domingo, julho 08, 2007

Eu estava no meio de uma multidão. Era uma festa de igreja ou coisa do tipo. Mas eu me concentrava nos quadris de Maria. eu não sei o nome de Maria, mas Maria sou eu e eu dei meu nome a ela, que dançava linda e livre com sua saia verde longa e sua lusa preta curta, feito mulher mesmo. maria dançava com sua trança grossa que só deixava uma mecha solta. Ela ondulava quando se mexia. se mexia em meu nome, que eu já não podia. A Maria que narra o que não sabe ser ou não uma história tem dentro dela uma coisa forte e ardente, densa e pesada. Eu amo. Eu amo e disse à Carlos que o amo.
Acontece que amor é um estado de espírito, um deboche de uma força maior para dcom um pobre mortal. O amor é bonito e grande e nada simples, mas ao mesmo tempo preto e branco e doce. Faltam-me letras suficientes pra descrever qualquer coisa.
Sei que Maria como sou, não quero me assumir Salomé, que também sou. Aquele livro me doeu nas entranhas por que era eu. E eu tive nojo de mim ao lê-lo. Eu tive nojo do livro e de mim e do meu amor tão zonzo e doente que anda comigo e de quem eu tenho raiva por que não quero sentir. E aí Carlos me diz que eu não valorizo meus próprios sentimentos. Ele devia admitir que sentimentos não tem lugar na vida. Mas ele só assume que eu sou vazia e fatalista como realmente sou. Está cedo e eu não sou uma boa companhia. Queria rasgar o ar como Maria dançando. Queria saber se o nome dela é Maria como o meu. Eu queria comer a carne daquela Maria. Talvez Maria resolvesse o Carlos que é calo entalado na minha garganta. E a minha garganta dói.
Eu avisei que era melhor observada que tocada. Eu não deixei isso claro na primeira vez que bebemos juntos, bem antes de eu pensar em ter Carlos como mais que um amigo? Pois era verdade. Eu não sirvo para ser tocada nunca, por que meu corpo perde o rumo e o prumo. Meu corpo é volúvel e se vicia fácil em coisas demais. Ele gosta de temperaturas de mãos e de texturas de pêlos. Meu corpo é tão cheio quanto eu sou vazia. Ele treme, eu travo.
Talvez eu devesse ter escancarado meu eu-te-amo tímido e xôxo há mais tempo. Todavia, esse não era o meu tempo. E eu tenho que respeitar meu tempo e o tempo de Carlos como respeito a mecha solta do cabelo de Maria que dança de trança. Eu disse que iria pra casa e dormiria. E fui. Mas eu não podia ficar parada, nem manter os pés no chão.
E depois dos meus turbilhões de sentimentos e da uma lágrima que caiu de meu rosto quando eu me dei conta que aquilo que queimava e que eu não podia era realmente o que eu temia. Me vi Maria.
E parecia que eu já não precisava dizer nada, mas precisava dizer tudo. todas as coisas tinham sido ditas, mas tinham sido trocadas por um tudo novo.
Sentei-me e ele veio falar comigo, alguém que não era Carlos, mas era carinho, quase ternura.
Serei Maria pra ele. Serei ternura pra ele. Agora, preciso ser doce.

sábado, junho 30, 2007

Manutenção de medos e virtudes

Eu talvez seja uma manutenção constante dos meus próprios ciúmes.
É fato que eu mesma às vezes acho que o que eu digo e o que eu faço são estranhos e imutáveis, talvez mutáveis demais. Talvez seja imediatice mediata. Não sei ao certo o que é e o que não é.
Mas ele incomoda como ela e como as saudades todas. Talvez haja fuga e o ridículo seja apenas carta de amor.
E toda essa coisa é ridícula justamente por não ser nada ridícula, então eu rio.
É por mim que eu boicoto a face.
É por mim que eu tento esquecer os ciúmes e os medos.
No entanto, eu sou ciúme e medo constantes como se não pudesse não ser isso.
Era uma vez uma menininha de tranças e nariz vermelho. Ela chorava e queria dançar balé.
Fez-se constante e eterna a minha falta de postura.
Era uma vez alguém que gostava de rir.
Eu gosto de rir.
Os joelhos ralados dizem mais do que eu gostaria.
A manutenção constante dos ciúmes não enxerga nada bem.
Era uma vez um nó cego no meio das tranças.
era uma trança. uma transa.
Era um medo.
Era fatal.

E eu era chama.

domingo, junho 24, 2007

Noite

Parece que dizes
te amo, Aline.
Sem fotografias ou caras felizes.
me vejo apertada
um peso grande que eu nunca quis.
é desconcertante e eu não sei sair.
Quero folhetim, ou digo que quero.
Cansei da mocinha, mas a vilã dói.
Parece que pensas e corro, assopro.
Parece que grito, mas você não sai.
Não quero ouvir nada, sou fraca, sou chata.
Não tenho resposta, aguente, que eu não.
eu não quero isso, não sonho e nem tiro os pés do chão.
A noite passada não vai passar mais não.
Um número estranho, os fatos, as fotos.
Um luxo que é lixo.
Refocilhar na merda enche o saco.
Ele ensinou truques, você nem sabe do que eu sou capaz.
Se não me conhece, não pode querer mais.
Parece que tentas, e tento não tentar te fazer mal.
Parece que corro,
a vilã não se dá bem no final.

quarta-feira, junho 06, 2007

Fossa

Nem luxo, nem lixo
Filmes divertidos e conjuntos de clichês
pés na areia e se
um espaço
sem nome.

terça-feira, maio 29, 2007

As marcas

Ele saiu marcado mais uma vez. Comprou um cigarro na esquina. Um único cigarro era suficiente pra brindar a noite e as marcas. Gostava de cada uma delas. Gostava dum jeito quase que doentio. Ele sentia paixão naquelas mordidas, sentia o sangue correr melhor por aqueles arranhões. A dor posterior talvez fosse melhor que o prazer da hora. Aquele martírio todo talvez o tornasse puro, ou o mais perverso dos seres. E ele não tinha interesse algum em descobrir o que era ou por que era. Era hora de sentir a fumaça dançando nas mucosas, era hora de aspirar o resto de cheiro dela que ele ainda tinha grudado em si. Era hora de purificar a própria saliva. Era hora de ser invisível. Encostava-se no poste sem saber onde ela ia ou o que fazia. Encostava-se pra agüentar a dúvida que a arrogância dele tinha deixado passar. Era ele o único? As marcas eram só dele? Mais ninguém merecia aqueles dentes e ele não agüentaria ver as marcas dela em qualquer outro corpo. Mordidas eram a prova maior da paixão, mesmo que fosse coisa de uma noite, mesmo que fosse uma doença de momento. Os hematomas dele eram prova de que ela queria conhecer o gosto que ele tinha. Quais gostos ela conhecia? Quais rostos ela marcaria? Quais taras ela aceitaria?
Crianças mordem pra conhecer. Crianças mordem o que vêem. Ele queria pensar que ela não era criança mais. Se ela mordia era pra fixar o gosto, pra arrancar um pedaço. Se ela mordia era pra tê-lo nela. Pra que ele se entregasse. Se ela mordia era pra agüentar o que ele não podia.
O cigarro foi até o fim. As marcas ficariam ali. E ele buscaria marcas novas, sempre e sem porquê.

domingo, maio 20, 2007

Mariana XIV

E Mariana entrou numas de não saber mesmo o que fazer
Ela me disse que já não pode fazer nada.
E todo aquele medo pulsa forte dentro dela de uma vez só.
Mariana pulsa medo do medo de tudo dar certo.
Mariana pulsa nesse clímax de história pela metade.
-E o final?- O óbvio perguntava pra ela ao lado dela
Era hora de assumir o sim ou dizer não.
E a dor do outro dia tinha virado líquido.
Mariana era angústia e tensão.
Mariana era todo sentimento do mundo presa e solta na palma da mão.
Ela era o poema que dava gosto àquela narrativa.
E ele era a chave confusa de tudo.
Ela queria um telefonema, mas ele não ligaria pra cobrar nada dela.
E ela sabia que qualquer oi seria inútil até o dia de amanhã.
A história tomava proporções absurdas e lindas.
Mariana sabia quase nada e não me falava nem o que queria.
E eu ficava tentando ser o chão que Mariana tinha perdido por conta de palavras que o óbvio nem lembrava ter dito.
Eu queria ser base do que não me diz respeito.
E Mariana queria carregar o mundo nas costas, todo sentimento do mundo nas costas.
Drummond ela não lia mais.
E Bandeira já não podia dar resposta que não viesse de “Belo belo”
Vida noves fora zero
E não tenho tudo que quero
E na poética Mariana perdia o lirismo dos loucos
Ela queria o lirismo dos bêbados, o lirismo difícil e pungente dos bêbados.
Mas ela não quer saber mais de lirismo, nem de libertação
E nada tem, pra não ter tudo.

terça-feira, maio 15, 2007

Poema de mar

à Marcela Rangel


Eu tinha me esquecido que gosto tanto de mar.
É certo que levei todos os caldos que podia e os que não podia também.
Meu biquíni tentou sair do corpo e toda areia grudou em mim.
A minha escova não está utilizável, mas já vou lavar.
Além de tudo tenho sono, aquele sono gostoso pós-mar.
Ai! Eu gosto, gosto e gosto e gosto de mar.
É como se eu fosse areia e tivesse sal.
É como se eu fosse mar e me dissolvesse.
O mar é mais instantâneo que miojo.
Eu miójo no mar.
No mar eu fico gente que peixe não agüentá-lo-ia como estava.
Eu me peixefiquei.
Eu me tubarão.
Eu-baleia precisava de ar naquele caldo.
Eu-sereia precisava de mar pra ter respaldo.
Me misturo com mar que é paixão que eu sou.
E agora, restam pleonasmos e silepses.
Sou redundante feito onda, vou e volto.
Nunca a mesma, por fim, estóro.

quinta-feira, maio 10, 2007

Sobre luz

Hoje deu vontade de escrever qualquer coisa otimista.
Vontade de falar qualquer coisa que cante.
Talvez fosse o caso de sacar da bolsa toda e qualquer figura de linguagem pra tentar entender as teorias da comunicação.
As figuras talvez sejam ruídos e a semântica se reinventa quando você tenta se fazer literatice.
Eu gosto muito de neologismos. Me senti bem mais livre quando me disseram que eu podia inventar.
Há dias em que eu quero muito ser Ana C. ou Florbela Espanca.
Hoje eu me sinto bem aline que sou.
Hoje eu me substantivo e me adjetivo ao mesmo tempo.
É claro que tenho pensado e poetizado sobre verbos e eles jorram de mim à todo tempo. Os verbos escorrem dos meus poros e me enchem e esvaziam a cabeça. Eu respiro verbo e como verbo e fico verbo o dia todo.
Eu fico pensando a morfologia por que a sintaxe é história sem fim. Eu sujeito fico caminhando entre vários predicados e volta e meia viro objeto numa voz reflexiva que não há tempo de seguir.
Hoje quero esmiuçar as palavras. Quero palavras pequenas e curtas e por elas mesmas.
Advérbios.
Numerais.
Bola.
Sola.
Mola.
Cola.
Macaco.
Coala.
Coelho.
Casa.
Estudo.
Charme.
Couve.
Sintaxe.
Quero transformar substantivos em verbos e sair por aí passarinhando.

Vamos estar aguardando.
Vamos estar correndo.
Vamos estar cantando.

Nem toda concretude tem que ser Gullar.


Fica um ponto.
Final.

sexta-feira, maio 04, 2007

Mariana XIII

Mariana se sente como um bichinho
e na verdade, ela não sabe bem o que pensar.
E lembra de onde vinha todo aquele medo que ela disse já ter perdido
e que perdeu.
Talvez se não tivesse perdido, e se não fosse criança vulgar, ela não ficasse como está.
Mariana era mais Mariana que nunca.
E vestia sua carapuça à Nabokov.
Era hora de xingar, não era?
Era hora de aceitar que o tempo passava e toda aquela coisa da teoria da relatividade
Rápido demais, ela diria.
Estava sendo mastigada pelo leão.
Estava no escuro, então.
Perdida numa óbvia e transparente escuridão.
Havia algum reflexo de luz.
O ar condicionado condicionava toda palavra.
Mariana sentia um frio que não queria sentir.
Ela queria o conforto de um abraço.
Ela queria fugir ou encarar tudo de frente.
Naquela transparente escuridão ela não sabia onde tinha se perdido.
Era Mariana quem estava ali.
Era Mariana quem tinha dito sim.
Que voltasse ao não, então, e perdesse o ciúme vão.
Medo de escuro no escuro
ênfase horizontal.
Mariana tinha vontade de colo.
E tinha saudades da lua, e de falta de dor.

terça-feira, maio 01, 2007

Diário de viagem

A verdade é que a mudez me incomoda. A mudez dela faz com que eu contenha a minha mudez. É como se eu tivesse que esganar aquele silêncio que é culpa falando qualquer coisa desnecessária e desimportante. E nessas eu me escondo e me exponho ao mesmo tempo. Queria saber quando eu vou ter tempo de me esconder de novo e de estar inerte ao mundo.
***
Acho que se eu vim pra cá foi só pra me esconder. Pra fugir mesmo de todas essas coisas e de todas as pessoas que me apavoram.
Acho que não gosto muito de sentimentos. Acho que não gosto por que gosto demais e eles doem. A paixão dói. O tesão dói. A saudade dói. A felicidade dói. E a ternura dói um tanto que eu não agüento. E dói a culpa também. Dói a raiva.
***
Eu tive que por pra fora. Tive que gritar quando vi a cara de felicidade dela enquanto eu chorava no auge do meu turbilhão de sentimentos. Eu não me reconhecia ali. Eu não sabia bem qual era a medida do cansaço.
***
Passar o limite não é pra qualquer um. Não vou ler Nietzsche tão cedo.
***
Eu não gosto dessas fontes que mudam sem que a gente peça. Eu não gosto nem desse programa de computador que eu tô usando pra falar qualquer abobrinha que aparecer.
***
Acho que eu não devia me esconder pra me remoer. Acho que se moer dói. Por outro lado, meu corpo responde bem a essa remoência. A tensão diminui nas costas, mesmo que o sono não venha. Eu preciso mesmo me esvair em versos. Preciso mesmo escrever todas as coisas sem personagens. As lágrimas todas ajudam tanto a curar a dor. A dor ajuda tanto a curar as lágrimas. A dor ajuda tanto quando a gente quer ser forte.
***
Eu juro que agüento tudo, menos ternura. Eu agüento qualquer tufão.
Promete que se eu disser que eu tô no limite você não vai passar? Eu fico muito ruim quando passo do limite. Eu choro, fico violenta, eu grito, fico irracional. Eu fora do limite pareço um bicho. Eu fora do limite pareço comigo.
Faz cinco anos que eu passei do limite pela última vez. Coincidência isso voltar agora. Coincidência isso ser logo agora.
***
Eu disse que não acreditava em destino, mas ando tendo medo, sabe?
***
No lugar em que hoje fica aquele tanque antes tinha uma roseira (e eu sei que o verbo ter não pode ser usado no sentido de existir, mas foda-se). E eu fico olhando pra todas aquelas flores do lado do tanque, mas ainda sinto falta da roseira. A goiabeira ainda está lá, como o pé de acerola e o pé de pitanga, e todos aqueles pés de fruta gostosa, e aquela horta. Tudo está ali, menos o cacto e a roseira. Eu tinha escrito meu nome naquele cacto, eu tinha botado meu nome naquela roseira. Eu gostava de tirar leitinho do cacto, eu sinto saudade dos botões de rosa.
Aquele tanque é tão vazio.
***
Os biscoitos não têm o mesmo gosto em outro lugar, eu juro que aqui eles são bem mais gostosos. Seria tão bom se eu pudesse chamar os biscoitos gostosos de casa.
***
Meu lugar é aí, estando sozinha ou em casa, meu lugar é em casa. Minha casa é aquele barulho todo e as brigas todas. Minha casa é essa falta de sono e esse stress e essa falta de mimo. Minha casa é esse sorriso bonito que eu vejo toda manhã. Minha casa são aquelas bochechas e aquela barriga e aqueles olhos provocadores. Minha casa é essa gente que me põe pra cima mesmo quando eu começo a pensar que não agüento. Eles sabem que eu agüento e eu também. Seria tão mais fácil simplesmente não agüentar.
***
Sinto muitas saudades de casa, mesmo estando fora por alguns minutos.
***
Tentei ligar, mas eles não atenderam. Eu já decorei a mensagem da secretária eletrônica que não tem o meu nome, mas é minha também. Eles tinham que saber que eu estou viva.
***
O eme é uma letra que pode ter três ou duas pernas.
***
Eu parei Policarpo Quaresma no começo, mas eu vou retomar. Não vai ser como foi com Crime e Castigo.
***
Eu tinha frio e ele me emprestou o casaco que ela deu pra ele. E a gente foi junto procurar um cara que ninguém conhecia. Eu me perdi no caminho e ela me disse que ele anda estando descontrolado. Eu não entendo bem o que isso quer dizer, ele me parecia simplesmente um cara gentil acima do frio.
***
A chuva era fina e eu agüentava bem. Frio não é ternura.
***
Aquela coisa pequena veio me cutucar e meter o bedelho na minha escrita. Aquela coisa pequena não sabe, mas tem toda moral do mundo pra mexer na minha escrita. Descobri isso agora. Ele nem sabe que pode tanto quanto pode, ele nem sabe que me desperta tanto carinho e tanta ternura. Ele tem sete anos e eu tenho vontade de mordê-lo e que tudo dê certo.
***
No fim eu sou só mais uma pessoa racional demais.
***
Isso tudo é reflexo dessa confusão de pós-modernidade que a modernidade criou dentro dela mesma. E eu reconheço o passado no presente e o presente no passado e por mais estranho que isso pareça: aquele texto de Habermas começa a fazer algum sentido quando lido pela quinta vez.
Exagero sempre.
***
Eu não quero pensar antes de escrever, quero escrita pura pra não parecer escrita falsa. Na máquina de escrever talvez eu aparecesse de verdade, talvez eu não errasse ou não consertasse.
***
Eles falam comigo e eu ouço pela metade, eu sempre ouço pela metade quando não estou inteira.
***
Ela quer ir a uma festa que eu já disse que não vou.
Habermas tem que descer e tem que ser hoje.
***
Eu não queria te dizer, mas aquela dor de cabeça finalmente passou. E pra mim é você o retrato da ternura, mesmo quando avesso a ela.

quinta-feira, abril 26, 2007

Dica

Uma boa dica para o feriado(ou para qualquer dia) é ir ao teatro. Está em cartaz, no Teatro Municipal de Vila Velha, às 20 horas desse domingo, o espetáculo “Sexo Drogas e Rock'n Roll”. A peça tem um texto delicioso e personagens encantadoras. É uma ótima pedida pra quem gosta de um humor leve e contagiante.
Trata-se de um musical ambientado nos anos 50, sendo assim, é claro que não falta rock e coreografias contagiantes. Há versões de músicas do filme Grease e clássicos da Jovem Guarda, como "Splish Splash".
Além da ótima (e nostálgica) trilha sonora, outro bom motivo pra se locomover até o teatro é o conjunto de clichês gostosos que o texto traz. Chega a ser difícil não se identificar com as situações e personagens. A história de doze adolescentes terminando o colegial e vivendo toda aquela ansiedade de véspera de baile, entrega de notas, amores mal resolvidos e todas aquelas coisas de teen movie diverte despretensiosamente.

segunda-feira, abril 23, 2007

Jéssica

Jéssica sempre estaria olhando-o enquanto ele partia. Ele era do tipo que não olhava pra trás e por essas ela nunca sabia onde enfiar a cara. No entanto, Jéssica gostava daquela coisa de olhar sozinha e daquela coisa de olhar pra trás. Ela era daquelas garotas que remoíam sempre cada momento. Cada momento era vinte ao mesmo tempo e se repetia depois. Independente do que qualquer um fizesse, sempre duraria mais pra ela. Talvez ela não vivesse o suficiente, talvez sobrasse um pedaço grande de dia que ela gastava pra remoer a parte útil dele.
Jéssica não queria nada diferente daquilo. Por mais que todas as suas histórias fossem banais e os seus acontecimentos remoentes fossem sempre tolos e sem importância pra qualquer pessoa que não fosse ela, ela gostava daquilo tudo. Talvez fosse a paixão pela literatura e a incapacidade de produzir literatura própria. Produzia filmes próprios em mente, com cortes em pontos estratégicos e a trilha sonora que ela mesmo escolhia, de acordo com o humor. E cada cena tinha várias leituras e vários encaixes. A edição mudava dia a dia.
Mas se ele partia sem olhar pra trás, é por que ainda não tinha chegado o final daquele filme e ela ainda não podia ter certeza de onde enfiaria a própria cara.

sexta-feira, abril 20, 2007

Mariana XII

Mariana passou a querer apenas que o óbvio não mudasse
Que ele não deixasse de ser o óbvio.
Ela, no entanto, já não conseguia ser a mesma.
Tinha vontade de boca de leão.
Tinha vontade de não fugir daquilo.
Tinha vontade de ver e de sentir, e gostava de cada pedaço de tudo.
Mariana gostava da expectativa e do ciúme e de como aquela coisa toda não deixava nunca de ser óbvia. Era tudo lógico, era tudo bem bonito e o bom humor dela era peculiar.
Ocorre que Mariana não podia mentir à respeito de seus ciúmes, também óbvios.
Tudo bem, ela agüentava que enxergassem o óbvio como ela.
Mas ela não agüentaria ver alguém o tocando como ela não tinha coragem de tocar.
Mariana explodia por partes e reclamava pelos cantos.
Mariana reclamava à torto e a direito.
Ela lembrava da vulgaridade peculiar que Nabokov dava às suas ninfetas.
Mas ela achava que ninguém mais tinha que seguir Nabokov
A vulgaridade infantil que ficasse apenas com Mariana.
As outras não podiam brincar com o tempo.
As outras não deviam querer brincar com o óbvio do jeito que só Mariana podia.
Os dois enfim tinham dito sim.
Crises de charme, ciúme, não, todas já não existiam.
Mariana tinha passado de estágio.
E o medo que ficasse perdido no tempo
O ciúme é o sentimento da vez
E dele ela não corre, que gosta de brincar com fogo.

sábado, abril 07, 2007

A culpa é do sol, entende?
A culpa é da lua e dessa coisa toda de bucolismo.
Eu só sei que tenho uma vontade de escrever sem freios.
e de escrever sem vírgulas!
Gramática pro saco, enfim.
A metalinguagem é um jeito de escapar das minhas verdades.
eu não quero falar de mim.
eu quero falar da escrita que sou eu e da confusão que é a minha escrita.
Hipérbatos!
Barroco!
Barrocobucolismoarcademeu
A alça da blusa teima em cair.
a alça da blusa teima em cair e a barra do short teima em subir.
eu nunca entendi essa história de pessoas e suas relações com roupas.
eu sei que enjoei desta e que o cheiro desta é mais que meu.
E no fim a escrita e as roupas e o cabelo bagunçado e todo esse bucolismo e Gregório de Matos, é uma batida de mim no caldeirão.
E eu não sei se isso foi uma silepse.
Nem quero saber.

Não quero saber, sabia?

Não quero saber de nada.

segunda-feira, abril 02, 2007

Mariana XI

Mariana é bem engraçada.
Bees do it, birds do it*,
But Mariana does not.
Mariana e o Óbvio competiram pra ver quem dizia um não mais sonoro.
E no fim, nenhum ganhou,
Que Mariana não daria o braço a torcer.
E não deu.
Mariana nem liga pra Cole Porter e as suas pulgas amestradas e os mosquitos que fazem se divertindo*.
Atualmente, she doesn’t want to fall in love*.
É de Mariana que estamos falando,
E ela ainda morre de medo de estar na boca daquele leão medonho.
Mariana gosta é desse jogo.
E no meio de um bando de músicas de velho, Mariana ouve Night and day, mas ela não tem um one**.
Ela não é a mulher perfeita não, João***.
Mariana é confusa demais pra ser perfeita.
E os nãos sonoros dela, sempre podem virar sins.
Tudo depende da pergunta e do como.
Pra Mariana, não ou sim depende do Lead.
Mariana Lolita atemporal, e sua vontade de perder vícios e emagrecer.
Mariana que não gosta de dizer tchau, como não gosta de ouvir não.
E eu que não entendo quase nada de Mariana,
Tenho que me lembrar que Mariana não sou eu.


* Referências à música de Cole Porter: Let’s do it, let’s fall in love.
** Referência a “Night and day”, de Cole Porter (“Night and day, you are the one…”).
*** João é um cara que disse que Mariana é a mulher perfeita. E eu sou a pessoa escrota que desmente.

**** Notas de rodapé feitas especialmente para incomodar Flora.

sábado, março 31, 2007

Óbvio I

O óbvio ouvia o rodar do ventilador e o soar do mundo ao seu redor. Encarava a tela de um computador da mesma forma que uma garota apaioxanada enxega o rosto de um amante: havia o resquicio de consciência que dizia que o ventilador (ou o amante) continuaria a rodar (ou existir), mas que o mundo talvez não o fizesse. Ele, o óbcvio, tinha medo de continuar, invariavelmente.
Sua boca fedia a cigarro barato e seu estômago reclamava da cerveja roubada e, mesmo assim, nada fazia sentido. Porque o óbvio continuava bêbado e sóbrio, talvez, fosse apenas aquilo que sempre fora: um homem assustado com tudo aquilo que se tornara e ainda mais assustado com aquilo que poderia ser.

terça-feira, março 27, 2007

Quase outono

Ai! Essa aflição de Março!
Que não dure até abril.
Que eu me abra!

quinta-feira, março 15, 2007

Estou cansada.
Poderia fazer-me de pessoa estressada e mau-humorada com tpm à flor da pele. Não quero.
Quero escrever pra me sentir uma borboleta.
Quero ser uma borboleta voando de flor em flor. Estou cansada dessa coisa de pular de galho em galho. O vôo parece mais seguro e bonito.
Quero asas.
Alguém estava falando sobre asas, mais cedo. Algo sobre não poder voar. Eu não lembro bem. certas coisas, é melhor esquecer. Não dá câncer. Sonhar engorda, eu sei, mas continuo gostando e sonhando.
E plagiando, também. Por que toda frase um dia já foi escrita. E as palavras já foram usadas. Quero inventar palavras novas. Mas não quero ter lingua só minha.
Não desgosto das linguas. Não desgosto da poesia e das rimas e do sexo que a linguagem faz com seus interlocutores locutores entremeios e meandros e mentes. Eu gosto da lingua e de linhas de pensamento.
E eu quero todas as metáforas sem vírgulas.
Gosto tanto de vírgulas.
Gosto de pontos finais e exclamações. Estou cansada de interrogações. Gosto de todos os conectivos.
E quero não mais, mas mas. Que não quero soma, quero adversidade.
Quero que todo mundo entenda.
Estou cansada.
E grito aos quatro ventos com essa cara de silêncio explosivo que as minhas olheiras sustentam.




Se peco pela ortografia, perdão.
Não vou consertar, de qualquer forma.

quinta-feira, março 08, 2007

Eu tenho um blog.

Esse texto é exclusivo de uma pessoa. Sim, por que eu posso me dar ao luxo de escrever um texto que vou publicar num blog, mas que é pra uma pessoa só. E é só por que a criatura disse que blogueiros são mentirosos e carentes.
E é claro que eu sou carente. Meu bem, expor literatices que não interessam a ninguém deve ser carência. E as mentiras, todas elas eu invento e transformo em personagens ou poesia. Cada mentira é um verso novo. E assim, confesso-me farsa - o que é irônico, por que a farsa é o dono desse texto e eu disse isso numa conversa de MSN.
Por que eu digo besteiras quilométricas a cada instante. E eu acho que posso me dar ao luxo de fazê-lo. Por que se não fizesse de onde viria a culpa que sustenta o dia a dia? Eu acho a felicidade plena uma coisa inatingível e chata. E paz então, nem se fala. Se a gente não tiver uma ponta de culpa não vive. Mesmo que não se arrependa de nada.
Por que, eu não me arrependo de absolutamente nada. Nem das coisas absurdas que eu digo, nem dos meus pés tortos e dos meus chinelos gastos. E não me arrependo de ter cortado o cabelo quase todo. E de ostentar uma espécie de black power - por que se eu não exagerar este texto perde a graça.
E saibam, sou romântica incorrigível e operante. Sou completamente insana e tenho manias que eu mesma não entendo. E hoje eu saí mais cedo do trabalho pra ver “a feia mais bela”. Acontece que no meio do caminho eu decidi comer um big mac e não cheguei a tempo em casa.
E esse texto é seu, por que eu mudo de opinião, mas não mudei quanto a isso. Eu devia temperar isso com um pouco de acidez, mas não ficaria doce como você. E a minha acidez é ácida demais pra um texto seu. Eu não gosto dela.
E você é a pessoa mais parecida com uma torta de limão que eu já conheci.
Mas eu provavelmente devo estar mentindo, exagerando ou soltando mais um desses reflexos de carência.
Por que eu tenho um blog e isso significa carência e mentiras.
E mais uma: eu odeio a pessoa pra quem escrevi este texto estranho.


E reparem como houve mudanças de interlocutor ao longo desta lambança (ai minha santa concordância!).

segunda-feira, março 05, 2007

Jaqueline

Depois de muitos e muitos exames ao longo dos muitos anos de espera, Jaqueline finalmente descobriu um cisto no intestino. Depois de tanto tempo tentando, ela finalmente conseguiu um princípio de câncer. A família hipocondríaca dela foi ao delírio. Em pouco tempo, a família próxima contactou todos os parentes distantes e vizinhos. E todos diziam que rezariam por ela, e a visitavam olhando-a como se ela fosse um cachorro premiado.
E Jaqueline vestia bem a carapuça da mulher com câncer. Tinha orgasmos cósmicos por conta daquilo, mas mantinha feições amenas de mulher lúcida.
A decepção veio quando o médico disse que podia tirar aquele cisto sem maiores danos, e que, se ele se desenvolvesse, seria no máximo um tumor benigno.
Em um mês Jaqueline estava saudável e despedaçada. A mãe dela continuava procurando doenças mil e incuráveis. Jaqueline, pálida daquele jeito, não podia ser saudável... Tão magra... Alguma coisa errada ela tinha.
E Jaqueline sofreu um acidente de carro, quebrou a bacia, fez a glória da família e nunca mais pode andar de salto alto.
_Uma pena! _ A mãe de Jaqueline dizia._ A garota sempre foi tão saudável...
E todos aqueles parentes e vizinhos_ e até ex-colegas de faculdade_ visitavam a pobre acidentada que tinha orgasmos cósmicos e silenciosos.