quinta-feira, fevereiro 18, 2010

A bela adormecida

Criança ainda, perguntou à fada madrinha sobre o que ouvia nas histórias das janelas:
- Que coisa é fim?
- Fim de que, Aurora?
- Fim que todo mundo diz que dói.
- De amor?
- Isso acaba?
- Se acaba de um lado dói à beça.
E Aurora pediu à fada madrinha que nada doesse. Morria de medo de dor e passou a ter ainda mais medo de paixão. A fada não sabia como paixão podia não doer. Falou que dava um jeito, mesmo sem saber que jeito.
Aurora foi crescendo e o rei e a rainha resolveram apresentá-la à sociedade. As outras fadas vieram todas. Encheram a menina de presentes. Uma deu beleza, outra deu inteligência, uma ainda inventou que Aurora não cheiraria mal nunca.
A fada madrinha foi entrando em pânico, que com todas essas coisas, Aurora não ia nunca ficar sem sofrer, nem sem paixão.
Falou então que a menina morreria aos dezesseis com dedo espetado.
Baniram a fada, mas ela deu um jeito de se comunicar com a princesa. Combinaram que se Aurora um dia sentisse muita dor, a chamaria sem ninguém ver, então o encanto da fada faria com que ela dormisse sem envelhecer até a dor passar.
Aurora ficou tão confortável que se esqueceu dos muros. Deu de piscar os olhos e distribuir sorrisos. Arrumou logo um monte de gente lhe desejando os lábios. Deu-lhos a um ou outro, até aparecer um tal príncipe.
Tiro e queda.
Aurora ficou burra burra. Deu-se inteira e se rasgou. Sentia-se feliz todos os dias. Fogos de artifício dentro dela. Mas o príncipe deu de ter mais o que fazer, foi deixando Aurora de lado e se enfiando em outras saias menos reais.
A princesa quis desmanchar. Acabou tudo e se ardeu em febre. Doía tanto que ela achava que nem podia mais.
Foi quando apareceu a fada madrinha e uma agulha que os pais se esqueceram de esconder. Aurora se furou com gosto e dormiu.
Acharam que com beijo de príncipe ela acordaria, mas nada. A fada tratou de botar ali um dragão pra dar um jeito de a menina dormir com seus dezesseis anos super duráveis.
Foi passando o tempo e a dor ficou cozinhando ali até quase passar. Faltava a cartada final. Dragão dormiu estrategicamente e um príncipe inconsequente resolveu beijar Aurora pra ver se ela acordava. Matou o dragão para contar vantagem.
Aurora acordou meio zonza, sem bafo graças ao encanto da outra fada. O príncipe era simpático e o sono ensinou que estabilidade era coisa boa.
Nunca mais quis saber de paixão.
Casou com aquele mesmo e inventou de ser feliz para sempre.

6 comentários:

Pedro Cindio disse...

Seu blog é muito bom,"colega" jornalista,hehehe já é formada? parabens,e nao pare de escrever. virei seguidor do seu blog

kan ghu ru. disse...

conto de fadas. amei. :D

Anônimo disse...

cara ameeeeiii...
eu preciso de uma fada madrinha. mas não sei se só por um principe ou se por todos.. meu coração sempre doeu e sempre doerá! não conseguirei tratar de ser feliz.. =/

mas desejo pra vc! ^^

bju

Danny Borgesk disse...

Apesar de não gostar da Aline... Gosto um tanto do que ela escreve!

AHuahsuhaushuahsua

Rose Dayanne disse...

Olá Aline... Excelentes textos...
Gostei muito da narrativa... Tens essência... Também sou jornalista e como vc gosto do poesia e literatura...

parabéns

Aprendiz do amor disse...

Adorei adorei!
E não é que na vida as pessoas vivem trocando paixão por estabilidade?
Conto de fadas mais real, impossível.