sexta-feira, abril 12, 2013

essa bomba vagabunda de pulsação

Meu coração, dos frangalhos de antes, dos restos colados, do quebra-cabeça, resolveu existir aqui no peito. Ele, que andava escondido porque eu queria, que andava contido porque eu dizia que não há necessidade de qualquer coisa ser assim tão espalhafatosa.

Ele me acordou de madrugada, pesou no peito e disse:
_ EU FICO.
Meu coração diz que é resistente, e que o sangue pra ele é pinto pois há muito mais que fazer. Minha falta de calma, minha ignorância, meu peso. Eu digo, calma lá, coração, não, coração, não me sufoque. Me deixe quieta que sou e estou mui bien de cálculo.
Mas ele hoje não. Tomou foi posse, tocou um foda-se. Disse:
_ Sou eu, e pronto, quem hoje samba no seu lugar.  

quarta-feira, abril 10, 2013

Meu poema das necessidades


Para encalço, há cálcio.
Pare agora o mundo. Pare pra a gente subir.
Televisionem a revolução.
Quero ouvir mais grito que zunido.
Rasgar, perder, romper amarras como hímens, afundar em montanhas de gente, chafurdar na espuma de mais que amor.
Grite, por favor, seu grito mais profundo.
Meu coração não é maior que o mundo.
Meu coração nem é de posse, é de ponte.
Onde ontem eu quis ser mãe, hoje quero pergunta, hoje quero resposta, hoje quero gosto de agora na boca.
Cantem nos elevadores,
Leiam poemas do Bandeira.
Estejam embriagados, mas profundamente sóbrios
Sigam as suas verdades
Gritem no compasso de pandeiro, que a nossa percussão de peito é maior, bem maior, do que esse silêncio apático que faz necessário um sono longo. 

segunda-feira, abril 08, 2013

rascunho de contrato


Meu estômago está numa reviravolta só. Nem embrulha, nem desembrulha, mas roda, treme, enche. Parece que ele entende que eu sou exatamente a mesma, mas um pouco mais honesta. Está, o estômago, se acostumando agora. Eu também.
Devo avisar que não sou exatamente fácil, embora pareça. Mato minhas próprias baratas, abro minhas próprias garrafas e as tampas de todos os potes. Não preciso de você por conta disso, e, na verdade, não preciso de nada além de um dia ou outro acordar junto.
Não consigo ficar muito tempo abraçada, não consigo dizer coisas bonitas de primeira, não consigo concordar com tudo o que você diz. E nem vou. Nunca. Também não espero que você concorde comigo, e vou estranhar muito se isso acontecer.
Não vou conseguir gostar de todas as coisas que você gosta, nem você de todas as que eu gosto, mas talvez te faça companhia só por cafuné.
Não vou me enfiar em barca furada, não vou correr risco de vida, não vou fingir absolutamente nada.
Pode ser que eu me preocupe, pode ser que eu exagere, pode ser que eu fique brava com atraso sem aviso (isso, por certo). Pode ser que eu te largue pra lá, mas pode ser que eu fique.
Não consigo ficar mole logo. Vou fazer comentários rasgados, vou ser irônica, mas também vou ser doce e não sou capaz de mentiras. Funciono no modo: não quer saber, não pergunte, mas, por favor, me ouça se eu quiser falar.
Não acredito em nada sem conversa e só vou ficar mole se conseguir ver verdade em você. Não tenho nada pra pedir. Vou ouvir tudo em troca de história. E pronto.
Evite os olhos brilhantes se não gostar do texto. 

quinta-feira, abril 04, 2013

blim blom

Sem violão, nunca tranquila. Casa é violão, eu sou de corda, o resto a gente regula naquela ponta do braço que, além de tudo, era a coisa mais de brincar criança.
Vai estourar, Aline, meu pai brigava.
_As cordas estouram o tempo todo, pai. É só repor. _ Respondo hoje, mal criada e grande, mas tão pequena que qualquer violão ainda me causa numa batida a sensação de pertencimento.
Dedilho, bato com palheta, enfio ela na boca dele como se fosse ainda uma boca de gente.
Vejo sempre boca e olhos em qualquer violão. E lago.
Eu tinha medo de cair lá dentro, queria ver o eco, fazer tambor, bater na parede. Também brincar de pique esconde enfiando braço, ombro, tudo, naquele oco de som.
Era só ser menor.
Daí mudei de ideia. Se não dá pra caber, quero ser. Tocada. 

segunda-feira, abril 01, 2013

mais um de saudade dela


Fiquei procurando em mim aquela ruga que era sua, as bolsas embaixo dos olhos que eram dele, mas estou nova. A genética só me deu a barriga e nem os peitos me salvam a vida. Mas você, mesmo deposta, deu seu jeito de dizer: siga, minha filha, me deixa aqui, eu estou bem.
Ainda procuro em mim as suas bochechas, a sua cor, seus traços. Não sou você nem tenho tanta paciência. O sonho não me disse que ela foi construída, mas você me disse aquele dia perto do espelho:
_ És uma batalhadora, minha filha. Igual à sua avó.
Sou uma batalhadora, vózinha. Não tá sendo fácil, não, mas você me disse pra te deixar quieta e eu vou deixar, vou fazer bolo, vou seguir em frente, vou tentar aplicar aquelas coisas que aprendi com você.
É na frente que a gente anda, né? Quem quiser que venha atrás porque você foi igual uma japonesa ascendendo os caminhos.
Eu vou também. 

sexta-feira, março 29, 2013

muito ar num mapa só


O estranhamento é pior que a leveza e eu não sei como agir. Mistério sempre há de pintar. Embate é raro. Perdi o fio narrativo e talvez a história completamente mude de rumo, talvez siga. Há um desfiladeiro, uma encruzilhada, uma escolha de norte sul leste oeste que é muito menos simples do que quatro direções.
Puro meandro. Talvez eu não siga. Tanta coisa na cabeça que mais do que detalhe, fundo. Eu funda, leve. Afundei sem ver que afundava. Não me levanto, ainda. Necessário passar maquiagem, vestir o sorriso, fingir que não.
_ Pra quem?

sexta-feira, março 01, 2013

as coisas não precisam de você


É seu cheiro de guardado e o cheiro dele de naftalina. Sou eu roupa seca no sol e nada disso. Cabelo seco no vento, eu. Queria não crer em oposto. Queria secar a roupa, queria lavar tudo na mão.
Não há tempo, não há vagas. A rua continua existindo, os carros à toda, eu tendo que ter salário porque existe dia cinco, dia dez, conta que é uma merda, imposto de renda, iss fixo.
Não pago a sua conta, mas uma cerveja ainda vai. Aceitaria de troco um amor.

segunda-feira, janeiro 21, 2013

Para a principal (e desobediente) leitora deste blog


Mulher forte também quebra, véia. Não adianta a maquiagem nem a postura impecável. Todo mundo quebra, véia, e se você que é tão grande e consegue fazer bolinho de chuva ficar redondo e milho virar bolo bom também quebra, eu fico vazia.
Conserta logo, veia, que esse tamanho de rombo a gente não aguenta nem se for forte que nem você. Dá esses pulos que você sempre deu. Olha pra morte e diz que fica. Ninguém nunca conseguiu te convencer de outra coisa que você não quisesse.
O procedimento deve ser aquele mesmo, acenar que sim com a cabeça, dizer “tá bom é isso mesmo” e fazer do seu jeito.
A gente precisa muito. A gente quer você perto. 

quarta-feira, janeiro 16, 2013

não sei de nada


não me deixe largada na beira da estrada sem eira nem beira sem nada, sem casco, sem lead, sem praga. ao menos um xingamento, um respiro, um norte. por favor um amanhã que eu estou cansada de todos os ontens.
você tão futuro hoje, meu deus. você é quase religião. não me deixa não. fica mais meia hora que amanhã a gente toma um chá. acho muito estranho não gostar de café, mas apesar disso ainda consigo sentir coisas.
olha, você deve ser mesmo de outro mundo que a vida sem café não sei pensar. por que raios você existe e existe calma e existe outro país? eu vou ter que ir, você não volta mesmo e a gente tem que andar ao infinito, e além.

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Before Sunrise


Se fosse uma comédia romântica, você não atendia o telefone, mas a gente se cruzava na esquina e se beijava e você não ia embora. E se você fosse, a lembrança seria forte e bonita até o segundo volume, num outro país, outro continente, diálogos engraçados e alguns tombos.
Estaríamos sóbrios, também, e os olhos da gente seriam muito mais bonitos. E você seria o amante perfeito inatingível, e eu, complicadíssima e completamente machucada de outros amores.
Mas a gente se curaria junto inteiro e seria, por alguns momentos, felizes como se infinito houvesse. 

quinta-feira, janeiro 03, 2013

sempre?


As cicatrizes são do tamanho exato da ponta dos meus dedos. Medi enquanto ele dormia. Olhei, sim. Olhei muito sem entender porque aquele tamanho de pudor de toque quando havia nudez absoluta.
Não consegui abraçar por trinta segundos. Não entendi porque a garganta se transforma em liquidificador quando há proximidade.
Quase nada, insisto. Nada mesmo, insisto. Não vou, quase grito. As cicatrizes conferem ternura que não existe, mas incide. Explodo como se o verbo existisse. Como se nem fosse pessoa, mas força, fluido, fogo.
Cedo.

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Correnteza


 Meu corpo parece o mar.
Vale a briga daquele homem que olha atravessado sem admitir qualquer mergulho?
Nade, homem. É um braço, depois o outro_ e os pés dando estabilidade quando se debatem.
Brigue sim a minha água. Enfrente o infinito que há, uma fauna inteira de coisas além do possível afogamento.
Olhar o fundo é um erro, meu bem.
Não é preciso viver sem prender o ar. 

segunda-feira, dezembro 24, 2012

As festas


Se é finitude coisa leve ou pesada, não sei. Mas a existência pesada dela é insustentável. Sempre quis, de qualquer forma, o infinito. Mas o infinito é um átomo, um instante, um brilho avulso de olhar.
O que eu quero de natal ou de promessa de ano novo, ainda não pensei. Mas a Argentina está logo ali e eu tenho muito bons amigos.
Continuo detestando qualquer tipo de espera, e por isso baseio a pontualidade no instante crasso.
Acaba o ano, o mundo também. Não sou exatamente a mesma coisa, e talvez por isso absolutamente vulnerável.
Que tudo brilhe e escorra, enfim, em um 2013 sem entalações.


terça-feira, dezembro 18, 2012

Sumo

Sendo a anatomia uma loucura, sinto os amores no estômago. Ao invés de disparamento cardíaco, vêm voltas e voltas, problemas de digestão. Ele, por exemplo, nem desceu na garganta e mesmo a fome que vem, de pão, não pode ser morta antes de um desentalar.

Não venha ele querer só sumo, que eu tenho a casca grossa. Há que se morder com força, de arrancar pedaço, casca, sumo, semente. E que seja a bocada tão intensa que ele sinta o gosto, goste e entale e durma até que eu chegue perto prum despertar. Aí sim, o sangue sobe, circula, festeja e fica disritimado o coração.  

domingo, dezembro 16, 2012

Che


Vou lembrar que as melhores pessoas são as loucas que explodem como fabulosos fogos de artifício e que foi nesses fogos que veio seu olhar de cachorro na frente da assadeira de frango da padaria. E foi pra mim. E foi em mim. E foi com a boca.
Dos telefonemas pela madrugada e de todos os ombros, que não foram poucos, nem pequenos. A firmeza da pele e a voz quando era firme.
Acho que foi Sófocles que eu te dei de presente quando veio aquele sorriso descrente, surpreso, da minha própria lembrança.
Vou lembrar que você não ficou bravo descobrindo que eu tinha olhado a sua carteira de identidade pra saber a data do aniversário que nunca havia sido dita para quase ninguém. Nem quando eu disse para todos os nossos amigos que era aquele, o dia.
Aquela garra, aquela força, aquele chão em que você se jogou e apanhou, aquela luta, aquele não. Você dizendo que ia embora, e não indo.
Você ali em chuva e em sol, e sempre, e tanto, que mesmo espaçado, o tempo, era tenso. As brigas, vou memorar com carinho, e remoer com ternura.
E aquele dia que você disse que eu tinha olhos bonitos e levou no bolso meu brinco como se fosse um pedaço de carne. Minha.
Deixa pra lá que também foi ruim. Você ainda deve ter o brinco e o beat, mesmo que mangue.

quinta-feira, novembro 01, 2012

Corrente. Fluxo. Água. Mar. Graça. Horizonte. Equilíbrio. A vista mais bonita da cidade.


Com ela as coisas foram rápidas. Comigo tudo tinha intervalo e obstáculo. Lapso. Taí: eu fiz tudo pra você gostar de mim.
Fiz planejamento estratégico da marca, estratagema de entregas. Investi no serviço de atendimento ao consumidor. Gerei pauta positiva na imprensa, estudei trilha sonora, cavei e estruturei três ou dois castelos. Tentei ver raça de cachorro.
Bons resultados de curto prazo, mas nada de marca fortalecida e estrutura bem fundamentada.

Queria tanto não ter tido que fazer nada.

- Minha filha, amor não tem coisa de planejamento.  

sábado, outubro 27, 2012

Quase nada


Primeiro trocar as senhas, depois esquecer as datas. A presença dele me sufocava. Estava no ar da cidade, no cheiro de qualquer pano, no travesseiro, no muro, no mundo. Pensei em ter esperança, mas não. Quis voltar a vê-lo, mas não. Preciso tirar as lembranças do alcance, botar numa caixa, destituir a presença. Preciso parar de trata-lo de você, pois é ainda autoridade que me fez curvada (cheguei até a pensar em mudar de hábitos). Mas eu não sou de tanta curvatura, sigo fora da linha, torta, reta, sigo.
A presença dele me sufocava e eu de ansiedade ficava grogue, pequena, gasta, medrosa, travada. Não. Preciso ser só o que sou: muito. 

sexta-feira, setembro 14, 2012

da chatice


Caro colega, avulso leitor, amantíssimo colecionador diário de sei lás, estou preguiçosíssima hoje. Não vou levantar da cadeira, não vou olhar pro lado, não vou fumar cigarro (não agora, só daqui a pouquinho), não vou inventar foto. Só superlativos.
A professora ensinou um monte de coisa quando dava na minha cabeça com aquele português. E eu entendi que sou superlativa e insubordinada por que as coordenadas são muito mais simples de entender. Restritiva ou explicativa, depende com quem eu falo.
Mas a Cláudia Sabadini, que tem menos preguiça que eu, disse que é sempre insubordinada e pronto. Daí a minha avó me apontou a medusa nos cabelos quando eu levantei, e eu lavei. Porque lavar existe porque existe água.
E eu estou enrolando pra dizer que detesto quando cismam de inventar desculpa pra qualquer coisa, embora este pretenso texto seja apenas uma desculpa pra dizer um tanto mais do que já digo.
Caro colega colecionador de sei lás, você não está mal porque a vida está corrida agora, nem porque o flamengo vai mal, nem porque hoje o dia está frio, nem porque ontem esteve quente, nem porque talvez amanhã melhore. A gente sempre vai ter algum tipo de problema qualquer que seja; e, se não há, é só porque você não viu.
Mas o não ver é escolha e pronto. Então chega de desculpa. Subordine-se, insubordine-se, invente, volte, vá, fique, tenha preguiça, beba, sei lá. Colecione também sins e nãos. Depois você vê no que deu, mas com desculpa, por favor, não me atente.

terça-feira, setembro 11, 2012

do ciúme


Ninguém deu a ele o direito de gastar com outra moça a música que eu disse que era nossa. Também eu devia ter inventado as coisas direito, passado cola, grudado, ficado. Aí ele não emagrecia e lia e me contava que outra moça chegou sem ser eu.

Ninguém disse que ele podia ser completo sem me ter. O mundo também não parou e ainda gira e eu nem consegui mudar o cabelo.

Talvez ele fique feliz sendo longe. 

Espero mesmo que engorde. E volte. 

quarta-feira, agosto 08, 2012

Que ternura brota e floresce




Queria mesmo ser capaz de abraçar o mundo. Dentro dos braços formar ninho e proteger aquela menina, a outra menina e todo mundo que eu não quero ver chorar. De forma alguma eu com mundo nos braços aboliria lágrima. Governaria as coisas salpicando dor e delícia pra encorpar o tempero do molho.
Queria ela com os olhos vivos e os braços firmes, as pernas firmes, cabeça em riste. Queria o mundo coração de moça, e o meu coração materno, paterno, fraterno, eterno.