segunda-feira, novembro 17, 2008

Oi ou à cabeça

Aí você chega e diz um oi morena assim gratuito. Eu por outro lado fico sem saber e sem dizer nada. Ando cansada de dizer coisas e de dizer as coisas. Acho que estou tendo muita coisa pra esconder.
De mim mesma principalmente.
Minha cabeça está doendo muito do que eu tomei ontem e não foi tombo. Minhas pernas estão dizendo estórias que eu não devia contar. Meus cabelos parecem intactos e devem ter cheiro de mato a uma hora dessas.
Aí você chega e diz um oi morena só pra me irritar. Assim gratuito.
Estou muito cansada de você e principalmente dos seus ois inapropriados e fora dos meus horários.
Aí você vai e eu completamente reclamo. Quase choro. Mentira que não choro nunca.
Minhas pernas dizem coisas que eu mesma não queria.
Cabeça dói. Queria vomitar essa cabeça da minha dor.
Aí você volta pra minha cabeça que eu não vomitei.
Queria vomitar você fora de mim por que eu não gosto de você.
Mentira.
Queria vomitar essa cor (rubra) pra fora da minha cara.
Aí você chega e diz um oi assim gratuito e eu morena fico vermelha e você me lembra que nada. Lembra que eu já devia ter te tirado da minha dor e da minha cabeça e das minhas pernas.
As pernas continuam contando estórias e o pescoço também.
Meu pescoço absurdamente é fácil.
Dei o telefone na grama ontem. Aí você chega antes de o telefone tocar e eu esqueço que queria que ele tocasse.
Minhas pernas também.

quinta-feira, novembro 13, 2008

For you

E totalmente não.
Não disse que sim e nem nada.
O que, raios, é uma mulher interessante?
Bonita eu até sei.

Eu juro pra vocês que não houve paixão.
Questão pura e simples do não.

Vou acreditar agora.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Não lembro

Só literatura que eu quero hoje. E das mais baratas eu quero.
Escrever um bando de porcarias seria tão bonito que um monte de borboletas voariam ao redor de mim.
Estaria com um vestido verde em um campo de flores com borboletas à volta e ao som de qualquer coisa doce.
E mel eu tomaria.
Escrita absurdamente clichê eu faria – como faço e finjo que não faço por que adoro fingir todas as coisas.
Só literatura eu quero hoje. E nada.
Não quero nadica de nada.
Um sorriso talvez me renda um poema.
E mais nada.
Quero um copo cheinho de nada.
Música barata.
Vinho comprado na padaria.
Pão dormido. Quero cachaça!
Parece que dizes te amo, Aline.
Nada não.
Só automatismo.

terça-feira, novembro 11, 2008

Ombro

Puxei o braço da Flora e reclamei horrores.
Ela tinha que ouvir absolutamente tudo o que eu tinha a dizer - mesmo tudo sendo nada demais.
E aí ela entendeu e mandou eu ir pra frente e parar de botar presilha no cabelo.
Entendi e contei que só boto a presilha por preguiça.
A Flora sabe direitinho o que se passa comigo.
Eu mesma não sei.
Estava um caos pessoal total hoje pela manhã.
Aí arrumei o armário e comecei a juntar meus pedaços pra me organizar melhor.
O lobo mau eu não encontro tem tempos. Queria que ele viesse me aconselhar e dizer que sou melhor que a fábula que eu mesma inventei.
Mas enquanto o lobo não vem fico buscando as borboletas que não dizem nada.
A Flora diz.
Fico buscando poemas perdidos em mares que não existem.
Arrumei o guarda roupa e o quarto pra ver se a casa melhora e o cheiro melhora.
Suei horrores. Reclamei Horrores. Fiz bons e maus poemas.



Vou botar uma saia
E um tomara-que-caia
Pra que tudo caia e saia.

sábado, novembro 08, 2008

Diário

Totalmente uhul a quarta dose.
Fiquei assim bamba e pensando em nada. E é muito legal esquecer de pensar. Aí passou e a quinta e a sexta vieram e eu lá.
Aí ela disse que eu sou paradoxal e eu não respondi. Também disseram que eu sou claríssima.
Sou confusíssima.
Fui corrigir uns erros de português em texto velho e eu não sei usar o Se. É sintomático.
É automático talvez quem sabe naquele dia fosse a quarta ou a terceira mas a quarta na banca cortou.
Eu não sei mais pensar. Aí eu fico quarta. Eu fico branca. Eu fico quarta-branca-nada.
Eu tenho filhos novos esse mês. Semana que vem eles envelhecem espero.
Se o filho não cair eu nem posso nada. Ai caramba eu caio. Caio quarta.
Hoje é sábado.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Ritual

Quando ele cruzou a sala de estar larguei imediatamente a xícara de chá. Tinha que me levantar e analizar cada pequeno pedaço de corpo.
E ele tinha justamente que passar por mim pra arrancar com os olhos cada pedaço de corpo que eu tinha. Não tenho mais.
Pusemo-nos frente a frente e vimo-nos arrancando os braços um do outro. Comi-o cru.

Comecei pelos dedos das mãos e passei imediatamente para as coxas. E ele fez o mesmo comigo até sobrarem as cabeças vibrantes e sem ar. Morremos atolados de paixão.

Aí eu sacudi a cabeça e fiz uma mesura. Vesti meu sorriso mais bonito e deixei que ele fosse.

Não ia demorar a voltar. Sorri por dentro. Voltei ao chá e o cuspi num reflexo. Estava frio.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Não, menina, não sonhe demais. Não deixe essas coisas tocarem você. Não precisa e nunca precisou.
Sinta apenas os pés gelados de praia e sujos de muita areia.
Depois corra. Indefinidamente corra pra bem longe de tudo - menos do mar.
Menina, escuta: só o mar é seu amigo. Eu não.
Eu tenho medo e sumo.
Molhe os pés, querida.
Vá embora.

terça-feira, outubro 28, 2008

O futuro já começou

Texto que poderia muito bem ter sido escrito pelo Marcelo

Quando comecei a estudar história, ainda no ensino básico, achava muito estranho falar de coisas que já não existiam. Havia uma sensação de estranhamendo maior ainda em se tratando de objetos. Aquela bicicleta que tem uma roda grande e uma rodinha me parecia comicíssima.
Na quarta série, primária, minha professora me deu as primeiras noções básicas de antropologia ao dizer para a turma inteira que cada tempo tinha seus objetos.
- Crianças, daqui a um tempo as pessoas vão achar estranho qu um dia tenha havido carros. Vamos todos voar em naves que nem os Jaksons.
Me vinha uma imagem muito estranha na cabeça. Tudo que é contemporâneo e, naquela época moderno, hoje pós-mederno, me parecia muito fixo e eterno.
Acontece que hoje tive uma espécie de revelação. Os liquidificadores vão acabar, secadores e microondas e batedeiras também. E os carros não serão mais usados - gasolina é totalmente fora de mão. Teremos bicicletas a vapor multifuncionais.

No armário de chaves havia uma caixa de disquetes.

domingo, outubro 26, 2008

Passado

O vi de longe, tinha quase certeza que ele também tinha me visto. Não me cumprimentou e eu passei direto pensando que ele estava diferente.
Os olhos azuis mantinham-se, mas havia uma barba espessa e uma barriga que não faziam parte daquele corpo quando cada detalhe nele me fazia palpitar.
Saí despreocupada e sentei no ponto de ônibus pensando que voltar para casa tinha essas consequências desagradáveis.
Talvez, tendo me visto, ele tenha ficado tão decepcionado quanto eu. Não havia mais cabelos longos e nem a magreza que me fazia única.
Haviam caixos curtos e maquiagem borrada de uma semana seguida de festas. Era ele quem ia pras festas e a cara estava descansada.
Então ele passou novamente e fez questão de me beijar no rosto.
Não tinha mais nada. Nem calafrios nem gotas de suor.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Regressiva

Faz quase um ano que eu escrevi e que todas as coisas mudaram. Eu na bandeja não sou a mesma que era na bandeja de 2006 ou 2007. Veriam-me mais doce.
Disseram também que as mudanças físicas só se passaram comigo e ninguém mais. Engordar e mudar o cabelo é fundamental a qualquer camaleão medíocre.
Eu não me visto igual todos os dias. Não sei se tenho padrão ou não.
Em um ano eu me sinto muito mais tranquila.
Foi em 2006 que me dei conta de que era sim uma mulher decidida. Ri sozinha muitos dias na praia e vou sempre me lembrar da minha avó perguntar de um cheiro de cigarro que eu não fumei.
Lugares fechados e cheios acabam fedendo pessoas.
Pessoas fechadas e cheias machucam.

Não sei mais me por na bandeja.

sexta-feira, outubro 17, 2008

O dia em que assisti Gota D'água, do Chico.

Deixa em paz, menino.
Deixa pra lá.
Quando eu fui lá e vi o que eu era em palco e o que eu dizia eu já sabia!
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia.
Eram tão bonitos eles cantando e rebolando enquanto eu chorava e via!
E era tudo tão bonito quando falado.
Todos os motivos estavam nas canções eu sei e eu vi.
É palco e infinito e é peça e é chama.
É a gota e a água e a Bibi e eu.
E todos nós brincando de roda e cantando bonitas canções de ninar.
Deixa em paz meu coração, menino, deixa pra lá.

domingo, outubro 12, 2008

Pós-tpm.

Eu gosto muito do Chico. Ouço e tremo.
Mas hoje nada.
Estou só cansada de cabeça e com sono de nunca.
Tenho que desativar pra ver se ativam.
Mas nada. Não adianta brigar.
É bom desligar as pilhas.
E hoje nada.
Só Chico.

domingo, outubro 05, 2008

Festa


Vamos todos ouvir clássicos nunca antes ouvidos por nós. E dançaremos colados, sim. Dançaremos valsa e foxtrote - mesmo sem saber- e rodaremos pelos salões clássicos com vestidos longos.
E seremos, todos nós, movie stars. Cantaremos, também. Mas não samba. Cantaremos jazz e depois pop e depois bolero e depois tango. E Funk. Cantaremos funk vestidos em trajes passeio completo. Eu soprano, ele tenor e todo um coro atrás.
Gritaremos tantos funks clássicos com vozes distorcidas e amplificadas pela acústica local!
Ah! Ficaremos todos roucos. Rouquíssimos.
E bailaremos até o dia raiar, sem raiar, sem beber e sem parar.
Já no fim, haverá muitas mentiras pra contar.

quarta-feira, outubro 01, 2008

That

Andava muito jornalista e pouco poeta. Toda a literatura ia para as matérias que contavam histórias de gente que muitas vezes não importava.
O problema era a rotina que era bonita e bacana com gente bonita e bacana, mas que cansava. Ela queria um dia parar de comer porcarias e parar de reclamar. Voltar pra litreratura e descongelar - mesmo nunca estando gelada.

segunda-feira, setembro 29, 2008

Ficou exausta. Não queria mais nenhuma daquelas coisas, apenas café.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Vento

Se o texto é curto como é que faz?
Passa?
Se o texto passa como fica o pé?
Se não tem pé como é que corta?
Pode cortar pé ou dói? Ou dois? Ou dez?
E se não é nada como é que faz?
Se ele não entende como é que fica? Como é que vai?
Tudo bem?
Tanto faz.
Que corte. Que fique. Que corra. Corra. Corra.

terça-feira, setembro 16, 2008

Solução

O problema todo é que os poemas resumem as coisas que a gente não fala.
São os silêncios que ficam ali.
São eles que vazam. E eu fico.
Sempre ficam poemas presos na garganta, formando nódulos, fazendo fumaça, em forma de lágrima, poemas dançando e dor de cabeça.
Sempre forço a narrativa pra fingir que não sou eu. Não sou lírica.
O problema todo é que os poemas são feitos no molde do corpo, feito suor.
O problema é o suor secar e o cheiro que fica.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Poema-narrativa-minuto-pós-moderna

O Orkut, muito sábio, disse: siga o coração.
Ela seguiu
e se estrepou

segunda-feira, setembro 08, 2008

Trama

Olharam-se corriqueiramente. Ninguém diria que havia ligação alguma. Apostariam que os dois nem se conheciam direito ou eram indiferentes um ao outro.
Mas a verdade é que os dois se sabiam em cada pedaço de alma e pele. Confidenciavam um ao outro coisas que ninguém jamais poderia saber. E volta e meia se amavam sem contar pra ninguém e sem qualquer paixão. Se viam nus e depois se olhavam corriqueiramente e ninguém diria que havia qualquer ligação.

domingo, agosto 31, 2008

Pírulas

Estou cansada e sem histórias.

Preciso ler um pouco e dormir muito.

Falta aquela paz que eu nunca quis.

***

Ela tinha uma paixão absurda por orelhas. Não as olhava ou analisava detalhes. Gostava de sentir com a língua e os dentes o potencial erótico do que servia só para ouvir.

***

Não iriam morrer de nada. Eram fortes e muito bem apanhados. Mas quando ela entrou bonita, pequena e de batom vermelho, disparou dois tiros na barriga dele, depois se matou.

***

Que a gratuidade seja infinita enquanto dure, feito amor de carnaval.

sábado, agosto 23, 2008

sem título

Não gosto nunca de te ver triste. E eu fico triste com você triste por que me importo e sempre achei tudo muito sorriso. Acontece que eu preciso de tempo e besteiras. Dos contágios que se adquire com loucuras periódicas e saudáveis. Preciso mesmo não ter chão pra me entender um pouco e te entender muito.
Preciso arrumar um chão novo que suporte as minhas loucuras mesmo sabendo que não haverá cumplicidade nem carinho. Preciso estar vazia pra depois encher e transbordar.
Sinto falta do desprendimento que sustenta a minha poesia. Tenho tanto medo de tudo sério. Tanto medo.
Não se estrague e não se mate que eu não me perdoaria. Me deixe ficar quieta e muda tendo inveja das pessoas que não estão tão sozinhas. Me deixe sorrir e fingir que nada importa.
Me deixe. E não fique triste.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Carta-crônica para Luiza

Ô Luiza, sua irmã me disse que você disse que não escreve sobre pressão. Disse a ela que você está certa, mas meu processo é diferente. A Viviane Mosé diz que precisa de vazios para escrever. “Faço poemas dos silêncios que ouço”, eu li ela dizer.

Eu não. Eu preciso estar cheia e escrevo pra esvaziar. Preciso de toda a pressão.

Se me pedem, não. Aí é outra coisa. Luiza, eu não escrevo para agradar a ninguém. Até acreditava que sim, mas quando tento a escrita fica tão ruim. Fica tão vazia.

Eu preciso de escrita cheia como preciso de mim cheia para conseguir continuar me locomovendo e fazendo alguma coisa dar certo. Eu preciso que tudo dê certo pra trabalhar e preciso que nada dê certo para escrever. Eu preciso estar cheia e não dormir para me sentir útil.

Talvez eu não seja mesmo normal. Acontece que eu preciso estar full de paixão, feito fool. Aí eu fiquei lembrando da música do que guiava tudo no princípio. Eu cantava que era such a fool for you. E agora canto que it’s time to start changing the rules. E I’m a fool de novo.

Qual é a minha, afinal de contas? Por que é que eu tenho que botar o fool no meio? Por que é que eu tenho que ser a fool, Luiza? Isso de fool não ajuda em nada a escrita. Ao contrário, inibe. Enche de um jeito que é tipo ar. Eu fool me sinto bexiga. Full.

Pois é. A pressão está toda aí, mas a bexiga é forte e não vai estourar. Me passe a sua pressão e escreva, Luiza.

terça-feira, agosto 19, 2008

Pedaços

O vermelho era exatamente o que faltava ao cabelo para o meu rosto ser o que eu queria que fosse.
Agora sou o que quis. Muito estranho pensar que projetei coisas como projeto sempre e agora todas deram certo. Tenho achado que a paixão se dá por culpa de filetes de carne. Tiras. Pedaços moídos e principalmente cheiro.
Eu me apaixono por pedaços. Tons de vozes, olhos, peles, pêlos e nádegas.
Ele tinha carnes fartas e duras, boas de apalpar, e eu gostava de cada filete da carne que eu tinha que sugar e morder.
Ele era forte e grande e eu sumia num abraço.
Ele era do meu tamanho e tinha mãos finas.
Ele era magro e garregava o peso de um dia não ter sido assim.
Ele era bonito.
São os filetes que determinam a intensidade da paixão. Se a gente morde se apega mais que se não morde. Se a gente cheira e fica cheirando é pior ainda.
Filetes de cheiro grudam e fazem falta.
Muitas vezes é melhor não sentir o cheiro pra não correr risco.
Filetes de carne.
Vermelho.
O plano era esse.

domingo, agosto 17, 2008

Liquidificador

à Jeanne Bilich (que dificilmente vai ler este texto)
Ela me disse que os conhecimentos todos vão acumular na minha cabeça. Tenho muito medo de esquecer todas as coisas como já me esqueci dos problemas de física que tanto gostava de resolver. Gosto de me meter em tudo que não diga respeito a esportes. Ela disse que, como ela, eu gosto das coisas interdisciplinares.
O que eu queria saber é por que é que o campo de saber tem que estar delimitado e sê-lo apenas por ele mesmo. Biografias, por exemplo, são história, literatura, jornalismo e até psicanálise. Tudo batido no liquidificador com tanta uniformidade que você não sabe qual é o fator principal.
Estou me sentindo muito melancólica nesse texto. Me falta a doçura ou a ironia de outras crônicas. Nem tenho onde pisar agora. Estou com vontade de engolir o mundo e o meu próprio rabo, feito serpente.
Preciso correr atrás de mim.

O intelectual

Ele era tão temperamental e fraco que confundia. Não era possível saber se gostava de alguma coisa. Ele era responsável e dedicado, mas ranzinza. Não queria ninguém por perto que não fosse uma enciclopédia ambulante.
“Afetos a gente joga no lixo. Não servem pra nada.” Dizia e depois se apaixonava por várias mulheres que não gostavam dele só pra ele ter certeza que não devia mesmo sair do rumo.
E vivia triste e sozinho.

sábado, agosto 16, 2008

Fossa

Tinha perdido totalmente a graça. Não queria ver nenhum amigo nem nada. Ninguém. Tinha que ficar sozinha e pensar e rodar e dançar sem direção e sem voz.
Queria se esquecer que só uma pessoa importava.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Cotidianidades 001

Aí ele entrou com tudo na sala. Veio rápido. Acreditava estar voando por ter um lençol branco e azul amarrado no pescoço. Blusa vermelha. Sunga azul. Meias azuis sem nenhum tênis encostando no chão.
No alto de seus dois anos de idade ele tinha poderes e cantava "tan tan tan tan" com os bracinhos esticados para frente. Virou pra mim e disse “você é a mulher gata”. Acreditei. Ele ficou voando de um lado para o outro e eu caí na besteira de perguntar:
- Você é o Super Homem?
- Não! Sou o Batmaaaaan!!









Na foto, o Homem aranha

terça-feira, agosto 05, 2008

Da nada

Meninos, estive me pensando cronista. Mas cronista dessas que não tem absolutamente nada para escrever e escreve por que tem prazo pra entregar o texto.
Não tenho nenhuma história para contar, as minhas se esgotaram todas e ando vivendo uma rotina sadia, quieta e com picos constantes de raiva que mantem-me viva. `Preocupo-me, então, com a rotina alheia que por vezes parece muitíssimo interessante. Aí cansa. Cansa por que a história do outro a gente não vive, só ri. Nalgumas vezes a gente tem ciúmes de tanta emoção e suspiros que nós, meros mortais, não temos na rotina calma que se faz entre corridas de empregos, projetos, estudos, amores e colos.
Só que eu tenho que me forçar a escrever pra ser escritora de verdade. Esses dias alguém me falou de certa rotina. Acho tudo muito forçado. Acho que texto tem que vir da alma e com suor. Ou com vontade. A vontade é fator fundamental em qualquer texto escrito por qualquer pessoa.
Ultimamente, não tenho tido muita criatividade com palavras. Tenho mexido com cozinha.
Pra fazer angu você frita o alho, joga fubá, água e sal. De preferência, só isso, mas eu sei que você acaba pegando aquele tempeiro pronto que tem na geladeira e joga em tudo. Fica bom também. Mas o Angu sozinho não tem tanta graça.
Precisa ter carne moída em cima. E você deve fritá-la com cebola bem picada, jogar tempeiro pronto, sal, salsa, ervas finas e todas as coisas temperísticas que achar na geladeira. Depois de bem frita, joga água e deixa cozinhar. A cebola, nisso, derrete. Aí a água seca e você frita mais, depois cozinha mais.
Aí depois joga pomarola.
Por fim, uma camada de angu, uma camada de queijo e outra de angu e outra de queijo. E aí vem a carne moída.
Pronto, almoço.
Pronto, fiz crônica.

quarta-feira, julho 30, 2008

Marketing pessoal II


Prometo que depois dessa eu paro.
Acontece que são tantos links e fotos e tudo tão bonitinho que eu tenho mesmo que mostrar pra vocês.

Eu, na verdade, nem tenho muito o que dizer. Tinha uma frase pra copiar do Mário de Andrade e misturar com um poema da Viviane Mosé. É por que a Viviane fala que queria escrever pessoas inteiras, mas não hão. E o Mário fala que não existe uma pessoa inteira nesse mundo e nada mais somos que discórdia e complicação (tudo em caixa alta). E aí eu-metida-a-escritora-contista-ou-sei-lá fiquei pensando em como se passam pessoas por papel. Eu mesma faço tudo por instinto. Vejo um ou outro na rua que eu roubo. Roubo as histórias e as mágoas e principalmente os olhos.
Queria congelar muitas coisas. Espalhar muitas coisas e escrever pessoas pela metade mesmo, todas matusquelas, estranhas e estorvos. Eu gosto mesmo de personagens que fedem e não sabem cantar.
Comecei a escrever pra contar que eu fiquei gatinha no jornal, mais até do que eu fico de azul. E olha que eu, em azul com brinco grande, sou um arraso.
Estavam me falando de uma cronista lá que escrevia e que não gostam. Por acidente, li um texto dela hoje que gostei. Uma amiga até passou-a para o papel em versos apaixonadíssimos.
Eu não me atrevo. As pessoas que eu passo para o papel apaixonam. É como se eu virasse canibal e comesse uma ou outra pessoa - sem os ossos. E os ossos eu empresto ou invento.
Não sei bem o que escrever, mas gostei mesmo do que escreveram.

Olha que bonitinho!

Blog da Darshany
gazetaonline1, gazetaonline2,

terça-feira, julho 29, 2008

Idílio

à Simone Azevedo

Tinha uns olhos misteriosíssimos que ela tentava adivinhar o que diziam. Não sabia. Os olhos nunca tinham sido a janela da alma e ela devia não pensar em mergulhar neles. Tinha que se concentrar na pauta e voltar a ser jornalista.
- À respeito da teoria Gramsciana dos partidos políticos atuais...
- O que?
- Desculpe. Me perdi.
- Certo. Entendo. É novata?
- Não exatamente. Queria falar de ética.
João era forte, grande e professor do departamento de psicologia daquela Universidade. Pâmela tinha que falar de ética na matéria. Ela nem se lembrava mais do mote. Nem lembrava por que tinha que falar de ética.
- E por que eu?
- É uma pesquisa, João. Diferentes visões à respeito do mesmo tema.
- Entendo.
- Então eu queria saber até que ponto a ética profissional vale mais que a ética pessoal.
- Ética é um conceito de maioria.
- Como?
- É convenção. Vale pra grupos. Nunca é universal.
- E jornalistas?
- O que quer saber?
- A relação jornalista-fonte deve ser regida por qual ética?
- Em que ponto?
- Do envolvimento. A psicanálise não fala de transferência?
- Não é a mesma relação. Um jornalista pode perfeitamente se envolver com uma fonte, sem que isso se transfira para o objeto final.
- Tem certeza?
- A imparcialidade?
- Não há nunca. Teria que me esquecer de toda a carga que tenho e que me enriquece. Imparcialidade nunca foi pretenção de ninguém. Envolver-me com alguma fonte feriria minha ética profissional?
- Na verdade, não sei se é mais importante a profissional ou a pessoal. Feriria a ética pessoal?
- Ética não era um conceito de maioria?
- O que você pensa disso?
- O que você pensa disso?
- Pâmela, talvez, como pesquisador, eu queira conhecer à fundo todos os tipos de éticas pessoais de todas as pessoas. Seria um modo de melhor encarar a subjetividade do ser humano.
- E a transferência?
- Não sou Freudiano.

segunda-feira, julho 28, 2008

Marketing pessoal

Olá, queridos.

Dei duas entrevistas essa semana por culpa do blog.
Ou seja, estou me achando.
Uma é esta aqui.
A outra, sai no Caderno 2, de A Gazeta, quarta-feira, com foto e tudo.

That'a all...

Kisses

sábado, julho 26, 2008

Diálogo de surdos (não amistoso, no frio)

- Não, querido. Pode parar logo. Você não tem o menor talento em ser otimista.

- É verdade.

- Não me importa. Seu elogios despretensiosos demais têm uma pretensão que eu mesma não agüento.

- Você soa falsa quando fala.

- É a mania de dizer que é tudo verdade. A minha obviedade tem culpa também.

- Não te acho óbvia.

- Não elogiaria se não achasse.

- Por que?

- Se eu te intrigasse você ficaria quieto e nem saberia o que fazer. É um pessimista.

- Eu só disse que vai ser melhor depois.

- Não vai.

- O que você quer?

- Não sei.

- Incisiva demais... pra nada.

- Pra tudo.

- Pode parar. Você não tem o menor talento em ser arrogante.

- Como? É só o que sei.

- E meu otimismo?

- Você deixou que eu o engolisse como faço com sapatos, mancadas e sapos.

- Às vezes você me dá medo.

- É tudo simbólico. Em pouco tempo me torno uma xícara. O conteúdo você já bebeu. Aí deixa em cima da mesa pra encher de novo quando quiser.

- Por que xícara?

- Pra ser branca e de porcelana.

- Há recipientes melhores.

- Copos de requeijão são transparentes demais. De resto, não sou eu. A caneca de lata é outra pessoa, como os copos de plásticos. Eu hei de ser pra sempre a xícara que você deixou suja em cima da mesa.

- Não te deixei.

- Seu otimismo não convence mais.

quinta-feira, julho 24, 2008

Lia

Lia acreditava quando diziam que a falta é estruturante. Ao mesmo tempo tinha muito medo disso.
Tinha que saber onde ele estava e o que fazia a cada instante. Fuçava as fotos e os fatos antigos pra ver um buraco. Procurava se encher pra não dar falta.
E a saudade doía.
Ardia feito cachaça que ela tinha que tomar.
Se embriagava.

sábado, julho 19, 2008

Encontro I

Texto novo com personagens velhas.
À Simone Azevedo
Mariana é atemporal, Giordano não. Giordano só funciona em tempos de copa do mundo, e na década de 90. Sua história se passa em junho de 1994, entre prazos e atrasos e sempre narrativa. Giordano era incapaz de escrever versos, embora Alice dissesse que ele (sempre caso de pouco tempo) era muito mais verso do que prosa. Alice gostava exatamente da intensidade sem final que Giordano insistia em ter.
Mariana nem sabia que ele existia. Ela – Lolita sem idade e dotada de vários atributos e histórias todas rodrigueanas- encontrou com ele por esses dias. Mariana funciona quando quer, sem tempo e sem me avisar que vai aparecer. Giordano trava.
Os dois juntos – óbvio – não dariam certo. Ela tinha toda a impetuosidade de quem não sabe dizer não e ele tinha medo.
Mariana queria ler o livro que ele tinha deixado pela metade por medo de resolver os próprios problemas. E Mariana se interessou por ele mesmo sem coerência e coesão nenhuma. Ela queria descobrir o que ele guardava atrás da barba mal feita e dos cabelos mal-aparados. Pensou até que ele pudesse ser, noutro corpo, o óbvio. Mas não, Giordano era diferente e cansado. Não tinha os medos do óbvio, mas coisas novas com as quais Mariana não sabia lidar e nem queria. No fim das contas, ela o achava babaca por saber que ele não resolvia nada do que devia.
E Giordano não sabia lidar com Mariana, era confusa demais, idiota demais, sonhadora demais e romântica demais mesmo fingindo não ser.
Os dois tomariam apenas um café e seguiriam seus caminhos, sem os medos dela e os dele, que juntos fariam os dois entrarem em colapso. Com ela ele não conseguiria usar os elogios falsos de sempre pra conseguir o que quisesse. Ela sabia o que era e só faria o que desse na telha. No fim das contas, Mariana gosta mesmo é de pular de galho em galho.
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sexta-feira, julho 18, 2008

Vermelho

Post meu, mas que deveria ter sido feito pela Bellon

Eu não quero saber de você, nem do seu cheiro nem dos seus versos.
No fim das contas, tudo que antes era Vinícius agora é Neruda.
E eu continuo um chameur volante pela pista à toda que enfia a carapuça e canta
Do soneto de fidelidade ao soneto de separação.

Foi o lobo quem disse que ele tinha nome de poeta e que isso já era metade do caminho. E o lobo não é mau e nunca me mandou seguir o caminho errado. O lobo me manda ler livros bons que muitas vezes eu não leio e disse-se sem qualidades. "Chapeuzinho, o livro parece comigo, você tem que ler". O lobo sempre foi um cara bacana.
Semana passada, o lobo mandou a Vovó avisar que me queria num churrasco fechadíssimo que só os outros bichos iam (inclusive uns porquinhos cuja casa meu amigo freqüenta e me disse que são muito bem feitas).
Nem soube de mais nada no fim. Encontrei com a Cinderela no caminho e ela me ajudou a vender os doces que mamãe pediu. Estamos precisando de dinheiro e eu não posso ficar parada. Mamãe cozinha e eu sigo os caminos de floresta e estrada.
Vovó não compra os doces, mas mamãe não sabe. Mamãe acha que Vovó é cliente assídua. Sim, eu sempre levo os doces pra Vovó.
É uma pena que tenha tempo que eu não vejo o lobo. Espero que ele entenda que esse tempo vendendo doces vai servir pra muito. Quero ter loja, atender encomendas mil e cozinhar muito.
Na verdade, quero mandar em todo mundo e encontrar muitos poetas sentados com charutos acesos e quindins nas mesas. Eu gosto de olhar as casacas e os bigodes espessos sujos de café.
Já avisei pra mamãe que não vou servir quindim pra sempre.
O lobo me disse "Chapeuzinho, você vai longe."
E eu gosto de acreditar nele, mesmo sabendo que o longe pode ser bem perto daqui.


E lembrar do lobo faz esquecer todos os cassadores do mundo. Eu mesma não queria admitir, mas são todos poetas. Não quero mais encontrar eu-lírico de ninguém, se não eu suspiro no contrafluxo e me torno a mulher mais discreta do mundo.

Espera

Olhou no espelho e pensou que, talvez por culpa das sobrancelhas sem fazer há mais de mês, não tinha mais a cara bonita de sempre. Queria retocar a raiz dos cabelos, que já deixavam transparecer os cachos que ela havia escondido com formol. Não se satisfaria.
Devia ter nascido com cabelos lisos para não precisar de chapinhas, formol nem nada. Devia não se preocupar com o cabelo ou com as ancas fartas. Queria pensar em coisas além do corpo que ela mesma não via - nem veria.
E ele continuava sentado no sofá esperando que ela estivesse pronta - e bonita com qualquer cara. Mas ela não estaria pronta sem fazer a sobrancelha, enfiar formol na cabeça e voltar a cantar.

segunda-feira, julho 14, 2008

Anna

Pegou as coisas, jogou na mala e foi embora. Uma bolsa de lado leve com caneta e papel e a mala grande que ela mal aguentava carregar.
Anna foi por que não podia ficar e nem sabia como é que as coisas continuariam naquele lugar de banheiros sujos e brigas constantes. A colega de quarto nem tinha acordado. Se bem que, pra ela, pouco importava o que quer que acontecesse com a outra.
O sono já não era companhia constante e talvez não voltasse a ser enquanto a conciência pesasse mais que a mala. Toda a melancolia ela anotava com letras trêmulas no caderno que não saia de perto dela.
Desceu na rua errada e não sabia mais como seguir, nem pra onde. Ia puxar o caderno pra anotar alguma coisa, mas sentiu um cano frio na altura da cintura.
- Passa a bolsa.
- Por favor, não, moço.
- Eu não tô brincando.

A mala ficou, o caderno foi. No fim das contas, Anna só sentou e chorou.

sexta-feira, julho 11, 2008

O peito

Ele passou a mão na barba branca e disse que a paixão acaba quando o mistério acaba. Gelei. Não podia assumir que ele estava certo por gostar de manter paixões por muito tempo. Mas a verdade é que a inconstância e os segredos e os medos acabam. É a espera e o não-saber que mantém a paixão, feito fogo de dúvida. Lembro ainda dele sorrindo e dizendo que grandes amores não. Logo pensei em ternura. No fim das contas eu concordava com toda a coisa do mistério e queria logo começar minha próxima paixão sem nunca dizer o nome verdadeiro.

Seria eu cada dia uma personagem nova com todos os cabelos que a tesoura permitisse e perucas. Iria à praia e aprenderia novas danças para impressionar de jeitos diferentes as novas e velhas pessoas. E a paixão me faria de besta, não iria quando eu chamasse e depois chegaria na hora não-marcada que eu quereria. Daria telefonemas e me diria como queria cada coisa (que eu obviamente não faria, pra manter a paixão).

E a barba dele me lembrava que eu nem devia pensar em nada daquilo. Devia manter a ternura e não ter dúvidas. Devia gostar de ternura como eu bem gostava e gostar de carinho como eu ainda gosto. Eu devia manter no peito a coisa quente que sempre vem. E me mantive quieta e muda.

Tive que repensar todos os dias uma inconstância cansativa para manter tudo constante e forte.

domingo, julho 06, 2008

Velha

O problema é que ela não sabia o que faria depois de se levantar daquela pedra e abandonar a sombra daquela árvore. Gostava do cheiro de mato e areia daquele lugar, mas tinha que prosseguir para mais goiabas e talvez até uma jornada em outro lugar.
Tinha dito que queria estar longe, ser forte e não ter mais nenhum medo. Mas estava assustada com tudo que poderia ser e inclusive com o que tinha acabado de perceber que já era.
Olhando à volta via pouco além de leite na lata e crianças sujas. Olhando pra dentro via pouco além de mágoas e vontade de não se ser.
Teria que assumir que o problema não era da árvore nem das crianças. O leite deveria ter sido tirado há pouco tempo da vaca e, se ela tivesse forças, derramaria-o e se esqueceria de tudo que não queria se lembrar enquanto ele se misturasse ao chão.
Levantou, devia pegar as goiabas antes que elas caíssem do pé.

segunda-feira, junho 30, 2008

Psi

Eu só escrevo por que não sei fazer mais nada.

Entreguei um envelope vazio e fui.

Não sei se a casa está cheia ou vazia, mas os mitos eu guardo na bolsa, na aba do chapéu e na memória.
A verdade é que tenho muita vergonha dos meus atos-falhos.

quinta-feira, junho 26, 2008

Crônica de domingo

Se meu humor estivesse um pouco melhor que o de quem não dorme direito há mais de uma semana, talvez eu tivesse sorrido. O fato é que hoje é domingo e a minha pressa não combina com o sono do resto do mundo.
Não quis esperar na fila e deixei no balcão dinheiro à mais pelo iogurte que deveria ser meu café da manhã. Acontece que o mau-humor, quando não-ressaca, é muito mal visto aos domingos e eu não sei bem lidar com essas regras. Todos os sorrisos e as lerdezas me incomodam.
Aos domingos, a pressa só está certa quando diz respeito ao último horário do cinema.

domingo, junho 08, 2008

cortina

é no palco que eu gozo, meu nêgo.
Com todas as onomatopéias que eu invento e falo
é lá que u me acho e me perco sem nenhum pudor
é lá que eu me sou sendo outras e todas iguais
é a minha gargalhada que ecoa e é pra mim que olham
com qualquer cara
voltei até à fase dos poemas sem nenhuma rima
poemas por puro gozo
por puro palco
poemas pra palco e de salto
pra testar a lingua e passar a lingua nas coisas que vejo
passando as coisas que vejo pra lingua
no palco eu sou tão genial, meu nêgo
toda mulher gosta de rosas
toda mulher gosta de aplausos

sexta-feira, maio 23, 2008

Chico




Ô Bárbara, se deus dará eu não vou duvidar
Nunca é tarde, menina, nunca é demais
Deus dará
E se deus negar
Sou Ana do dique e das docas
De vinte minutos
Sou Ana da brasa dos brutos na coxa.
Vou me indignar e chega!
Deus dará!
Chico e Caetano - Partido alto


Chico Buarque - Bárbara


domingo, maio 18, 2008

quatro

Hoje estou com tanta preguiça de escrever que talvez não devesse fazê-lo.
Acontece que o ímpeto vem antes de tudo, até de ter histórias pra contar.
A verdade é que não tenho nada senão ímpeto.
A verdade é que gosto de não falar nada fingindo que falo tudo.

E o título não tem nada a ver.

sexta-feira, maio 16, 2008

Pretenção

Duas linhas sozinhas
Não fazem poema
três talvez

terça-feira, maio 13, 2008

Roda

Há dias em que todo o corpo é secreção e todo cheiro é ruim.
Há dias em que a gente simplesmente não quer.
A gente estancou de repente?
Tem dias que o corpo todo é fumaça e nada de versos.
Há dias em que ninguém versa, nem conversa, nem nada.
Há dias água.
Há dias chão.

sábado, maio 10, 2008

Espetáculo

Vams ao picadeiro!
A gente fica pulando naqueles balanços que ficam no alto.
Como era mesmo o nome?
Vamos botar narizes de palhaço e brincar até mais que meia noite por que não precisamos dormir!
Vamos pular e dançar e eu vou me amarrar naqueles cordas que me fazem balançar e enrolar o pé.
Aí eu vou ser bonita, mais do que já sou.
Por que bailarinas são sempre mais bonitas. Nas cordas, então, ficam estonteantes.
Vamos mergulhar na porpurina e perder o medo.
A gente sabe fazer tudo, beibe!
Show most go on.

quarta-feira, maio 07, 2008

Gota D'água

Não quero beber do seu café pequeno, nem fumar cigarros da sua boca.
Não quero sua saliva e não quero seu abraço.
Quero antes o lirismo dos loucos e dos bêbados
o meu lirismo rasgado, como era quando original.
Eu quero meus sais e suor em versos perdidos por paredes, flores e gotas.
Legal pensar que quero todas as gotas d'água.
quero inclusive Joana pra cozinhar temperos de vento e raiva com sangue e botar no bolo de chocolate das crianças.*
Quero tudo ter estrela, flor e estilo.
É que eu sou muito sentimental.
rock'in roll e bossa.
Sou bossal: Samba dançado na fossa.
Eu nem sei rimar, quero empobrecer os fins de versos com sempre substantivos.
Quero aquilo.
É que eu sou muito sentimental.
Quero à quilo.
É que sou mesmo bem racional.


* referência à peça Gota D'água, de Chico Buarque, uma releitura do clássico Grego Medéia.

terça-feira, maio 06, 2008

Um selo que é um abraço.


O sexto é o Gota D'água.Vejam, eu
também leio o Gota d'Água. Não com a frequência com que leio os outros cinco,
mas este, coisa que já é extremamente conhecida, também é altamente
recomendável. Aline escreve naturalmente: é um fato decorrente de ela mesma,
como as gotas de sereno se juntam numa folha até pingarem, de manhã. E toda
escrita fluente como essa é coisa que não se deve perder, mesmo que, o que não é
o caso, não se goste do que está escrito. Só a fluidez já é suficiente para
deixar os neurônios descansados. Ela não faz a mínima idéia da existência deste
meu blogue, e peço a Darshany que lhe avise do selo, por favor. Não que vá fazer
muita diferença, uma vez que o Gota d'Água já deve ter uns cinco
deste.



Harry, no seu blog modernista






Pois é, eu não sabia mesmo que o blog dele existia, infelizmente. E eu realmente já tinha esse selo e é engraçado, que no mesmo dia a Bia me deu esse selo de cima. E bem, eu não esperava um outro selo, dois outros selos, assim.

Eu achei tão bonito isso, moderno e universal e não-totalizante. Achei tão com gosto de abraço.

Eu precisava dizer obrigada. à Bia e ao Harry.

Obrigada.

sábado, maio 03, 2008

De amor e fumaça

Ele fumava compulsivamente e ela olhava. Não gostava de cigarros, mas achava muito bonita a fumaça entrando e saindo da boca dele. Achava bonita a boca dele. A verdade é que ele na frente dela dava sempre vontade de dança, abraço, beijo e fumaça. Fumaça por que ela volta e meia se via querendo ser desfeita em ar pra entrar e sair da boca dele inteira.
Ele nem sabia das vontades todas delas. Achava que ela achava apenas que ele fedia. Passava mais perfume do que agüentava pra que ela sentisse menos cheiro de fumaça e mais cheiro de paixão. Ela reclamava do cheiro de cigarro, mas não confessava que gostava do cheiro de fumaça que ele tinha, especialmente quando misturava suor, perfume e shampoo anti-caspa.
E nessas de cigarro, perfume e nenhuma resposta, os dois dançavam uma bonita história de amor que não era constante, mas entregue e nada saudável. Se gostavam nos detalhes, mas sem respostas. Se gostavam no corpo e na volúpia constante de tentarem se agradar mais do que eles mesmos podiam. A verdade é que eles eram tão bonitos quanto a fumaça que saia da boca dele, vista por ela.

quinta-feira, maio 01, 2008

Lactopurga


- Sim, tive um bloqueio.
- E quando sai o texto?
- Assim que o bloqueio passar.
- E quando é isso?
- Não faço a menor idéia?
- E está assim, calma?
- Escrita não se força, meu bem, é que nem cocô. Se você toma lactopurga dói a barriga e fica mais fedorento que o normal. Cocô bom é o que sai natural, tipo escrita.
- Certo. Você escreve como caga?
- Sim. É fisiológico e tem que sair, se não eu passo mal.
- Interessante.
- Vou desligar, preciso ir.
- E quando me entrega o texto?
- Quando eu não precisar de lactopurga pra escrevê-lo.


____


Tenho um blog novo, queridos. Isso não significa que abandonarei o Gota D'água. O blog novo é o avesso do que eu faço aqui, com pretenções jornalísiticas, inclusive.


com copo na mão, claro.

terça-feira, abril 29, 2008

O meu amante


O cansaço é engraçado.
Por mais que os ombros doam, os olhos fechem e eu não queira fazer mais nada, só durmo se for pra acordar amanhã e fazer as mesmas coisas, ou mais.
Talvez o cansaço seja um temperamental. Amante desses de uma noite ou outra, que chega sem querer compromisso, me toma e me deixa em paz quando acordo.
Imagino agora o cansaço de chapéu preto e sorriso malandro me massageando os ombros e querendo me beijar a boca. Ele vem como um apaixonado que não quer largar meu braço. Ele vem como paixão e não me deixa ver mais nada. Ele vem e vai, constante e inconstante ao mesmo tempo.
O cansaço é engraçado. Estou apaixonada por ele, mas ele não pode saber. É um cafageste.

domingo, abril 27, 2008

Todos os selos do mundo ao mesmo tempo

Faz um tempo, a Camila Bellon, me indicou uns selos que eu teria que passar a diante.



Esses dois, eu teria que passar cada um a um blog. E vou fazer o seguinte. É um blog muito bom sim senhora vai para o blog da Bia, que merece muitos selos inclusive. Já o este Blog não me sai da cabeça vai à minha queridíssima Marcela Rangel, conhecida no submundo da Ufes como Chuck Norris.

Aí, depois da Camila, a Darshany lindona me indicou um selo, que é esse aí:


Este selo verde, com essa cara psicopata, tem cara de Flora. E é pra ela mesmo que ele vai. Um blog se desmanchando.

Por último, a Fiorella me indicou de novo o mesmo selo que a Camila tinha me indicado, do blog muito bom sim senhora. Só que a Fiore é mais exigente que a Camila e quer que eu indique 7 blogs.
Aí vão:

Ipsis Litteris
De amor e de letras
Thiara Pagani
Saco de Filó
Cacos Blog
Caio Lamas
Penny Lane


Enfim, todos os blogs linkados nesse post valem totalmente à pena.


beijos e queijos!

sábado, abril 26, 2008

For all




Não são apenas cheiros e pernas. Existe toda a melodia e o ritmo dos corpos inteiros entregues. Acompanha-se a letra da música com os lábios que não cantam e os corpos que tentam requebrar e se agarrar pra não cair. É preciso que se dance junto, rodando, dando passos pra frente e pra trás. É preciso mais que dois pra cá e dois pra lá.
Não são apenas cheiros e pernas por que a beleza vai além disso e a dança, quando de dois, pode ser sim pura e dança. Pode ser apenas espetáculo, com paixão de dança e não de corpo.
Mas é preciso que se sinta todo ritmo e que se dance toda música. É preciso não ter vergonha e mexer bem os quadris. Há que se entregar à melodia e aos sorrisos que ela traz por si só.

Trio virguline e Trio forrozão - Até mais vê


sexta-feira, abril 25, 2008

Isabella é minha vizinha

Eu já sei que a Isabella era linda, uma gracinha, ótima menina, brincalhona e doce. Eu já sei que ela tinha pais que não moravam juntos e uma madrasta passional. Eu já sei que ela tinha alguns irmãos e que gostava deles. Eu já sei de tanta coisa que é como se a conhecesse e ela tivesse vindo algumas vezes à minha casa brincar com os meus irmãos.
A verdade é que todo o dia aparece uma coisa nova, como se a minha vizinha me dissesse da janela o que acontece na casa dela. Eu não quero que o pai e a madrasta da Isabella a tenham matado por que ambos são também meus vizinhos, como ela. Tive mais contato com ela, é verdade. Criança doce que era, vinha volta e meia aqui em casa brincar com meu irmão e comer pipoca. Só me dei conta disso agora. Não me lembrava de tê-la conhecido antes da morte.
Não me lembrava de ter conhecido seus pais, tios, avós e conhecidos. Nunca vi Isabella de uniforme de colégio, mas é como se a tivesse visto e ela fizesse parte da minha vida todos os dias. Por que todos os dias o jornal me mostra uma coisa e eu quero saber de outra. Parece mesmo telefone. Eu fico sabendo mesmo sem querer saber, como se me contassem na cozinha enquanto tomo o café.
A morte da Isabella é como a morte da vizinha. E quem é ela? E por que ela?
Ela era doce e brincalhona como muitas crianças. Ela acabou virando um mártir. Eu não queria que ela morresse, na verdade. Queria mesmo que ela brincasse. E há dois meses atrás nem me importariam os culpados por que eu simplesmente não saberia.
Isabella morou do meu lado a vida inteira, mas só agora eu percebi. Mas não é só a Isabella que morre, nem só o João Hélio. Chorei pelos dois e gosto muito dos dois. Lindos. O João Hélio até fazia Kumon e poderia ter sido meu aluno lá.
Ainda assim, por que Isabella especificamente? Por que a morte dela tem que ser transformada em folhetim?
Alguém disse que a mídia explora isso por conta da cultura de achar que família é sinônimo de segurança e quando a família não trás segurança é notícia.
Mas eu, sem nenhuma base científica a não ser meu achismo, digo que não tenho nada a ver com Isabella. Nunca a vi. Eu não quero saber e nem tenho por que. Nunca nem gostei de páginas policiais.
Só que é tanta gente e tanta mídia e tv e tanta coisa que nem tem como não querer. Me contam da Isabella enquanto eu tomo café. Ela sempre esteve na porta do lado.

terça-feira, abril 22, 2008

Jornada

Um tanto cansada.
Os ossos inteirinhos e a mente funcionando à mil.
A pilha não tarda a acabar.
Come dois quilos de macarrão com molhos diversos, esfihas e coca-cola.
A pilha não deixa de enfraquecer.
Come as unhas.
Não mata a fome, mas desestressa.


domingo, abril 20, 2008

Três meses

Tocou-lhe a face com as mãos exitantes. Talvez não devessem ser tão íntimos em tão pouco tempo, mas ela tinha que admitir que parecia certo e que os dois eram absurdamente bonitos um ao lado do outro.

E como é que ia ser se não fosse assim? Botões de rosas e músicas bonitas faziam parte do caminho de pêlos, pernas, bocas e mãos.

Era enfim um romance doce e leve, engraçado e gostoso, como devia mesmo ser. Tocou-lhe a face com as mãos carinhosas. Tinha que reconhecer cada poro e dizer a ele que a simetria do seu rosto era fascinante, mas não vencia os olhos.





*eu imaginei que você esperasse algo.

terça-feira, abril 15, 2008

Choque [trecho]

Ela
Falta alguma coisa.

Ele
A menor distância entre dois pontos é uma reta.

Ela
Botão de flor.

Ele
Falta achar o ponto.

Ela
Talvez traçar a reta.

Ele
Falta o traço.

Ela
Já sabe da reta, dos pontos, sabe que falta. Falta o que?

Ele
Eu achar meu ponto.

Ela
E quem traça a reta?

Ele
É instantâneo. A reta é lógica. Tomo um ponto. Toma outro. Ficamos um de frente para o outro e caminhamos até nos chocarmos.

Ela
E tem mesmo que chocar?

terça-feira, abril 08, 2008

Aplauso



E de repente, todas mãos se espalmam ao mesmo tempo e desritmadas e todos os olhos de todos que estão ali brilham na sua direção. É o ápice e você só pode fazer reverência por que aquilo é seu e você merece toda aquela desritmia. Você se inclina por que sabe que aquilo é bom. E é tão bom que merece a sua reverência e seu agradecimento.
Obrigada por reconhecer como eu sou foda e aumentar um pouco mais meu ego.
É por isso que um ator se inclina.
Obrigada por que o meu show é foda.
Obrigada por perder seu tempo comigo e obrigada por estar de pé. Entenda, te dar prazer a ponto de você aplaudir me dá prazer.
Eu tenho tesão de aplauso. Meu olho brilha mais que o seu e meu coração dispara, os seios ficam rijos e eu entro em colapso positivo e de espasmo. Ai. Aplauso é gozo e eu gosto.
Lembrei hoje qual era a minha com o teatro.
O lance é palco e não texto.
O lance é sempre o aplauso. Ai! Adoro arte que não é solidão. Adoro por que solidão dói e aplauso não. Adoro a responsabilidade de ter que dar um show e ter que ser aplaudida.
Eu gozo e a adrenalina vai à toda.
Eu fico à toda e fico toda e tremo. Eu gosto.

sábado, abril 05, 2008

Casulo

Estou fedendo. Estou flácida. Estou fedendo, flácida e rasgada. Estou aos cacos e com lascas de várias festas.
Estou com pressa e completamente sem direção. Incompleta. Estou com fome e sem fome e com ânsias de vômitos e diarréias que não saem nem sairão por que eu me travo e engulo tudo.
Estou queimando e não é de paixão, mesmo sendo tudo paixão. Estou fedendo paixão e com sono e com fome e com raiva.
Questionaremos então a vida, o universo e tudo o mais. Questiono a roupa que eu visto e o cheiro que eu exalo. Questiono pra tudo e pra nada. Os ombros dóem.
Parece que veio uma furadeira furar minha coluna e me deixar mole.
Estou fedendo e sou uma lagarta.

quinta-feira, abril 03, 2008

Vício



Baralho é das poucas coisas que me descansam de verdade. Me relaxa. Baralho e escrita me relaxam. Se você me disser que são vicios manuais, digo que na verdade não.
Qualquer um dos dois é vício de corpo inteiro, oratória e olhar.
Por que a graça das cartas é o blêfe e a bricadeira. O mistério de mãos e a lógica envolvida.

A graça da escrita é ela ser paixão no papel. Escreve-se com o corpo inteiro, não apenas com as mãos(acho até que se escreve muito mais com a língua e o sexo do que com as mãos). Como não se joga baralho só com as mãos.

terça-feira, abril 01, 2008

Maybe


Ela disse talvez pra fazer poesia. Tinha um medo grande de cair no chão. Muito mais fácil dançar com vários que se ater a um. Muito mais fácil não se entregasr que fazê-lo.
Então ela sempre dizia maybe. Sempre passava perfume forte e doce e saia bonita pra dançar com vários maybes.
Então surgiu um maybe que virou the one, mas continuaria maybe pra ela ser segura. E ela dizia talvez pra fazer poesia, pra não perder a dança.
Vários poemas pra nada ter estrutura de começo, clímax e fim.

quinta-feira, março 27, 2008

Vinho Barato

Texto velho, do ano passado, por que a falta de tempo e o cansaço não me permitem poesia nova


Gastei cinco reais com aquele vinho barato e acabei fumando um cigarro de menta. Ainda está me arranhando a garganta mais que minha gripe que também parece ter piorado por conta do choro. A cabeça dói do vinho e da raiva. Eu não consigo dormir.
Há tempos que já não tinha desses problemas, eu deitava e dormia onde estivesse.
Talvez eu não esteja cuidando bem nem do meu fígado nem de mim. Mas o fato é que ele disse que eu sou boa demais pra isso e o gosto do cigarro foi embora no ralo da pia depois que eu escovei os dentes.
Talvez o cigarro seja tão necessário quanto o Ed Motta no meu som. Não quero nenhum dos dois e enjoei de Ed Motta. Não to ligando para a Colombina ou o Arlequim.
Eu sou boa demais, ele disse.
Mas eu queimei o braço no ferro de passar e eu estou tão cansada de queimar o braço no ferro de passar. Tão cansada de me queimar tentando ajeitar as coisas pra fazer tudo dar certo.
Eu estou tão cansada de tentar fazer tudo dar certo.
Eu estou tão cansada que nem o vinho e o cigarro deram conta.
Os dois queimaram e não deram conta do meu braço com duas queimaduras leves e pequenas que vão virar marcas pra durar anos e anos a fio.
As queimaduras sempre são leves e pequenas e eu sempre curo com batatas que eu não sei onde foram plantadas ou que tipo de agrotóxico levaram. O importante é que as queimaduras deixam marcas, mas eu sempre agüento.
Mas hoje não.
Hoje eu não agüentei o braço queimado e não me agüentei disposta a me queimar mais. Ele disse que eu sou boa demais pra isso e tem razão.
Eu não preciso me queimar e não preciso não dormir.
São cinco da manhã e minha cabeça dói de vinho e falta de sono.
Não é meu porre de cinco reais que me dá dor de cabeça.
Foi um real o milho, dois reais o cachorro quente, dois reais a coca cola e cinco reais o vinho.
Parece que dizes, te amo, Aline
Na fotografia estamos felizes
Parece bolero te quero te quero
Tenho que ler Eva Luna e aprender a cantar Chico direito. E tenho que editar matérias e tomar sol. Tenho que dormir e tenho que mar e tenho que esfriar a cabeça. Tenho que fugir e tenho que mar e tenho que mar que mar que mar mar.
Tenho que desqueimar.
Tenho que desvinhar e despertar e correr.
Tenho que encarar de frente por que é esse o final que eu buscava para a história.
Ele perguntou enquanto segurava forte o meu braço:
- e o final?
Eu não sabia responder no pânico daquele dia. Mas o final sou eu aqui escrevendo mais um texto de vinho barato e insônia. O final sou eu sozinha mais uma vez e mais uma vez sem chão.
E no fim eu não devo ser tão boa assim.
Ou sim.
Foi cinco reais o vinho que não valeu.
Foi vinte reais o livro e foram muitos reais de nada.
Amanhã vão ser cinco reais de chocolate se o mar não der conta.
Ai eu preciso tanto de mar quanto de texto. Por que o mar sabe me ler e me lamber como ninguém. O mar é tão mar que eu mar no mar. Eu quero me misturar feito leite em pó instantâneo. Vou ver se durmo agora, às 5 e acordo às 8 pra nadar num sol de sete na praia que cheira cocô do show de ontem.
Mas é que eu preciso tanto de mar.
Mar pra me entender e desmistificar. Pra me ser talvez inteira como não tenho sido e provar pra mim que eu não preciso de colo e nem de ninguém e que passou o tempo de ser mimada como eu sou. Passou o tempo do sim.
E passou o tempo dos morangos que estamos em fins de outubro.
É hora de dormir.

segunda-feira, março 24, 2008

Devaneio

E ele me ignora mais uma vez.
Deve ser divertido em algum lugar do planeta.
Eu, no entanto, não me chateio, queria mesmo era estar no cinema.

quinta-feira, março 20, 2008

Beleza

Que bom que são dois meses de mim com você.

segunda-feira, março 17, 2008

Feminices

*sei que a resolução da imagem não está muito boa, mas vale à pena.



Uma não gostava da outra. Tinham um caso em comum e se suportavam por política e feminismo. Não podiam admitir que homem fosse motivo de discórdia. Ainda mais um homem baixo feito ele, menor que as duas. Elas não sabiam de onde vinha o imã que ele tinha e se viam no espelho quando se encontravam. Ainda assim, não gostavam de se ver e de saber que ele estava com a outra.
E isso durou até elas sentarem uma do lado da outra e começarem a falar quanto prazer tinham sob a pele quente dele. Como ele gemia e como mordia e como gostava. Discutiram tempos sem chegar a qualquer conclusão e o viram passando com uma terceira.
A terceira não tinha nada do físico das duas, nem nada da personalidade. Parecia oca e sem egocentrismo, chata e mole. Parecia flácida e mulher não perdoa flacidez alheia.
A terceira parecia traição e as duas inflaram as narinas pra brincar de raiva. Não sabiam quão grandes eram e nem queriam tomar forma. Uma não gostava da outra, mas engolia por que as duas eram bonitas e instigantes, mesmo uma para a outra. Todos os defeitos que uma via na outra eram inventados e as duas tinham se acostumado a partilhar. Eram iguais.
A terceira não podia, explodia e era mole. Mulher mole nenhuma das duas agüentaria. Politicamente, então, as duas se juntaram e fizeram uma festa em que ele não sabia que ia encontrar nenhuma, mas não poderia perder.
Começo foi simples, ele dançou e bebeu. O fim foi complicado. Ele tinha que se ajoelhar ante o deus de marfim pra vomitar, mas já tinha ingerido mais laxante do que qualquer pessoa normal agüentaria.

domingo, março 16, 2008

Carta ao Blogger

Venho por meio desta manifestar minha indignação em relação a este provedor maldito que volta e meia me impede de comentar em outros blogs, acessar alguns conteúdos, visualizar algumas imagens e –ultimamente- tem me impedido de postar imagens no meu blog. Saiba, senhor Blogger, que blogueiros de primeira, segunda, terceira ou quinta linha, tem necessidade de postar imagens quando bem entenderem. Não vou transformar isto aqui num fotolog, mas veja bem, não ando conseguindo mexer em html tem UMA SEMANA. Isso não é coisa que se faça com uma blogueira empolgada que se propões a escrever literatura diretamente do seu computador e recebeu selos bonitinhos recentemente. Inclusive, gostaria de linkar a Camila e a Darshany nessa postagem, agradecendo-as pelos selos, mas isso é muito difícil.
Senhor Blogger, querido, o wordpress tem me feito propostas indecentes e tentadoríssimas. Se eu soubesse como passar esse lindo layout rosa-pink-berrante-céquici para o wordpress, mudava logo. No entanto, o seu provedorzinho tem sido minha casa há mais de ano e eu até aprendi a botar contador em janeiro. Ó que bonitinho ali do lado!
Senhor Blogger, eu fico. Eu fico e eu sei que você não vai fazer nada pra que eu continue e nem faz questão da minha presença! EU SEI DE TODA A FARSA! Eu divulgo seu nome naquela comunidade do orkut. E divulgo em cada comentário. Divulgo no meu MSN! E me diga: PRA QUE? À troco de que?
Senhor Blogger, nenhum raio de imagem eu consigo postar. Só vídeo. Nenhum link eu consigo botar, só vídeo. Não vai ler esse meu apelo, que eu sei. Mas saiba que há mais blogueiros insatisfeitos e nós podemos nos unir, te jogar no expresso do oriente e depois iremos direto para o Wordpress. Muahahahahaha!!

terça-feira, março 11, 2008

Vem!

Deixa de besteira e vem aqui pra casa. Dorme comigo hoje à noite, eu faço a janta e deixo a cama quente. Lavo as roupas todas e até boto música bonita pra a gente ouvir. Deixa de besteira e confessa que se sente tentado a aceitar mais esse convite ficcional. Meu colchão é dos bons e a vista da janela tem cores bonitas de fumaça e construção.
Depois a gente pode caminhar na praia e dizer coisas idiotas um para o outro. Teríamos um mundo nosso e faríamos séries e séries de besteiras lindas.
Deixa de besteira que a lua está bonita e o céu parece ter sido bordado pra nos emoldurar.

sábado, março 08, 2008

Sobre escrita

Não gosto de palavras complicadas demais, nem de ritmos complicados demais.
Gosto das coisas quando dançam de leve ou pesado.
Gpsto das palavras quando dançam saindo da boca ou da mão.
Gosto de tudo que voa. Palavras que voam.
Gosto de palavras moles e fáceis, ritmos moles e fáceis.
Palavras e ritmos que façam dançar automaticamente, gramaticalmente, infinitamente.
Quero todas as palavras do mundo batidas no liquidificador e formando solos de guitarra.
Gosto quando as palavras me lambem as orelhas e me molham
E quando escorrem

segunda-feira, março 03, 2008

French kiss

Ele era o segundo cliente do dia e seguia o mesmo esquema do primeiro. Abraço, mão nos seios, cama e nada de beijo na boca. Pra ela não importava que ele fosse limpo ou sujo. Usava preservativos e sentia-se mais ou menos protegida. Fazia exames regulares pra nada assustá-la ou se tornar grave. Mais um cliente, um intervalo e nada de beijo na boca.
Naquela tarde, no entanto, alguma coisa fez a casa dela tomar cores diferentes. O cheiro dele invadia o lugar e todos os seus poros. O cheiro dele a dominava por completo e ela não sabia por que. Então ela tentou ser profissional e botou as mãos dele nos seus seios. Não era o que ele queria.
Ele se aproximava ameaçadoramente da boca dela e ela desviava. Pensava que pra isso devia haver mais. O contato entre bocas é mais íntimo que todos os outros. Se ele encostasse nas suas nádegas ela não se ofenderia nem fugiria.
Ela sabia que havia algo estranho na quantidade exagerada de perfume e sabia que tinha vontade de experimentar um beijo na boca simples e casto. Não era simples. Não era casto. Era vulgar e vil e pesado e ela não queria de forma alguma ter que encarar nenhuma boca que não fosse amor. Não podia ser nem paixão. Tinha que ser bonito e mágico e vir acompanhado de flores, danças e estrelas pintadas no céu pra tornar mais bonita a cena.
Ele continuava insistindo e ela o expulsou. Mais um cliente sem beijo depois.
E ele voltou com mais perfume e mais dinheiro e até perguntou-lhe o nome de verdade. Conversaram tardes inteiras com ele pagando o sexo que não queria e o vinho que gostava.
Talvez ela o amasse, talvez não. Mas no dia em que resolveu beijá-lo não cobrou a hora e cancelou todos os outros clientes. Beijou-o um dia inteiro sem nenhum vinho e quase sem mãos.

sábado, março 01, 2008

Perséfone

Olheiras enormes. Maiores do que se espera num rosto de mulher. Havia também alguma coisa no jeito de andar que não parecia simples, nem torto. Ela andava mole e preso ao mesmo tempo, gingado depressivo e lacônico. Olheiras grandes que não faziam o rosto ficar feio de forma alguma. Havia certa beleza nas sardas e na palidez ultrarromântica. E sim, o mal do século era ela que usava saias. Por que qualquer mal do mundo nela era mais intenso e só ela importava.
Gingado mole, olheiras e egoísmo superior a egoísmos leoninos. Ela se via rodar, então. Se via sem lugar e sem drogas que a satisfizessem. O que ela era e o que tinha era o gingado e as olheiras. O que ela tinha era o mistério que as olheiras davam, a curiosidade que o gingado provocava.
Não. Ela não tinha lugar. Continuaria pra sempre a rodar. Peso enorme no peito. Maior do que se espera no peito de qualquer mulher sem filhos.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Conto de fadas

Aviso aos navegantes: o texto que se segue tem trilha sonora. Fica melhor ao som da música do vídeo do que sem ela.


- Casa comigo?
- Tá com algum problema?
- Não, na verdade eu tenho pensado nisso há muito. Casa comigo e a gente passa a ter dois violões e uma casa e muitas pipocas.
- Não me parece certo.
- Sim, na verdade eu já quero há muito tempo, mas eu sou menina e não devia pedir por que é o homem que tem que ficar de joelhos. Mamãe que ensinou. Mas casa comigo e destrava que nem eu destravei quando senti seu cheiro?
- Pense bem, vamos estragar tudo.
- Não acho. Quero casar fugido e sem chamar ninguém. Vamos? A gente pode ter um sonho romântico de outono e inverno e primavera e verão e pular de problema em problema. A gente pode brigar um monte de vezes e depois dormir na mesma cama abraçado e de pazes feitas.
- Não pode ser simples assim, menina.
- Ah! Vamos! Deixe de ser bobo que casado a gente pode sempre brincar de roda e você pode me trazer flores. E eu nunca mais vou doer por homem nenhum que só você vai valer pra sempre até a morte ou mais.
No rosto dele então fez-se um sorriso por que ele se lembrava que sempre pensou que Romeu e Julieta deviam se encontrar depois em algum lugar. E tudo parecia tão simples quanto a simetria do rosto dela. Tudo parecia tão bonito quanto ela. Ele de sério e frio e travado foi ficando mole. Aí ela percebeu e pulou em cima dele num abraço e beijo de menina que é mulher.
E a fada madrinha providenciou muitas cenas de contos de fadas e brigas de romances adultos. Por que era assim que a mocinha pensava o final feliz.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Capitu

à Rayane almeida

Foi num dia como hoje que nasceu meu italiano. Um dia em que eu não tinha nada
pra escrever, mas aquela vontade enorme. O italiano não é um personagem meu. Me
encomendaram e ele tomou forma, até se tornar meu. E foi bom, por que ele é
grande e sórdido e nojento. Eu gosto de personagens que as pessoas me mandam
escrever. Por não ter nada que venha de mim, pego então o que vem de fora.
Comecemos:




Se Nabokov a tivesse visto, sua Lolita não seria ruiva nem sardenta. Teria pele branca rosada e lisa, rodeada de cabelos muito pretos e enfeitada por uma boca naturalmente rosada. Seria também magra e pequena, com a voz um pouco arrastada e um sotaque forte de quem se criou na roça. Seria brasileira e teria gingado de funk.
É uma pena, mas Nabokov nunca a viu. Morreu antes que ela desabrochasse e nem pode saber que ela desabrocha novamente a cada dia com sorrisos e teorias maléficas sobre conquista e dominação mundial.
Raio de Sol, como a chamam, poderia muito bem ser estrela de seriado adolescente americano e encareceria o orçamento com exigências monstruosas e muito justas. Contaria a história de sua própria vida com trilha sonora interessantíssima de quem tem um bom e eclético gosto musical. Por que Raio é daquelas que anda como se ouvisse Pretty Woman e sorri como se fosse Adriana Calcanhoto cantando. Então haveria Judy Garland over the rainbow, pra poder tornar bem bonita a trilha toda.
É que Raio tem cara de Dorothy, bate os sapatos e precisa achar um lugar. Dorothy e lolita ao mesmo tempo, mas sonhando ser Cinderella.
Fica assim, então, pra dizer que ela já foi inventada e é boa personagem sim. Menina feito Dorothy, atraente e mimada feito Lolita, princesa feito Cinderella e dona dos mesmos olhos de cigana oblíqua e dissimulada de Capitu.
Bento e Capitolina escrito no muro de trás da casa e olhos grandes de ressaca.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

A breguice nossa de cada dia



É preciso ser um pouco brega no dia-a-dia. E é preciso sorrir no dia-a-dia. Por que a breguice e os sorrisos fazem bem para a pele de qualquer mocinha espinhenta com ou sem problemas hormonais. A verdade é que sentimentos doces liberam toxinas, nem que seja por suor.
Agora ouço Paulo Ricardo, por que ele diz que há uma voz que diz pra pular de olhos fechados, que diz pra eu pular de olhos fechados. E não tem coisa mais brega que Paulo Ricardo gemendo sobre fugir e se permitir a ouvir a voz desse desconhecido: o amor. Então é a minha vez de ser brega. É a minha vez de sorrir.
Todos os dias têm sido a minha vez de sorrir. E todos os dias têm sido lindos e coloridos por toda essa breguice que me anima e me faz ouvir Paulo Ricardo, Wando, Celine Dion e Sinatra. ‘Cause i’m your lady and you are my man. E pense em Rosana também, por que como uma deusa você me mantém.
E eu preciso dizer que cada dia tem sido mais doce e mais bonito. Cada sorriso tem sido mais sincero e o Paulo Ricardo continua sendo muito estranho quando geme dando seu olhar quarenta e três, aquele assim meio de lado já saindo indo embora louco por você, princesa. Que desperdício!
Por que por mais brega e pedreiro que qualquer homem seja, sempre há Paulo Ricardo para ser um pouco mais.
E eu gosto de você tanto quanto ou mais do que todas as mocinhas da década de oitenta gostavam do Paulo Ricardo.
E que bom que você me agüenta e eu te agüento. Que nos agüentemos por mais muitos meses!
Por fim, não podia faltar Wando! O que seria de nós sem o Wando?!


segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Anúncio de toco

Avisa pra Maria que eu não quero ver o filho dela nem pintado de ouro. Avisa pra ela que ele já não faz parte da minha vida e assim eu fico muito bem. Avisa pro filho da dona Maria que as portas estão todas fechadas por que ele não soube aproveitar enquanto elas estavam abertas. Acabou, obviamente. Avisem ao filho da dona Maria que ele já não é a escolha faz mais de um mês.
Não me amarro em dinheiro não, beleza pura. Só formozura. Avisa pro filho da dona Maria que teria dado certo se ele tivesse pintado o céu de cores distintas e brilhantes. Avisa pra dona Maria que o bebê dela cresceu sórdido e bonito, mas peça que ela o coloque no colo e acalente, por que ele anda carente e vazio. Avisa pra dona Maria que o filho dela não vai me esquecer, mas eu não sou culpada.
Avisem, por favor, que eu tenho classe. Também avisem ao filho da dona Maria que ele não sabe dançar, por que ele pode tentar e vai ser constrangedor. Avisem-no que ele não sabe abrir os braços e fechar os olhos pra voar. Avisem pra dona Maria que se ele voar pode ser bom. Avisem pra dona Maria que ela tem que cobri-lo à noite e ajudá-lo a enfrentar os medos. O filho da dona Maria anda moleque demais pra quem já cresceu. Avisa pra dona Maria que o abraço do filho dela é gostoso apesar de tudo e que a secura dele é boa pra fazer gente crescer. Mas avisem que ele anda sendo baixo como não precisava. E fala pra dona Maria fazer sopinha e mandá-lo ao médico. Conta pra ela da máscara que ele usa quando sai de casa. Conta que ele é só um menino com frio e assustado com tudo. Manda a dona Maria dar um susto nele pra ver se ele cresce. Manda a dona Maria cuidar dele por que eu não vou mais. Avisa pra dona Maria que o filho dela ainda vai valer à pena pra alguém, mas anda fumando mais de um maço de cigarros por dia.
Avisa pra Maria que o filho dela precisa de pai pra entender que a mãe não é a mulher perfeita não. Por que enquanto a dona Maria for perfeita todas as mulheres do mundo vão ser apenas seres pra quem é imoral dizer não. Avisa pro filho da dona Maria que se for assim ele pode adoecer.
Avisa pro filho da dona Maria que ele vai continuar vazio e o buraco novo fui eu quem cavei. Avisa pra ele que eu fui em outra direção. Dá um abraço nele e faz ele entender.


dedicado com muito gosto à correnteza de qualquer rio.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Créu créu créu


Olho pra foto e vem automaticamente o cheiro. Disseram-me que só epiléticos tem memória de cheiro, então devo ser uma. E de pensar em epilepsia penso em pessoas trêmulas. Em mim trêmula. Em mim chão. Aí vem mais nojo ainda, por que é inevitável lembrar do chão vendo a foto. Não há saudade. Não. Não há nem vontade. É uma coisa incômoda que fica no peito e já ficava antes. Não é uma coisa bonita, é o avesso disso, que costuma ser desimportante, mas que trava a boca. Vem um gosto ruim que não combina com a minha trilha sonora constante.
A verdade é que todas as músicas que me lembravam as pessoas de antes já não tem o mesmo efeito. O asco da foto e a epilepsia não aparecem quando ouço “All Star”. As músicas não estão mais do mesmo jeito. Me toca ouvir “As time goes by”, por que é tema de Casablanca e nós sempre teremos Paris. De resto, as músicas que me faziam chorar pouco me importam. Ficaram apenas as músicas que dão vontade de tentar valsar e acabar pisando no pé do companheiro. Sempre o mesmo companheiro. Sempre os mesmos dois pés pisoteados por uma dançarina medíocre que só sabe mexer os quadris.Então o funk passa a ter efeito superior ao de fotos e ascos e músicas mais melodiosas. Por que todos os funks do mundo me fazem sorrir, já que me lembram sempre a mesmíssima pessoa (que por si já vale muitos sorrisos).

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Excelentíssimo senhor leitor,

Foi mamãe que me ensinou a fazer ofícios. Ela quem me disse da ironia, objetividade rapidez.
- Eles tem que ler, Aline, se não, não adianta.
E a verdade é que as pessoas acabam mesmo tendo medo de coisas com mais de três parágrafos corridos. É aterrorizante e pode ser chato. Pequenos apenas podem ser chatos, não dão tanto medo assim.
Mamãe me ensinou muitas coisas, como fazer brigadeiro e usar brinco e gostar de dourado e lavar as mãos com todo o cuidado do mundo.
Então eu termino pra você não ter medo de continuar lendo e deixo espaço pra você sentir toda a doçura que tem esse amor de mãe que faz ofício.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Trilha


“Pornografia é transgressão, libertação. É o sexo sem
vergonha de si mesmo, que se despe da cínica túnica do erotismo para expor o que
de mais humano existe nas relações amorosas.”
Trecho retirado do Blog do Grijó


Então ele ligou o som, se perfumou e esperou que ela viesse acesa e dele. Dizia que ela era um vulcão e devia ser mesmo. Ela parecia gostar de fazer tudo o que fazia com as mãos e a boca. Ela mordia a própria boca e gemia alto, sempre. Por que os dois tinham corpos que combinavam e cheiros que atraiam. Ele a via querendo meter-se e meter-lhe a mão em todos os lugares. Ela o via sem qualquer pudor.

“But that’s why birds do it,

Bees do it,

Even educated fleas do it,

Let’s do it, let’s fall in love.”

Ele olhava de canto de olho a saia dela que sempre passava balançando. Ele gostava da saia dela e de mais. Ela nem via, mas ele queria a moça que passava, bem como a saia no chão do quarto.

“You're so lovely, with your smile so warm

And your cheeks so soft

There is nothing for me but to love you

And the way you look tonight”

Então ela perguntou o que ele achava do vestido e ele engoliu seco. Ela não entendeu absolutamente nada, mas ele não podia escancarar que aquele vestido servia apenas para que ele se interessasse pelo que havia embaixo do vestido.

“Love for sale

appetizing young love for sale

love thats fresh and still unspoiled

love thats only slightly soiled

love for sale”

Na verdade, ela era pura. Em todos esses anos de puta ela sempre se assustava com os nomes feios e as taras esquisitas. Queria flores e sapatinho de cristal. Nem sabia de onde eles tiravam aquilo tudo, então ficava quieta. Talvez as esposas fossem mais depravadas.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Flor

A flor não era seca de forma alguma. Na verdade, poucos conseguiam entender exatamente o que ela era ou o que fazia. Sei apenas que ela era doce como poucas garotas e distribuía sua doçura como chuva. Por isso mesmo despertava antipatias como a minha. A flor encostava e tocava, era uma gracinha de chuva que eu não gostava.Era linda a flor, apaixonante. E numa dessas, ao vê-la chorando entendi a doçura e a mulher que havia na garota. Por que a flor distribuía açúcar e pimenta em sua chuva, e a pimenta dela ardia que dava raiva, por que ela não era flor que se cheirasse assim por nada.
A flor chorava que dava pena. Mas eu entendia o grito da flor. Entendia que ela era menina e ainda não sabia usar o veneno que tinha no néctar. Aí esguichava meio sem norte e meio sem noção.
Mas a flor vai desabrochar e ganhar forma. A flor vai dominar o veneno pra ser eterna. Vai se despetalar e se recompor muitas vezes.
A flor vai continuar chovendo e eu vou regá-la, que eu agora gosto dela e da sua fúria de flor.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Ana C.

Muitosentimentaldepoispoucosentimental.
Na verdade estou seca por que melosa demais pra escancarar. Na verdade estou seca por que preciso de um abraço.
Do you believe in poetry?

Chicago

Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais

Mais um ou dois passos de dança e quem sabe eu me embriague só de suor!
Parece bom pra mim.
Repito sempre a mesma frase pra ser original.
Não é uma gracinha?
All that jazz. All That jazz.
Eu não sabia que era Liza Minelli e nem que ela era filha da Judy Garland.
Tão gracinha ela tomando o palco inteiro!
Talvez me falte palco.
Talvez exceda aplauso.
Quero gozo, meu bem.
Quero ouro, neném.

terça-feira, janeiro 29, 2008

Suspiro


Aí eu suspiro, depois sorrio, depois suspiro, depois sorrio. Longe eu tenho sono e perto me sinto bem, não falo coisas que não quero e quase não ouço coisas que não gosto.
As mãos se encaixam e os carinhos combinam. E sem perceber nós andamos no mesmo ritmo de passos – o que faz pensar que daremos uma boa dupla pra dançar tango.
Precisamos apenas estar abraçados e ele comenta que eu respiro fundo quando durmo no cinema. Eu respiro fundo quando durmo e me encaixo perfeitamente nos seus ombros.
Disseram uma história de a gente se apaixonar e tudo ficar de uma cor diferente. Talvez isso acompanhe o riso bobo e as músicas que começam a ter mais sentido do que antes. Também entendo a graça que tem os mocinhos da novela, quando eu sempre preferi os vilões.
É vez de ser mocinha sem reclamar. Rir e suspirar.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Mariana XXI

Mariana me ligou meio retardada esses dias
Aí eu quis que ela me contasse tudo tim tim por tim tim.
O problema é que ela vomitava acontecimento atrás de acontecimento e eu me senti meio perdida naquela narrativa meio poema que ela disse ter virado comédia romântica americana.
Disse que a confusão teve fim.
Disse que daquela noite de ciúmes ela foi pra Bahia e as coisas foram se ajeitando confortavelmente. Ainda aqui, ela pôs um fim no caso óbvio.
Os dois riram e reconheceram que o lance tinha sido óbvio, mas turbilhão demais que Mariana já não merecia. Então faltavam o sonho e a flor.
Ela disse “que bom”, quando o cara que ela não consegue adjetivar disse que já não havia outra moça.
Ele disse “que bom” quando ela disse que o óbvio já não existia.
Ele disse que ainda tinha que falar “que bom” mais duas vezes - por que Mariana fora honesta desde o princípio e achava que era assim que devia ser.
Ela riu.
Mariana me confessou que gosta muito das risadas e dessa sensação nova de tranqüilidade e carinho que lhe faz bem para a pele.
Mas ainda havia sonho e flor.
Com a flor ela não falaria. As pétalas ficariam ali, cheiravam bem e não incomodavam. Não havia de ser paixão. A flor era só flor.
Aí ela foi pra Bahia e encontrou o sonho.
Ele tinha medo de Mariana querê-lo pra sempre.
Foi aí que ela riu e explicou que seria a última vez.
E foi bonito como tinha que ser. Teve cara de novela e filme, com trilha sonora perfeita e tudo o mais. Mesmo Mariana sabendo que de forma alguma daria seu coração, faria aquilo real, nem esqueceria. Foi Smooth. Por que ela não queria que o sonho lhe desse um amor de cinema em que não lhe faltasse carinho, plano nem assunto ao longo do dia. Nenhum dos dois queria largar nada um pelo outro.
E Mariana me disse que chorou no fim da noite, por que doeu mesmo por fim ao sonho.
Foi então avisar ao cara que ela não adjetiva. E dizer que era ele que ela queria para si.
Aí ele disse dois “que bom”.
Aí o cara que Mariana não adjetiva foi para a Bahia e os dois se encontraram, se abraçaram, riram juntos e foi tranqüilo e agitado como deve ser.
Por que ela me disse que é ele que ela quer pra si.
Ela me disse que ele tem olhos lindos e sinceros, como ela bem gosta de ver.
E eles cuidam um do outro.
E no fim,
It's still the same old story
A fight for love and glory
Acho que Mariana sossegou num galho só.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Xote das meninas

- Você acredita naquelas coisas de conto de fadas?
- Não não. Os homens são todos iguais.
- Não acho que seja assim... Deve ter um.
- Acredita em mim que sou mais velha. São todos a mesma coisa. Todos uns babacas.
- E você quer que eu faça o que?
- Brinque.
- Não tenho coragem.
- Isso é por que você tem quinze anos.
- Grande coisa você e os seus longos dezesseis!
- Meninas de dezesseis brincam, é esse o charme.
- Não tenho coragem.
- Vai ter.

***

Ela não comeu cebola por que se encontraria com ele logo depois. Então os dois saíram e cada um comeu um pastel. Tinha cebola no recheio, mas ele não falou nada por que sabia que ela gostava de vinagrete e não o tinha comido por consideração.

***

Os cabelos estavam arrumadinhos apenas para serem bagunçados e o perfume cumpria com exagero a sua função corriqueira. Agradava.
Ela também botou os brincos de pena que ele achava bonitos. Sabia que o brinco interessava menos que o decote e o jeans justo, mas sabia também que arrancaria dele alguns sorrisos.

***

- Elas não querem saber dos garotos de dezesseis.
- É por que eles costumam ser idiotas, Felipe.
- Ninguém diz que eu tenho dezesseis.
- Posso acreditar em você. Mas as meninas de dezesseis são impossíveis. Elas estão aprendendo a provocar. Estão perdendo o pudor. É muito difícil competir com uma menina de dezesseis.
- Elas só querem saber dos garotos de vinte e dois.
- Felipe, ouça uma coisa. Talvez você não precise usar, mas é preciso ter isso na manga. Leia poesia, querido. Especialmente de Vinícius de Moraes.
- Não acho necessário.
- Vá por mim. É bom ter Vinícius na manga.

***

As meninas de dezesseis tem despudor e medo. Elas não sabem bem até onde vão, mas querem saber de tudo e fazem cara de sapeca. Ter dezesseis pelo resto da vida pode ser extremamente atraente e Felipe não entende que não precisa falar poesia, apenas sabê-la.

***

Toda mulher acaba caindo de quatro por homens que lêem, mesmo não sabendo que eles lêem.

sábado, janeiro 19, 2008

Videoclipe

Ela botou o biquini e a saída de praia que não combinava nem com ele nem com a bolsa, soltou os cabelos e saiu sem rumo. Não precisava muito de companhia naquele dia, apenas mar e pernas trabalhadas. Música.
O grande lance do biquini e da bolsa e tudo o mais é que sozinha assim ela se sentia como num videoclipe de pop rock. Os cabelos bagunçados davam o ritmo da canção que ela dançava à beira-mar.
Era natural.
O céu estava azul e fazia muito calor.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

E aí, casa?

Então? Vamos morar juntas? A gente pode fazer besteira e bolo e macarrão. A gente viveria de queijo e chocolate, depois faria dieta.
Aí nenhuma conta nem pro papai nem pra mamãe nada de errado que a gente faça. Podemos combinar. Eu faço o que mamãe aprova e papai reprova e você faz o que papai aprova e mamãe reprova. Depois a gente reveza!
Aí a gente cozinha e chama os vizinhos pra comer. E depois limpa a casa e lava a louça. Não ligo de lavar o banheiro, mas você limpa as janelas, pode ser?
O armário a gente tira tudo e limpa às vezes. Lava toda a louça com cuidado de não quebrar nada.
E toda a semana a gente compra um galão de vinho e comemora. Por que somos jovens e tudo tudo é uma festa.
Aí quando você tiver prova eu faço silêncio. Quando eu tiver texto você faz silêncio.
E a gente reveza os silêncios e os choros e fala mal dos homens, da mamãe e do papai.
E vai ser legal que a gente cresce, irmã.
Vamos morar juntas e a gente toma banho de chuva, banho de mangueira e nunca vai faltar absorvente.
Aí ninguém conta nada pra ninguém e a gente engorda e emagrece sem parar.