quinta-feira, setembro 17, 2009

Fluidos

Foi furando o ventre de uma vez só. Lançou um jato logo de cara e nem deu pra engolir. Automaticamente todas as coisas pararam diante de Marina quando aqueles olhos castanhos fixaram-se nos seus.
Não parecia ser nada e ela não deu importância. Todavia, foi só pegar no sono que a garganta ficou entalada e o sangue foi vazando pelos poros.
Talvez as duas bolebas castanhas estivessem então dentro do corpo de Marina fazendo internamente o caminho externo que já tinham de cor.
Mas ela queria engolir as bolebas junto com o resto ao invés de sentí-las furando-lhe os olhos e conhecendo um corpo tão desprevenido.
Foram três dias de incômodo e nenhuma solução.
Se estivessem nas órbitas, Marina não perdia tempo em dar um peteleco nas duas bolebas.
Ou talvez apanhasse-as com as pontas dos dedos, cheirasse, lambesse e devolvesse os seus olhos no lugar.
Marina queria troca de coisas que não fossem olhares.
Fluidos.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Descalça

Da última vez que passou por aqui alguma coisa próxima de paixão, ficou toda presa nos pés. Primeiro os ossos pareciam fora do lugar, depois o pé simplesmente doía.
Eu acho que esmaguei a paixão.
Mas não. O certo seria dançar e pensar qualquer coisa como um respiro apaixonado para continuar sempre ofegante.
O homem só respira dignamente quando ofega.
Eu acho que o lance agora é cair no samba (talvez os pés façam subir alguma coisa).

terça-feira, setembro 01, 2009

Mais uma sobre tempo

Vou eu de novo falar de tempo, de medidas, de segundos e ponteiros de relógio. Fiquei sabendo que de maio pra cá ninguém tem notícias do relógio que habitava a casa dos Braga. Os cachoeirenses conhecidos se dividem em indignados e indiferentes.
Para os conhecidos cachoeirenses indignados, é um absurdo alguém ter pego da parede um relógio que um dia pertenceu a Rubem Braga. Porque Rubem além de ser o maior cronista brasileiro é principalmente um cachoeirense nato. E todos nós que tivemos a sorte de nascer naquelas terras quentes temos muito orgulho de tudo aquilo, mesmo as águas barrentas do Itapemirim ou o tempo estranho. Os cachoeirenses de verdade tem por obrigação tácita carregar consigo o bairrismo dos arredores do Itabira.
Mas o fato é que eu não tenho relógio e nem sei se preciso. Se me roubassem um, jamais sentiria falta dos ponteiros. A ânsia louca de marcar todo tempo em unidades de medida me apavora, mesmo sendo eu uma dessas pessoas que gosta de saber a hora do planeta.
É que um relógio em si não é ruim e é bem bonito, mas o contar dos segundos de tudo tira parte do prazer das coisas como todo e qualquer padrão. Tudo que é feito com tempo muito contadinho tem preocupação demais.
Eu tenho uma tia que adora “O pequeno príncipe” e sempre me lembra que as pessoas grandes se preocupam demais com números e esquecem de saber se tem flores em casa. Esses relógios são a marca disso. Dos números que sobem à cabeça das pessoas deixando-as cegas e antipáticas.
Essa minha tia é cachoeirense e não parece se importar com o sumiço de um relógio. Mesmo ele tendo pertencido a Rubem Braga.
Mas tem outra coisa. O relógio pendurado na parede de um museu é uma afronta aos amantes dos números. Como é que pode um objeto com fins tão específicos como contar o tempo servir assim de enfeite? Pois contar o tempo deve ser papel principal e não importa se a medida escolhida é subjetiva ou as ampulhetas e os relógios de sol são muito mais charmosos!
Eu não roubaria um relógio de parede. No fim das contas, só é um enfeite muito bonito quando não está torturando pessoas com horários.
Meu problema não é o tempo, esse amante inevitável que fica ao meu lado todo dia entre flertes e risadas. Meu problema são todos esses números asfixiantes.
Então, eu não tenho relógio. Rubem Braga também não tem mais.

domingo, agosto 23, 2009

Heitor, Davi e a história das brigas de irmãos


Ela me ligou e mandou eu falar com ele por que somos filhos dela e irmão não pode brigar. Fiquei com aquilo na cabeça, mas não fiz nada. Pensei em tudo: Caim, Abel, Esaú, Jacó, as gêmeas Olsen, Ruth e Raquel, Sandy e Jr, Flora e Donatella...
Eu e Marcela.
A gente tinha os mesmos amigos e sempre brincava na rua junto. Ela ensinava para os outros como me chamar de bom bril e eu contava que ela comia as roupas. E eu brigava com as crianças maiores que ela que brigavam com ela por que eu era a irmã mais velha que batia nos outros. Aí a gente cresceu e agora tem dois irmãozinhos pequenos com a mesma diferença de idade da gente.
O Heitor é mais velho e também é mais bobo. O Davi é um grande palhaço. Os dois são filhos do mesmo pai e da mesma mãe, mas tem um monte de outros irmãos mais velhos.
Hoje, eu estava fazendo montinho no Davi (o mais novo) e o Heitor resolveu entrar na brincadeira. Ficávamos os três pulando na cama, rindo, as praguinhas puxavam meu cabelo e eu fazia cócegas em ambos. Até a chupeta do Heitor cair atrás da cama.
O menino se desesperou, aí eu arrastei a cama e fui pegar a chupeta. O Heitor reclamou que o Davi, um ano e seis meses mais novo, estava batendo nele. Olhei e não vi nada. Depois eu peguei a chupeta e o Davi meteu a mão na cara do Heitor. Entreguei a chupeta e mandei o Heitor ir lavar. O que o Davi fez? Arrancou a chupeta da boca do outro e jogou de novo atrás da cama.
Heitor abriu o berreiro e lá fui eu resgatar a chupeta.
Chupeta de volta nas mãos do Heitor. Chupeta na boca do Heitor. Davi arrancou de novo o objeto e mandou pra trás da cama. Heitor abriu o berreiro.
Pesquei a chupeta. Heitor chupou. Davi arrancou. Eu comecei a rir. Chupeta atrás da cama. Heitor começou a chorar. Davi ria da cara do Heitor.
Chupeta resgatada, Heitor pulou da cama. Davi desceu atrás. Heitor sentou na cadeirinha e o Davi pegou o chapéu de festa junina pra brincar e ficou fazendo umas palhaçadas. Tentou colocar dois chapéus ao mesmo tempo e depois desistiu. Heitor resolveu pegar um chapéu. Davi não deixou.
O Heitor este tempo todo estava reclamando e berrando e voltou a tentar sentar na cadeirinha. Acontece que num erro de cálculo o menino se espatifou no chão com a cadeira ao lado. Chorava escandalosamente.
E o que o Davi fez?
Arrancou a chupeta do Heitor e jogou longe.

sexta-feira, agosto 21, 2009

ode ao seda anti-caspa

Não. Eu não pensei nada. A idéia era só comprar pasta de dente, shampoo e sabonete nas lojas americanas e depois ir embora pra casa. Aí surgiu aquela grande prateleira cor-de-rosa cheia de vidros azuis de shampoo anti-caspa e eu lembrei de todo o resto. Três anos sem sentir aquele cheiro ou qualquer coisa relacionada a ele.
Lembrei de todas as caspas, os piolhos, as fugas e muito cabelo pintado de cores distintas. Água oxigenada e aquele maldito shampoo anti-caspa que me olhava ameaçador. Fiquei pensando o que sentiria. Fiquei aflitíssima de frente para um dócil vidro de shampoo.
Depois me aproximei.
Fui lembrando de quando reconhecia de longe aquele mesmo cheiro de shampoo em qualquer pessoa e tinha memórias mil de muitos toques e frases canastronas.
Abri o maldito vidro e cheirei.
Nada.
Fui embora feliz.

sexta-feira, agosto 14, 2009

seco.

É que de repente, todos os ossos, os músculos e a pele ficam pregados e endurecidos como se nada mais pudesse ser solto.
Então tudo pulsa meio torto e os olhos andam mais inchados sem qualquer motivo.
nem nada.
Por isso as pessoas rebolam.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Carta despretensiosa para a solidão

Olá, solidão. Você sabe que por muito tempo eu te quis do meu ladinho para poder trabalhar, escrever, pensar coisas e conseguir ter a minha individualidade inabalada e bagunçada. Mas chegou num ponto em que eu não me reconheço no meu quarto e que eu sinto falta de sentir falta de você.
Não teremos muitos problemas. Já somos amigas a tanto tempo que você sabe que eu grito com muita gente pra estar com você ouvindo música, fumando ou dançando aquelas coisas doidas que só se dança escondido.
Você também sabe que eu confio muita coisa a você e que eu não sei passar muito tempo longe, que eu sou grudenta e que eu tenho necessidade de reconhecimento. Mas, solidão, esse eco constante da sua vaziês está me corroendo.
Vamos sair pra almoçar qualquer dia, mas hoje eu quero me embriagar de outras presenças.
Espero que não dure muito,

mas isso é uma carta de despedida.
Muito obrigada pelo nosso tempo produtivo.

quinta-feira, agosto 06, 2009

Respiro

Acordou com muita vontade de jogar as sacolas de lixo pela janela do apartamento. Ao mesmo tempo, a cama parecia ter um imã e a boca parecia estar sem um pedaço. Então foi estalar as costas para ver se o corpo esquentava e as sacolas saíam do lugar.
Andou dançando pela casa e pelas ruas rodeada de muitíssimas flores. Então lavou o cabelo e partiu-o conforme a música.
Achou que tudo ia começar de novo e a vida mudou de gosto mesmo sem paixão de carne.

terça-feira, julho 28, 2009

Salto

E nessas eu fui ficando pelas metades, torta. Meio suja meio limpa, meio cansada, meio acordada, meio dormindo, meio confiante, meio insegura.
De saco cheio e muito vazia.
Talvez se ele voltasse atrás e me mostrasse um abraço com o sorriso e se ela dissesse que se confundiu e se aquele outro não fosse tão seco, estivesse tudo bem.
Mas acontece que os livros de auto-ajuda todos dizem que a gente se faz nagente mesmo com ego à toda e muita classe.
Não tenho classe e não gosto de livro de auto-ajuda, mas se eu soubesse escrever um poema, teria ritmo de samba e não ficaria pela metade.

quinta-feira, julho 23, 2009

A fantástica aventura da contação de histórias.

Então eu fui contar para o Heitor, de 3 anos, o Davi, de 1 ano, o Guilherme, de 8 anos e o José, de 10 anos, a história do Harry Potter. Nos centamos em círculo para que eu lesse o primeiro livro da saga.
Primeiro o José e o Guilherme reclamaram que o chão é frio e bom mesmo seria se lêssemos sentados na cama dos pequenos.
Então fomos para a cama.
Aí o José reclamou que o Davi estava calçado e ele dormia ali e ia sujar tudo. O menino tirou o sapato e começamos. Tudo certo na narrativa e todo mundo acompanhando até o Davi pular da cama por que queria que eu contasse a história do Lobo-bolo.
Então o Heitor pediu pra ler um pedaço.
- Heitor, você não sabe ler. - respondi.
- Sabe sim. - Heitor retrucou.
- Certo, então o que está escrito aqui? - perguntei.
- Harry Potter - José soprou baixinho no ouvido do pequeno e eu fingi que não vi.
- Mary Poppins - Heitor respondeu, muito convicto.

sexta-feira, julho 17, 2009

Davi


Davi, se soubesse ler, sentiria ciúmes. Não sei se o leitor está a par de minha vida familiar, mas eu tenho sete preciosos irmãozinhos. 6 meninos e uma menina, a Marcela(oi mocréia!).
Acontece que entre esses textos todos sobre o sexto irmão, o Heitor, não falei hora alguma sobre o sétimo, o Davi.
Esta coisa pequena de nome Davi é desses que não tem medo de qualquer Golias. Meu pai mesmo tomou-lhe a chupeta anteontem dizendo "é meu". Davi não se assustou. Pegou a chupeta de volta entre gargalhadas e gritou "é meu". O detalhe é que o menino tem um aninho de idade apenas e nenhum medo do papai. Apenas respeito.
Quando ele foi tomar vacina mesmo, dia desses, não berrou. Deixou escorrer apenas uma lágrima enquanto olhava nos olhos de meu doído pai que talvez sentisse em si mais que as agulhadas, a dor da traição que acreditava ter cometido. Ocorre que eu me lembro bem de ter visto meu pai avisar para o Davi que ele iria tomar uma injeção que dói muito. E o pequeno não arregou nem assim.
Também aconteceu esses dias de o menininho levar uma mordida de um coleguinha da escola. Mas ele não me contou o episódio entre lágrimas. Apenas declarou:
- Nini, minino modeu o neném. - E mostrava o bracinho.
- E o neném fez o que? - perguntei.
- Bateu no bumbum dele. - E gargalhava, o pestinha.
Como podem ver, Davi é um sujeito extremamente perspicaz com sua longa jornada de um ano de vida. Sabe se virar sozinho em diversas situações e, inclusive, tem um excelente senso de humor.
Anteontem eu fui contar uma historinha para ele (aquela da Chapéuzinho Amarelo, escrita pelo Chico Buarque) e me empolguei. Eu batia na mesa enquanto narrava alto a fala de um lobo de voz muito mais grossa do que a minha. Davi então se empolgou junto. Eu dizia "SOU UM LOBO" e ele gritava, engrossando a vozinha "SOU UM LOBO".
Depois seguia com aquela gargalhada gostosa e acompanhava todas as histórias. Quando se cansava, pulava da minha perna e ia embora. Pronto.

terça-feira, julho 14, 2009

folga

É por que quando tudo parece ser ao mesmo tempo e não ter mais espaço pra coisa alguma é que a cabeça fica mais ativa e respirar fica mais gostoso.
Da próxima vez eu juro que tento escrever coisas legais no twitter, mas agora eu preciso pensar em frases curtas e viradas radicais. Como se voz fosse surf e tudo fosse extremamente divertido.

Mencionei alguma vez que eu gosto muito mesmo de trabalhar?
(e de buscar intervalos entre tempestades)

quinta-feira, julho 09, 2009

O que se pensa

Vamos ficar assim, eu boto a cara amarrada e você bota a cara de sono. Então contamos um ao outro todas aquelas desventuras que acontecem. Nada demais não, apenas clichês e um pouco de boa companhia.
Mas aposto que ficaríamos muito melhor se dormíssemos mais, principalmente bem acompanhados.
Naquele outro dia eu sonhei com alguma coisa de cores quentes e eu sei que você sabe que o clima pede mais do que salada.
É por isto que tomamos sorvete neste sol quente de inverno. A gente não vai chegar a conclusão nenhuma se continuar negando que a pele só quer pele.

terça-feira, junho 30, 2009

mau-humor

Eu sinceramente não consigo entender por que as pessoas insistem em falar baixo, sussurrando de forma que os esses fiquem saltando irritantemente.
Todos esses pequenos barulhos me irritam de forma que a reação imediata do meu corpo é abrir as mãos o máximo possível e fazer cara de nojo. Como quando ficam sugando coisas, arranhando coisas ou quando uma única gota repetitiva insiste em cair da torneira.
Eu fico me segurando, mas de repente sobe tudo ao mesmo tempo e eu simplesmente grito como se nada houvesse a ser feito além de impedir a continuação do meu martírio.
Mas quando falam alto perto de mim eu nem ouço. Quando martelam ou quando passam ônibus eu desligo depois de um tempo. E se o chuveiro fica ligado eu não ouço.
O problema é sempre a gota d'água.

segunda-feira, junho 22, 2009

Atlas

Quando toda a raiva subiu, Ana não quis comer nada. Enfiou umas roupas na mala e saiu gritando, chorando, bamba e sem se conter. Por onde passava sempre aparecia um lenço e uma voz ou outra perguntando se ela estava passando mal.
Mas era o fim de tantas coisas que Ana só queria seguir com seu choro pra longe e aguentar o tranco de tudo. Se lavava com sal, saliva e lágrimas, mas não ficava ainda limpa.
Precisava parar um pouco, mas o mundo não parava de girar, o pulmão não deixava de puxar ar, as mãos não deixavam de tremer e os carros não deixavam de passar. Se nada parava, Ana tampouco.
Seguia tentando ser firme e aguentar toda aquela dor explodindo no peito.



















Então ficou desacordada no meio da rua por um desmaio e tudo o que acontecia em volta passou em branco.

quinta-feira, junho 18, 2009

ID

Um pouquinho de coisas novas faria muita diferença se eu não estivesse ouvindo as mesmas músicas e não tivesse tanto medo.
Gente fina é outra coisa.
Queria guitarras distorcidas e um pouco mais de calma talvez pra talvez sumir e talvez falar menos e talvez virar noites num movimento circular e retilínio, curvo e nada nada nada uniforme.
Então parar de pensar em qualquer coisa e deixar que os dedos guiem as danças sem qualquer freio enquanto o teclado de computador faz música com cordas postas atrás. e um ritmo de letras num ritmo de som e melodias novas finalmente.
e filosofia.
Quando ela acordou daquele sonho em que a navalha lhe cortava o olho transformando-o em uma grande bolha d'água que explodia e molhava todo mundo, sentiu muito gosto de lágrima na boca. Cheiro de batata frita.
É por que sem coisas novas, nada que não seja pedaço de sonho faz qualquer sentido.

quarta-feira, junho 17, 2009

Confiança

Fiona Apple - Criminal


Fingia que aquele salto todo finíssimo não fazia a menor diferença. Mas era no equilíbrio sobre os pés elevados que ela fazia todo o seu charme. Mexia os quadris num ritmo firme e se mostrava capaz do equilíbrio supremo de bico fino.

Coração a mil. Uma hora ou outra aquela máscara ia pro chão e ele ia entender que sem sapatos, ela era apenas ela.

Respirou fundo e retocou o batom.

Enquanto houvesse dor nos pés, não haveria outra.


Nota da autora: se eu fosse vocês, ouvia a música. Valeu Mike pela música e Ariel pela foto.

sexta-feira, junho 12, 2009

manhã

Tanto cheiro de cebola e óleo e tudo tão quente que eu quis ir embora.
Aquele casaco grande dele e aquela cara de não ter dormido da gente parecia combinar com o bacon da panela.
Me senti muito americana com aquele café todo. Mas o cheiro de cebola com bacon, óleo, pão e café torturava tanto quanto o calor.
Eu me sentia parte de outra coisa que não incluía café.
Foi muito difícil deglutir tudo, mas se eu saísse correndo ele talvez quisesse me ver de novo. Fui simpática e grudenta como toda mulher fácil demais.
Quis que ele me pensasse vagabunda pra simplesmente não ter amanhã.
Mas ele insistia em cafuné e eu doía junto com o bacon, como se eu estivesse com as beiras queimadas em óleo. Como se tudo fosse lento e as paredes estivessem quentes como uma panela, me oprimindo.
Quando eu fui embora, quis não comer bacon nunca mais e torci muito pra ter outro café torturante.

quarta-feira, junho 10, 2009

Tédio

Estou cansada.
Ontem, quando eu fui embora, você não achava que eu ia.
Talvez quisesse que eu ficasse mais e mais te esperando pra sempre com um sorriso no rosto e nada além disso na cabeça.
Mas eu não sei mais. Estou cansada.
Tive que ir dormir e talvez esperar que chegasse o dia seguinte.
E não teve mais nada.

sábado, junho 06, 2009

Manifesto

Quando eu te quis, também quis que fosse apenas por razão. Mas este músculo involuntário idiota continua pulsando sem que eu mande numa velocidade extraordinária.
Quando eu sinto gosto de cerveja e cigarro, te odeio por que é como se tivesse acabado de sair de um beijo.
Vai, músculo imbecil, continua pulsando por gente idiota de forma idiota!
Eu mesma prometo ser fria, dura, forte - como terra.
E não quero mais saber de qualquer raiz.

Ontem, quando eu vi, tinha tirado um peso enorme das costas por dizer o que devia ter sido dito há cinco anos. Nunca soube que um pronome seguido de um verbo pudessem juntos fazer tanto bem para a coluna.
Mas depois de desculpas, abraços e sorrisos, tomei mais uma facada.
Vai, músculo idiota!
Controle-se por que eu já disse que não confio em você.