segunda-feira, abril 26, 2010

as orelhas que a gente esquece

Talvez nenhum ambiente seja tão povoado de vozes simultâneas quanto o de uma rádio. O locutor fala do estúdio, algum ouvinte liga, a gente(repórter, produtor, editor de áudio, apresentador fora do ar, entrevistados perdidos tomando café) conversa entre si. Depois toca alguma música e o comercial e tudo o mais.
Aos desacostumados talvez seja aterrorizante, mas os tagarelas têm grande facilidade de adaptação ao ambiente. Eu mesma já me sentia em casa ali antes de ser funcionária. E apesar de todas essas vozes já descritas, meus chefes ainda têm a coragem de dizer na cara dura que eu falo demais.
Assumo. Falo um bocado. A meu favor há o fato de que todos ali falam demais. Contra mim, duas orelhas injustiçadas. É claro que seu dono fala e enche o ambiente de comentários ácidos, cortantes e às vezes indiscretos. Mas os comentários são salpicados e na maior parte da manhã o dono das orelhas escreve e lê, pouco diz.
Se saímos ao sol para tomar a brisa diária, encho-o com a minha rotina absolutamente sem graça. E não sou só eu que o faço. Fazemos todos. E o impressionante é que ele ouve. Não dá muitos conselhos ou emite opiniões conclusivas. Demonstra ouvir e pronto. Diz um você tem que ver ou um é foda mesmo. Manifesta esta característica que eu não lembrava de existir depois do advento da internet: a de manter-se reservado.
Contra todos nós, ele consegue ser mais ouvinte que falante. Não sei se quer provar alguma coisa, sei que pela manhã depois de algumas brisas me vi falando e outros falando e falando falando e falando e me senti incomodada de vê-lo apenas ouvindo.
Depois ri comigo mesma e silenciosamente aplaudi.

7 comentários:

Anna Karla Lerbach disse...

Viva o Sr. @marcelozumerle

Juan Moravagine Carneiro disse...

É sempre agradável passar por aqui....

kan ghu ru. disse...

Meu sonho de evolução pessoal é conseguir manter a boca fechada. No entanto muitas vezes o impulso de falar vem antes de lembrar que o ouvido alheio pode não querer ouvir o que tenho a dizer. Ainda assim, devo confessar que antes de ser falante eu não falava muito, quase nada, e lembro que eu sonhava em conseguir falar sem sentir um peso sobre mim. Hoje eu me sinto pesada é quando não consigo descarregar impressões sentimentos pensamentos e o diabo a quatro verbalmente. Um dia encontro um equilíbrio. x) E só pra constar, mesmo que eu não comente quase nunca, to sempre lendo e sentindo teus textos. Beijocas!

Unknown disse...

querida, texto encrível, como sempre.


Ah! Tem alguma coisa nova na minha página também. Beeeijos!

ryan disse...

falar é agir, transformar o mundo, criar realidades.
agora,
agir pra quê?
PRA-QUÊ?

se você só fica parado, ou seja, se você só ouve, tu tem algum problema.
tu tem q falar.
qualquer merda, mas tu tem q falar.

sei lá, sei lá...

num sei...

ah...

é foda...

num sei...

Deivis coelho disse...

oi adorei tuas palavras ...
se tiver tempo de uma olhada no meu blog!!!!
se cuide!
http://deiviscoelho.zip.net/

Lívia Corbellari disse...

eu prefiro mais ouvir do q falar
;*