Talvez seja pretensão em larga escala. Mas hoje, lendo teoria e buscando quase-literaturas, eu tive uma vontade grande de ser Rubem Braga. Sempre disse Nelson. Sempre falei que queria escrever feito Nelson Rodrigues. Mas é que Rubem escreve tão lindo que prenderia qualquer criança desatenta que não goste de histórias. Ainda assim, ele fala manso e certo. E ele não deixa de ser jornalista. Ora, as crônicas cantam, mas ainda estão ligadas ao tempo, como ao sempre. Chamavam-no sabiá. Stanislaw Ponte Preta chamava-o Sabiá da crônica.
Quero escrever como quem samba. Quero na escrita todo aquele gingado de coxas que não param quietas e quase saltam com graça. Quero escrever bonito e atraente como um quadril que balança. E quando me lerem, quero que pensem que é bonito e é sentimento. Quero que sintam a minha escrita como eu sinto pulsando em mim a escrita de Rubem ou Clarice. Nelson não pulsa tanto, ele bate e a gente gosta. Geralmente gosto de tapas verbais, mas hoje quero dança.
Escrita como junção de corpos.
Não quero escrita-vômito.
Vamos todos escrever pelos joelhos. Vamos todos cantar pra espantar todos os males. E brincar de roda. Escrever é manter a roda. Vamos rodar em diversos poemas. Vamos rodar sem versos. Poesia em prosa, não era assim a crônica?
Vamos rodar pra não ser atemporais.
Vamos brincar com o tempo? Vamos! Vamos!
Sentimento é hoje e é sempre, literatura. Eu gosto de jornalismo. O que ela falava de jornalismo, uma coisa dura e madura (no sentido de prestes a apodrecer) pra mim é mentira. Somos todos história e formados de histórias. Então, essa brincadeira com fatos registrados em papel ruim, ou sites, ou fitas na tv é atemporal, por que congela o tempo. A gente sabe hoje e se fuçar os arquivos sabe ontem. Não apodreceu.
Jornalismo não é pra apodrecer, ainda mais o cultural. Ora, cultura é coisa que fica, não morre assim. Jornalismo é novo sim. Mas é de virar história.
E eu queria escrever feito Rubem Braga, pro meu jornalismo ou meu autismo sair por aí tocando corações e tomando rumos.
terça-feira, setembro 18, 2007
domingo, setembro 16, 2007
Mariana XV
E Mariana se viu sem galho.
Sem galho mais uma vez.
Não era hora e não era assim tão óbvio.
Mariana devia buscar o inesperado, sem esperar nada.
Mariana devia sossegar.
Sem galho mais uma vez.
Não era hora e não era assim tão óbvio.
Mariana devia buscar o inesperado, sem esperar nada.
Mariana devia sossegar.
quinta-feira, setembro 13, 2007
Isso
Então tá.
Não ando com cabeça de pessoa-leitora. Na verdade, tenho sono e preguiça de dormir.
É meu diário.
Eu devia publicar um texto que eu escrevi ontem e se chamava Beatriz.
Pensávamos as mesmas coisas, no fim.
Devíamos questionar o mesmo vilão, o grande monstro que me atrapalha a vida. O nome é sociedade, eu acho.
Sou sociopata com cara de menina moça.
Sou gracinha.
Mas isso tudo, como as atrocidades as bombas e as minhas ameaças sobre mim que não sou eu ou mais e menos e pernas, é mentira.
Na verdade, eu minto.
É que se a gente não faz propaganda, as pessoas não vêm.
Foi isso que ele me disse quando eu perguntei pelas promessas que ele me fez.
E eu respondi que a propaganda era enganosa, rindo.
A questão é que eu não gosto que mintam pra mim. Quero mais que mentira.
Se ele não precisasse mentir pra mim teria tido segundas e terceiras chances. Mas mentir pra mim é burrice.
O outro não mentia.
Era um escroto.
Mas não mentia.
E aí entra em voga essa coisa de vínculos.
Não sei por que estou escrevendo algo parecido com um poema se ando sem cabeça pra poesia. Tentei ler. Juro. Mas não desceu e poesia tem que ser degustada feito vinho.
Não consegui.
Ainda sou eu quem mora nesse corpo e a dona dessa mente.
Não foi dessa vez, mas quase.
Estou pensando em coisas que rimam com mente.
Você mente?
Veio uma música velha na cabeça e eu fico pensando se o que eu escrevo é ou não é atemporal.
É sentimento, minha flor, quase magia.
Eu acho que não sinto tanta falta assim de poesia.
É.
Eu minto.
Não ando com cabeça de pessoa-leitora. Na verdade, tenho sono e preguiça de dormir.
É meu diário.
Eu devia publicar um texto que eu escrevi ontem e se chamava Beatriz.
Pensávamos as mesmas coisas, no fim.
Devíamos questionar o mesmo vilão, o grande monstro que me atrapalha a vida. O nome é sociedade, eu acho.
Sou sociopata com cara de menina moça.
Sou gracinha.
Mas isso tudo, como as atrocidades as bombas e as minhas ameaças sobre mim que não sou eu ou mais e menos e pernas, é mentira.
Na verdade, eu minto.
É que se a gente não faz propaganda, as pessoas não vêm.
Foi isso que ele me disse quando eu perguntei pelas promessas que ele me fez.
E eu respondi que a propaganda era enganosa, rindo.
A questão é que eu não gosto que mintam pra mim. Quero mais que mentira.
Se ele não precisasse mentir pra mim teria tido segundas e terceiras chances. Mas mentir pra mim é burrice.
O outro não mentia.
Era um escroto.
Mas não mentia.
E aí entra em voga essa coisa de vínculos.
Não sei por que estou escrevendo algo parecido com um poema se ando sem cabeça pra poesia. Tentei ler. Juro. Mas não desceu e poesia tem que ser degustada feito vinho.
Não consegui.
Ainda sou eu quem mora nesse corpo e a dona dessa mente.
Não foi dessa vez, mas quase.
Estou pensando em coisas que rimam com mente.
Você mente?
Veio uma música velha na cabeça e eu fico pensando se o que eu escrevo é ou não é atemporal.
É sentimento, minha flor, quase magia.
Eu acho que não sinto tanta falta assim de poesia.
É.
Eu minto.
domingo, setembro 09, 2007
O vizinho
Ele morava numa das casas no final da rua e ia à praia todos os dias. Eram as únicas coisas que ela sabia ao ver aquele cara passando de bermuda, carregando a prancha. Ele provavelmente usava filtro solar, já que ela nunca o tinha visto vermelho demais ou descascando. Aquilo era um sinal de que ele se preocupava minimamente com o próprio corpo e consigo. Na verdade, o corpo dele já era um grande sinal de que ele se preocupava com o próprio corpo. Ela não babava por que isso era grosseiro, mas salivava e respirava falhado quando ele passava. E ele passava todos os dias.
Ela nunca tinha parado para imaginar como era a vida dele, era apenas alguém que passava e mexia com a libido. Mexia um bocado. Ele se mexia e ela queria se misturar àquele corpo. Se imaginava poeira grudada em suor, água de mar e areia. Imaginava cenas mil e nenhuma fala. Todo aquele jogo unilateral era muito visual. E ele continuava passando.
Foi assim por alguns verões.
Felizmente, existe o carnaval, em que as pessoas matam seu superego e mergulham num mar de coragem e fantasia. Naquele carnaval, ela fez a amiga apresentá-la a ele. Se conheceram na sexta, e no sábado se encontraram mais uma vez. Ele sabia que ela morava numa casa no começo da sua rua, já a tinha visto. Isso a permitiu sorrir. Ou foi isso, ou foi a tequila. Não importa. O que importa é que, no segundo dia, os dois resolveram descobrir o que havia nos olhos um do outro com a desculpa de tentar não sorrir. Mas os sorrisos vinham. Eles vinham dos dois lados e o jogo do sério já tinha se perdido. Aí ele empurrou o cabelo dela com a ponta dos dedos e puxou-a pela nuca. Era um beijo.
O carnaval continuou e os dois se beijaram na terça-feira gorda pelo tempo que conseguiram.
Ela foi embora na quarta-feira de cinzas. Não morava na casa do começo da rua, apenas passava ali os verões e alguns carnavais. Voltou na páscoa. Ele ainda estava ali, a quaresma acabou mesmo na quinta-feira de lava-pés. Entre sins e nãos e discussões bestas, mais beijos e mãos paradas na cintura.
Ela gostava dos braços dele. Gostava muito.
Os verões demoram a chegar, mas ela teve que voltar no sete de setembro para a tão sonhada independência. Os feriados não davam tempo de paixão e conhecer alguns defeitos impediu-a de continuar. Foi fim.
Ela nunca tinha parado para imaginar como era a vida dele, era apenas alguém que passava e mexia com a libido. Mexia um bocado. Ele se mexia e ela queria se misturar àquele corpo. Se imaginava poeira grudada em suor, água de mar e areia. Imaginava cenas mil e nenhuma fala. Todo aquele jogo unilateral era muito visual. E ele continuava passando.
Foi assim por alguns verões.
Felizmente, existe o carnaval, em que as pessoas matam seu superego e mergulham num mar de coragem e fantasia. Naquele carnaval, ela fez a amiga apresentá-la a ele. Se conheceram na sexta, e no sábado se encontraram mais uma vez. Ele sabia que ela morava numa casa no começo da sua rua, já a tinha visto. Isso a permitiu sorrir. Ou foi isso, ou foi a tequila. Não importa. O que importa é que, no segundo dia, os dois resolveram descobrir o que havia nos olhos um do outro com a desculpa de tentar não sorrir. Mas os sorrisos vinham. Eles vinham dos dois lados e o jogo do sério já tinha se perdido. Aí ele empurrou o cabelo dela com a ponta dos dedos e puxou-a pela nuca. Era um beijo.
O carnaval continuou e os dois se beijaram na terça-feira gorda pelo tempo que conseguiram.
Ela foi embora na quarta-feira de cinzas. Não morava na casa do começo da rua, apenas passava ali os verões e alguns carnavais. Voltou na páscoa. Ele ainda estava ali, a quaresma acabou mesmo na quinta-feira de lava-pés. Entre sins e nãos e discussões bestas, mais beijos e mãos paradas na cintura.
Ela gostava dos braços dele. Gostava muito.
Os verões demoram a chegar, mas ela teve que voltar no sete de setembro para a tão sonhada independência. Os feriados não davam tempo de paixão e conhecer alguns defeitos impediu-a de continuar. Foi fim.
segunda-feira, setembro 03, 2007
O sono e afins
Eu não quero brincar de blogue
Nem de poemas.
Quero brincar de cama no sentido sono da coisa.
Não quero sonhos.
Sonhos são maus e me mostram pra mim.
Também não quero nenhum ato-falho.
Já disse à minha analista que essa coisa toda de Freud nunca foi pra mim.
Não, não é pulsão de morte.
É impulso de sono e necessidade de olhos abertos.
Nem de poemas.
Quero brincar de cama no sentido sono da coisa.
Não quero sonhos.
Sonhos são maus e me mostram pra mim.
Também não quero nenhum ato-falho.
Já disse à minha analista que essa coisa toda de Freud nunca foi pra mim.
Não, não é pulsão de morte.
É impulso de sono e necessidade de olhos abertos.
quarta-feira, agosto 29, 2007
poema de mim-carne-alma
Eu odeio cortar a mina carne
por que é minha
e por que é carne.
e esse não é um daqueles ódios que são amor.
eu não gosto de cortar carne minha por que dói.
simples assim.
dessa dor de corte eu não gosto.
amor corta?
se amor corta eu gosto.
não. Eu não tenho que gostar, nem que cortar.
hora de dormir.
por que é minha
e por que é carne.
e esse não é um daqueles ódios que são amor.
eu não gosto de cortar carne minha por que dói.
simples assim.
dessa dor de corte eu não gosto.
amor corta?
se amor corta eu gosto.
não. Eu não tenho que gostar, nem que cortar.
hora de dormir.
sábado, agosto 18, 2007
Daniela
Daniela tinha curvas arredondadas e uma voz fina com traços de pato. Era bonita, mas sua beleza não influencia em nada nesta história.
O fato é que naquele dia ela tinha perfeita conciência que se tratava de uma personagem minha. E me torcia a cara por não gostar de saber que era eu quem ditava os rumos daquela história. Não falava nada pra mim e evitava sentir pra que eu não escrevesse. Daniela tinha raiva de ser personagem e mais raiva de não estar no cinema. Pra ela, o que valia era a imagem e não o resto. A minha poesia não valia, era banal e sem fogo.
Mas a minha personagem queria mais que ser minha e seu espírito rebelde e indecente me dá vontade de escrever. Coloquei-a então, sentada num carrossel, vivendo uma história bonita de amor ao som de uma música de trilha sonora de comédia romântica. A vi sorrir e até esqueci que ela só existe por que eu quero. E resolvi que ela deveria saber que se chama Daniela por ser um nome forte e que incomoda.
Ela é morena de olhos mui pretos. E ela gosta de me irritar por esperar mais de mim. me bota num jogo doido pra ser mais que mais uma das mulheres que eu escrevi.
O problema é que as curvas de Daniela não se completam com meus joelhos e ela não tem as minhas cicatrizes. Daniela é um pedaço de uma ferida velha e uma personagem sem narrativa, por castigo meu a seu gênio indomável.
O fato é que naquele dia ela tinha perfeita conciência que se tratava de uma personagem minha. E me torcia a cara por não gostar de saber que era eu quem ditava os rumos daquela história. Não falava nada pra mim e evitava sentir pra que eu não escrevesse. Daniela tinha raiva de ser personagem e mais raiva de não estar no cinema. Pra ela, o que valia era a imagem e não o resto. A minha poesia não valia, era banal e sem fogo.
Mas a minha personagem queria mais que ser minha e seu espírito rebelde e indecente me dá vontade de escrever. Coloquei-a então, sentada num carrossel, vivendo uma história bonita de amor ao som de uma música de trilha sonora de comédia romântica. A vi sorrir e até esqueci que ela só existe por que eu quero. E resolvi que ela deveria saber que se chama Daniela por ser um nome forte e que incomoda.
Ela é morena de olhos mui pretos. E ela gosta de me irritar por esperar mais de mim. me bota num jogo doido pra ser mais que mais uma das mulheres que eu escrevi.
O problema é que as curvas de Daniela não se completam com meus joelhos e ela não tem as minhas cicatrizes. Daniela é um pedaço de uma ferida velha e uma personagem sem narrativa, por castigo meu a seu gênio indomável.
segunda-feira, julho 30, 2007
Eu acho que ganhei um prêmio

Estava eu preguiçosa e bocejante no meu sábado cinzento de fim de férias e resolvi, como de praxe, visitar o orkut. Nada mais normal pra quem tem preguiça de se locomover. Eis que vejo uma fotozinha ruiva no meu scrapbook falando:
- olha o que vc ganhou!!!
http://worldub.blogspot.com/2007/07/wuba-winners.html
parabéns, psicaaaaaaa!!!!
tou super feliz por vc...
[e desculpa n ter avisado antes q ia te indicar, mas vc mereceu msm. muitooo! xD]
Tudo bem... Eu vi o link e pensei que podia ser vírus, mas como é que a praga do vírus ia saber que a minha prima me chama de psica? Aí eu vi lá o site em inglês e uma bandeirinha do Brasil do lado do meu nome. E minha não só tinha me indicado pra parada sem me avisar, como tinha agradecido o prêmio-que-eu-ainda-não-sei-
o-que-significa em meu nome. Aí depois ela disse que meu blog ganhou de melhor do Brasil e eu (com a imagem do Márcio Garcia na cabeça)fiquei pensando em quantos blogues participaram desse treco, quantas pessoas votaram e por que, diabos, quem votou em mim não comenta neste pobre blogue cor-de-rosa.
E aí meu ego inflou e eu fiquei feliz e agradecida.
E é o que eu tenho a dizer, obrigada por dizerem para esta criatura insana que o que ela escreve vale alguma coisa.
E obrigada, Bia. Muito obrigada.
No mais, o blog da Bia, a prima-coisa-ruiva, tá linkado ali do lado.
comam a poesia dela com gosto.
www.meninadeluz.blogspot.com
terça-feira, julho 17, 2007
Patrícia
Patrícia tinha postura reta e lábios artificialmente vermelhos. Tinha chegado antes de Carlos àquele encontro. É certo que devia haver algum medo nela, mas ela sentia-se fria dum jeito que só o calor do momento podia proporcionar. O vestido preto ficava bem com o cabelo preto e os sapatos de salto fino. As mãos tinham cheiro de maçã-verde e enquanto ele não vinha ela pensava que tipo de corante era aquele, já que maçãs verdes não tinham cheiro de maçã-verde nem gosto de bala de maçã-verde.
Carlos e Patrícia eram amigos de alguma data. Ele não era daqueles que tinha se aproximado dela exclusivamente pelo tamanho e o balanço de seus quadris. Mas o fato é que os dois eram mais próximos do que ela agüentava e menos do que ela queria.
Ele chegou. O café dela já estava frio e ele era enfadonhamente pontual. Ela chegara antes pela ansiedade que disfarçava enquanto ele perguntava se tinha demorado demais.
Era hora do show. Ele se sentou na frente dela, pediu um capuccino com pouco açúcar, penteou os cabelos louros com os dedos e respirou cansado, enquanto ela sorria e olhava para as próprias unhas.
- Sinto saudades do seu corpo. – Patrícia era direta e sentia não ter por que não prosseguir.
- É...
- Sinto saudades que chegam a me dar choques noturnos. Tenho sonhado. Sinto falta do seu corpo um tanto que tenho sonhado com o calor da sua pele. E você sabe que digo calor querendo dizer temperatura. Eu gosto da textura. Eu tenho vontade diária de falar todas aquelas besteiras que eu contive por pudor da última vez. Eu tenho vontade de botar a boca em todos os pedaços da sua pele. De te cobrir de saliva e de te morder feito uma cachorra filhote. Morder pra conhecer mesmo. Eu preciso dar pra você.
- Eu também sinto fal...
- Você gosta da minha pele que eu sei. E você está olhando para a minha boca e sentindo as mesmas vontades que eu. Mas eu sou a vilã dessa história e eu vou dizer não só por ser mulher.
- Eu não...
- Carlos, sossegue. O amor é isso, hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo. Roubei de Drummond e sempre quis falar isso a algum Carlos. O Carlos de hoje é você, que eu sou pérfida e volúvel. E você não faz mais que isso por que me conhece e sabe que sou pérfida e volúvel. Sabe que são vinte homens por vez e todos sem futuro algum. Sabe que eu tento ser mulher de um dia só e tenho marcas de todos os meus dias.
- Tem marcado muita gente, Patrícia?
- Não. As marcas que ficam são internas, as marcas que eu deixo são externas.
- Não é verdade.
- Sabes que sou inofensiva e mudo a pessoa do verbo quando quero. Sabe que não tenho concordância e que hoje vim aqui por que realmente quero que você me coma por tesão e sem amor.
- Você não se dá valor.
- Então diz que não está tentado.
- Eu não estou.
- Mentira. Você olha pra minha boca e quer comer esse vermelho feito morango. E digo morango por que você sabe como eu sou azeda. E você não agüenta minha acidez nem minha doçura. Mas meu corpo você quer. Quer as pernas e a boca. Só que não quer gozo de uma noite, ou não sabe que quer. O fato é que você me quer.
- Eu não quero.
- Tudo bem. Eu não acredito em você.
Patrícia manteve a mesma postura séria e casual durante todo o diálogo. Tudo que dizia tinha o mesmo tom. Ela se levantou e foi embora. Tinha a alma lavada e sem não.
Carlos e Patrícia eram amigos de alguma data. Ele não era daqueles que tinha se aproximado dela exclusivamente pelo tamanho e o balanço de seus quadris. Mas o fato é que os dois eram mais próximos do que ela agüentava e menos do que ela queria.
Ele chegou. O café dela já estava frio e ele era enfadonhamente pontual. Ela chegara antes pela ansiedade que disfarçava enquanto ele perguntava se tinha demorado demais.
Era hora do show. Ele se sentou na frente dela, pediu um capuccino com pouco açúcar, penteou os cabelos louros com os dedos e respirou cansado, enquanto ela sorria e olhava para as próprias unhas.
- Sinto saudades do seu corpo. – Patrícia era direta e sentia não ter por que não prosseguir.
- É...
- Sinto saudades que chegam a me dar choques noturnos. Tenho sonhado. Sinto falta do seu corpo um tanto que tenho sonhado com o calor da sua pele. E você sabe que digo calor querendo dizer temperatura. Eu gosto da textura. Eu tenho vontade diária de falar todas aquelas besteiras que eu contive por pudor da última vez. Eu tenho vontade de botar a boca em todos os pedaços da sua pele. De te cobrir de saliva e de te morder feito uma cachorra filhote. Morder pra conhecer mesmo. Eu preciso dar pra você.
- Eu também sinto fal...
- Você gosta da minha pele que eu sei. E você está olhando para a minha boca e sentindo as mesmas vontades que eu. Mas eu sou a vilã dessa história e eu vou dizer não só por ser mulher.
- Eu não...
- Carlos, sossegue. O amor é isso, hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo. Roubei de Drummond e sempre quis falar isso a algum Carlos. O Carlos de hoje é você, que eu sou pérfida e volúvel. E você não faz mais que isso por que me conhece e sabe que sou pérfida e volúvel. Sabe que são vinte homens por vez e todos sem futuro algum. Sabe que eu tento ser mulher de um dia só e tenho marcas de todos os meus dias.
- Tem marcado muita gente, Patrícia?
- Não. As marcas que ficam são internas, as marcas que eu deixo são externas.
- Não é verdade.
- Sabes que sou inofensiva e mudo a pessoa do verbo quando quero. Sabe que não tenho concordância e que hoje vim aqui por que realmente quero que você me coma por tesão e sem amor.
- Você não se dá valor.
- Então diz que não está tentado.
- Eu não estou.
- Mentira. Você olha pra minha boca e quer comer esse vermelho feito morango. E digo morango por que você sabe como eu sou azeda. E você não agüenta minha acidez nem minha doçura. Mas meu corpo você quer. Quer as pernas e a boca. Só que não quer gozo de uma noite, ou não sabe que quer. O fato é que você me quer.
- Eu não quero.
- Tudo bem. Eu não acredito em você.
Patrícia manteve a mesma postura séria e casual durante todo o diálogo. Tudo que dizia tinha o mesmo tom. Ela se levantou e foi embora. Tinha a alma lavada e sem não.
domingo, julho 15, 2007
É preciso
ao meu melhor amigo
É preciso não tratar pessoas como objetos
É preciso respeitar espaços
É preciso que o sangue circule
É preciso bom gosto musical
É preciso travar a língua pra agüentar a vida social
É preciso tomar café
É preciso não perder a fé
É preciso agüentar o tranco
E não se apaixonar
E esquecer o que as coxas pedem e pra onde os olhos desviam
É preciso fingir não sentir o cheiro
É preciso agüentar o não.
É preciso dizer o não.
É preciso esquecer a razão
Por um momento de sentimentalismo besta
É preciso travar todos os palavrões e saber andar de salto
É preciso estudar e fazer as unhas
É preciso que sumam
É preciso sumir
É preciso virar pó
E agüentar o tranco de se apaixonar por tudo.
É preciso não tratar pessoas como objetos
É preciso respeitar espaços
É preciso que o sangue circule
É preciso bom gosto musical
É preciso travar a língua pra agüentar a vida social
É preciso tomar café
É preciso não perder a fé
É preciso agüentar o tranco
E não se apaixonar
E esquecer o que as coxas pedem e pra onde os olhos desviam
É preciso fingir não sentir o cheiro
É preciso agüentar o não.
É preciso dizer o não.
É preciso esquecer a razão
Por um momento de sentimentalismo besta
É preciso travar todos os palavrões e saber andar de salto
É preciso estudar e fazer as unhas
É preciso que sumam
É preciso sumir
É preciso virar pó
E agüentar o tranco de se apaixonar por tudo.
domingo, julho 08, 2007
Eu estava no meio de uma multidão. Era uma festa de igreja ou coisa do tipo. Mas eu me concentrava nos quadris de Maria. eu não sei o nome de Maria, mas Maria sou eu e eu dei meu nome a ela, que dançava linda e livre com sua saia verde longa e sua lusa preta curta, feito mulher mesmo. maria dançava com sua trança grossa que só deixava uma mecha solta. Ela ondulava quando se mexia. se mexia em meu nome, que eu já não podia. A Maria que narra o que não sabe ser ou não uma história tem dentro dela uma coisa forte e ardente, densa e pesada. Eu amo. Eu amo e disse à Carlos que o amo.
Acontece que amor é um estado de espírito, um deboche de uma força maior para dcom um pobre mortal. O amor é bonito e grande e nada simples, mas ao mesmo tempo preto e branco e doce. Faltam-me letras suficientes pra descrever qualquer coisa.
Sei que Maria como sou, não quero me assumir Salomé, que também sou. Aquele livro me doeu nas entranhas por que era eu. E eu tive nojo de mim ao lê-lo. Eu tive nojo do livro e de mim e do meu amor tão zonzo e doente que anda comigo e de quem eu tenho raiva por que não quero sentir. E aí Carlos me diz que eu não valorizo meus próprios sentimentos. Ele devia admitir que sentimentos não tem lugar na vida. Mas ele só assume que eu sou vazia e fatalista como realmente sou. Está cedo e eu não sou uma boa companhia. Queria rasgar o ar como Maria dançando. Queria saber se o nome dela é Maria como o meu. Eu queria comer a carne daquela Maria. Talvez Maria resolvesse o Carlos que é calo entalado na minha garganta. E a minha garganta dói.
Eu avisei que era melhor observada que tocada. Eu não deixei isso claro na primeira vez que bebemos juntos, bem antes de eu pensar em ter Carlos como mais que um amigo? Pois era verdade. Eu não sirvo para ser tocada nunca, por que meu corpo perde o rumo e o prumo. Meu corpo é volúvel e se vicia fácil em coisas demais. Ele gosta de temperaturas de mãos e de texturas de pêlos. Meu corpo é tão cheio quanto eu sou vazia. Ele treme, eu travo.
Talvez eu devesse ter escancarado meu eu-te-amo tímido e xôxo há mais tempo. Todavia, esse não era o meu tempo. E eu tenho que respeitar meu tempo e o tempo de Carlos como respeito a mecha solta do cabelo de Maria que dança de trança. Eu disse que iria pra casa e dormiria. E fui. Mas eu não podia ficar parada, nem manter os pés no chão.
E depois dos meus turbilhões de sentimentos e da uma lágrima que caiu de meu rosto quando eu me dei conta que aquilo que queimava e que eu não podia era realmente o que eu temia. Me vi Maria.
E parecia que eu já não precisava dizer nada, mas precisava dizer tudo. todas as coisas tinham sido ditas, mas tinham sido trocadas por um tudo novo.
Sentei-me e ele veio falar comigo, alguém que não era Carlos, mas era carinho, quase ternura.
Serei Maria pra ele. Serei ternura pra ele. Agora, preciso ser doce.
Acontece que amor é um estado de espírito, um deboche de uma força maior para dcom um pobre mortal. O amor é bonito e grande e nada simples, mas ao mesmo tempo preto e branco e doce. Faltam-me letras suficientes pra descrever qualquer coisa.
Sei que Maria como sou, não quero me assumir Salomé, que também sou. Aquele livro me doeu nas entranhas por que era eu. E eu tive nojo de mim ao lê-lo. Eu tive nojo do livro e de mim e do meu amor tão zonzo e doente que anda comigo e de quem eu tenho raiva por que não quero sentir. E aí Carlos me diz que eu não valorizo meus próprios sentimentos. Ele devia admitir que sentimentos não tem lugar na vida. Mas ele só assume que eu sou vazia e fatalista como realmente sou. Está cedo e eu não sou uma boa companhia. Queria rasgar o ar como Maria dançando. Queria saber se o nome dela é Maria como o meu. Eu queria comer a carne daquela Maria. Talvez Maria resolvesse o Carlos que é calo entalado na minha garganta. E a minha garganta dói.
Eu avisei que era melhor observada que tocada. Eu não deixei isso claro na primeira vez que bebemos juntos, bem antes de eu pensar em ter Carlos como mais que um amigo? Pois era verdade. Eu não sirvo para ser tocada nunca, por que meu corpo perde o rumo e o prumo. Meu corpo é volúvel e se vicia fácil em coisas demais. Ele gosta de temperaturas de mãos e de texturas de pêlos. Meu corpo é tão cheio quanto eu sou vazia. Ele treme, eu travo.
Talvez eu devesse ter escancarado meu eu-te-amo tímido e xôxo há mais tempo. Todavia, esse não era o meu tempo. E eu tenho que respeitar meu tempo e o tempo de Carlos como respeito a mecha solta do cabelo de Maria que dança de trança. Eu disse que iria pra casa e dormiria. E fui. Mas eu não podia ficar parada, nem manter os pés no chão.
E depois dos meus turbilhões de sentimentos e da uma lágrima que caiu de meu rosto quando eu me dei conta que aquilo que queimava e que eu não podia era realmente o que eu temia. Me vi Maria.
E parecia que eu já não precisava dizer nada, mas precisava dizer tudo. todas as coisas tinham sido ditas, mas tinham sido trocadas por um tudo novo.
Sentei-me e ele veio falar comigo, alguém que não era Carlos, mas era carinho, quase ternura.
Serei Maria pra ele. Serei ternura pra ele. Agora, preciso ser doce.
sábado, junho 30, 2007
Manutenção de medos e virtudes
Eu talvez seja uma manutenção constante dos meus próprios ciúmes.
É fato que eu mesma às vezes acho que o que eu digo e o que eu faço são estranhos e imutáveis, talvez mutáveis demais. Talvez seja imediatice mediata. Não sei ao certo o que é e o que não é.
Mas ele incomoda como ela e como as saudades todas. Talvez haja fuga e o ridículo seja apenas carta de amor.
E toda essa coisa é ridícula justamente por não ser nada ridícula, então eu rio.
É por mim que eu boicoto a face.
É por mim que eu tento esquecer os ciúmes e os medos.
No entanto, eu sou ciúme e medo constantes como se não pudesse não ser isso.
Era uma vez uma menininha de tranças e nariz vermelho. Ela chorava e queria dançar balé.
Fez-se constante e eterna a minha falta de postura.
Era uma vez alguém que gostava de rir.
Eu gosto de rir.
Os joelhos ralados dizem mais do que eu gostaria.
A manutenção constante dos ciúmes não enxerga nada bem.
Era uma vez um nó cego no meio das tranças.
era uma trança. uma transa.
Era um medo.
Era fatal.
E eu era chama.
É fato que eu mesma às vezes acho que o que eu digo e o que eu faço são estranhos e imutáveis, talvez mutáveis demais. Talvez seja imediatice mediata. Não sei ao certo o que é e o que não é.
Mas ele incomoda como ela e como as saudades todas. Talvez haja fuga e o ridículo seja apenas carta de amor.
E toda essa coisa é ridícula justamente por não ser nada ridícula, então eu rio.
É por mim que eu boicoto a face.
É por mim que eu tento esquecer os ciúmes e os medos.
No entanto, eu sou ciúme e medo constantes como se não pudesse não ser isso.
Era uma vez uma menininha de tranças e nariz vermelho. Ela chorava e queria dançar balé.
Fez-se constante e eterna a minha falta de postura.
Era uma vez alguém que gostava de rir.
Eu gosto de rir.
Os joelhos ralados dizem mais do que eu gostaria.
A manutenção constante dos ciúmes não enxerga nada bem.
Era uma vez um nó cego no meio das tranças.
era uma trança. uma transa.
Era um medo.
Era fatal.
E eu era chama.
domingo, junho 24, 2007
Noite
Parece que dizes
te amo, Aline.
Sem fotografias ou caras felizes.
me vejo apertada
um peso grande que eu nunca quis.
é desconcertante e eu não sei sair.
Quero folhetim, ou digo que quero.
Cansei da mocinha, mas a vilã dói.
Parece que pensas e corro, assopro.
Parece que grito, mas você não sai.
Não quero ouvir nada, sou fraca, sou chata.
Não tenho resposta, aguente, que eu não.
eu não quero isso, não sonho e nem tiro os pés do chão.
A noite passada não vai passar mais não.
Um número estranho, os fatos, as fotos.
Um luxo que é lixo.
Refocilhar na merda enche o saco.
Ele ensinou truques, você nem sabe do que eu sou capaz.
Se não me conhece, não pode querer mais.
Parece que tentas, e tento não tentar te fazer mal.
Parece que corro,
a vilã não se dá bem no final.
te amo, Aline.
Sem fotografias ou caras felizes.
me vejo apertada
um peso grande que eu nunca quis.
é desconcertante e eu não sei sair.
Quero folhetim, ou digo que quero.
Cansei da mocinha, mas a vilã dói.
Parece que pensas e corro, assopro.
Parece que grito, mas você não sai.
Não quero ouvir nada, sou fraca, sou chata.
Não tenho resposta, aguente, que eu não.
eu não quero isso, não sonho e nem tiro os pés do chão.
A noite passada não vai passar mais não.
Um número estranho, os fatos, as fotos.
Um luxo que é lixo.
Refocilhar na merda enche o saco.
Ele ensinou truques, você nem sabe do que eu sou capaz.
Se não me conhece, não pode querer mais.
Parece que tentas, e tento não tentar te fazer mal.
Parece que corro,
a vilã não se dá bem no final.
quarta-feira, junho 06, 2007
terça-feira, maio 29, 2007
As marcas
Ele saiu marcado mais uma vez. Comprou um cigarro na esquina. Um único cigarro era suficiente pra brindar a noite e as marcas. Gostava de cada uma delas. Gostava dum jeito quase que doentio. Ele sentia paixão naquelas mordidas, sentia o sangue correr melhor por aqueles arranhões. A dor posterior talvez fosse melhor que o prazer da hora. Aquele martírio todo talvez o tornasse puro, ou o mais perverso dos seres. E ele não tinha interesse algum em descobrir o que era ou por que era. Era hora de sentir a fumaça dançando nas mucosas, era hora de aspirar o resto de cheiro dela que ele ainda tinha grudado em si. Era hora de purificar a própria saliva. Era hora de ser invisível. Encostava-se no poste sem saber onde ela ia ou o que fazia. Encostava-se pra agüentar a dúvida que a arrogância dele tinha deixado passar. Era ele o único? As marcas eram só dele? Mais ninguém merecia aqueles dentes e ele não agüentaria ver as marcas dela em qualquer outro corpo. Mordidas eram a prova maior da paixão, mesmo que fosse coisa de uma noite, mesmo que fosse uma doença de momento. Os hematomas dele eram prova de que ela queria conhecer o gosto que ele tinha. Quais gostos ela conhecia? Quais rostos ela marcaria? Quais taras ela aceitaria?
Crianças mordem pra conhecer. Crianças mordem o que vêem. Ele queria pensar que ela não era criança mais. Se ela mordia era pra fixar o gosto, pra arrancar um pedaço. Se ela mordia era pra tê-lo nela. Pra que ele se entregasse. Se ela mordia era pra agüentar o que ele não podia.
O cigarro foi até o fim. As marcas ficariam ali. E ele buscaria marcas novas, sempre e sem porquê.
Crianças mordem pra conhecer. Crianças mordem o que vêem. Ele queria pensar que ela não era criança mais. Se ela mordia era pra fixar o gosto, pra arrancar um pedaço. Se ela mordia era pra tê-lo nela. Pra que ele se entregasse. Se ela mordia era pra agüentar o que ele não podia.
O cigarro foi até o fim. As marcas ficariam ali. E ele buscaria marcas novas, sempre e sem porquê.
domingo, maio 20, 2007
Mariana XIV
E Mariana entrou numas de não saber mesmo o que fazer
Ela me disse que já não pode fazer nada.
E todo aquele medo pulsa forte dentro dela de uma vez só.
Mariana pulsa medo do medo de tudo dar certo.
Mariana pulsa nesse clímax de história pela metade.
-E o final?- O óbvio perguntava pra ela ao lado dela
Era hora de assumir o sim ou dizer não.
E a dor do outro dia tinha virado líquido.
Mariana era angústia e tensão.
Mariana era todo sentimento do mundo presa e solta na palma da mão.
Ela era o poema que dava gosto àquela narrativa.
E ele era a chave confusa de tudo.
Ela queria um telefonema, mas ele não ligaria pra cobrar nada dela.
E ela sabia que qualquer oi seria inútil até o dia de amanhã.
A história tomava proporções absurdas e lindas.
Mariana sabia quase nada e não me falava nem o que queria.
E eu ficava tentando ser o chão que Mariana tinha perdido por conta de palavras que o óbvio nem lembrava ter dito.
Eu queria ser base do que não me diz respeito.
E Mariana queria carregar o mundo nas costas, todo sentimento do mundo nas costas.
Drummond ela não lia mais.
E Bandeira já não podia dar resposta que não viesse de “Belo belo”
Vida noves fora zero
E não tenho tudo que quero
E na poética Mariana perdia o lirismo dos loucos
Ela queria o lirismo dos bêbados, o lirismo difícil e pungente dos bêbados.
Mas ela não quer saber mais de lirismo, nem de libertação
E nada tem, pra não ter tudo.
Ela me disse que já não pode fazer nada.
E todo aquele medo pulsa forte dentro dela de uma vez só.
Mariana pulsa medo do medo de tudo dar certo.
Mariana pulsa nesse clímax de história pela metade.
-E o final?- O óbvio perguntava pra ela ao lado dela
Era hora de assumir o sim ou dizer não.
E a dor do outro dia tinha virado líquido.
Mariana era angústia e tensão.
Mariana era todo sentimento do mundo presa e solta na palma da mão.
Ela era o poema que dava gosto àquela narrativa.
E ele era a chave confusa de tudo.
Ela queria um telefonema, mas ele não ligaria pra cobrar nada dela.
E ela sabia que qualquer oi seria inútil até o dia de amanhã.
A história tomava proporções absurdas e lindas.
Mariana sabia quase nada e não me falava nem o que queria.
E eu ficava tentando ser o chão que Mariana tinha perdido por conta de palavras que o óbvio nem lembrava ter dito.
Eu queria ser base do que não me diz respeito.
E Mariana queria carregar o mundo nas costas, todo sentimento do mundo nas costas.
Drummond ela não lia mais.
E Bandeira já não podia dar resposta que não viesse de “Belo belo”
Vida noves fora zero
E não tenho tudo que quero
E na poética Mariana perdia o lirismo dos loucos
Ela queria o lirismo dos bêbados, o lirismo difícil e pungente dos bêbados.
Mas ela não quer saber mais de lirismo, nem de libertação
E nada tem, pra não ter tudo.
terça-feira, maio 15, 2007
Poema de mar
à Marcela Rangel
Eu tinha me esquecido que gosto tanto de mar.
É certo que levei todos os caldos que podia e os que não podia também.
Meu biquíni tentou sair do corpo e toda areia grudou em mim.
A minha escova não está utilizável, mas já vou lavar.
Além de tudo tenho sono, aquele sono gostoso pós-mar.
Ai! Eu gosto, gosto e gosto e gosto de mar.
É como se eu fosse areia e tivesse sal.
É como se eu fosse mar e me dissolvesse.
O mar é mais instantâneo que miojo.
Eu miójo no mar.
No mar eu fico gente que peixe não agüentá-lo-ia como estava.
Eu me peixefiquei.
Eu me tubarão.
Eu-baleia precisava de ar naquele caldo.
Eu-sereia precisava de mar pra ter respaldo.
Me misturo com mar que é paixão que eu sou.
E agora, restam pleonasmos e silepses.
Sou redundante feito onda, vou e volto.
Nunca a mesma, por fim, estóro.
Eu tinha me esquecido que gosto tanto de mar.
É certo que levei todos os caldos que podia e os que não podia também.
Meu biquíni tentou sair do corpo e toda areia grudou em mim.
A minha escova não está utilizável, mas já vou lavar.
Além de tudo tenho sono, aquele sono gostoso pós-mar.
Ai! Eu gosto, gosto e gosto e gosto de mar.
É como se eu fosse areia e tivesse sal.
É como se eu fosse mar e me dissolvesse.
O mar é mais instantâneo que miojo.
Eu miójo no mar.
No mar eu fico gente que peixe não agüentá-lo-ia como estava.
Eu me peixefiquei.
Eu me tubarão.
Eu-baleia precisava de ar naquele caldo.
Eu-sereia precisava de mar pra ter respaldo.
Me misturo com mar que é paixão que eu sou.
E agora, restam pleonasmos e silepses.
Sou redundante feito onda, vou e volto.
Nunca a mesma, por fim, estóro.
quinta-feira, maio 10, 2007
Sobre luz
Hoje deu vontade de escrever qualquer coisa otimista.
Vontade de falar qualquer coisa que cante.
Talvez fosse o caso de sacar da bolsa toda e qualquer figura de linguagem pra tentar entender as teorias da comunicação.
As figuras talvez sejam ruídos e a semântica se reinventa quando você tenta se fazer literatice.
Eu gosto muito de neologismos. Me senti bem mais livre quando me disseram que eu podia inventar.
Há dias em que eu quero muito ser Ana C. ou Florbela Espanca.
Hoje eu me sinto bem aline que sou.
Hoje eu me substantivo e me adjetivo ao mesmo tempo.
É claro que tenho pensado e poetizado sobre verbos e eles jorram de mim à todo tempo. Os verbos escorrem dos meus poros e me enchem e esvaziam a cabeça. Eu respiro verbo e como verbo e fico verbo o dia todo.
Eu fico pensando a morfologia por que a sintaxe é história sem fim. Eu sujeito fico caminhando entre vários predicados e volta e meia viro objeto numa voz reflexiva que não há tempo de seguir.
Hoje quero esmiuçar as palavras. Quero palavras pequenas e curtas e por elas mesmas.
Advérbios.
Numerais.
Bola.
Sola.
Mola.
Cola.
Macaco.
Coala.
Coelho.
Casa.
Estudo.
Charme.
Couve.
Sintaxe.
Quero transformar substantivos em verbos e sair por aí passarinhando.
Vamos estar aguardando.
Vamos estar correndo.
Vamos estar cantando.
Nem toda concretude tem que ser Gullar.
Fica um ponto.
Final.
Vontade de falar qualquer coisa que cante.
Talvez fosse o caso de sacar da bolsa toda e qualquer figura de linguagem pra tentar entender as teorias da comunicação.
As figuras talvez sejam ruídos e a semântica se reinventa quando você tenta se fazer literatice.
Eu gosto muito de neologismos. Me senti bem mais livre quando me disseram que eu podia inventar.
Há dias em que eu quero muito ser Ana C. ou Florbela Espanca.
Hoje eu me sinto bem aline que sou.
Hoje eu me substantivo e me adjetivo ao mesmo tempo.
É claro que tenho pensado e poetizado sobre verbos e eles jorram de mim à todo tempo. Os verbos escorrem dos meus poros e me enchem e esvaziam a cabeça. Eu respiro verbo e como verbo e fico verbo o dia todo.
Eu fico pensando a morfologia por que a sintaxe é história sem fim. Eu sujeito fico caminhando entre vários predicados e volta e meia viro objeto numa voz reflexiva que não há tempo de seguir.
Hoje quero esmiuçar as palavras. Quero palavras pequenas e curtas e por elas mesmas.
Advérbios.
Numerais.
Bola.
Sola.
Mola.
Cola.
Macaco.
Coala.
Coelho.
Casa.
Estudo.
Charme.
Couve.
Sintaxe.
Quero transformar substantivos em verbos e sair por aí passarinhando.
Vamos estar aguardando.
Vamos estar correndo.
Vamos estar cantando.
Nem toda concretude tem que ser Gullar.
Fica um ponto.
Final.
sexta-feira, maio 04, 2007
Mariana XIII
Mariana se sente como um bichinho
e na verdade, ela não sabe bem o que pensar.
E lembra de onde vinha todo aquele medo que ela disse já ter perdido
e que perdeu.
Talvez se não tivesse perdido, e se não fosse criança vulgar, ela não ficasse como está.
Mariana era mais Mariana que nunca.
E vestia sua carapuça à Nabokov.
Era hora de xingar, não era?
Era hora de aceitar que o tempo passava e toda aquela coisa da teoria da relatividade
Rápido demais, ela diria.
Estava sendo mastigada pelo leão.
Estava no escuro, então.
Perdida numa óbvia e transparente escuridão.
Havia algum reflexo de luz.
O ar condicionado condicionava toda palavra.
Mariana sentia um frio que não queria sentir.
Ela queria o conforto de um abraço.
Ela queria fugir ou encarar tudo de frente.
Naquela transparente escuridão ela não sabia onde tinha se perdido.
Era Mariana quem estava ali.
Era Mariana quem tinha dito sim.
Que voltasse ao não, então, e perdesse o ciúme vão.
Medo de escuro no escuro
ênfase horizontal.
Mariana tinha vontade de colo.
E tinha saudades da lua, e de falta de dor.
e na verdade, ela não sabe bem o que pensar.
E lembra de onde vinha todo aquele medo que ela disse já ter perdido
e que perdeu.
Talvez se não tivesse perdido, e se não fosse criança vulgar, ela não ficasse como está.
Mariana era mais Mariana que nunca.
E vestia sua carapuça à Nabokov.
Era hora de xingar, não era?
Era hora de aceitar que o tempo passava e toda aquela coisa da teoria da relatividade
Rápido demais, ela diria.
Estava sendo mastigada pelo leão.
Estava no escuro, então.
Perdida numa óbvia e transparente escuridão.
Havia algum reflexo de luz.
O ar condicionado condicionava toda palavra.
Mariana sentia um frio que não queria sentir.
Ela queria o conforto de um abraço.
Ela queria fugir ou encarar tudo de frente.
Naquela transparente escuridão ela não sabia onde tinha se perdido.
Era Mariana quem estava ali.
Era Mariana quem tinha dito sim.
Que voltasse ao não, então, e perdesse o ciúme vão.
Medo de escuro no escuro
ênfase horizontal.
Mariana tinha vontade de colo.
E tinha saudades da lua, e de falta de dor.
terça-feira, maio 01, 2007
Diário de viagem
A verdade é que a mudez me incomoda. A mudez dela faz com que eu contenha a minha mudez. É como se eu tivesse que esganar aquele silêncio que é culpa falando qualquer coisa desnecessária e desimportante. E nessas eu me escondo e me exponho ao mesmo tempo. Queria saber quando eu vou ter tempo de me esconder de novo e de estar inerte ao mundo.
***
Acho que se eu vim pra cá foi só pra me esconder. Pra fugir mesmo de todas essas coisas e de todas as pessoas que me apavoram.
Acho que não gosto muito de sentimentos. Acho que não gosto por que gosto demais e eles doem. A paixão dói. O tesão dói. A saudade dói. A felicidade dói. E a ternura dói um tanto que eu não agüento. E dói a culpa também. Dói a raiva.
***
Eu tive que por pra fora. Tive que gritar quando vi a cara de felicidade dela enquanto eu chorava no auge do meu turbilhão de sentimentos. Eu não me reconhecia ali. Eu não sabia bem qual era a medida do cansaço.
***
Passar o limite não é pra qualquer um. Não vou ler Nietzsche tão cedo.
***
Eu não gosto dessas fontes que mudam sem que a gente peça. Eu não gosto nem desse programa de computador que eu tô usando pra falar qualquer abobrinha que aparecer.
***
Acho que eu não devia me esconder pra me remoer. Acho que se moer dói. Por outro lado, meu corpo responde bem a essa remoência. A tensão diminui nas costas, mesmo que o sono não venha. Eu preciso mesmo me esvair em versos. Preciso mesmo escrever todas as coisas sem personagens. As lágrimas todas ajudam tanto a curar a dor. A dor ajuda tanto a curar as lágrimas. A dor ajuda tanto quando a gente quer ser forte.
***
Eu juro que agüento tudo, menos ternura. Eu agüento qualquer tufão.
Promete que se eu disser que eu tô no limite você não vai passar? Eu fico muito ruim quando passo do limite. Eu choro, fico violenta, eu grito, fico irracional. Eu fora do limite pareço um bicho. Eu fora do limite pareço comigo.
Faz cinco anos que eu passei do limite pela última vez. Coincidência isso voltar agora. Coincidência isso ser logo agora.
***
Eu disse que não acreditava em destino, mas ando tendo medo, sabe?
***
No lugar em que hoje fica aquele tanque antes tinha uma roseira (e eu sei que o verbo ter não pode ser usado no sentido de existir, mas foda-se). E eu fico olhando pra todas aquelas flores do lado do tanque, mas ainda sinto falta da roseira. A goiabeira ainda está lá, como o pé de acerola e o pé de pitanga, e todos aqueles pés de fruta gostosa, e aquela horta. Tudo está ali, menos o cacto e a roseira. Eu tinha escrito meu nome naquele cacto, eu tinha botado meu nome naquela roseira. Eu gostava de tirar leitinho do cacto, eu sinto saudade dos botões de rosa.
Aquele tanque é tão vazio.
***
Os biscoitos não têm o mesmo gosto em outro lugar, eu juro que aqui eles são bem mais gostosos. Seria tão bom se eu pudesse chamar os biscoitos gostosos de casa.
***
Meu lugar é aí, estando sozinha ou em casa, meu lugar é em casa. Minha casa é aquele barulho todo e as brigas todas. Minha casa é essa falta de sono e esse stress e essa falta de mimo. Minha casa é esse sorriso bonito que eu vejo toda manhã. Minha casa são aquelas bochechas e aquela barriga e aqueles olhos provocadores. Minha casa é essa gente que me põe pra cima mesmo quando eu começo a pensar que não agüento. Eles sabem que eu agüento e eu também. Seria tão mais fácil simplesmente não agüentar.
***
Sinto muitas saudades de casa, mesmo estando fora por alguns minutos.
***
Tentei ligar, mas eles não atenderam. Eu já decorei a mensagem da secretária eletrônica que não tem o meu nome, mas é minha também. Eles tinham que saber que eu estou viva.
***
O eme é uma letra que pode ter três ou duas pernas.
***
Eu parei Policarpo Quaresma no começo, mas eu vou retomar. Não vai ser como foi com Crime e Castigo.
***
Eu tinha frio e ele me emprestou o casaco que ela deu pra ele. E a gente foi junto procurar um cara que ninguém conhecia. Eu me perdi no caminho e ela me disse que ele anda estando descontrolado. Eu não entendo bem o que isso quer dizer, ele me parecia simplesmente um cara gentil acima do frio.
***
A chuva era fina e eu agüentava bem. Frio não é ternura.
***
Aquela coisa pequena veio me cutucar e meter o bedelho na minha escrita. Aquela coisa pequena não sabe, mas tem toda moral do mundo pra mexer na minha escrita. Descobri isso agora. Ele nem sabe que pode tanto quanto pode, ele nem sabe que me desperta tanto carinho e tanta ternura. Ele tem sete anos e eu tenho vontade de mordê-lo e que tudo dê certo.
***
No fim eu sou só mais uma pessoa racional demais.
***
Isso tudo é reflexo dessa confusão de pós-modernidade que a modernidade criou dentro dela mesma. E eu reconheço o passado no presente e o presente no passado e por mais estranho que isso pareça: aquele texto de Habermas começa a fazer algum sentido quando lido pela quinta vez.
Exagero sempre.
***
Eu não quero pensar antes de escrever, quero escrita pura pra não parecer escrita falsa. Na máquina de escrever talvez eu aparecesse de verdade, talvez eu não errasse ou não consertasse.
***
Eles falam comigo e eu ouço pela metade, eu sempre ouço pela metade quando não estou inteira.
***
Ela quer ir a uma festa que eu já disse que não vou.
Habermas tem que descer e tem que ser hoje.
***
Eu não queria te dizer, mas aquela dor de cabeça finalmente passou. E pra mim é você o retrato da ternura, mesmo quando avesso a ela.
***
Acho que se eu vim pra cá foi só pra me esconder. Pra fugir mesmo de todas essas coisas e de todas as pessoas que me apavoram.
Acho que não gosto muito de sentimentos. Acho que não gosto por que gosto demais e eles doem. A paixão dói. O tesão dói. A saudade dói. A felicidade dói. E a ternura dói um tanto que eu não agüento. E dói a culpa também. Dói a raiva.
***
Eu tive que por pra fora. Tive que gritar quando vi a cara de felicidade dela enquanto eu chorava no auge do meu turbilhão de sentimentos. Eu não me reconhecia ali. Eu não sabia bem qual era a medida do cansaço.
***
Passar o limite não é pra qualquer um. Não vou ler Nietzsche tão cedo.
***
Eu não gosto dessas fontes que mudam sem que a gente peça. Eu não gosto nem desse programa de computador que eu tô usando pra falar qualquer abobrinha que aparecer.
***
Acho que eu não devia me esconder pra me remoer. Acho que se moer dói. Por outro lado, meu corpo responde bem a essa remoência. A tensão diminui nas costas, mesmo que o sono não venha. Eu preciso mesmo me esvair em versos. Preciso mesmo escrever todas as coisas sem personagens. As lágrimas todas ajudam tanto a curar a dor. A dor ajuda tanto a curar as lágrimas. A dor ajuda tanto quando a gente quer ser forte.
***
Eu juro que agüento tudo, menos ternura. Eu agüento qualquer tufão.
Promete que se eu disser que eu tô no limite você não vai passar? Eu fico muito ruim quando passo do limite. Eu choro, fico violenta, eu grito, fico irracional. Eu fora do limite pareço um bicho. Eu fora do limite pareço comigo.
Faz cinco anos que eu passei do limite pela última vez. Coincidência isso voltar agora. Coincidência isso ser logo agora.
***
Eu disse que não acreditava em destino, mas ando tendo medo, sabe?
***
No lugar em que hoje fica aquele tanque antes tinha uma roseira (e eu sei que o verbo ter não pode ser usado no sentido de existir, mas foda-se). E eu fico olhando pra todas aquelas flores do lado do tanque, mas ainda sinto falta da roseira. A goiabeira ainda está lá, como o pé de acerola e o pé de pitanga, e todos aqueles pés de fruta gostosa, e aquela horta. Tudo está ali, menos o cacto e a roseira. Eu tinha escrito meu nome naquele cacto, eu tinha botado meu nome naquela roseira. Eu gostava de tirar leitinho do cacto, eu sinto saudade dos botões de rosa.
Aquele tanque é tão vazio.
***
Os biscoitos não têm o mesmo gosto em outro lugar, eu juro que aqui eles são bem mais gostosos. Seria tão bom se eu pudesse chamar os biscoitos gostosos de casa.
***
Meu lugar é aí, estando sozinha ou em casa, meu lugar é em casa. Minha casa é aquele barulho todo e as brigas todas. Minha casa é essa falta de sono e esse stress e essa falta de mimo. Minha casa é esse sorriso bonito que eu vejo toda manhã. Minha casa são aquelas bochechas e aquela barriga e aqueles olhos provocadores. Minha casa é essa gente que me põe pra cima mesmo quando eu começo a pensar que não agüento. Eles sabem que eu agüento e eu também. Seria tão mais fácil simplesmente não agüentar.
***
Sinto muitas saudades de casa, mesmo estando fora por alguns minutos.
***
Tentei ligar, mas eles não atenderam. Eu já decorei a mensagem da secretária eletrônica que não tem o meu nome, mas é minha também. Eles tinham que saber que eu estou viva.
***
O eme é uma letra que pode ter três ou duas pernas.
***
Eu parei Policarpo Quaresma no começo, mas eu vou retomar. Não vai ser como foi com Crime e Castigo.
***
Eu tinha frio e ele me emprestou o casaco que ela deu pra ele. E a gente foi junto procurar um cara que ninguém conhecia. Eu me perdi no caminho e ela me disse que ele anda estando descontrolado. Eu não entendo bem o que isso quer dizer, ele me parecia simplesmente um cara gentil acima do frio.
***
A chuva era fina e eu agüentava bem. Frio não é ternura.
***
Aquela coisa pequena veio me cutucar e meter o bedelho na minha escrita. Aquela coisa pequena não sabe, mas tem toda moral do mundo pra mexer na minha escrita. Descobri isso agora. Ele nem sabe que pode tanto quanto pode, ele nem sabe que me desperta tanto carinho e tanta ternura. Ele tem sete anos e eu tenho vontade de mordê-lo e que tudo dê certo.
***
No fim eu sou só mais uma pessoa racional demais.
***
Isso tudo é reflexo dessa confusão de pós-modernidade que a modernidade criou dentro dela mesma. E eu reconheço o passado no presente e o presente no passado e por mais estranho que isso pareça: aquele texto de Habermas começa a fazer algum sentido quando lido pela quinta vez.
Exagero sempre.
***
Eu não quero pensar antes de escrever, quero escrita pura pra não parecer escrita falsa. Na máquina de escrever talvez eu aparecesse de verdade, talvez eu não errasse ou não consertasse.
***
Eles falam comigo e eu ouço pela metade, eu sempre ouço pela metade quando não estou inteira.
***
Ela quer ir a uma festa que eu já disse que não vou.
Habermas tem que descer e tem que ser hoje.
***
Eu não queria te dizer, mas aquela dor de cabeça finalmente passou. E pra mim é você o retrato da ternura, mesmo quando avesso a ela.
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