Quando vem, a mão é lógica. Óbvia óbvia. Parece talvez algodão. Parece que o lugar é mesmo a pelanca atrás da cintura. Parece que pode. Parece que é de casa. Parece que é mão e que é parte e que é dele e que é mais meu ainda.
Consciência de corpo parece que só existe quando existe aquela mão. Toca, assim, tão natural como se fosse língua.
Então ele inventou meu corpo quando apareceu pela primeira vez. E cada pedacinho de unha só existiu depois de fincar a pele branca e lisa, quase sem pelos. E o sovaco também nem tinha cheiro. E os dentes se fizeram mais fortes.
E eu existi. Existi tão inteira em espasmos. Existente. Desistente.
Quando vem, a mão não erra. Dança, vacila, escorre, encosta, se fixa, passeia, volta, mora.
Ah se morasse mão aqui e a gente misturasse um no outro as peles, as mucosas e todas as gotas de saliva!
Vem a mão e eu fico querendo bater no liquidificador.
quinta-feira, setembro 16, 2010
sábado, agosto 28, 2010
Todas as cartas de amor são ridículas
Te reconheço pelos títulos. De longe. Você que não usa perfume, que zomba dos outros, que rima, esquece?
Existem vírgulas certas que parecem erradas. Valas. Pontuações muito distantes da fala que é sem pausas abstrata bêbada. Há vírgulas explicativas em orações restritivas. Inexistentes.
Já não posso correr, já não posso ligar. Dormir já não posso.
Te reconheço pelos verbos empregados. As cordas de aço do violão.
Está sem destino?
Está sem carinho?
Está sem mulher?
Existem vírgulas certas que parecem erradas. Valas. Pontuações muito distantes da fala que é sem pausas abstrata bêbada. Há vírgulas explicativas em orações restritivas. Inexistentes.
Já não posso correr, já não posso ligar. Dormir já não posso.
Te reconheço pelos verbos empregados. As cordas de aço do violão.
Está sem destino?
Está sem carinho?
Está sem mulher?
sábado, agosto 21, 2010
quiz
Os dados jogados pro alto. Pergunto de novo:
- Do you believe in love?
Os grilos continuam coachando e nós botamos os sapos pra fora.
quem disse que não podia?
No fim da história, seguimos juntos e o arco-íris fica pintado sem que a gente passe por ele. Sempre chuva. Sempre sol.
Leão é signo de fogo. Áries é meu ascendente. Fogo também.
- Do you believe?
Nem eu preciso botar cartas na mesa, nem você. Por certo temos canastras inteiras na mão. Você não abaixa o jogo. Eu não faço questão do morto.
Se as cartas acabam, no bolo, como fica?
- Do you believe in love?
Os grilos continuam coachando e nós botamos os sapos pra fora.
quem disse que não podia?
No fim da história, seguimos juntos e o arco-íris fica pintado sem que a gente passe por ele. Sempre chuva. Sempre sol.
Leão é signo de fogo. Áries é meu ascendente. Fogo também.
- Do you believe?
Nem eu preciso botar cartas na mesa, nem você. Por certo temos canastras inteiras na mão. Você não abaixa o jogo. Eu não faço questão do morto.
Se as cartas acabam, no bolo, como fica?
domingo, agosto 15, 2010
Janela sobre o mar
Cecília aqui diz estar caçando sua face em algum espelho. Eu, por outro lado, mantenho a mesma cara de sempre, mas não me pareço em nada comigo.
Algumas espinhas novas, fato. Alguma coisa mais recente na playlist.
Ruga mesmo, nenhuma.
Eu mesma, nenhuma.
Em algum momento desses, me deixei de lado e botei outra coisa no lugar, focadíssima numa coisa só. Eu que sempre mil agora elemento utilitário. Máquina.
Descobri há pouco. Não sei mais contar histórias pra criança.
Heitor disse que a última foi muito curta e que a anterior nem era história. Eu, de insensível, fui embora querendo só dormir.
Cecília caçando o rosto, eu caçando as letras.
O mundo, mesmo, nem aí.
Algumas espinhas novas, fato. Alguma coisa mais recente na playlist.
Ruga mesmo, nenhuma.
Eu mesma, nenhuma.
Em algum momento desses, me deixei de lado e botei outra coisa no lugar, focadíssima numa coisa só. Eu que sempre mil agora elemento utilitário. Máquina.
Descobri há pouco. Não sei mais contar histórias pra criança.
Heitor disse que a última foi muito curta e que a anterior nem era história. Eu, de insensível, fui embora querendo só dormir.
Cecília caçando o rosto, eu caçando as letras.
O mundo, mesmo, nem aí.
terça-feira, agosto 10, 2010
Amarelinha
Ele disse assim: não tem paixão, a gente só precisa fazer coisas legais, como andar de patins, bicicleta e pular pedra. Eu gosto dela, ela gosta de mim. A gente não vai casar, mas faz companhia um pro outro. E cafuné.
Aí veio aquele lá que disse que na verdade a gente precisa mesmo não esquecer de viver conto de fadas. Veio um outro querendo fazer tudo intenso e descartável, tipo fogo e vela e tal.
Mas não tem como ser simples assim quando a gente é menina, teve caderno rosa e cresceu vendo filme da Disney e comédia romântica. Não. As mulheres e as crianças não querem afundar navio nem quando é de papel.
E se não veio ainda a parte mais bonita, a gente acha que vai achar lápis de cor e pintar tudo conforme a nossa vontade e o nosso gosto. Porque, na verdade, a disposição dos móveis é coisa de escolha feminina. Menos televisão. Televisão depende do lugar do cabo.
A madrasta disse que é tudo muito jogo, mas que a presa tem que saber se posicionar.
Eu mesma não quero nada de estratégia.
Só cafuné.
Aí veio aquele lá que disse que na verdade a gente precisa mesmo não esquecer de viver conto de fadas. Veio um outro querendo fazer tudo intenso e descartável, tipo fogo e vela e tal.
Mas não tem como ser simples assim quando a gente é menina, teve caderno rosa e cresceu vendo filme da Disney e comédia romântica. Não. As mulheres e as crianças não querem afundar navio nem quando é de papel.
E se não veio ainda a parte mais bonita, a gente acha que vai achar lápis de cor e pintar tudo conforme a nossa vontade e o nosso gosto. Porque, na verdade, a disposição dos móveis é coisa de escolha feminina. Menos televisão. Televisão depende do lugar do cabo.
A madrasta disse que é tudo muito jogo, mas que a presa tem que saber se posicionar.
Eu mesma não quero nada de estratégia.
Só cafuné.
sábado, agosto 07, 2010
Love?
- Do you believe in love?
Não contei, mas o útero dói de cólica. Garganta tem sido elemento quase inútil. O esôfago parece que tem bola de ar.
Amanhã você me bota no colo e conta uma história bonita. Aprende a fazer carinho na cabeça. Me abraça.
Sinto todas as coisas no corpo e não queria assim. Queria que ontem não tivesse acontecido e que as palavras valessem qualquer coisa.
Que você tivesse mais peso do que as moedas no meu bolso. Talvez, se houvesse um pouco menos de uísque com Shakespeare, as coisas incomodassem menos e fossem menos cômicas ao mesmo tempo.
Nunca quis tanta distância. Colo.
Amanhã te vomito.
- Do you believe?
Love?
Não contei, mas o útero dói de cólica. Garganta tem sido elemento quase inútil. O esôfago parece que tem bola de ar.
Amanhã você me bota no colo e conta uma história bonita. Aprende a fazer carinho na cabeça. Me abraça.
Sinto todas as coisas no corpo e não queria assim. Queria que ontem não tivesse acontecido e que as palavras valessem qualquer coisa.
Que você tivesse mais peso do que as moedas no meu bolso. Talvez, se houvesse um pouco menos de uísque com Shakespeare, as coisas incomodassem menos e fossem menos cômicas ao mesmo tempo.
Nunca quis tanta distância. Colo.
Amanhã te vomito.
- Do you believe?
Love?
domingo, agosto 01, 2010
something about the way
Direto sem nem ver pontuação. Corpo ficando flácido, caído, mole. Perdi talvez ontem a capacidade de arremesso. Não faço mais tanto samba. Choro.
Bossa nova eu você rock'n roll.
70 nossa juventude aparente.
Sinto muita falta de acentos diferenciais.
Ontem eu não vi você.
Busquei em outras tardes muitos carnavais. Te quis muito perto. Quiz.
- do you believe in little prince?
Brinca de roda comigo amanhã? A gente sai gritando alto, cantando, fica tendo algum tempo de sonhar e tira folga do trabalho.
Posso te ensinar a pular elástico e corda. Aguento mais de 100.
Agora eu era cibernética.
Você conserta as crases. Eu de egocêntrica conserto o mundo. Agora eu era grande.
Aí veio o moço com a guitarra e tocou que we all come out to montreux. Aí a gente riu um monte.
Te dou um saco de risadas e você me arruma uma mola. Daí eu posso ver televisão e você tem um jeito de ter sempre alguém pra rir daquelas piadas de pintinho.
Depois a gente toca hardcore. punk rock. Samba.
Amanhã eu prometo que vou dormir.
Bossa nova eu você rock'n roll.
70 nossa juventude aparente.
Sinto muita falta de acentos diferenciais.
Ontem eu não vi você.
Busquei em outras tardes muitos carnavais. Te quis muito perto. Quiz.
- do you believe in little prince?
Brinca de roda comigo amanhã? A gente sai gritando alto, cantando, fica tendo algum tempo de sonhar e tira folga do trabalho.
Posso te ensinar a pular elástico e corda. Aguento mais de 100.
Agora eu era cibernética.
Você conserta as crases. Eu de egocêntrica conserto o mundo. Agora eu era grande.
Aí veio o moço com a guitarra e tocou que we all come out to montreux. Aí a gente riu um monte.
Te dou um saco de risadas e você me arruma uma mola. Daí eu posso ver televisão e você tem um jeito de ter sempre alguém pra rir daquelas piadas de pintinho.
Depois a gente toca hardcore. punk rock. Samba.
Amanhã eu prometo que vou dormir.
terça-feira, julho 27, 2010
Pernas eletrônicas
Cortou o cabelo e a barba cresceu como se fosse ciência exata. Estive ontem em outras promessas. Esteve semana passada num país mais tropical. Juntos não, nunca. Espelho e reflexo não são uma coisa só.
Estive sem volume, fria, fraca. Ele nunca constante. Gastrite talvez antes do ataque. Queria que fosse coisa fixa de barba espessa.
Mordeu a boca com a força precisa de quem tem muita fome. Tocou as pernas como se não fossem escuras e pudessem ter sido feitas de porcelana. Deteve-se em dedos de pés. Descobriu que a ciência é toda fora das orelhas e perguntou se tinha cotonete.
Não quis rotina, claro. Nem fez promessas.
Cuidou do sono e deteve as lágrimas. Deu uma dessas chaves de pescoço para que eu fechasse os olhos por algumas horas. Falou de madrugada e ficou dono do meu sono, do corpo e do volume da voz.
Tem dedos grandes, largos.
Distância precisa. Exata.
Não há nenhuma mentira por dizer.
Estive sem volume, fria, fraca. Ele nunca constante. Gastrite talvez antes do ataque. Queria que fosse coisa fixa de barba espessa.
Mordeu a boca com a força precisa de quem tem muita fome. Tocou as pernas como se não fossem escuras e pudessem ter sido feitas de porcelana. Deteve-se em dedos de pés. Descobriu que a ciência é toda fora das orelhas e perguntou se tinha cotonete.
Não quis rotina, claro. Nem fez promessas.
Cuidou do sono e deteve as lágrimas. Deu uma dessas chaves de pescoço para que eu fechasse os olhos por algumas horas. Falou de madrugada e ficou dono do meu sono, do corpo e do volume da voz.
Tem dedos grandes, largos.
Distância precisa. Exata.
Não há nenhuma mentira por dizer.
sexta-feira, julho 23, 2010
Primavera
Tô te achando tão bonito longe de boca fina assim sorriso largo. Pensei talvez em entrar dentro que nem fio dental. aí quem sabe se fosse mais constante talvez não tivesse assim tanta graça.
Fiquei cheinha de atenuantes e caçando conectivos mas não tem nada demais além de boca, você sabe. Quando tem pele assim que nem naquele outro dia, a gente fica muito sorriso.
Fica o mundo todo muito bonito.
Fiquei cheinha de atenuantes e caçando conectivos mas não tem nada demais além de boca, você sabe. Quando tem pele assim que nem naquele outro dia, a gente fica muito sorriso.
Fica o mundo todo muito bonito.
quinta-feira, julho 22, 2010
Romance
Fiquei sozinha ouvindo você cantar. Gritava nos meus ouvidos aquela história toda e muitas tramas rocambolescas de vida e ficção misturadas como se tudo fosse uma coisa só. Em certo ponto, não sabia mais o que era inventado, o que existia no mundo real ou se a verdade é mesmo uma moeda gasta e quase sem valor.
Quis aconchego que não tive cedo ou tarde. Quis travesseiro de peito, e ossos seus e meus se batendo. Quis entender até que ponto vai a equalização e os ruídos de uma música sem razão.
Quis nenhuma razão.
Quis gritar com a solidão.
Quis dançar à dois como quem beija.
Fiquei em pares ouvindo você chorar. Quis ser mais velha e engolir todas as dores como um pacman. Quis brinquedos novos e gritei com força sem nem abrir a boca.
Ninguém tem nada para entender, nem eu.
Vontade de ser mãe do mundo e transformar gente em ursinho de pelúcia – sem eliminar com isso os ossos (do ofício).
Quis aconchego que não tive cedo ou tarde. Quis travesseiro de peito, e ossos seus e meus se batendo. Quis entender até que ponto vai a equalização e os ruídos de uma música sem razão.
Quis nenhuma razão.
Quis gritar com a solidão.
Quis dançar à dois como quem beija.
Fiquei em pares ouvindo você chorar. Quis ser mais velha e engolir todas as dores como um pacman. Quis brinquedos novos e gritei com força sem nem abrir a boca.
Ninguém tem nada para entender, nem eu.
Vontade de ser mãe do mundo e transformar gente em ursinho de pelúcia – sem eliminar com isso os ossos (do ofício).
terça-feira, julho 20, 2010
Sem noite
É que eu tenho corpo, verbo, vírgulas. Sangue também talvez muito. E sombras. Talvez um ontem a mais faça textos automáticos e talvez as coisas todas sejam muito palavra. E de ser palavra, fica tudo forte, fixo, carne.
Palavra carne eu quase nada. Resto das outras coisas que eu não fiz e sintaxes inventadas.
Busca.
Obsessões por minuto.
Tanto ombro que parece que mais nada.
É que eu tenho crases em mim, conjunções diversas adverbiais, verbais, adjetivíssimas.
Já comentei o quanto gosto de superlativos?
Palavra carne eu quase nada. Resto das outras coisas que eu não fiz e sintaxes inventadas.
Busca.
Obsessões por minuto.
Tanto ombro que parece que mais nada.
É que eu tenho crases em mim, conjunções diversas adverbiais, verbais, adjetivíssimas.
Já comentei o quanto gosto de superlativos?
quinta-feira, julho 15, 2010
Extrema
Morreu agora, na minha frente. Sem sequer segurar a minha mão, morreu e não deixou nenhum cigarro que me ajudasse a entender.
Morreu morrida, inevitável, tácita - como quem morre mesmo. Como quando não tem jeito. Como até se a morte fosse coisa que fosse certa quando se fala de vida. Nem nunca conheci nada a respeito dela e da família e dos amigos. Não sei se era boa gente ou se fazia diferença no mundo.
Morreu e trataram de por no jornal a foto mais bonita que ela tinha. A boca toda vermelha de batom e uma sensualidade que não vai nunca mais fazer a menor diferença num plano que não seja onírico. Morreu e fica sendo um pedaço ilustrativo de classificados.
Como celebração. Como se fosse bonito morrer. Como se morrer fosse o fim.
Doeu
em mim.
Morreu morrida, inevitável, tácita - como quem morre mesmo. Como quando não tem jeito. Como até se a morte fosse coisa que fosse certa quando se fala de vida. Nem nunca conheci nada a respeito dela e da família e dos amigos. Não sei se era boa gente ou se fazia diferença no mundo.
Morreu e trataram de por no jornal a foto mais bonita que ela tinha. A boca toda vermelha de batom e uma sensualidade que não vai nunca mais fazer a menor diferença num plano que não seja onírico. Morreu e fica sendo um pedaço ilustrativo de classificados.
Como celebração. Como se fosse bonito morrer. Como se morrer fosse o fim.
Doeu
em mim.
segunda-feira, julho 12, 2010
heterontem
Se ela volta de outras épocas escandalizantes, espero que traga absinto. Disse que não bebemos ainda o suficiente e que talvez não tenhamos paladar para o tal anis. Conheci antes de tudo e de todos e dos sexos aqueles drops.
Tive um tanto bom de alucinógenos contínuos embaralhados com letras e remédios controlados.
Descontrolado.
Fico sendo um pouco sido agora.
Um passado imperfeito quem sabe futuro do presente do pretérito e as conjunções verbais amontoadas todas com vinho.
Não precisa hoje fazer qualquer sentido; mas se ela volta, que traga éter.
Que seja heter
Tive um tanto bom de alucinógenos contínuos embaralhados com letras e remédios controlados.
Descontrolado.
Fico sendo um pouco sido agora.
Um passado imperfeito quem sabe futuro do presente do pretérito e as conjunções verbais amontoadas todas com vinho.
Não precisa hoje fazer qualquer sentido; mas se ela volta, que traga éter.
Que seja heter
domingo, julho 11, 2010
Contágio
Definitivamente: fui feita para e por contágios. Sou dessas que se derretem e buscam buscam inteirce. E mesmo o vazio, quando vem, eu quero inteiro.
Principalmente, tenho medo de solidão dessas fatais. Solidão, no fim, seria voltar ao barro que me fez mais gente.
Mas eu não quero regresso. Eu quero amparo. Contágios.
Principalmente, tenho medo de solidão dessas fatais. Solidão, no fim, seria voltar ao barro que me fez mais gente.
Mas eu não quero regresso. Eu quero amparo. Contágios.
sexta-feira, julho 09, 2010
Me desculpe, mas eu sou mulher
à Natasha Siviero
Eu até sou bonita. Mas infelizmente eu sou primeiro intelectual - uma espécie de protótipo disso, eu mesma diria. Devo reconhecer, entretanto, que é muito difícil conviver com uma mulher que lê. Gaston (aquele do desenho da Disney) mesmo já disse que uma mulher não devia ler, se não começa a ter idéias.
Desculpem as feministas, mas ter idéias não é coisa de mulher. E eu, infelizmente, sou dessas pessoas cheíssismas de idéias grandes por minuto. Então não é estranho que logo ela diga que não me imagina mãe.
Achava, antes, que ninguém nunca conseguiria me ofender. Mas ela conseguiu, no fundo do peito, como se tivesse uma agulha grande. Disse só “não te imagino mãe”.
Me desculpem os leitores, mas eu sou mulher. Tenho sim essa falha de caráter que é gostar de escrever mais do que de todas as outras coisas da vida. E o pior, gosto de ler e gosto muito de saber todas as coisas que eu mesma não imagino que existam.
Descobri - penosamente -, não devia ser assim. Assim não posso fabricar menino no ventre pra depois querer engolir de volta ou não entregar para o mundo ou todas essas coisas de mãe. Não posso pedir a meu filho que não saia sem casaco, nem posso dar colo.
É que nessas escolhas da vida, me fiz dura. Sou dessas que trabalham.
Mãe deve ser outra coisa.
terça-feira, julho 06, 2010
Garganta
Acordou com aquela imagem grande de olhos enormes num rosto pontudo. Olhos ainda maiores que os seus. Queixo nem tão grande, mas as pontas todas ali. As pontas do rosto que pareciam definitivas, fatais.
E vazio.
Faltava um nariz aberto que desintegrasse toda a força das pontas. Talvez também algum criado mudo no qual se segurar.
Cobertores muitos. E muito vazio.
Pensou no grau daquela coisa toda. No grau da falta de preenchimento e pensou que não cabia em si.
O grau das coisas tornava tudo maior. Do tamanho do rosto do sonho. Do tamanho da vida cotidiana. Do tamanho da falta de vazio. Do tamanho até do vazio.
O rosto de novo na cabeça. Pontudo. Bonito.
Olhos.
O que fica é o não-estar.
E vazio.
Faltava um nariz aberto que desintegrasse toda a força das pontas. Talvez também algum criado mudo no qual se segurar.
Cobertores muitos. E muito vazio.
Pensou no grau daquela coisa toda. No grau da falta de preenchimento e pensou que não cabia em si.
O grau das coisas tornava tudo maior. Do tamanho do rosto do sonho. Do tamanho da vida cotidiana. Do tamanho da falta de vazio. Do tamanho até do vazio.
O rosto de novo na cabeça. Pontudo. Bonito.
Olhos.
O que fica é o não-estar.
domingo, julho 04, 2010
O mito
Então ele trancou a porta, virou e me puxou pelos cabelos. Língua e língua e bocas e eu desci a escada totalmente trêmula. Bêbada de beijo. Sem controle nenhum das pernas.
Completamente cheia. Surpresa. Pele.
Completamente emoção.
Completamente cheia. Surpresa. Pele.
Completamente emoção.
quarta-feira, junho 30, 2010
The wonderful wizard of Oz
Um pouco mais de música. Só. Pra dar ritmo ao jeito de andar pela rua. Havia um tempo em que eu automaticamente ouvia pretty woman e caminhava de acordo. Todo aquele balanço baiano moldando os quadris e um charme meio forçado de filmes.
Você não sabe, mas eu parei de morar naquele musical de outros tempos – em que sempre morei (tudo sempre foi música). O tempo inteiro músicas que não sei se me moldavam ou se era eu quem moldava as notas.
Agora um tanto de sorrisos falsos. e faltas. Um tanto grande de dissimulação e treino constante para olhos de ressaca. Não sei onde andam meus muros, mas mesmo antes do musical estava lá escrito Bento Capitolina.
Nada foi invenção minha. Tudo antes tinha sido escrito e há poemas certos para cada cena. Não é mais musical. É clássico. E se fosse filme mesmo ganharíamos o Oscar. Trilha sonora principalmente.
Eu estou naquela estrada de tijolos amarelos e gostaria talvez de um espantalho com cérebro feito todo de fé. Razão muito bem treinada e talvez não aquela ternura do homem de lata.
Um pouco mais de música e seguimos saltando os padrões das calçadas. Talvez talvez estejamos de verdade mais em circo do que em filme.
Você não sabe, mas eu parei de morar naquele musical de outros tempos – em que sempre morei (tudo sempre foi música). O tempo inteiro músicas que não sei se me moldavam ou se era eu quem moldava as notas.
Agora um tanto de sorrisos falsos. e faltas. Um tanto grande de dissimulação e treino constante para olhos de ressaca. Não sei onde andam meus muros, mas mesmo antes do musical estava lá escrito Bento Capitolina.
Nada foi invenção minha. Tudo antes tinha sido escrito e há poemas certos para cada cena. Não é mais musical. É clássico. E se fosse filme mesmo ganharíamos o Oscar. Trilha sonora principalmente.
Eu estou naquela estrada de tijolos amarelos e gostaria talvez de um espantalho com cérebro feito todo de fé. Razão muito bem treinada e talvez não aquela ternura do homem de lata.
Um pouco mais de música e seguimos saltando os padrões das calçadas. Talvez talvez estejamos de verdade mais em circo do que em filme.
sexta-feira, junho 25, 2010
Das moças da janela
Dizem que as moças ficavam na janela, vendo navios, para esperar os maridos voltarem das guerras, ou das navegações. Para ver se um navio daqueles lhes trazia de volta o homem que nenhuma queria que o mar engolisse.
Depois passaram os navios e inventaram os aviões. As moças começaram a ir também para a guerra. Queimaram até sutiã. Até criaram as próprias brigas e tomaram a tal da pílula.
E depois inventaram o silicone e as plásticas pra ninguém mais reclamar a falta da cara e do corpo da Barbie.
E o Index Librorium Proibitorium parou de valer para quase todo mundo no ocidente. E também mandaram aquela cachorrinha para o espaço e a bandeira americana balançou lá na lua.
Inventaram jeito até de andar no mar e também o GPS pra ninguém ficar perdido.
Eu gosto de bússola. Acho muito bonito que ela sempre aponte para o norte. E gosto das constelações guiando os navios como antes de tudo. Gosto até que o tempo tenha passado.
Mas as moças, com seus machos, mesmo fortes quando sozinhas, continuam a ver os navios da espera que alimentam o desejo constante – apontado pra outro peito como bússola e sem nem precisar olhar estrelas pra saber o caminho.
Depois passaram os navios e inventaram os aviões. As moças começaram a ir também para a guerra. Queimaram até sutiã. Até criaram as próprias brigas e tomaram a tal da pílula.
E depois inventaram o silicone e as plásticas pra ninguém mais reclamar a falta da cara e do corpo da Barbie.
E o Index Librorium Proibitorium parou de valer para quase todo mundo no ocidente. E também mandaram aquela cachorrinha para o espaço e a bandeira americana balançou lá na lua.
Inventaram jeito até de andar no mar e também o GPS pra ninguém ficar perdido.
Eu gosto de bússola. Acho muito bonito que ela sempre aponte para o norte. E gosto das constelações guiando os navios como antes de tudo. Gosto até que o tempo tenha passado.
Mas as moças, com seus machos, mesmo fortes quando sozinhas, continuam a ver os navios da espera que alimentam o desejo constante – apontado pra outro peito como bússola e sem nem precisar olhar estrelas pra saber o caminho.
segunda-feira, junho 21, 2010
Fóssil remexido de caso de mãos
Mandei pra ele um texto grande falando todo de amor. Ele mesmo é muito grande. Muito forte. Muito acima de qualquer amor que seja meu.
Antes fosse apenas isso. É esperto a ponto de eu não conseguir enganá-lo, mesmo sendo mulher.
Ele leu tudo. Diz que gosta bastante de ler as coisas tortas que eu escrevo.
Depois ele perguntou se o texto tinha sido escrito apenas para um leitor – ele-leitor. Eu menti que não. Era um texto que falava sim de um homem de nariz bonito e mãos precisas, mas falava de muitas outras coisas.
Então eu disse que era texto velho, escrito há tempos e que não era autobiográfico. Confessei que o nariz era dele. Apenas.
Riu.
- As mãos não?
Antes fosse apenas isso. É esperto a ponto de eu não conseguir enganá-lo, mesmo sendo mulher.
Ele leu tudo. Diz que gosta bastante de ler as coisas tortas que eu escrevo.
Depois ele perguntou se o texto tinha sido escrito apenas para um leitor – ele-leitor. Eu menti que não. Era um texto que falava sim de um homem de nariz bonito e mãos precisas, mas falava de muitas outras coisas.
Então eu disse que era texto velho, escrito há tempos e que não era autobiográfico. Confessei que o nariz era dele. Apenas.
Riu.
- As mãos não?
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