Criança ainda, perguntou à fada madrinha sobre o que ouvia nas histórias das janelas:
- Que coisa é fim?
- Fim de que, Aurora?
- Fim que todo mundo diz que dói.
- De amor?
- Isso acaba?
- Se acaba de um lado dói à beça.
E Aurora pediu à fada madrinha que nada doesse. Morria de medo de dor e passou a ter ainda mais medo de paixão. A fada não sabia como paixão podia não doer. Falou que dava um jeito, mesmo sem saber que jeito.
Aurora foi crescendo e o rei e a rainha resolveram apresentá-la à sociedade. As outras fadas vieram todas. Encheram a menina de presentes. Uma deu beleza, outra deu inteligência, uma ainda inventou que Aurora não cheiraria mal nunca.
A fada madrinha foi entrando em pânico, que com todas essas coisas, Aurora não ia nunca ficar sem sofrer, nem sem paixão.
Falou então que a menina morreria aos dezesseis com dedo espetado.
Baniram a fada, mas ela deu um jeito de se comunicar com a princesa. Combinaram que se Aurora um dia sentisse muita dor, a chamaria sem ninguém ver, então o encanto da fada faria com que ela dormisse sem envelhecer até a dor passar.
Aurora ficou tão confortável que se esqueceu dos muros. Deu de piscar os olhos e distribuir sorrisos. Arrumou logo um monte de gente lhe desejando os lábios. Deu-lhos a um ou outro, até aparecer um tal príncipe.
Tiro e queda.
Aurora ficou burra burra. Deu-se inteira e se rasgou. Sentia-se feliz todos os dias. Fogos de artifício dentro dela. Mas o príncipe deu de ter mais o que fazer, foi deixando Aurora de lado e se enfiando em outras saias menos reais.
A princesa quis desmanchar. Acabou tudo e se ardeu em febre. Doía tanto que ela achava que nem podia mais.
Foi quando apareceu a fada madrinha e uma agulha que os pais se esqueceram de esconder. Aurora se furou com gosto e dormiu.
Acharam que com beijo de príncipe ela acordaria, mas nada. A fada tratou de botar ali um dragão pra dar um jeito de a menina dormir com seus dezesseis anos super duráveis.
Foi passando o tempo e a dor ficou cozinhando ali até quase passar. Faltava a cartada final. Dragão dormiu estrategicamente e um príncipe inconsequente resolveu beijar Aurora pra ver se ela acordava. Matou o dragão para contar vantagem.
Aurora acordou meio zonza, sem bafo graças ao encanto da outra fada. O príncipe era simpático e o sono ensinou que estabilidade era coisa boa.
Nunca mais quis saber de paixão.
Casou com aquele mesmo e inventou de ser feliz para sempre.
6 comentários:
Seu blog é muito bom,"colega" jornalista,hehehe já é formada? parabens,e nao pare de escrever. virei seguidor do seu blog
conto de fadas. amei. :D
cara ameeeeiii...
eu preciso de uma fada madrinha. mas não sei se só por um principe ou se por todos.. meu coração sempre doeu e sempre doerá! não conseguirei tratar de ser feliz.. =/
mas desejo pra vc! ^^
bju
Apesar de não gostar da Aline... Gosto um tanto do que ela escreve!
AHuahsuhaushuahsua
Olá Aline... Excelentes textos...
Gostei muito da narrativa... Tens essência... Também sou jornalista e como vc gosto do poesia e literatura...
parabéns
Adorei adorei!
E não é que na vida as pessoas vivem trocando paixão por estabilidade?
Conto de fadas mais real, impossível.
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