,
No fim das contas ela era a parte mais confusa da situação (como sempre fora em todas as situações).
O fato é que Mariana tinha ciúmes apesar da flor e do sonho e do óbvio
Nem adjetivar seus ciúmes ela podia, por que tinha
Me contou que tentou se afogar em pipocas, mas não pôde.
Disse-me que lembrou-se dos Lucas, dos dois Lucas que tem nome por que são números. Lembrava deles por que nenhum deles parecia boca de leão.
Mariana perdeu o medo de escuro, mas continua sendo Mariana e não sabendo bem como agir.
Mariana não se conserta.
(travei o texto, que agora tem um buraco por que detesto que me interrompam enquanto escrevo. Não abram a porta do quarto, não parem a música e não falem comigo enquanto escrevo. Só se seu falar for escrever. E mesmo assim, só dou atenção quando quero e por que preciso)
Mariana sente ciúmes do cara que ela não adjetiva.
E se sente idiota.
domingo, janeiro 06, 2008
Crônica de verão
- Cala a boca! - do andar de cima, grita voz de criança.
- Quem foi? - Da mesa de almoço alguém pergunta entre risadas.
O menino estava bravo por que eu tinha desligado o playstation dele. Só puxei a tomada. Tinha sido sem querer, mas ele tinha ficado extremamente bravo. Tinha chegado numa fase difícil do jogo e uma alma sem coração tirou dele o mérito. Eu sou a vilã dessa história, por acidente, é claro - tudo culpa da alma desastrada que meu corpo carrega ou do corpo desastrado que minha alma possui.
Enfim, o barraco estava armado e o avô dizia que videogame não é coisa de praia e que ele iria esconder o t. Então eu era apenas um pau mandado que tinha desligado o playstation pq meu avô mandou.
Sei que os dois meninos choravam e o mais velho me queria ensinar a olhar quando o jogo estava ligado e quando não estava. Fiquei brava. Já tinha dito que tinha sido acidente e que não era mesmo por querer. Desliguei a tomada por que procurava um lugar pra carregar a bateria do meu MP4. Não fiz por mal, sou simpática sendo vilã.
Briguei com o menino dizendo que só ia olhar depois que almoçasse e ele que esperasse. Ora! Tinha dito já agumas vezes que tinha sido sem querer. Ele chorou. Devia pensar que eu faço parte de alguma corrente do mal.
Na mesa de almoço me mandaram escrever a crônica e eu disse que vinha à "Han louse". De repente, não mais que de repente, deixei de ser a vilã da história e passei a ser a prima amada. GTA é mais legal que playstation.
sábado, janeiro 05, 2008
Poema das uvas
Não vou escrever nada hoje
Seria confessional
E piegas
Disse que não fazia poemas
As pernas dóem de caminhada
Tive vontade de mar,
como das uvas que roubei
Não pude entrar no mar
Não quero mais pieguice
Nem gosto de Poesia...
É mentira.
"Entre pés de laranjeiras
Entre uvas meio verdes
E desejos já maduros
Entre uvas meio verdes?
Meu amor, não se atormente
Certos ácidos adoçam a boca murcha dos velhos" *
As uvas eram roxas e pequenas e ácidas
fazem tudo funcionar
Não quero escrever mais nada
Seria poesia
E piegas.
sexta-feira, janeiro 04, 2008
Mariana XIX
Ela arrumou as malas, viajou no dia previsto
e me ligou, como é praxe.
Mariana está na Bahia, longe do mundo real e sendo cozida em banho maria pelo sonho.
Ainda tem vontade de escorrer feito água ou ventar
mas não vê mais graça nas coisas que via
Mariana está bem confusa e se divide
Espera a chegada da flor
acha que se ela vem tudo fica mais claro.
Nada está claro, ela me disse.
Ela não quer apressar nada, não quer nada.
Achava que queria tudo.
Gaguejava no telefone enquanto falava comigo de alguns sonhos que teve.
Mariana está assustada, mesmo muito bem.
Queria que o sonho do sono fosse o sonho que ela sempre vê e beija na Bahia
Queria beijá-lo também.
Mas havia outras pessoas sem adjetivos e Mariana se confundiu de novo.
Não sabe de nada e me torra o saco.
óbvio.
terça-feira, janeiro 01, 2008
Reveillon
Tenho essa mania egocêntrica de querer carregar o mundo nas costas. Não dá certo. Então resolvi que não ia ficar na porcaria da festa que não era festa e na qual eu realmente não queria ficar. Mas ela ficou lá, mesmo eu querendo carregá-la nas costas.
Aí agora eu não consigo pegar no sono por que ela não vai chegar tão cedo e eu não confio nem nela nem em ninguém de lá. Meu lado sádico diz que é bom que ela fique e se estrepe inteira.
Meu lado mãe do mundo diz que eu devia tê-la trazido debaixo de chineladas.
Meu lado mãe até acha bom que ela se estrepe, mas não vai admitir por que isso não é coisa de mãe, é coisa de pai. Mãe dá colo.
Não quero dar colo. Quero dar chineladas ou deixar que ela tome as chineladas que tem que tomar.
Mas a tal paz eu não tenho e abro meu ano assim, insone, sem festa e preocupada por conta dessa mania ridícula e egoísta de achar que o mundo tem que estar nas minhas costas.
Um brinde?
domingo, dezembro 30, 2007
Narrativa de champanhe
Tinha saído para dançar. Chão. Chão. Chão. A intenção era clara e o dinheiro era pouco, mas como a narrativa vive de coincidências, estávamos no lugar certo e na hora certa. Pra ser exata, sentamos, eu e Clara, na mesa certa.
Estávamos as duas com pés doloridos e sem gostar da música. Arriaríamos ali até as coisas se animarem naturalmente, como sempre acontecia quando com a gente. A mesa não era nossa. Havia um quarteto simpático que permitiu que sentássemos enquanto dançavam. Apresentamo-nos. Clara, Júlia, Patrícia, Júlia, Carlos e Paulo. Paulo namorado de Júlia (mesmo nome que o meu, mas não a mesma graça que a minha), Carlos em sua despedida de solteiro, Patrícia mineira irmã de Paulo. Eu e Clara de penetras por ali.
Nós duas conversávamos o que a música permitia e concordávamos que o vocalista da banda era das coisas mais bonitas do salão. Tínhamos nos perdido já uma vez. Achamo-nos no banheiro enquanto eu conversava com uma mulher de cabelo muito grande sobre a possibilidade de ela cortar o cabelo bem curto e fazer uma peruca. A mulher me disse que o cabelo dela valia 600 reais. Pensei ser um bom dinheiro. Lembrei que quando meu ex-namorado vendeu seu cabelo ganhou apenas 80 reais – e ele tinha um cabelo bem grande.
E daí voltamos à mesa. Pouco depois que nos sentamos um garçom apareceu com um balde de energético, depois uma garrafa de uísque. Eu e Clara tínhamos tomado apenas uma cerveja e uma Ice. O quarteto simpático da mesa fazia questão que bebêssemos com eles. Dissemos que não. Insistimos que não. Clara justificou que tinha que levar o carro para casa e não queria ser peã na blitz. Mas comigo eles não se deram por vencidos. Carlos me serviu um copo de uísque e energético.
Então eu já dançava como se nem ligasse. Mais uísque. Chegou uma garrafa de champanhe. Aí até Clara bebeu. Foi pouco depois disso que Patrícia se aproximou de mim e disse que seu irmão queria trocar de Júlia. Pensei “comigo não, nessa eu não caio”. Disse então pra Patrícia deixar isso pra lá e dançarmos até o chão.
Patrícia tinha sérios problemas para rebolar, estava escuro, mas ela tinha a vergonha que o uísque já tinha me feito perder.
- Ai meu Deus! Como é que você faz isso!
- Mexe o quadril, menina!
- Ai! Mas eu não consigo! Sabe, minha amiga lá de Minas disse que eu tenho que imaginar que estou fazendo amor.
- É mais ou menos isso, Patrícia. Pensa que as mãos dele estão guiando os seus quadris e vai.
E ela foi. Pouco depois mais gente da boate viu como ela ia, como já tinham visto Clara. Tinham me visto também, mas eu não queria ser vista. Carlos insistia que ficássemos juntos, mas eu só quis quando um outro cara resolveu que eu devia ser dele. Disse-lhe que estava com Carlos. Carlos então quis que eu de fato estivesse. Não fui. Disse a ele que Clara era a melhor opção- era ruiva e ruivas tem mais charme que castanhas como eu.
Carlos queria Clara, queria todas. Não tinha norte e quis que acreditássemos que ele estava solteiro na pista. Mais champanhe. Martini. Eu não estava bem. Cerveja, champanhe, Martini, uísque, energético, ice e dança. Os pés nem doíam mais. Clara disse que cuidaria de mim.
Fomos embora da boate, emersas na magia do champanhe e dos olhos verdes de dois caras que encontramos ao lado do carro de Clara. Clara me deixou na porta de casa, e eu não lembro o que aconteceu depois que eu subi o elevador. Acordei atrasada e com o quarto bem bagunçado.
Sobrou a dor de cabeça e a eterna paixão por dança. Uísque, champanhe, energético, Martini, cerveja e ice.
Sobre tesão
Falo disso por que quero escrever e não tenho assunto.
Poderia gastar falando sobre como fim de ano me toca e me deixa nostálgica, mas quero falar de paixão.
Ando seca.
A narrativa continua tendo a mesma graça, mas não sei mais inventar histórias e frases.
Poderia então apelar para nudez absoluta e bela.
Descreveria a cena de dois amantes. Ele deitado, olhando pra ela. Ela sentada na beirada da cama. O ventilador que fica na cabeceira venta contra o cabelo dela e a luz que vem da janela incide na pele dela. Ele não consegue se conter em dizer o quanto ela é bela e ela sabe que a cena favorece isso.
A nudez é bela.
O branco da folha é uma coisa muito bela, como a tinta da caneta e toda a narrativa por traz das narrativas de papel. O atrito é mesmo muito belo.
Então escrevo e me dispo. Aí você vê e me diz se é belo.
O quadro todo favorece.
Minha mão pulsa e venta.
quinta-feira, dezembro 27, 2007
Luana
segunda-feira, dezembro 24, 2007
O rio continua pardo
Natal junta todas as coisas ao mesmo tempo. Família e redenção e presentes e todas as coisas que vc fez de mau e que podem fazer o Papai Noel ter um surto de falta de compaixão.
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Aí eu fui na boate e queriam me barrar. A classificação era 16 anos. Eu com meus 19 me senti estranha e meio mico.
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- Ela tomou jeito. Sabe... Está séria, namorando, mergulhou de cabeça na psicologia e cuida da casa.
- Não sei não.
- Ela tinha tudo pra dar errado. Eu achava que ela ia aparecer grávida por aqui.
- Eu sabia que não. Ela é filha da Maria. Sabe? A Maria sempre foi severa com essas coisas.
- Mas ela era doida.
- Ela dançava e bebia, mas nunca foi doida. - Pensei que se ela era doida eu também o era.
- Pois é... tá todo mundo casando ou tendo filho e a gente aqui...
- Mais alguém que eu não saiba?
- Só a Mírian mesmo.
- Não me assustei com ela.
- Me assustei com quem é o pai do filho dela.
- Quem é?
- Você não ouviu falar do cara que filmou as meninas com quem estava transando e colocou na internet?
- É ele?
- E o pior é que ele estava namorando a irmã da Mírian!
- Que cachorrice!
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Os manacás continuam sendo uma flor bonita. Não entendo nada deles, mas as flores continuam no mesmo lugar, como o rio.
Tirei fotos.
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Quero esquecer que existem livros e pessoas, por que livros e pessoas dóem quando na gente.
Todo livro tem o momento certo de a gente ler. Esse de agora comprei há tempos e deixei na estante.
Está me machucando...
Está me triturando. Está me batendo por que sou eu de novo.
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Tenho novas amigas, todas de 16 anos. Sinto-me jovem forçosamente. Vamos juntas até o chão.
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Feliz natal!
Paulo e Tereza
Ele ficava meio sem fala com a impetuosidade dela, que além de tudo era amiga do amigo dele, que dizia que há mulheres e mulheres e Tereza é dessas que se ganha com diamantes e mais.
- Ora, você não vê ninguém falando nada de mim, embora eu fale um punhado de besteiras.
E o amigo em comum de Paulo e Tereza fez questão de dizer que com ela ele podia falar.
Paulo seguiu seu caminho pelo clube enquanto Tereza nadava feito sereia. Depois ela sentou-se ao lado do amigo e Paulo finalmente pode ver como era bonito o corpo da mulher divertida que ele conhecera há pouco. Não pode conter a admiração por aquele par bem torneado de coxas bronzeadas, nem pela simetria e equilíbrio de um corpo todo fresco. Sem contar que o sorriso dela era branco e certo, bonito e fresco como a boca também parecia ser.
Ele frizou o prazer em conhecê-la ao ir embora e ela fixou na lembrança a composição mui bela dos olhos dele emoldurados por um céu azul e sol forte.
Pois esse foi o flerte de Paulo e Teraza, que ficou só flerte por que ela dormiu pra não fazer exposição da figura à noite, na praça.
sábado, dezembro 22, 2007
Mariana XVIII
O óbvio andava tropeçando um bocado e ela se irritava mais e mais.
As malas estavam prontas pra Mariana ir pra Bahia ver o sonho de sempre e dar um sorriso a mais.
Depois de Lucas e números que não valiam, os galhos de Mariana eram previsíveis.
Ela tinha dito que queria algo a mais.
Ela ficou quieta e ele veio.
Mariana, que continuava sem sair do seu costumeiro galho óbvio que andava confortável apesar dos tropeços, não tinha um nome pra dar para o galho novo em que ela esbarrava volta e meia e com o qual ela até brincava.
Mariana não conseguiu dizer pra mim nenhum adjetivo sobre ele.
Sabia que ele era agradável. Tinha frutos, ao contrário dos outros galhos.
Parecia firme e ainda assim ela não ia de vez pra lá.
Nem vai.
Pelo que sei de Mariana e seus medos que prosseguem mesmo com os anos passando,
ela vai se misturar feito areia e vento ao sonho
e depois vai voltar aos cantos óbvios
talvez se desmembre e busque a outra flor que tem estado presente, mas que ela não comenta.
Mariana tem medo de galho fixo, lembra do álibi e do bicho-papão.
Mariana sabe que o galho novo não é nenhum dos dois, nem é óbvio, nem é sonho.
O problema é que ela ainda não sabe o que é.
Eu disse pra ela que é aí que mora o perigo.
(É que Mariana está perdendo aquele medo doido e apertado, mas ainda não pode saber, então sejamos discretos, que aí ela volta pra boca do leão...)
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Mesa de bar
- Clara, chega disso. Sabe o que estamos parecendo? Dois namorados brigando no meio de um bar.
Pensei que aquilo era aterrorizante. Eu não era namorada de Estevão. Bem quis ser um dia, mas a idéia então me apavorava. Por que, então, brigávamos? Ele não me devia nada. Eu não devia nada a ele. O que nos prendia eram os meus gritos e o jeito malandro dele.
Não adiantava. Eu continuaria brigando e continuaríamos sendo namorados sem admitir. Nenhum dos dois podia se assumir fraco a ponto de se comprometer. Nenhum podia assumir compromisso.
Éramos nós estreitos nós, mesmo laço frouxo.
