sábado, fevereiro 25, 2012

unha e depois

Você nem tem ainda uma música. Algumas festas e um carnaval. Quem sabe um corpo? Quem sabe? Hoje eu não te vi, mas ontem tinha outra menina até mais bonita, mais fina, mais blush no rosto. Então não vou te fazer rimas, quem sabe? Quem sabe as rimas que um corpo nu é capaz de fazer? De corpo inteiro, você é bom como se fosse sério. não há, ainda, intimidade. Mas seu corpo entende do meu como se fosse machucado ou qualquer coisa de arranhão. Seu corpo flui como se fosse físico e tivesse carne. Como se fosse pênis e eu tivesse algum buraco.
Meu deus! Que coisa é seu corpo nessa madrugada? Que coisa foi seu corpo na manhã?
E como fica, depois de tudo, a boca? A boca iniciou as coisas anos antes até dos dentes. Meu deus a boca premeditou todo e qualquer carnaval.
Então, você, não quero.
Mas me devolva a boca ainda essa semana que ela hoje aprendeu como se faz quando a garganta precisa ao certo dilatar. Você, sem saber, me ensinou. Não volte. Embarque neste mar de coisas matemáticas e me deixe agora com a boca grande e o corpo certo. Arranhe. Arranhe. Vá.

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

das carnes prontas

De quando passa o bloco, eu passo os olhos nos ombros e nas barrigas, depois nas caras. Que quando passa o bloco o amor é de confete. Que quando passa o samba o que fica é nadica de nada. Um sopro cujo marco é sorriso.
Ausência completa de gravidade.
Leveza.
Guarde você o tanto que bebe. E não dividamos nada. Nada. Principalmente não telefone. O depois não existe no carnaval. Pensamento, se existe, está errado.
Veja se no sangue circula samba.
E resplandeça.

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Lady is a tramp

Pensou em mim como a Olga Benário ou Anita Garibaldi. Olhou e achou que teria uma fiel escudeira que volta e meia se enfiaria nas suas brigas e as tomaria como minhas. Sabia que eu não seria a mãe perfeita de louça lavada e comida no forno.
Pensou que eu pegaria em armas e apanharia e bateria e rodaria a baiana sambando e de salto. Pensou que eu fosse cuspir na cara do guarda e não quis nunca que eu te tirasse do olho do furacão. Nem eu pensei em tirar ninguém do olho de nada.
Mas você não pensou que talvez eu quisesse volta e meia ser Julieta. Que eu quisesse ser protagonista de outra história. Por que o herói é você, Robin Hood, mas eu não sou Mary Ann...
Eu não tenho sangue de briga nem doçura de princesa. Não estou dentro dos seus moldes, nem dos outros moldes.
Você não entendeu o que eu mesma não entendi. Das mocinhas, eu tenho aquela inocência besta de achar que as coisas podem durar e que eu preciso de fazer alguma coisa para que os laços se mantenham. Ao mesmo tempo, eu sou besta a ponto de acreditar em mágica.
Eu podia parar por aqui essa coisa estranha. Mas eu queria que você soubesse que eu sou a atriz principal. A Salomé. A Lady Macbeth. Os meus tapas são sutis, ou são verbais.
Comigo, o lance é veneno.


quinta-feira, fevereiro 02, 2012

BOOM

Eu quero de novo aquele amor doente. Aquela coisa úmida, pastosa, densa, pesada. Aquela coisa que saía da sua boca quando você dizia mole que seria eu a mulher mais feliz do mundo.
Eu quero de novo a lua vista com as minhas mãos nas suas mãos e uma pausa. Eu quero as folhas de janeiro sendo cheiro de janeiro e a gente com cerveja meio batido, meio choco, meio quente se embebedando mesmo da gente.
E se não for você, não importa mais. Eu quero de novo a doença de pele que se pega quando se gosta tanto a ponto de explodir.
Eu quero de novo uma coisa tão grande, tão forte, tão verdadeira que eu mesma não tinha coragem de acreditar que acontecera. Eu quero de novo passar anos duvidando da memória do momento mais bonito da história.
Os roxos no braço. A necessidade. O grito mudo dia a dia todos os dias de mãos dadas e os olhares cúmplices de quem tem culpa por ter absurda, absoluta, inegável paixão.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Um banquinho, um violão

Quando for pra a gente se envolver, que seja lento. Que a gente se conheça antes, um pouco, aos poucos. Que os mínimos detalhes sejam postos na mesa, personalíssimos. Que você implique antes com meu jeito e eu com seu corte de cabelo. As noções de mundo sejam compartilhadas junto com cerveja, vinho, vozes altas e embaraços. A gente se desembarace sei lá como.
Que o toque venha natural e depois fique vulcânico. E a gente se irrite um com o outro, discuta, brigue. Antes. Você se atente para o meu ontem, eu me atente para o seu amanhã.
Então, que eu não te sugue a alma por inteiro em três dias, nem chore. Que você não declare posse de nada, nem do meu corpo. E que nossos corpos se entendam num ritmo outro, menos punk e mais bossa.
Sobre, então: amor, sorriso e flor.

sábado, janeiro 21, 2012

esfinge

Qual o tamanho do medo que você tem das minhas pernas? A velocidade das coisas aparentes talvez não seja sincronizada cabeça a cabeça. Olha, não é nada. Só um sorriso ou outro, umas conversas, sincronia.

Eu não sou exatamente perigosa. Ao contrário, volátil. Uma dessas coisas pequenas de se por no bolso. Só que arde. Queima. Um amontoado ambulante de hormônios e a cabeça cheia de histórias.

Você não sabe a briga que foi pra que eu tivesse hoje essa forma, essa cara e esse furacão. Mas é bem simples, ferro e fogo, pronto.

Não tome cuidado. Abrace e pronto.

terça-feira, janeiro 17, 2012

desconselho

Não requente o amor. Mesmo que dourado. Mesmo que língua presa. Mesmo que um dia excelente, não requente. Deixe pra lá, frio mesmo. Deixe apodrecer num canto longe onde você não veja. Esqueça. As horas nunca voltam para trás e o que foi desfeito que pereça. Mesmo que pareça não ser ainda morte, ou só pequena morte.
Você que é moça sabe de dentro se foi fim ou não. Você sabe o tanto de cartas na manga e o quanto agüenta com as sobras. E se já foi, se partiu, se morreu, não coma. Não arrisque a intoxicação do que o tempo deixa borrachudo.
Não pense em possibilidades, não deixe pra mais tarde.

Não se morra por ninguém.

terça-feira, janeiro 10, 2012

A vida é (em dois mil e) doce.

E de todas as coisas grandes e pequenas que eu podia querer falar hoje neste fim de ciclo que vem com o doze, o doce e os números todos é só o eu te amo que sai.
E eu só quero dizer de verdade.
Eu só quero dizer a verdade.
A vida as vezes é muito azeda a começar pela boca e pelos verbos que não sucedem crases - e se fosse tudo crase eu acharia mais bonito. Você não sabe o quanto eu gosto de sinais gráficos e notas musicais, só sabe dos superlativos. Pois este ano eu quero ser diminutiva e mais lenta, mas ele não sabe. Ele não sabe que eu pretendo sorrir e tenho sorrido e me estressado menos.
Ele ainda sabe aquelas coisas do ano passado e sabe que mãe é bom e sabe o que passou e também como me fazer chorar. E eu não vou dizer nada que não seja puríssimo, límpido e verdade, mesmo que me digam que só é possível verdade em pensamento.
Eu não acredito.
Há direito ao primitivo.
Eu quero o bruto da vida. O chifre do elefante e as coisas mais bregas que forem feitas no mundo.
A verdade, essa moeda gasta e quase sem valor. Bruta.

sábado, janeiro 07, 2012

o que os maias fazem comigo

Se o mundo acabar mesmo em 2012, eu quero passar mais tempo com você. O resto dos dias sem o resto do mundo, dormindo de conchinha em cama de solteiro e acordando como se o colchão fosse de molas, o travesseiro de penas e o lençol de seda. Eu quero aprender a cozinhar coisas gostosas, limpar camarão, fazer moqueca de sururu com requeijão pra gente comer, amassar massa de pão, rolar macarrão, massa de pastel, fritar mais coisa. Fazer iogurte, comprar uma máquina de waffle e comer de manhã waffle com mel ou com manteiga ou com sorvete.
Se for mesmo pra ter só até dezembro, eu quero ir com você ao Maranhão e ao Acre. E dançar forró em Itaúnas e voar de asa delta e andar de balão com você. E te levar num karaokê. E cantar a noite inteira com a cara cheia de cachaça que é pra acreditar que meu timbre é aceitável. E eu quero gastar o dinheiro todo que eu vou ter pra a gente comprar um piano pra você que aí você me ensina a tocar e você toca.
Um filho, também, eu quero fazer. E ter a nossa casa. O nosso cachorro. As nossas estantes de livros e partituras. A gente arruma um empréstimo e deixa rolar.
O mundo não vai acabar?
E, também, antes de tudo, se for mesmo o mundo acabar, eu quero ter coragem pra dizer que eu ainda te amo.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

red nose

Ele as vezes tem a língua meio presa e isso é bonito. Ele pra mim mostrou os doces, a ternura, a ajuda e o papel de herói. Mui bien composto, escondeu-se em gritos altos, força e nariz.
Eu disse assim que queria um nariz assim num filho meu. Reto. Bonito. Ele pra mim mostrou um monte de loucuras, uns devaneios, uns xingamentos. A cara feia, o adeus, as tatuagens.
Defeito mesmo, qual? As coisas estúpidas eu ria, as brigas eu cria, os risos eu tinha.
Então era conforto todo dia a existência. A língua presa. O jeito de falar que as coisas são bonitas. O nariz.
E do nariz, meu tombo.
Travei.
I don’t believe in that love anymore.

quinta-feira, dezembro 29, 2011

Para o porquinho da índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
Manuel Bandeira



Eu te amo de boca aberta e de boca fechada. De língua. Mordendo. Sobrancelhas absurdas. Eu, então, nem se fala. Absurdíssima, sentida, sentinte. Ouvindo sem ouvir todas as coisas, gostando até de suor. Mantendo.
Eu te amo cabeça nos peitos, pernas enrolantes, boca mordendo nariz. A língua morde as coisas que são suas. Os braços me sustentam de manhã, enquanto dormem.
Eu te amo pelos arrancados, um monte de agrado. Eu te amo sentada. Em pé. Acordada. Dormindo. Absolutamente desconfortável.

quarta-feira, dezembro 28, 2011

água e sal

Metafísico, o amor me come. Músicas que eu não cantei. Sonhos que eu não sonhei. Dores que eu não quis. O amor me açoita. Espreme. O amor de ontem, errado, me entrou na porta de casa com pressa e funcional. O amor de hoje quis dar boa noite.

Cabe nalguém assim tanto amor?

Estico-me.

terça-feira, dezembro 27, 2011

Da falta

Então agora você me castiga só por existir. Eu fico sabendo que no mundo é possível coisa grande, sentimento puro, afeto gratuito e vontade de ser melhor. Eu fico sabendo que há gente grande, que há um pra mim e sei lá o que mais.
Daí que longe é seu estado imutável. E eu fico tentando jogar com o resto do mundo num lance meio absurdo de desespero enquanto espero você chegar da guerra. Não sei ser assim antiga. Também não sei ser moderna.
A gente quando?
Sem resposta.

domingo, dezembro 18, 2011

a moça bonita

Eu só não quero chegar em casa. Parar. Pensar. Não quero descobrir nada hoje, nem amanhã. Quero tomar algumas pílulas programadas pra tornar a gente mais interessante. Fazer a unha do pé, sobrancelha, cabelo. Ficar mais bonita que ontem.
Não adianta eu ter o mesmo tom de pele, cabelo parecido, olhos assim, sorriso assado. Em mim você nunca vai encontrar o que procura. É ela. Tranqüilidade, ordem, este tipo aí de doçura. Não, eu não tenho isso não. Eu não sou, nem seria, o que você procura.
É ela.
E se você gosta dela, é ela. Pronto. Não vai achá-la em mim nem ontem nem nunca. Nós, eu e ela, não nascemos no mesmo mês, não temos as mesmas unhas, a mesma paciência, os mesmos cílios, nem as mesmas necessidades. Eu não espremo espinhas como ela e não me tornarei o que ela é.
Ela é única, moço. Como ela, só ela. Pronto.
Vá lá.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Macaquinho


Davi tem quatro aninhos e hoje estou de babá dele.

- Davi, você continua namorando a Isadora?
- Não.
- Ela te deu um pé na bunda?
- Um tênis na bunda. Ela pegou, tirou o tênis e chuaaaaaaaaaaaaaaff - Davi fazia gestos e montava no encosto do sofá.
- Mas você não quer mais namorar com ela?
- Não.
- E ela quer namorar com você, Davi?
- Eu sou um macaquinho!
- Davi, ela quer namorar você?
- Ela quer, mas eu não quero.
- Por que? Por que você prefere ser criança?
- Não. Porque eu sou um macaquinho e prefiro pular de galho em galho.


true story.

sábado, dezembro 03, 2011

cantada

E se for? Mais que samba, mexida de quadris, braços longos. E se for, mesmo, atração de olhos castanhos com olhos castanhos e boca pequena com boca pequena. Pele morena com pele morena. Cabelo crespo com cabelo crespo. E se a textura da pele talvez combinar?

E se, mesmo parecidas, duas criaturas forem diferentes o suficiente pra complementarem-se. Se todo o passado não foi acidente prevendo o presente?

Se a gente não dança? Se a gente não ri? Se a sua voz for o que eu preciso pra me ninar e você não me irrita? Se o meu cós for a diferença pra sua inocência acabar?

Se for a manhã?

Se for mais lógico do que a gente pensa. Se dispensa apresentação? Se não tem mais interrogação? Se pulsa forte?

Por que não?

sexta-feira, novembro 18, 2011

chá

Vá embora, então, do mundo. Da minha vida. Saia do meu ontem e da minha cabeça e do meu jeito de rir. Eu pareço um passado ambulante. Um reflexo de sei lá. Uns cacos colados de cansaço com saliva e azedume.

Trêmula feito xícara em mão de velho, eu sinto ainda suas mãos no meu corpo que nem existia antes.

Preciso sê-lo sem tê-las por mim, em mim, à mim. Preciso ter-me sem contato seu e sem querer te tatuar em mim. Você podia não ser metade. Esconda Mr. Hide de volta no armário e volte mais tarde. Eu faço um chá.

Ainda tem ternura aqui no armário. Ainda tem você no assoalho. Ainda há boca em peito e olhos de ver o que já foi.

Deixa o presente pra lá. Eu não pedi pra saber.

sexta-feira, novembro 11, 2011

Matemática

Você nunca diz euteamo. Um cadinho só de dor. Dois bocados inteiros de angústia.

Eu acho que gosto mais de você do que você de mim, entalei e não disse.

Cinco tornados no peito.

quinta-feira, novembro 10, 2011

pequeniníssimo ensaio sobre ternura

A única coisa que eu te dei, nesse pouco tempo que foi longo ou longo tempo que foi pouco, foi ternura. E eu até entendo que ternura seja, de fato, algo de muito dolorido que toma as entranhas da gente e fica insuportável.

Mas é essa mesma ternura insuportável que faz com que a gente não se sinta completamente sozinho no mundo. Você me disse que precisava de alguém que cuidasse de você e eu (que sou essa maluca, alucinada e que adora ver gente precisando de cuidado porque sente que a própria sina na vida é ajudar) quis ser isto. Quis te por no colo, curar a febre, fazer compressa, passar colarinho, cuidar do almoço, dos pés, da coluna, das dores de cabeça, aplacar a raiva e o que mais de ruim tiver no mundo.

Essa semana, eu estive escorrendo. Eu estava tão cheia de mim que não cabia, aí me fiz em muco de gripe e escorri pra esvaziar um pouco. Às vezes, a gente precisa se escorrer pra suportar a existência.

Quem te suporta?

Eu fico pensando se você consegue lidar com qualquer coisa que mexa nessa sua intocável e magnífica solidão produtiva. Daqui a pouco, você fica velho. Não vai demorar muito, não.

Daí tudo o que você vai querer vai ser um pouco de ternura. E vai ser triste, ficar sem ternura. Sem a dor que a ternura traz consigo. In su por tá vel.

domingo, novembro 06, 2011

ao contrário do pressuposto

Ele não é muito de elogios.

- Cabelo bonito. Olhos bonitos. Pele boa. Bonita, você.

Estranhei. Não sei porque fico. Caímos no chão.

Algum imã existe, não sei.

- Você quer tudo o que você demonstra?

Eu disse sim. Com a boca na dele, eu disse tanta coisa que eu nem sei direito o que ficou.

Eu disse que ia embora, mas a gente perdeu o controle. Ele me puxou sei lá pra onde, guardou meu brinco no bolso como se fosse um pedaço de mim. Disse que gosta.

Temos medo de nos apaixonarmos um pelo outro.

Não somos nem parecidos. Nada em comum.

Ele tem gosto de folha na boca e eu uso terno. Ternos os braços que ele tem, a textura da pele, as pintas, o crucifixo.

- Bom te ver, eu disse no fim. Por que você gosta de mim?

Ele disse que era a loucura de tudo e eu entendi que era eu mesma, não reflexo, nada. Eu gosto de volta. Irracional.