Ele disse que cresci. Disse que o corpo mudou e a voz e a cara e o jeito de me vestir. Talvez eu tenha mesmo perdido um pouco do pudor que eu tinha de me ser. Ora, não sei qual o problema nisso. Crescer não é como construir personagens pra teatro. Exato oposto. Desconstrói-se a princesa de conto de fadas e constrói a mulher. Até aí não sei pra onde vai e de onde vem e nada.
E o depois também não sei.
E sentimento não é de se saber.
Ela disse que psicólogo deve ganhar uma grana sem resolver os problemas dos outros. Aí eu pergunto se os outros não devia saber resolver seus próprios problemas.
Todos somos Atlas e temos que carregar nosso mundo nas costas.
Crescer é fazer escolhas, uma terceira pessoa cujo sexo não me lembro disse.
Então eu devia ganhar um martelo e sair quebrando todas as dores e estourando bolhas de felicidade.
Agulha talvez fosse mais eficaz.
E ficas, fixas, fichas e sentas.
A segunda pessoa eu não sei usar bem. Ou sei? Ambiguidadegramaticaldespropositadaeproposital.
No fim, todo poeta é um inconseqüente num mundo de letras e sons.
quarta-feira, novembro 14, 2007
sexta-feira, novembro 02, 2007
O sonho
Tive mais um sonho daqueles que cortam na alma e dóem no peito. Então estou doendo até agora. Sei que aquele sonho inteiro é pura vontade minha nua. Se fosse vida aquele sonho naquelas formas eu sorriria ao invés de doer. O problema do sonho é que ele é só desejo e desejo é falta. O problema desse sonho é que ele me falta e eu não quero essa falta. Eu quero o sonho inteiro e pra mim até de ponta cabeça.
Eu era eu descabelada e desleixada. Ele era ele nos mesmos moldes, só que homem. E ele sussurrava que me amava e de novo eu não sabia o que fazer. E eu ficava distante e esperava que ele dormisse pra me aninhar nele e deitarmos juntos no chão. Harmonia visível à quem passasse, mas ninguém passava por que nós dormíamos e nós dois estávamos enroscados só pra nós dois. Ligados. Foi ele acordar e eu disse que o amava.
E eu acordei.
Não tem felizes para sempre quando a gente está acordado. E o que eu desejo me falta. Aí eu fico doendo mesmo. Eu fico só. Eu fico.
Eu era eu descabelada e desleixada. Ele era ele nos mesmos moldes, só que homem. E ele sussurrava que me amava e de novo eu não sabia o que fazer. E eu ficava distante e esperava que ele dormisse pra me aninhar nele e deitarmos juntos no chão. Harmonia visível à quem passasse, mas ninguém passava por que nós dormíamos e nós dois estávamos enroscados só pra nós dois. Ligados. Foi ele acordar e eu disse que o amava.
E eu acordei.
Não tem felizes para sempre quando a gente está acordado. E o que eu desejo me falta. Aí eu fico doendo mesmo. Eu fico só. Eu fico.
quarta-feira, outubro 24, 2007
abunda
Eu não entendo nada de Marx nem de Hegel.
Pra mim, o que importa é a frequência do samba.
E se o samba filosofa enquanto a bunda mexe, que mal há?
Há que se considerar o bronze das nádegas tropicais.
Não há que se considerar o racionalismo, materialismo, dialética ou utopia de uma bunda.
A bunda ideal não há.
O mestre disse que existe gosto pra tudo, ele mesmo não se aguenta vendo bundas grandes, largas e com covinhas espalhadas em montes de rachaduras. Há quem goste de bundas secas e inclusive há quem não goste de bundas.
Marx é materialista e fala que há que se considerar o contexto. O material, o palpável, o trabalho, vem antes do resto e constrói esse resto. (Talvez eu esteja falando besteira, mas é litearatura e são minhas impressões) eu encaro como se pra Marx as coisas viessem de fora pra dentro.
Hegel viaja e fala de idealismo, que existe primeiro a razão, depois o resto. As coisas vão de dentro pra fora.
Ainda prefiro samba e bunda que essas discussões sem fim. E pra mim, a frequência que a bunda meche durante o samba é muito mais relevante que a função da bunda na sociedade.
desbundei.
Aline Dias escreve textos bizarros e sem argumentação palpável, talvez ela apenas precise desabafar sem pensar e queira registar pra rir depois.
Pra mim, o que importa é a frequência do samba.
E se o samba filosofa enquanto a bunda mexe, que mal há?
Há que se considerar o bronze das nádegas tropicais.
Não há que se considerar o racionalismo, materialismo, dialética ou utopia de uma bunda.
A bunda ideal não há.
O mestre disse que existe gosto pra tudo, ele mesmo não se aguenta vendo bundas grandes, largas e com covinhas espalhadas em montes de rachaduras. Há quem goste de bundas secas e inclusive há quem não goste de bundas.
Marx é materialista e fala que há que se considerar o contexto. O material, o palpável, o trabalho, vem antes do resto e constrói esse resto. (Talvez eu esteja falando besteira, mas é litearatura e são minhas impressões) eu encaro como se pra Marx as coisas viessem de fora pra dentro.
Hegel viaja e fala de idealismo, que existe primeiro a razão, depois o resto. As coisas vão de dentro pra fora.
Ainda prefiro samba e bunda que essas discussões sem fim. E pra mim, a frequência que a bunda meche durante o samba é muito mais relevante que a função da bunda na sociedade.
desbundei.
Aline Dias escreve textos bizarros e sem argumentação palpável, talvez ela apenas precise desabafar sem pensar e queira registar pra rir depois.
domingo, outubro 21, 2007
O barco
Eu não queria que doesse, mas dói. São as mulheres e as crianças que desistem de afundar os navios, a Ana C que disse. Eu não sou poeta que nem ela e ontem me disseram que eu não podia me comparar. Eu sou forte e devia ficar no navio até o final, mas eu tenho tanto medo de afundar e não valer à pena. E eu queria tanto que valesse à pena e não afundasse.
E está doendo. Eu pulei e bati na hélice. Agora congelo nesse meio de Atlântico. Eu não fui feita pra congelar.
Eu queria que o Rô estivesse aqui e me ouvisse por que ele ia entender tudo e eu ia precisar falar muito pouco.
Eu não gosto de falar nem de afundar navios. Nem de pular fora antes do fim. Eu não gosto de decidir o fim. Não gosto de fins, é bem verdade. Apesar de tudo precisar ter final.
Fui eu quem quis embarcar no navio. Eu queria parar na ponta, abrir os braços, fechar os olhos e voar. Ficar olhando mar no navio eu queria. Sentir vento na cara eu queria.
Mas não são navios e não é história.
Vou ver se agüento nadar a braçadas.
Eu não queria que doesse, mas dói e a musculatura pega firmeza enquanto eu nado nesse atlântico gelado e sem barco.
E está doendo. Eu pulei e bati na hélice. Agora congelo nesse meio de Atlântico. Eu não fui feita pra congelar.
Eu queria que o Rô estivesse aqui e me ouvisse por que ele ia entender tudo e eu ia precisar falar muito pouco.
Eu não gosto de falar nem de afundar navios. Nem de pular fora antes do fim. Eu não gosto de decidir o fim. Não gosto de fins, é bem verdade. Apesar de tudo precisar ter final.
Fui eu quem quis embarcar no navio. Eu queria parar na ponta, abrir os braços, fechar os olhos e voar. Ficar olhando mar no navio eu queria. Sentir vento na cara eu queria.
Mas não são navios e não é história.
Vou ver se agüento nadar a braçadas.
Eu não queria que doesse, mas dói e a musculatura pega firmeza enquanto eu nado nesse atlântico gelado e sem barco.
domingo, outubro 14, 2007
Mariana XVI
Mariana se sentia dentro do furacão.
Os sonhos e a realidade ainda óbvia se chocavam
E ela doía por todos os lados,
Era uma ilha.
Mariana não chorava, mas não estava bem
O óbvio devia ser ombro amigo mais uma vez
E ele estava sempre lá, sempre sendo saída óbvia
E Mariana sempre amando e se ferrando
Mariana ilha de dor
E forte, cada dia mais.
Os sonhos e a realidade ainda óbvia se chocavam
E ela doía por todos os lados,
Era uma ilha.
Mariana não chorava, mas não estava bem
O óbvio devia ser ombro amigo mais uma vez
E ele estava sempre lá, sempre sendo saída óbvia
E Mariana sempre amando e se ferrando
Mariana ilha de dor
E forte, cada dia mais.
terça-feira, outubro 02, 2007
Cinema
Os dois se encontraram na cantina ao lado do cinema. O cinema tinha uma sala só e era famoso por passar filmes alternativos. Fernanda estava esperando seu filme começar quando cruzou com Rodrigo. Ele tinha cara de quem sabia demais e ela era extremamente curiosa. Ela queria saber o que Rodrigo tinha a esconder. Ela saberia mais cedo ou mais tarde. Os dois sentaram-se na mesma mesa.
Ele tinha cabelos castanhos e a pele morena de sol. Ela tinha cabelos claros e longos, não era bonita, era mediana. Tinha cara de mulher comum e não tinha muito o que falar e o que esconder.
Os dois ali, na mesma mesa, travavam uma luta para ver quem escondia mais e quem mostrava mais. Nenhum queria ou podia perder. Os dois estavam errados em começar aquela briga. Fernanda não foi ao cinema.
Rodrigo disse que podia fazer muitas coisas e que tinha muita coisa a dizer, mas não disse nada e não fez nada. Fernanda esperou. Na verdade, ela tinha um medo grande e uma vontade grande de saber.
Antes daquele dia os dois nunca tinham conversado.
Nenhum sabia quem era o outro.
“por que você o está defendendo?”
“Eu não estou defendendo ninguém.”
E por que usar aspas em vez de travessão? A Aline que escreve esse texto nunca gostou de aspas. Ela sempre usou travessão por que aprendeu na primeira série que era assim que se escrevia diálogos. Mas ninguém nunca disse à Aline que se deixa claro num diálogo quem é o sujeito que fala. A Aline desaprendeu a escrever, ou talvez nunca tenha aprendido a fazê-lo.
E Fernanda não sabia bem como se posicionar. Não tinha nada a perder e se perdia no tempo por pura curiosidade. Talvez não valesse à pena insistir. Rodrigo não devia valer nenhum verso. O filme ela já tinha perdido.
Ele parecia por à prova o tempo inteiro tudo que ela tinha a dizer. Ele punha a prova quem ela era. Descreditava.
Ela ainda queria saber de tudo e não queria tomar banho ou ir embora. Os outros deviam esperá-la. Havia vida além dali.
Fernanda tinha gastado o dinheiro do filme e não o teria de volta.
Rodrigo não falava nada que prestasse, apenas acusava.
Ela tinha nojo dele e de tudo que ele falava.
Ele percebia que na verdade, era ele quem estava sendo descreditado.
Era hora de ataque.
E a Aline que escreve esse texto sente necessidade de cortar a história no meio por medo do fim.
Rodrigo conhecia a vida de Fernanda e tinha que jogar isso na cara dela. Ele não sabia o quanto ela detestava que o fizesse. Talvez soubesse. Talvez ele fosse dissimulado a ponto de saber controlar toda aquela situação.
O que ele sabia?
Ela não era prática. Já tinha percebido que não tinha o que fazer e não ia embora dali.
Devia sair.
Rodrigo tinha o que esconder, então jogava com o passado dela. Escancarava pra ela o que ele sabia.
E ele não sabia nada demais.
Ela fez questão de frisar que era mentira.
Se perdeu.
É claro que ele sabia que aquilo a atingia e ele jogaria pra ser ouvido, mesmo não tendo o que dizer.
E ela se viu desesperada e sem razão nenhuma.
Tinha que ir embora.
Foi embora.
Uma pena ter perdido a sessão de cinema.
Ele tinha cabelos castanhos e a pele morena de sol. Ela tinha cabelos claros e longos, não era bonita, era mediana. Tinha cara de mulher comum e não tinha muito o que falar e o que esconder.
Os dois ali, na mesma mesa, travavam uma luta para ver quem escondia mais e quem mostrava mais. Nenhum queria ou podia perder. Os dois estavam errados em começar aquela briga. Fernanda não foi ao cinema.
Rodrigo disse que podia fazer muitas coisas e que tinha muita coisa a dizer, mas não disse nada e não fez nada. Fernanda esperou. Na verdade, ela tinha um medo grande e uma vontade grande de saber.
Antes daquele dia os dois nunca tinham conversado.
Nenhum sabia quem era o outro.
“por que você o está defendendo?”
“Eu não estou defendendo ninguém.”
E por que usar aspas em vez de travessão? A Aline que escreve esse texto nunca gostou de aspas. Ela sempre usou travessão por que aprendeu na primeira série que era assim que se escrevia diálogos. Mas ninguém nunca disse à Aline que se deixa claro num diálogo quem é o sujeito que fala. A Aline desaprendeu a escrever, ou talvez nunca tenha aprendido a fazê-lo.
E Fernanda não sabia bem como se posicionar. Não tinha nada a perder e se perdia no tempo por pura curiosidade. Talvez não valesse à pena insistir. Rodrigo não devia valer nenhum verso. O filme ela já tinha perdido.
Ele parecia por à prova o tempo inteiro tudo que ela tinha a dizer. Ele punha a prova quem ela era. Descreditava.
Ela ainda queria saber de tudo e não queria tomar banho ou ir embora. Os outros deviam esperá-la. Havia vida além dali.
Fernanda tinha gastado o dinheiro do filme e não o teria de volta.
Rodrigo não falava nada que prestasse, apenas acusava.
Ela tinha nojo dele e de tudo que ele falava.
Ele percebia que na verdade, era ele quem estava sendo descreditado.
Era hora de ataque.
E a Aline que escreve esse texto sente necessidade de cortar a história no meio por medo do fim.
Rodrigo conhecia a vida de Fernanda e tinha que jogar isso na cara dela. Ele não sabia o quanto ela detestava que o fizesse. Talvez soubesse. Talvez ele fosse dissimulado a ponto de saber controlar toda aquela situação.
O que ele sabia?
Ela não era prática. Já tinha percebido que não tinha o que fazer e não ia embora dali.
Devia sair.
Rodrigo tinha o que esconder, então jogava com o passado dela. Escancarava pra ela o que ele sabia.
E ele não sabia nada demais.
Ela fez questão de frisar que era mentira.
Se perdeu.
É claro que ele sabia que aquilo a atingia e ele jogaria pra ser ouvido, mesmo não tendo o que dizer.
E ela se viu desesperada e sem razão nenhuma.
Tinha que ir embora.
Foi embora.
Uma pena ter perdido a sessão de cinema.
terça-feira, setembro 18, 2007
O que eu quero
Talvez seja pretensão em larga escala. Mas hoje, lendo teoria e buscando quase-literaturas, eu tive uma vontade grande de ser Rubem Braga. Sempre disse Nelson. Sempre falei que queria escrever feito Nelson Rodrigues. Mas é que Rubem escreve tão lindo que prenderia qualquer criança desatenta que não goste de histórias. Ainda assim, ele fala manso e certo. E ele não deixa de ser jornalista. Ora, as crônicas cantam, mas ainda estão ligadas ao tempo, como ao sempre. Chamavam-no sabiá. Stanislaw Ponte Preta chamava-o Sabiá da crônica.
Quero escrever como quem samba. Quero na escrita todo aquele gingado de coxas que não param quietas e quase saltam com graça. Quero escrever bonito e atraente como um quadril que balança. E quando me lerem, quero que pensem que é bonito e é sentimento. Quero que sintam a minha escrita como eu sinto pulsando em mim a escrita de Rubem ou Clarice. Nelson não pulsa tanto, ele bate e a gente gosta. Geralmente gosto de tapas verbais, mas hoje quero dança.
Escrita como junção de corpos.
Não quero escrita-vômito.
Vamos todos escrever pelos joelhos. Vamos todos cantar pra espantar todos os males. E brincar de roda. Escrever é manter a roda. Vamos rodar em diversos poemas. Vamos rodar sem versos. Poesia em prosa, não era assim a crônica?
Vamos rodar pra não ser atemporais.
Vamos brincar com o tempo? Vamos! Vamos!
Sentimento é hoje e é sempre, literatura. Eu gosto de jornalismo. O que ela falava de jornalismo, uma coisa dura e madura (no sentido de prestes a apodrecer) pra mim é mentira. Somos todos história e formados de histórias. Então, essa brincadeira com fatos registrados em papel ruim, ou sites, ou fitas na tv é atemporal, por que congela o tempo. A gente sabe hoje e se fuçar os arquivos sabe ontem. Não apodreceu.
Jornalismo não é pra apodrecer, ainda mais o cultural. Ora, cultura é coisa que fica, não morre assim. Jornalismo é novo sim. Mas é de virar história.
E eu queria escrever feito Rubem Braga, pro meu jornalismo ou meu autismo sair por aí tocando corações e tomando rumos.
Quero escrever como quem samba. Quero na escrita todo aquele gingado de coxas que não param quietas e quase saltam com graça. Quero escrever bonito e atraente como um quadril que balança. E quando me lerem, quero que pensem que é bonito e é sentimento. Quero que sintam a minha escrita como eu sinto pulsando em mim a escrita de Rubem ou Clarice. Nelson não pulsa tanto, ele bate e a gente gosta. Geralmente gosto de tapas verbais, mas hoje quero dança.
Escrita como junção de corpos.
Não quero escrita-vômito.
Vamos todos escrever pelos joelhos. Vamos todos cantar pra espantar todos os males. E brincar de roda. Escrever é manter a roda. Vamos rodar em diversos poemas. Vamos rodar sem versos. Poesia em prosa, não era assim a crônica?
Vamos rodar pra não ser atemporais.
Vamos brincar com o tempo? Vamos! Vamos!
Sentimento é hoje e é sempre, literatura. Eu gosto de jornalismo. O que ela falava de jornalismo, uma coisa dura e madura (no sentido de prestes a apodrecer) pra mim é mentira. Somos todos história e formados de histórias. Então, essa brincadeira com fatos registrados em papel ruim, ou sites, ou fitas na tv é atemporal, por que congela o tempo. A gente sabe hoje e se fuçar os arquivos sabe ontem. Não apodreceu.
Jornalismo não é pra apodrecer, ainda mais o cultural. Ora, cultura é coisa que fica, não morre assim. Jornalismo é novo sim. Mas é de virar história.
E eu queria escrever feito Rubem Braga, pro meu jornalismo ou meu autismo sair por aí tocando corações e tomando rumos.
domingo, setembro 16, 2007
Mariana XV
E Mariana se viu sem galho.
Sem galho mais uma vez.
Não era hora e não era assim tão óbvio.
Mariana devia buscar o inesperado, sem esperar nada.
Mariana devia sossegar.
Sem galho mais uma vez.
Não era hora e não era assim tão óbvio.
Mariana devia buscar o inesperado, sem esperar nada.
Mariana devia sossegar.
quinta-feira, setembro 13, 2007
Isso
Então tá.
Não ando com cabeça de pessoa-leitora. Na verdade, tenho sono e preguiça de dormir.
É meu diário.
Eu devia publicar um texto que eu escrevi ontem e se chamava Beatriz.
Pensávamos as mesmas coisas, no fim.
Devíamos questionar o mesmo vilão, o grande monstro que me atrapalha a vida. O nome é sociedade, eu acho.
Sou sociopata com cara de menina moça.
Sou gracinha.
Mas isso tudo, como as atrocidades as bombas e as minhas ameaças sobre mim que não sou eu ou mais e menos e pernas, é mentira.
Na verdade, eu minto.
É que se a gente não faz propaganda, as pessoas não vêm.
Foi isso que ele me disse quando eu perguntei pelas promessas que ele me fez.
E eu respondi que a propaganda era enganosa, rindo.
A questão é que eu não gosto que mintam pra mim. Quero mais que mentira.
Se ele não precisasse mentir pra mim teria tido segundas e terceiras chances. Mas mentir pra mim é burrice.
O outro não mentia.
Era um escroto.
Mas não mentia.
E aí entra em voga essa coisa de vínculos.
Não sei por que estou escrevendo algo parecido com um poema se ando sem cabeça pra poesia. Tentei ler. Juro. Mas não desceu e poesia tem que ser degustada feito vinho.
Não consegui.
Ainda sou eu quem mora nesse corpo e a dona dessa mente.
Não foi dessa vez, mas quase.
Estou pensando em coisas que rimam com mente.
Você mente?
Veio uma música velha na cabeça e eu fico pensando se o que eu escrevo é ou não é atemporal.
É sentimento, minha flor, quase magia.
Eu acho que não sinto tanta falta assim de poesia.
É.
Eu minto.
Não ando com cabeça de pessoa-leitora. Na verdade, tenho sono e preguiça de dormir.
É meu diário.
Eu devia publicar um texto que eu escrevi ontem e se chamava Beatriz.
Pensávamos as mesmas coisas, no fim.
Devíamos questionar o mesmo vilão, o grande monstro que me atrapalha a vida. O nome é sociedade, eu acho.
Sou sociopata com cara de menina moça.
Sou gracinha.
Mas isso tudo, como as atrocidades as bombas e as minhas ameaças sobre mim que não sou eu ou mais e menos e pernas, é mentira.
Na verdade, eu minto.
É que se a gente não faz propaganda, as pessoas não vêm.
Foi isso que ele me disse quando eu perguntei pelas promessas que ele me fez.
E eu respondi que a propaganda era enganosa, rindo.
A questão é que eu não gosto que mintam pra mim. Quero mais que mentira.
Se ele não precisasse mentir pra mim teria tido segundas e terceiras chances. Mas mentir pra mim é burrice.
O outro não mentia.
Era um escroto.
Mas não mentia.
E aí entra em voga essa coisa de vínculos.
Não sei por que estou escrevendo algo parecido com um poema se ando sem cabeça pra poesia. Tentei ler. Juro. Mas não desceu e poesia tem que ser degustada feito vinho.
Não consegui.
Ainda sou eu quem mora nesse corpo e a dona dessa mente.
Não foi dessa vez, mas quase.
Estou pensando em coisas que rimam com mente.
Você mente?
Veio uma música velha na cabeça e eu fico pensando se o que eu escrevo é ou não é atemporal.
É sentimento, minha flor, quase magia.
Eu acho que não sinto tanta falta assim de poesia.
É.
Eu minto.
domingo, setembro 09, 2007
O vizinho
Ele morava numa das casas no final da rua e ia à praia todos os dias. Eram as únicas coisas que ela sabia ao ver aquele cara passando de bermuda, carregando a prancha. Ele provavelmente usava filtro solar, já que ela nunca o tinha visto vermelho demais ou descascando. Aquilo era um sinal de que ele se preocupava minimamente com o próprio corpo e consigo. Na verdade, o corpo dele já era um grande sinal de que ele se preocupava com o próprio corpo. Ela não babava por que isso era grosseiro, mas salivava e respirava falhado quando ele passava. E ele passava todos os dias.
Ela nunca tinha parado para imaginar como era a vida dele, era apenas alguém que passava e mexia com a libido. Mexia um bocado. Ele se mexia e ela queria se misturar àquele corpo. Se imaginava poeira grudada em suor, água de mar e areia. Imaginava cenas mil e nenhuma fala. Todo aquele jogo unilateral era muito visual. E ele continuava passando.
Foi assim por alguns verões.
Felizmente, existe o carnaval, em que as pessoas matam seu superego e mergulham num mar de coragem e fantasia. Naquele carnaval, ela fez a amiga apresentá-la a ele. Se conheceram na sexta, e no sábado se encontraram mais uma vez. Ele sabia que ela morava numa casa no começo da sua rua, já a tinha visto. Isso a permitiu sorrir. Ou foi isso, ou foi a tequila. Não importa. O que importa é que, no segundo dia, os dois resolveram descobrir o que havia nos olhos um do outro com a desculpa de tentar não sorrir. Mas os sorrisos vinham. Eles vinham dos dois lados e o jogo do sério já tinha se perdido. Aí ele empurrou o cabelo dela com a ponta dos dedos e puxou-a pela nuca. Era um beijo.
O carnaval continuou e os dois se beijaram na terça-feira gorda pelo tempo que conseguiram.
Ela foi embora na quarta-feira de cinzas. Não morava na casa do começo da rua, apenas passava ali os verões e alguns carnavais. Voltou na páscoa. Ele ainda estava ali, a quaresma acabou mesmo na quinta-feira de lava-pés. Entre sins e nãos e discussões bestas, mais beijos e mãos paradas na cintura.
Ela gostava dos braços dele. Gostava muito.
Os verões demoram a chegar, mas ela teve que voltar no sete de setembro para a tão sonhada independência. Os feriados não davam tempo de paixão e conhecer alguns defeitos impediu-a de continuar. Foi fim.
Ela nunca tinha parado para imaginar como era a vida dele, era apenas alguém que passava e mexia com a libido. Mexia um bocado. Ele se mexia e ela queria se misturar àquele corpo. Se imaginava poeira grudada em suor, água de mar e areia. Imaginava cenas mil e nenhuma fala. Todo aquele jogo unilateral era muito visual. E ele continuava passando.
Foi assim por alguns verões.
Felizmente, existe o carnaval, em que as pessoas matam seu superego e mergulham num mar de coragem e fantasia. Naquele carnaval, ela fez a amiga apresentá-la a ele. Se conheceram na sexta, e no sábado se encontraram mais uma vez. Ele sabia que ela morava numa casa no começo da sua rua, já a tinha visto. Isso a permitiu sorrir. Ou foi isso, ou foi a tequila. Não importa. O que importa é que, no segundo dia, os dois resolveram descobrir o que havia nos olhos um do outro com a desculpa de tentar não sorrir. Mas os sorrisos vinham. Eles vinham dos dois lados e o jogo do sério já tinha se perdido. Aí ele empurrou o cabelo dela com a ponta dos dedos e puxou-a pela nuca. Era um beijo.
O carnaval continuou e os dois se beijaram na terça-feira gorda pelo tempo que conseguiram.
Ela foi embora na quarta-feira de cinzas. Não morava na casa do começo da rua, apenas passava ali os verões e alguns carnavais. Voltou na páscoa. Ele ainda estava ali, a quaresma acabou mesmo na quinta-feira de lava-pés. Entre sins e nãos e discussões bestas, mais beijos e mãos paradas na cintura.
Ela gostava dos braços dele. Gostava muito.
Os verões demoram a chegar, mas ela teve que voltar no sete de setembro para a tão sonhada independência. Os feriados não davam tempo de paixão e conhecer alguns defeitos impediu-a de continuar. Foi fim.
segunda-feira, setembro 03, 2007
O sono e afins
Eu não quero brincar de blogue
Nem de poemas.
Quero brincar de cama no sentido sono da coisa.
Não quero sonhos.
Sonhos são maus e me mostram pra mim.
Também não quero nenhum ato-falho.
Já disse à minha analista que essa coisa toda de Freud nunca foi pra mim.
Não, não é pulsão de morte.
É impulso de sono e necessidade de olhos abertos.
Nem de poemas.
Quero brincar de cama no sentido sono da coisa.
Não quero sonhos.
Sonhos são maus e me mostram pra mim.
Também não quero nenhum ato-falho.
Já disse à minha analista que essa coisa toda de Freud nunca foi pra mim.
Não, não é pulsão de morte.
É impulso de sono e necessidade de olhos abertos.
quarta-feira, agosto 29, 2007
poema de mim-carne-alma
Eu odeio cortar a mina carne
por que é minha
e por que é carne.
e esse não é um daqueles ódios que são amor.
eu não gosto de cortar carne minha por que dói.
simples assim.
dessa dor de corte eu não gosto.
amor corta?
se amor corta eu gosto.
não. Eu não tenho que gostar, nem que cortar.
hora de dormir.
por que é minha
e por que é carne.
e esse não é um daqueles ódios que são amor.
eu não gosto de cortar carne minha por que dói.
simples assim.
dessa dor de corte eu não gosto.
amor corta?
se amor corta eu gosto.
não. Eu não tenho que gostar, nem que cortar.
hora de dormir.
sábado, agosto 18, 2007
Daniela
Daniela tinha curvas arredondadas e uma voz fina com traços de pato. Era bonita, mas sua beleza não influencia em nada nesta história.
O fato é que naquele dia ela tinha perfeita conciência que se tratava de uma personagem minha. E me torcia a cara por não gostar de saber que era eu quem ditava os rumos daquela história. Não falava nada pra mim e evitava sentir pra que eu não escrevesse. Daniela tinha raiva de ser personagem e mais raiva de não estar no cinema. Pra ela, o que valia era a imagem e não o resto. A minha poesia não valia, era banal e sem fogo.
Mas a minha personagem queria mais que ser minha e seu espírito rebelde e indecente me dá vontade de escrever. Coloquei-a então, sentada num carrossel, vivendo uma história bonita de amor ao som de uma música de trilha sonora de comédia romântica. A vi sorrir e até esqueci que ela só existe por que eu quero. E resolvi que ela deveria saber que se chama Daniela por ser um nome forte e que incomoda.
Ela é morena de olhos mui pretos. E ela gosta de me irritar por esperar mais de mim. me bota num jogo doido pra ser mais que mais uma das mulheres que eu escrevi.
O problema é que as curvas de Daniela não se completam com meus joelhos e ela não tem as minhas cicatrizes. Daniela é um pedaço de uma ferida velha e uma personagem sem narrativa, por castigo meu a seu gênio indomável.
O fato é que naquele dia ela tinha perfeita conciência que se tratava de uma personagem minha. E me torcia a cara por não gostar de saber que era eu quem ditava os rumos daquela história. Não falava nada pra mim e evitava sentir pra que eu não escrevesse. Daniela tinha raiva de ser personagem e mais raiva de não estar no cinema. Pra ela, o que valia era a imagem e não o resto. A minha poesia não valia, era banal e sem fogo.
Mas a minha personagem queria mais que ser minha e seu espírito rebelde e indecente me dá vontade de escrever. Coloquei-a então, sentada num carrossel, vivendo uma história bonita de amor ao som de uma música de trilha sonora de comédia romântica. A vi sorrir e até esqueci que ela só existe por que eu quero. E resolvi que ela deveria saber que se chama Daniela por ser um nome forte e que incomoda.
Ela é morena de olhos mui pretos. E ela gosta de me irritar por esperar mais de mim. me bota num jogo doido pra ser mais que mais uma das mulheres que eu escrevi.
O problema é que as curvas de Daniela não se completam com meus joelhos e ela não tem as minhas cicatrizes. Daniela é um pedaço de uma ferida velha e uma personagem sem narrativa, por castigo meu a seu gênio indomável.
segunda-feira, julho 30, 2007
Eu acho que ganhei um prêmio

Estava eu preguiçosa e bocejante no meu sábado cinzento de fim de férias e resolvi, como de praxe, visitar o orkut. Nada mais normal pra quem tem preguiça de se locomover. Eis que vejo uma fotozinha ruiva no meu scrapbook falando:
- olha o que vc ganhou!!!
http://worldub.blogspot.com/2007/07/wuba-winners.html
parabéns, psicaaaaaaa!!!!
tou super feliz por vc...
[e desculpa n ter avisado antes q ia te indicar, mas vc mereceu msm. muitooo! xD]
Tudo bem... Eu vi o link e pensei que podia ser vírus, mas como é que a praga do vírus ia saber que a minha prima me chama de psica? Aí eu vi lá o site em inglês e uma bandeirinha do Brasil do lado do meu nome. E minha não só tinha me indicado pra parada sem me avisar, como tinha agradecido o prêmio-que-eu-ainda-não-sei-
o-que-significa em meu nome. Aí depois ela disse que meu blog ganhou de melhor do Brasil e eu (com a imagem do Márcio Garcia na cabeça)fiquei pensando em quantos blogues participaram desse treco, quantas pessoas votaram e por que, diabos, quem votou em mim não comenta neste pobre blogue cor-de-rosa.
E aí meu ego inflou e eu fiquei feliz e agradecida.
E é o que eu tenho a dizer, obrigada por dizerem para esta criatura insana que o que ela escreve vale alguma coisa.
E obrigada, Bia. Muito obrigada.
No mais, o blog da Bia, a prima-coisa-ruiva, tá linkado ali do lado.
comam a poesia dela com gosto.
www.meninadeluz.blogspot.com
terça-feira, julho 17, 2007
Patrícia
Patrícia tinha postura reta e lábios artificialmente vermelhos. Tinha chegado antes de Carlos àquele encontro. É certo que devia haver algum medo nela, mas ela sentia-se fria dum jeito que só o calor do momento podia proporcionar. O vestido preto ficava bem com o cabelo preto e os sapatos de salto fino. As mãos tinham cheiro de maçã-verde e enquanto ele não vinha ela pensava que tipo de corante era aquele, já que maçãs verdes não tinham cheiro de maçã-verde nem gosto de bala de maçã-verde.
Carlos e Patrícia eram amigos de alguma data. Ele não era daqueles que tinha se aproximado dela exclusivamente pelo tamanho e o balanço de seus quadris. Mas o fato é que os dois eram mais próximos do que ela agüentava e menos do que ela queria.
Ele chegou. O café dela já estava frio e ele era enfadonhamente pontual. Ela chegara antes pela ansiedade que disfarçava enquanto ele perguntava se tinha demorado demais.
Era hora do show. Ele se sentou na frente dela, pediu um capuccino com pouco açúcar, penteou os cabelos louros com os dedos e respirou cansado, enquanto ela sorria e olhava para as próprias unhas.
- Sinto saudades do seu corpo. – Patrícia era direta e sentia não ter por que não prosseguir.
- É...
- Sinto saudades que chegam a me dar choques noturnos. Tenho sonhado. Sinto falta do seu corpo um tanto que tenho sonhado com o calor da sua pele. E você sabe que digo calor querendo dizer temperatura. Eu gosto da textura. Eu tenho vontade diária de falar todas aquelas besteiras que eu contive por pudor da última vez. Eu tenho vontade de botar a boca em todos os pedaços da sua pele. De te cobrir de saliva e de te morder feito uma cachorra filhote. Morder pra conhecer mesmo. Eu preciso dar pra você.
- Eu também sinto fal...
- Você gosta da minha pele que eu sei. E você está olhando para a minha boca e sentindo as mesmas vontades que eu. Mas eu sou a vilã dessa história e eu vou dizer não só por ser mulher.
- Eu não...
- Carlos, sossegue. O amor é isso, hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo. Roubei de Drummond e sempre quis falar isso a algum Carlos. O Carlos de hoje é você, que eu sou pérfida e volúvel. E você não faz mais que isso por que me conhece e sabe que sou pérfida e volúvel. Sabe que são vinte homens por vez e todos sem futuro algum. Sabe que eu tento ser mulher de um dia só e tenho marcas de todos os meus dias.
- Tem marcado muita gente, Patrícia?
- Não. As marcas que ficam são internas, as marcas que eu deixo são externas.
- Não é verdade.
- Sabes que sou inofensiva e mudo a pessoa do verbo quando quero. Sabe que não tenho concordância e que hoje vim aqui por que realmente quero que você me coma por tesão e sem amor.
- Você não se dá valor.
- Então diz que não está tentado.
- Eu não estou.
- Mentira. Você olha pra minha boca e quer comer esse vermelho feito morango. E digo morango por que você sabe como eu sou azeda. E você não agüenta minha acidez nem minha doçura. Mas meu corpo você quer. Quer as pernas e a boca. Só que não quer gozo de uma noite, ou não sabe que quer. O fato é que você me quer.
- Eu não quero.
- Tudo bem. Eu não acredito em você.
Patrícia manteve a mesma postura séria e casual durante todo o diálogo. Tudo que dizia tinha o mesmo tom. Ela se levantou e foi embora. Tinha a alma lavada e sem não.
Carlos e Patrícia eram amigos de alguma data. Ele não era daqueles que tinha se aproximado dela exclusivamente pelo tamanho e o balanço de seus quadris. Mas o fato é que os dois eram mais próximos do que ela agüentava e menos do que ela queria.
Ele chegou. O café dela já estava frio e ele era enfadonhamente pontual. Ela chegara antes pela ansiedade que disfarçava enquanto ele perguntava se tinha demorado demais.
Era hora do show. Ele se sentou na frente dela, pediu um capuccino com pouco açúcar, penteou os cabelos louros com os dedos e respirou cansado, enquanto ela sorria e olhava para as próprias unhas.
- Sinto saudades do seu corpo. – Patrícia era direta e sentia não ter por que não prosseguir.
- É...
- Sinto saudades que chegam a me dar choques noturnos. Tenho sonhado. Sinto falta do seu corpo um tanto que tenho sonhado com o calor da sua pele. E você sabe que digo calor querendo dizer temperatura. Eu gosto da textura. Eu tenho vontade diária de falar todas aquelas besteiras que eu contive por pudor da última vez. Eu tenho vontade de botar a boca em todos os pedaços da sua pele. De te cobrir de saliva e de te morder feito uma cachorra filhote. Morder pra conhecer mesmo. Eu preciso dar pra você.
- Eu também sinto fal...
- Você gosta da minha pele que eu sei. E você está olhando para a minha boca e sentindo as mesmas vontades que eu. Mas eu sou a vilã dessa história e eu vou dizer não só por ser mulher.
- Eu não...
- Carlos, sossegue. O amor é isso, hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo. Roubei de Drummond e sempre quis falar isso a algum Carlos. O Carlos de hoje é você, que eu sou pérfida e volúvel. E você não faz mais que isso por que me conhece e sabe que sou pérfida e volúvel. Sabe que são vinte homens por vez e todos sem futuro algum. Sabe que eu tento ser mulher de um dia só e tenho marcas de todos os meus dias.
- Tem marcado muita gente, Patrícia?
- Não. As marcas que ficam são internas, as marcas que eu deixo são externas.
- Não é verdade.
- Sabes que sou inofensiva e mudo a pessoa do verbo quando quero. Sabe que não tenho concordância e que hoje vim aqui por que realmente quero que você me coma por tesão e sem amor.
- Você não se dá valor.
- Então diz que não está tentado.
- Eu não estou.
- Mentira. Você olha pra minha boca e quer comer esse vermelho feito morango. E digo morango por que você sabe como eu sou azeda. E você não agüenta minha acidez nem minha doçura. Mas meu corpo você quer. Quer as pernas e a boca. Só que não quer gozo de uma noite, ou não sabe que quer. O fato é que você me quer.
- Eu não quero.
- Tudo bem. Eu não acredito em você.
Patrícia manteve a mesma postura séria e casual durante todo o diálogo. Tudo que dizia tinha o mesmo tom. Ela se levantou e foi embora. Tinha a alma lavada e sem não.
domingo, julho 15, 2007
É preciso
ao meu melhor amigo
É preciso não tratar pessoas como objetos
É preciso respeitar espaços
É preciso que o sangue circule
É preciso bom gosto musical
É preciso travar a língua pra agüentar a vida social
É preciso tomar café
É preciso não perder a fé
É preciso agüentar o tranco
E não se apaixonar
E esquecer o que as coxas pedem e pra onde os olhos desviam
É preciso fingir não sentir o cheiro
É preciso agüentar o não.
É preciso dizer o não.
É preciso esquecer a razão
Por um momento de sentimentalismo besta
É preciso travar todos os palavrões e saber andar de salto
É preciso estudar e fazer as unhas
É preciso que sumam
É preciso sumir
É preciso virar pó
E agüentar o tranco de se apaixonar por tudo.
É preciso não tratar pessoas como objetos
É preciso respeitar espaços
É preciso que o sangue circule
É preciso bom gosto musical
É preciso travar a língua pra agüentar a vida social
É preciso tomar café
É preciso não perder a fé
É preciso agüentar o tranco
E não se apaixonar
E esquecer o que as coxas pedem e pra onde os olhos desviam
É preciso fingir não sentir o cheiro
É preciso agüentar o não.
É preciso dizer o não.
É preciso esquecer a razão
Por um momento de sentimentalismo besta
É preciso travar todos os palavrões e saber andar de salto
É preciso estudar e fazer as unhas
É preciso que sumam
É preciso sumir
É preciso virar pó
E agüentar o tranco de se apaixonar por tudo.
domingo, julho 08, 2007
Eu estava no meio de uma multidão. Era uma festa de igreja ou coisa do tipo. Mas eu me concentrava nos quadris de Maria. eu não sei o nome de Maria, mas Maria sou eu e eu dei meu nome a ela, que dançava linda e livre com sua saia verde longa e sua lusa preta curta, feito mulher mesmo. maria dançava com sua trança grossa que só deixava uma mecha solta. Ela ondulava quando se mexia. se mexia em meu nome, que eu já não podia. A Maria que narra o que não sabe ser ou não uma história tem dentro dela uma coisa forte e ardente, densa e pesada. Eu amo. Eu amo e disse à Carlos que o amo.
Acontece que amor é um estado de espírito, um deboche de uma força maior para dcom um pobre mortal. O amor é bonito e grande e nada simples, mas ao mesmo tempo preto e branco e doce. Faltam-me letras suficientes pra descrever qualquer coisa.
Sei que Maria como sou, não quero me assumir Salomé, que também sou. Aquele livro me doeu nas entranhas por que era eu. E eu tive nojo de mim ao lê-lo. Eu tive nojo do livro e de mim e do meu amor tão zonzo e doente que anda comigo e de quem eu tenho raiva por que não quero sentir. E aí Carlos me diz que eu não valorizo meus próprios sentimentos. Ele devia admitir que sentimentos não tem lugar na vida. Mas ele só assume que eu sou vazia e fatalista como realmente sou. Está cedo e eu não sou uma boa companhia. Queria rasgar o ar como Maria dançando. Queria saber se o nome dela é Maria como o meu. Eu queria comer a carne daquela Maria. Talvez Maria resolvesse o Carlos que é calo entalado na minha garganta. E a minha garganta dói.
Eu avisei que era melhor observada que tocada. Eu não deixei isso claro na primeira vez que bebemos juntos, bem antes de eu pensar em ter Carlos como mais que um amigo? Pois era verdade. Eu não sirvo para ser tocada nunca, por que meu corpo perde o rumo e o prumo. Meu corpo é volúvel e se vicia fácil em coisas demais. Ele gosta de temperaturas de mãos e de texturas de pêlos. Meu corpo é tão cheio quanto eu sou vazia. Ele treme, eu travo.
Talvez eu devesse ter escancarado meu eu-te-amo tímido e xôxo há mais tempo. Todavia, esse não era o meu tempo. E eu tenho que respeitar meu tempo e o tempo de Carlos como respeito a mecha solta do cabelo de Maria que dança de trança. Eu disse que iria pra casa e dormiria. E fui. Mas eu não podia ficar parada, nem manter os pés no chão.
E depois dos meus turbilhões de sentimentos e da uma lágrima que caiu de meu rosto quando eu me dei conta que aquilo que queimava e que eu não podia era realmente o que eu temia. Me vi Maria.
E parecia que eu já não precisava dizer nada, mas precisava dizer tudo. todas as coisas tinham sido ditas, mas tinham sido trocadas por um tudo novo.
Sentei-me e ele veio falar comigo, alguém que não era Carlos, mas era carinho, quase ternura.
Serei Maria pra ele. Serei ternura pra ele. Agora, preciso ser doce.
Acontece que amor é um estado de espírito, um deboche de uma força maior para dcom um pobre mortal. O amor é bonito e grande e nada simples, mas ao mesmo tempo preto e branco e doce. Faltam-me letras suficientes pra descrever qualquer coisa.
Sei que Maria como sou, não quero me assumir Salomé, que também sou. Aquele livro me doeu nas entranhas por que era eu. E eu tive nojo de mim ao lê-lo. Eu tive nojo do livro e de mim e do meu amor tão zonzo e doente que anda comigo e de quem eu tenho raiva por que não quero sentir. E aí Carlos me diz que eu não valorizo meus próprios sentimentos. Ele devia admitir que sentimentos não tem lugar na vida. Mas ele só assume que eu sou vazia e fatalista como realmente sou. Está cedo e eu não sou uma boa companhia. Queria rasgar o ar como Maria dançando. Queria saber se o nome dela é Maria como o meu. Eu queria comer a carne daquela Maria. Talvez Maria resolvesse o Carlos que é calo entalado na minha garganta. E a minha garganta dói.
Eu avisei que era melhor observada que tocada. Eu não deixei isso claro na primeira vez que bebemos juntos, bem antes de eu pensar em ter Carlos como mais que um amigo? Pois era verdade. Eu não sirvo para ser tocada nunca, por que meu corpo perde o rumo e o prumo. Meu corpo é volúvel e se vicia fácil em coisas demais. Ele gosta de temperaturas de mãos e de texturas de pêlos. Meu corpo é tão cheio quanto eu sou vazia. Ele treme, eu travo.
Talvez eu devesse ter escancarado meu eu-te-amo tímido e xôxo há mais tempo. Todavia, esse não era o meu tempo. E eu tenho que respeitar meu tempo e o tempo de Carlos como respeito a mecha solta do cabelo de Maria que dança de trança. Eu disse que iria pra casa e dormiria. E fui. Mas eu não podia ficar parada, nem manter os pés no chão.
E depois dos meus turbilhões de sentimentos e da uma lágrima que caiu de meu rosto quando eu me dei conta que aquilo que queimava e que eu não podia era realmente o que eu temia. Me vi Maria.
E parecia que eu já não precisava dizer nada, mas precisava dizer tudo. todas as coisas tinham sido ditas, mas tinham sido trocadas por um tudo novo.
Sentei-me e ele veio falar comigo, alguém que não era Carlos, mas era carinho, quase ternura.
Serei Maria pra ele. Serei ternura pra ele. Agora, preciso ser doce.
sábado, junho 30, 2007
Manutenção de medos e virtudes
Eu talvez seja uma manutenção constante dos meus próprios ciúmes.
É fato que eu mesma às vezes acho que o que eu digo e o que eu faço são estranhos e imutáveis, talvez mutáveis demais. Talvez seja imediatice mediata. Não sei ao certo o que é e o que não é.
Mas ele incomoda como ela e como as saudades todas. Talvez haja fuga e o ridículo seja apenas carta de amor.
E toda essa coisa é ridícula justamente por não ser nada ridícula, então eu rio.
É por mim que eu boicoto a face.
É por mim que eu tento esquecer os ciúmes e os medos.
No entanto, eu sou ciúme e medo constantes como se não pudesse não ser isso.
Era uma vez uma menininha de tranças e nariz vermelho. Ela chorava e queria dançar balé.
Fez-se constante e eterna a minha falta de postura.
Era uma vez alguém que gostava de rir.
Eu gosto de rir.
Os joelhos ralados dizem mais do que eu gostaria.
A manutenção constante dos ciúmes não enxerga nada bem.
Era uma vez um nó cego no meio das tranças.
era uma trança. uma transa.
Era um medo.
Era fatal.
E eu era chama.
É fato que eu mesma às vezes acho que o que eu digo e o que eu faço são estranhos e imutáveis, talvez mutáveis demais. Talvez seja imediatice mediata. Não sei ao certo o que é e o que não é.
Mas ele incomoda como ela e como as saudades todas. Talvez haja fuga e o ridículo seja apenas carta de amor.
E toda essa coisa é ridícula justamente por não ser nada ridícula, então eu rio.
É por mim que eu boicoto a face.
É por mim que eu tento esquecer os ciúmes e os medos.
No entanto, eu sou ciúme e medo constantes como se não pudesse não ser isso.
Era uma vez uma menininha de tranças e nariz vermelho. Ela chorava e queria dançar balé.
Fez-se constante e eterna a minha falta de postura.
Era uma vez alguém que gostava de rir.
Eu gosto de rir.
Os joelhos ralados dizem mais do que eu gostaria.
A manutenção constante dos ciúmes não enxerga nada bem.
Era uma vez um nó cego no meio das tranças.
era uma trança. uma transa.
Era um medo.
Era fatal.
E eu era chama.
domingo, junho 24, 2007
Noite
Parece que dizes
te amo, Aline.
Sem fotografias ou caras felizes.
me vejo apertada
um peso grande que eu nunca quis.
é desconcertante e eu não sei sair.
Quero folhetim, ou digo que quero.
Cansei da mocinha, mas a vilã dói.
Parece que pensas e corro, assopro.
Parece que grito, mas você não sai.
Não quero ouvir nada, sou fraca, sou chata.
Não tenho resposta, aguente, que eu não.
eu não quero isso, não sonho e nem tiro os pés do chão.
A noite passada não vai passar mais não.
Um número estranho, os fatos, as fotos.
Um luxo que é lixo.
Refocilhar na merda enche o saco.
Ele ensinou truques, você nem sabe do que eu sou capaz.
Se não me conhece, não pode querer mais.
Parece que tentas, e tento não tentar te fazer mal.
Parece que corro,
a vilã não se dá bem no final.
te amo, Aline.
Sem fotografias ou caras felizes.
me vejo apertada
um peso grande que eu nunca quis.
é desconcertante e eu não sei sair.
Quero folhetim, ou digo que quero.
Cansei da mocinha, mas a vilã dói.
Parece que pensas e corro, assopro.
Parece que grito, mas você não sai.
Não quero ouvir nada, sou fraca, sou chata.
Não tenho resposta, aguente, que eu não.
eu não quero isso, não sonho e nem tiro os pés do chão.
A noite passada não vai passar mais não.
Um número estranho, os fatos, as fotos.
Um luxo que é lixo.
Refocilhar na merda enche o saco.
Ele ensinou truques, você nem sabe do que eu sou capaz.
Se não me conhece, não pode querer mais.
Parece que tentas, e tento não tentar te fazer mal.
Parece que corro,
a vilã não se dá bem no final.
quarta-feira, junho 06, 2007
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