segunda-feira, janeiro 24, 2011

outra coisa engasgada - dor de esôfago quase peito

Em algum momento ia ter que ter tensão. Ninguém mantém romance a seco. As tabuadas eu escondi todas na prateleira sem desaprender a multiplicar. Operações básicas eu sou rapidíssima. Achei que você também não custaria a somar dois e dois pra ver que eu aqui não deixei de querer pele, nem colo, nem abraço e muito menos o cheiro.
Estranho seria se eu ficasse invulnerável. Mas o mundo perdeu um pouco a graça e o tempo passa estranho com você longe.
Você não entendeu.
Aí vem tensão botando o peito num espremedor de batatas.
Sangrando.

sábado, janeiro 22, 2011

ontem

Pára com isso.
Eu sou só mais uma dessas garotas que queria saber tocar piano.
E não sabe.
nem jogar.
mas se você quiser, eu reinvento o mundo inteiro. Danilo disse até que você tem sorte...
Será mesmo que eu não sou mais tão chata?
chega.
Não quero mais pensar além da pele.
Também, como é que eu vou me auto-inventar se eu aprender a brincar com silêncio?

sexta-feira, janeiro 21, 2011

guerra (puríssima)

Você usava máscara.

Tinha um rosto quadrado, com pontas. nariz bonito.
Achei que não devia falar. Mas é que eu derreto com tão pouco! Aquele livro que eu lia segundos antes de você me beijar eu nunca acabei de ler. Tenho medo de chegar em certos fins de história. aquele livro caindo da mão foi um beijo muito bonito.
Inventei de novo meu sorriso pra ver se ficava igual ao seu e eu te via no espelho. Agora eu rio todo dia desse jeito que eu gravei seu em mim.
Aí você me irrita. complica. assalta.
então eu não decifro nem devoro.
(nós dois temos os mesmos defeitos)
Ele disse no outro dia que você talvez me ame.
Eu fico com medo de saber de alguma coisa. Invento ciúmes. Mantenho a doçura. Fico maluca. Descontrolo. Perco a cabeça e acho que é obrigação você ficar perto.

Eu tenho que lembrar que não fui eu quem te inventou - embora te olhando pareça mesmo coisa feita neste molde.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

esperança

A esperança a me arrancar todos os cabelos, sonhei. Minha tia escandalizada com tanto cabelo a ser tirado fio por fio por um bicho verde.
É que era tempo de mudança, casa nova, fechamento de ciclo e abertura de ciclo. Eu não sabia que esperança pulava, nem que voava, e muito menos que não era grilo. Aos sete anos, contaram que bicho é esperança, verde.
A esperança acabou de entrar pela janela. Acabou de mostrar que existe, acabou de brincar na sala. Acabou de sair pela varanda. E ela grita:
- Intua-me, que esperança não é grilo falante.
Siga-me.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

quando nada tido, tudo - inclusive atos falhos

A senha é chocolate. Algo parecido com blues e a gente tem de novo dezesseis anos. Amizade surgindo até sem política. eu ainda olho o teclado pra poder digitar. e erro.
Letras minúsculas passando desapercebidas.
Quem de vocês se doeu de paixão?
A gente sempre volta nos problemas dos meninos. A música mais alta do mundo pra aguentar o show.
meu deus, por que o tempo cisma em passar?

terça-feira, janeiro 11, 2011

Toda a culpa de Cinderella

Ô! Eu sou uma romântica incurável ano a ano, mês a mês. Caso a caso. Crença a crença. O espelho mágico me pergunta todos os dias, pela manhã:
- do you believe in love?
Eu sorrio em resposta e me apego a cada pontinha besta de sentimento. A culpa é dos desenhos animados e da doçura existente no mundo – alheia a mim, inclusive.
Há certo fraco por tipos encantadores de mesma fisionomia.
Brancos, invariavelmente. Castanhos, invariavelmente. Sorriso, arrebatadoramente.
Besta, besta. Não nasci ainda o tipo padrão de mocinha. Eu falo.
Passei até boa parte do tempo pensando que só ia dar pra ser núcleo cômico.
Um, dia, então, um cara inventou a Fiona e eu inventei a esperança.
Betty, a feia.
- do you believe in happy end?

sábado, janeiro 08, 2011

sentimentalíssima

Parece que ele se escondeu no meu esôfago. Fiquei entalada. Paixão é bicho que sufoca.
Cabelo desgrenhado e uma montanha de não seis.
- Do you know if?
Perguntava gravíssima a professora de inglês do colégio. If. If. If.
Prefiro se.
aimeudeuseusoumenina.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

aviso brevíssimo

Me desculpa, mas eu não quero escrever.
Estou vivendo.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Só danço samba.

- Move your hips with your feets - dizia eu às gringas todas com aquele inglês porco que é conhecido dos que já me viram ébria. Dizia sóbria, inclusive.
- Dance is like sex, you see your men with his hands on your hips, and move it.
Porque se não fosse assim, era muito difícil visualizar rebolado. Aprendi num filme - nem lembro qual.
As únicas palavras que eu precisava dizer em inglês eu não dizia. Se era pra ensinar a sambar, eu devia saber falar barata em inglês.
Pisa na barata, joga ela para o lado.
Eu só ia até o step.
Impressionadíssimas ficaram com a gente que mexia a bunda assim com tanta facilidade.
Diz Nayara que está no sangue, eu mesma acho que é coisa que a tevê ensina pras crianças. Dessas coisas boas.
E eu só danço com ele, digo que é sem compromisso e tudo.
Hips and feets.
bad, bad, baaad feets!

domingo, dezembro 26, 2010

Salada de riso com azeite

Eu quis uma música bonita de natal. E doçura.
Como é que é mesmo aquela história de luz baixa que eu disse outras vezes?
As coisas precisam ser vistas na luz certa. Se claro, se escuro, se penumbra, a gente escolhe.
Transparente escuridão, disse a Ana C.
Banho quente, digo eu. pu ri fi ca ção
Então música bonita de natal, atrevimento e luzes enchendo a cidade. Crônicas por minuto. Poemas que eu não aprendi a escrever.
Paz.
No ano novo, eu vou aprender a relaxar.
Do you believe?

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa postal.



Se eu gritasse alto que te amo no meio da rua, no meio da lama, no meio de todas as pessoas que a gente conhece, que cara você não teria. Está tudo posto, está tudo claro. Eu que não disse nada. Eu que não fiz nenhuma loucura além daquelas com as quais você certamente já se acostumou.
Então me beija mais um pouco, mais uma noite.
A gente muda de cara quando amanhece, você sabe.
Fica. Deixa a cara da gente amanhecer e o tempo cuidar de fazer tudo.
Daí te liguei pensando em dizer tudo logo e nunca foi tão bonito ouvir som de caixa postal.

sábado, dezembro 18, 2010

our song

Johann me bate que é uma beleza. São mãos muito calejadas, as dele. Cabo de enxada, cano de ônibus, martelo pra pregar nossos quadros na parede. Johann me bate no intervalo entre uma ou outra música de Bach.

Depois viaja.

Aí eu fico apanhando de saudade.

Quando a mão bate, estala e fica, eu gosto. Meu calor dissolvendo nos restos de calo e a pele avermelhando. Depois ele puxa e segura os braços que dói um monte. Bach tocando dessa vez. Depois é rock.

Johann gosta mesmo de metal enquanto me morde as coxas. Johann me abate. As mãos se moldando direitinho nos meus contornos. Johann me sabe desde antes de inventar fotografia.

Agora quieto, longe, me faz carinho na cabeça. Johann não deve estar bem. Morro de medo de ele me deixando. E quando ele se cala, aí é que eu me ralo.

terça-feira, dezembro 14, 2010

Pra não dar dor de cabeça

Eu menti. Precisei de nada. Foi uma pergunta. Foi um sim que era não e pronto. Menti. E depois ninguém torrou o saco. Ninguém quis confirmar.
Mentir foi libertador.
Ele não quis crer, parece. Perguntou de novo algumas vezes, quis detalhes. Mas mentira pré-programada é quase verdade.
Então não menti. Disse mesmo o que sentia e aquele sim que era não era sim de peito.
- Tem alguém?
- Sim.
- Onde?
- Outra cidade. Você não conhece.
Descrevi os detalhes. Disse profissão e tudo. As faces de alguém eu vi. E pronto. parou. parou a maré.
Meu deus, como quis letras minúsculas e nenhum começo de frase. Inventei inclusive várias rimas. Você não sabe.
É muito boa essa sensação de não ter encantamento. Lidar com o humano, bonito, verdadeiro. Essa coisa que brota na cabeça da gente.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

amor, o nome.

Meu amor, meu amor, meu amor – ele dizia e ela se doía toda.
Resolveu questionar - de incomodada que estava com essa amorzice toda.
- Cê me chama disso por quê?
- De que?
- Esse troço aí.
- Amor?
- Isso. Isso.
- Você não gosta?
- Acho esquisito.
- Quer que eu chame de que?
- Cê sabe... Cê pensa no peso das palavras?
Ele professor de português.
- Trabalho com isso, meu bem.
Ela ficou de formiga na cabeça, pensando que ninguém amava ninguém assim de estalo, mas se ele dizia, devia talvez ser mesmo amor.
Depois ele disse um tchau muito convicto. Avisou que era fim e que estava muito bravo com ela.
O amor continuava vocativo.
- Me responde uma última coisa. Por que cê fica me chamando de amor?
- Eu e você. A relação é amorosa.
- Então me deixa ficar.

Mas ela doeu a noite inteira.

domingo, dezembro 05, 2010

anonimato e outros poemas

Uma ou outra piada, claro. Disse querer o que é óbvio que eu quero com palavras não minhas. Planas, diretas, óbvias. Boca, delícia, gozo, verdade, vontade, desistir, esperar, tentar, contar, plantar. Disse tudo tudo tudo. Todo o impensável. Até o que nem é feminino foi dito.
Que mal tem, desejo?
É claro que ri sozinha no escuro pensando em reações a côrtes anônimas. Cortes? Laceraria você o meu querer com espátula de bolo?
Você faca só quando desejo. Faca nunca não. O não em si é ácido, áspero, grande – impossível de recorrer.
Estou sem forças. Com saudades.
Estou dispersa. Desperta.
Que mal tem, desejo?

sábado, dezembro 04, 2010

fim de noite

- E você?
- Como assim?
- Você mesmo.
- Não sei.
- Acho engraçado.
- O que?
- Como é que você está?
- Cansado. Muita coisa. Um chicote atrás do outro.
- Mas e você?
- Eu o que?
- Está bem?
- ...
- ...
- O que você quer saber?
- De você, mesmo. Nada demais. Gosto de você e quero saber as coisas.
- A mídia?
- Que se dane a mídia. Eu quero saber se você está bem.
- Eu estou cansado.
- Ninguém nunca te pergunta sobre você...
- É.
E um monte de olhos comendo o mundo todo.

terça-feira, novembro 23, 2010

Aquele cara (que tinha me consumido com seus olhinhos infantis)

Eu tinha esquecido como fazia pra ter medo de olhar nos olhos e encostar quando ele chegou. Também não sabia mais velocidades. Sabia nadica de flirt.
Ia e pronto.
Ele me chamava de Michelle. Uns olhos de bicho papão e eu inclinada pra baixo. Nomes mil em mim, ele cafajeste. Michelle ele queria, Michelle eu era mesmo de outros nomes, outra vida.
Queria que eu tivesse certeza sim que nada daquilo era meu direito e que tudo é sim, que o sim alegra a vida. E eu Sim. Tanto sim eu dizia que o sorriso crescia.
É que ele entendia só sim . E eu tão mole ficava perto que não sabia que existia outra palavra.
Então ele dizia as coisas que sabia que eu ia entender:
- i love you! i love you! i love you...

sexta-feira, novembro 19, 2010

se existisse

Ninguém diz o que existe por trás daquela moça. Ela mesma diz demais - o tempo inteiro. Não se diz, nunca, nunca, nunca. Fica em casa ouvindo Fiona Apple e falando com um ou outro nas velhas plataformas novíssimas, digitais.
Sabe de quase tudo, acompanha todos os reality shows. Ri um riso sincero demais. Gargalhadas estridentes, altas, graves. Garagalhadas em notas mil.
Sabe os preços do supermercado, mas não compra nada.
Tem caspas que formariam constelações no cabelo. Cabelo pra fazer mil tranças. Nunca teve coragem de rastafari. Tem doçura, a moça. Doçura que ninguém diz.
Só não tem cara. Ninguém sabe o que ela esconde embaixo do vestido. A moça, fulana, não tem moral de história.

quinta-feira, novembro 11, 2010

imã

Pode ser chato o que for, a voz continua bonita. Arranha que você nem sabe o tanto. Se não existisse o resto, juro que acreditava em final feliz.

segunda-feira, novembro 08, 2010

Se não conta

Faz assim não. Não bota uma coisa na isca e depois pega de volta. Eu aqui anzol mordido, obcecada, louca!
Sabe, quieta. Confabulando ainda comigo, tentando caçar aquele rato. Saber aquelas coisas. Tentando achar os piolhos nas cabeças com pensamento. Meu deus, chega a ser cruel me trazer curiosidade de bandeja!
Diz que não, só. Diz que não conta. Diz que não vem. Diz que era mentira antes. Diz que eu sou besta mesmo.
Mas é que se ontem foi dita uma coisa, hoje outra, amanhã uma terceira, eu fico inchada. Arrepio que você nem sabe o quanto.
Ai meu deus - virei solo puro de guitarra. Escorregando, escorregando.
Não me aguento gente não, sabe?