sexta-feira, novembro 19, 2010

se existisse

Ninguém diz o que existe por trás daquela moça. Ela mesma diz demais - o tempo inteiro. Não se diz, nunca, nunca, nunca. Fica em casa ouvindo Fiona Apple e falando com um ou outro nas velhas plataformas novíssimas, digitais.
Sabe de quase tudo, acompanha todos os reality shows. Ri um riso sincero demais. Gargalhadas estridentes, altas, graves. Garagalhadas em notas mil.
Sabe os preços do supermercado, mas não compra nada.
Tem caspas que formariam constelações no cabelo. Cabelo pra fazer mil tranças. Nunca teve coragem de rastafari. Tem doçura, a moça. Doçura que ninguém diz.
Só não tem cara. Ninguém sabe o que ela esconde embaixo do vestido. A moça, fulana, não tem moral de história.

quinta-feira, novembro 11, 2010

imã

Pode ser chato o que for, a voz continua bonita. Arranha que você nem sabe o tanto. Se não existisse o resto, juro que acreditava em final feliz.

segunda-feira, novembro 08, 2010

Se não conta

Faz assim não. Não bota uma coisa na isca e depois pega de volta. Eu aqui anzol mordido, obcecada, louca!
Sabe, quieta. Confabulando ainda comigo, tentando caçar aquele rato. Saber aquelas coisas. Tentando achar os piolhos nas cabeças com pensamento. Meu deus, chega a ser cruel me trazer curiosidade de bandeja!
Diz que não, só. Diz que não conta. Diz que não vem. Diz que era mentira antes. Diz que eu sou besta mesmo.
Mas é que se ontem foi dita uma coisa, hoje outra, amanhã uma terceira, eu fico inchada. Arrepio que você nem sabe o quanto.
Ai meu deus - virei solo puro de guitarra. Escorregando, escorregando.
Não me aguento gente não, sabe?

quarta-feira, novembro 03, 2010

daquele troço preso

E se você estiver certo e eu tenho mesmo um monstro no estômago?
Como viver sem conviver na praça de convites? - já tinha perguntado o poeta.
Mas se eu não estou com fome e como vozes alternadamente como se nada fosse de fato importante, eu fico com azia. meu estômago vai inflando e a azia vai crescendo e o pescoço fica insuportavelmente dolorido.
Então esse monte de advérbios de modo e superlativos. Eu tristíssima, calmíssima, perdidamente estouradíssima.
Coisas bregas por metro quadrado. Revoluções por minuto.
Não te faço a pergunta de sempre. Já sei a resposta do mês.
Agora, you don't believe in love.
Tento de novo semana que vem assim que conseguir digerir mais da metade.
Favor anotar na agenda pra tentar dessa vez algo de formal fora do corpo.

(mas tem também uma coisa. Quando eu fico chorosa e entalada assim, nunca sei se é paixão ou parte do ciclo menstrual.)

sábado, outubro 30, 2010

quântica

Olha, passei da fase de fingir. Não vou dizer que faço questão da presença quando é irrisória. Não vou passar mão na cabeça nem fingir que a paixão de semana passada é pra sempre.
Paixão é vento, gente. Venta. Vai embora e pronto. Vale à pena, claro.
Tudo muito bonito essa semana toda. Meu deus meu ego é um problema sério. Nem é coisa de gente isso de querer ser centro de universo.
Porque se fossem vários universos faria sentido ser centro local.
Mas quem? Quem? Quem tem tanta gravidade?

sexta-feira, outubro 29, 2010

alfa - macho

É a Gal, eu acho. Gritando que você precisa ver que bonito.
Quando eu vejo coisas bonitas eu fico querendo te mostrar - que você mesmo é muito bonito. Só queria te pedir que não me invadisse. De uma vez por todas - agressiva mesmo - qualquer coisa que eu sinta é problema apenas meu.
Não posso mais brincar de ser confessional que te incomoda.
Você é muito pesado.
mas tão leve que se eu soubesse fazia mesmo uma tatuagem. tem nada não. a única coisa que já quis tatuar foi você.
e pronto. Tinha que ter alguma coisa latina ou grega dizendo você em todas as letras.
Mas é que a lírica é tanta meu deus que não dá.
Um desses designers teria que recriar os tipos todos e um alfabeto novo.
Quando eu ficar rica contrato um linguista, coisa assim. Um cara desses bem inteligentes que te pegue a pele e faça letra.
Alguém aí que te congele.
mas aí a imagem fica tão doída.
Em mim você tão quente. Tão quente!

segunda-feira, outubro 25, 2010

co-ra-ção de eterno flêrte.

Avulsa e desatenta. Fugindo do mundo. desafinada, menino, precisa ver. A voz está falhando e meu corpo agora parece que tem cheiro. Pouca coisa mudou depois da última vez.
Tenho sentido vontade de escrever carta de papel por causa da Nayara, mas desaprendi sem teclado e acredito que tinta é coisa muito forte. Que terror, meu deus, caneta!
Não sei mais. Desaprendi o acúmulo das coisas e das pessoas na gente. Acho que nunca soube assim tanto acúmulo de uma só pessoa e tenho medo.
Sabe, ternura?
Semana passada e mês passado a ternura incomodou.
Aquele outro dia a ternura em forma de peso de corpo doeu nos ossos mais do que o colchão que me atrapalha a dormir.
Precisa ver, menino, preciso ver-te.

quinta-feira, outubro 21, 2010

É bonito, você.
Ela disse que estou apaixonada.
Não quero.
Não vou. Não quero.
Leram tudo, sim.
Se rima te quero pra mim.
Então chega, chega. depois vira mentira.

sexta-feira, outubro 15, 2010

entre os peitos

Entre meus peitos seria encaixe perfeito você. Então os dedos fariam o trabalho do carinho lógico. Da ternura irracional. Depois o resto do corpo todo em minhas mãos como reconhecimento, como fruta, como pão. Amasso as costas, mordo as orelhas, apalpo cada canto e seguro firme nas mãos pra não cair de cara. Pra não ficar sem nada. Seguro as mãos pra dizer que a posse nem existe quando existe. Que na verdade mãos e pele e tanto cheiro é tudo acordo.
Você não faz idéia de quanto eu chovi. Ah você não sabe que eu ainda estou chovendo. Chovendo. Encharcando o mundo todo e eu mesma de você e de umidade física. Sentimentalíssima. Essa alegria nova, verde, doce. Esse seu gosto azedo de manhã. Essa sua cara de sono bonita. Essa cabeça desacordada e perto. Esses braços que não soltam nunca.
E pele. Pele. Pele.
Depois é tanto braço, mão, boca, arranco e eu exposta, entregue, vestida, nua, pesada, leve, marcada. Marcada. Marcada. Marcada. E os ritmos. E a sua cara.
E chuva.
Foi pra isso que eu te farejei no mato até achar.

terça-feira, outubro 12, 2010

é preciso manter a calma

Não vai adiantar tentar moldar minha vida na sua. Nem se eu passar manteiga na forma e me untar bem. Há cantos certos de se grudar, independente de quem maneje a fórmula. Há letras certas de se errar.
E não posso aguentar sins e nãos de outrem. A busca é doce. Esse negócio de molde e de mãos eu não sei quando aguento, se aguento. Esses hormônios eu não sei se ajudam ou se deveriam não existir.
Essa mãe natureza às vezes é muito cruel.
Minha nossa senhora da TPM, rogai por nós.

domingo, outubro 10, 2010

Sujos

Tá vendo?
Meio encontro nem de perto e eu completamente besta. Foi por isso que eu disse que não dá pra gente junto, nem pra gente amigo, nem pra gente nada. Podia também dizer que é TPM e que eu não sinto nada, que eu não sou menina, que eu não gosto nem um pouco desse seu tom prepotente na voz.
Mas é que cada eu te amo mexe com todos os pêlos e com a cabeça inteira. Eu fico rodando. de besta, eu fico caindo. Depois eu penso que não é nada e que não devia e que ficou claro pra nós dois que não dá certo.
Joana sempre exige demais de Jasão.
Então melhor uma mais nova, mais fresca, mais burra e menos sentimental. Melhor alguém que só se importe com telefonemas e clichês e nunca olhos. Melhor alguém, pra você, que não saiba ler.

segunda-feira, setembro 27, 2010

medo

That eyes. Keep looking me from the dark. From everywhere. Não sei dizer ao certo de onde vieram, como chegaram. Que força tem, that eyes. Eu sei que em foto os olhos parecem densos. Ficam me desnudando pelos olhos sem sequer existirem. Pictures. Fantasia.
Cada vez que olho parece que li um conto novo de Clarice Lispector. Me pegam os olhos pelo esôfago. Pelo estômago. Pelos olhos. Os olhos me fazem pura azia e pêlos eriçados.
Preciso parar de deixar pontas pelo mundo, like that eyes.
E todos os sentidos parecem que se submetem aos olhos novos. Os olhos velhos.
Não posso com contato real. Não estou pronta para de novo tanta ficção.
Que tudo então se desmanche e saia do meu tórax. Que saia do meu tórax. Que não exista raio laser.
Posso exitar?

quarta-feira, setembro 22, 2010

Primavera

Se enfia de cabeça em mais uma história. Poemas refeitos, quadros expostos. O mesmo caso de antes de todos os outros casos.
i'm sixteen.
Soam então saxofones bonitos e sonoros.
A praia agora tem areia. Não dá mais pra sentar na calçada e esperar onda nas costas. Céu aqui azul.
Agora tem piscina e a realidade é toda fragmentada.
atravanco na contramão.
Do you believe in love?

quinta-feira, setembro 16, 2010

Quando a gente existe e o mundo fica sendo resto

Quando vem, a mão é lógica. Óbvia óbvia. Parece talvez algodão. Parece que o lugar é mesmo a pelanca atrás da cintura. Parece que pode. Parece que é de casa. Parece que é mão e que é parte e que é dele e que é mais meu ainda.
Consciência de corpo parece que só existe quando existe aquela mão. Toca, assim, tão natural como se fosse língua.
Então ele inventou meu corpo quando apareceu pela primeira vez. E cada pedacinho de unha só existiu depois de fincar a pele branca e lisa, quase sem pelos. E o sovaco também nem tinha cheiro. E os dentes se fizeram mais fortes.
E eu existi. Existi tão inteira em espasmos. Existente. Desistente.
Quando vem, a mão não erra. Dança, vacila, escorre, encosta, se fixa, passeia, volta, mora.
Ah se morasse mão aqui e a gente misturasse um no outro as peles, as mucosas e todas as gotas de saliva!
Vem a mão e eu fico querendo bater no liquidificador.

sábado, agosto 28, 2010

Todas as cartas de amor são ridículas

Te reconheço pelos títulos. De longe. Você que não usa perfume, que zomba dos outros, que rima, esquece?
Existem vírgulas certas que parecem erradas. Valas. Pontuações muito distantes da fala que é sem pausas abstrata bêbada. Há vírgulas explicativas em orações restritivas. Inexistentes.
Já não posso correr, já não posso ligar. Dormir já não posso.
Te reconheço pelos verbos empregados. As cordas de aço do violão.
Está sem destino?
Está sem carinho?
Está sem mulher?

sábado, agosto 21, 2010

quiz

Os dados jogados pro alto. Pergunto de novo:
- Do you believe in love?
Os grilos continuam coachando e nós botamos os sapos pra fora.
quem disse que não podia?
No fim da história, seguimos juntos e o arco-íris fica pintado sem que a gente passe por ele. Sempre chuva. Sempre sol.
Leão é signo de fogo. Áries é meu ascendente. Fogo também.
- Do you believe?
Nem eu preciso botar cartas na mesa, nem você. Por certo temos canastras inteiras na mão. Você não abaixa o jogo. Eu não faço questão do morto.
Se as cartas acabam, no bolo, como fica?

domingo, agosto 15, 2010

Janela sobre o mar

Cecília aqui diz estar caçando sua face em algum espelho. Eu, por outro lado, mantenho a mesma cara de sempre, mas não me pareço em nada comigo.
Algumas espinhas novas, fato. Alguma coisa mais recente na playlist.
Ruga mesmo, nenhuma.
Eu mesma, nenhuma.
Em algum momento desses, me deixei de lado e botei outra coisa no lugar, focadíssima numa coisa só. Eu que sempre mil agora elemento utilitário. Máquina.
Descobri há pouco. Não sei mais contar histórias pra criança.
Heitor disse que a última foi muito curta e que a anterior nem era história. Eu, de insensível, fui embora querendo só dormir.
Cecília caçando o rosto, eu caçando as letras.
O mundo, mesmo, nem aí.

terça-feira, agosto 10, 2010

Amarelinha

Ele disse assim: não tem paixão, a gente só precisa fazer coisas legais, como andar de patins, bicicleta e pular pedra. Eu gosto dela, ela gosta de mim. A gente não vai casar, mas faz companhia um pro outro. E cafuné.
Aí veio aquele lá que disse que na verdade a gente precisa mesmo não esquecer de viver conto de fadas. Veio um outro querendo fazer tudo intenso e descartável, tipo fogo e vela e tal.
Mas não tem como ser simples assim quando a gente é menina, teve caderno rosa e cresceu vendo filme da Disney e comédia romântica. Não. As mulheres e as crianças não querem afundar navio nem quando é de papel.
E se não veio ainda a parte mais bonita, a gente acha que vai achar lápis de cor e pintar tudo conforme a nossa vontade e o nosso gosto. Porque, na verdade, a disposição dos móveis é coisa de escolha feminina. Menos televisão. Televisão depende do lugar do cabo.
A madrasta disse que é tudo muito jogo, mas que a presa tem que saber se posicionar.
Eu mesma não quero nada de estratégia.

Só cafuné.

sábado, agosto 07, 2010

Love?

- Do you believe in love?
Não contei, mas o útero dói de cólica. Garganta tem sido elemento quase inútil. O esôfago parece que tem bola de ar.
Amanhã você me bota no colo e conta uma história bonita. Aprende a fazer carinho na cabeça. Me abraça.
Sinto todas as coisas no corpo e não queria assim. Queria que ontem não tivesse acontecido e que as palavras valessem qualquer coisa.
Que você tivesse mais peso do que as moedas no meu bolso. Talvez, se houvesse um pouco menos de uísque com Shakespeare, as coisas incomodassem menos e fossem menos cômicas ao mesmo tempo.
Nunca quis tanta distância. Colo.

Amanhã te vomito.

- Do you believe?
Love?

domingo, agosto 01, 2010

something about the way

Direto sem nem ver pontuação. Corpo ficando flácido, caído, mole. Perdi talvez ontem a capacidade de arremesso. Não faço mais tanto samba. Choro.
Bossa nova eu você rock'n roll.
70 nossa juventude aparente.
Sinto muita falta de acentos diferenciais.
Ontem eu não vi você.
Busquei em outras tardes muitos carnavais. Te quis muito perto. Quiz.
- do you believe in little prince?
Brinca de roda comigo amanhã? A gente sai gritando alto, cantando, fica tendo algum tempo de sonhar e tira folga do trabalho.
Posso te ensinar a pular elástico e corda. Aguento mais de 100.
Agora eu era cibernética.
Você conserta as crases. Eu de egocêntrica conserto o mundo. Agora eu era grande.
Aí veio o moço com a guitarra e tocou que we all come out to montreux. Aí a gente riu um monte.
Te dou um saco de risadas e você me arruma uma mola. Daí eu posso ver televisão e você tem um jeito de ter sempre alguém pra rir daquelas piadas de pintinho.
Depois a gente toca hardcore. punk rock. Samba.
Amanhã eu prometo que vou dormir.