quinta-feira, abril 15, 2010

Hoje não tem revisão

Se você quer saber, hoje eu nem vou escrever nada no word. Decidi, boba e imatura, que vou ser sincera de uma vez por todas. Disseram que a gente não pode muito falar de escrita, o leitor acha chato e a angústia é só minha. Que se exploda!
Não quero agradar ninguém.
Não vem, também, agora dizer que está acostumado com doçura e reclamação ou outra coisa, pois este post foi pensado metalinguístico no meio de um cigarro no meio da tarde quando eu não devia estar fumando e muito menos pensando em blog.
É que a cabeça da gente não tem freio e a gente acaba pensando fora de hora em coisas óbvias. Pois hoje eu preciso confessar que eu minto todos os dias e que a primeira pessoa é uma fuga muito segura. E que as verdades a gente inventa personagens pra dizer. E que muitas vezes nem é nada disso.
Aquele cara bigodudo falou há um tempão que a verdade é uma moeda gasta, quase sem valor.

Acho muito justo dividir a angústia do dia, que nem é tão grande e nem é tão grave. Porque você não sabe, mas eu aguento tudo e tanto que ser Atlas já nem tem mais graça.
Então eu vou especificar que não sei até que ponto eu estou certa de estar sendo assim tão mercenária.
Tenho cometido falha grave, vendido textos.
Pequei.
Venho pecado há 6 anos, quase 7.
Fui corrompida ainda em 2003 por uma caixa de bombons que nunca veio. Vendo textos desde então, um atrás do outro, com ou sem assinatura, com ou sem estilo, com ou sem paixão.
E hoje, no meio do cigarro, me senti culpadíssima e agora estou debochando. Na verdade(ainda sinônimo de moeda gasta e sem valor), eu não sei por que me sinto assim culpada em ganhar uns trocados.
Nunca fui comunista nem nada (embora meu pai jure que sim e me envie e-mails dizendo nas entrelinhas que eu não devia sê-lo). Sempre estive muito dentro dos padrões pagando de maluca. Na quinta série diziam até que eu era cdf - coisa essa que eu não entendia, já que as minhas notas nem eram lá essas coisas. Só mais tarde eu me toquei de que a culpa era do par de óculos de aro grosso e das lentes muito fundas coroando a má postura e a magreza.
Mas é que hoje pareceu meio crime corromper o sagrado trocando dinheiro por letras que deviam ser moldadas em saliva, corpo e paixão. Nada de dissimular, inventar, medir...
E acrise vai até continuar e o sagrado vai permanecer sagrado se assim o for, mas eu precisava encher este quadro de edição com palavras impensadas enquanto pensava mesmo em mim.

quarta-feira, abril 14, 2010

Mariana XXXVIII - Segunda temporada

Quero parar de falar de Mariana,
Mas os meus pulsos frágeis
sequer dóem quando é sobre ela que escrevo
Sendo personagem, Mariana não devia
deixar tanta angústia
na cabeça de sua autora

Disse que saiu farejando o cachorro,
flertando com o cara de quem ela não gosta,
e querendo não se envolver.
Para completar,
recebeu uma carta do bicho papão.
“Você ainda guarda mágoa de mim?”
E respondeu:
“Não. Só não te quero perto.”
E ele:
“Se não quer perto, é porque há mágoa”
E ela escreveu outra carta, que entregou apenas para mim:

“Bicho Papão,
Quando eu te matei não foi por mal, nem foi físico.
É que eu não agüentei vê-lo beijando a minha irmã, a minha prima e aquela outra Camila.
Depois também teve a cena de você com aquela atriz fazendo tanta verdade no sexo (que você quis que eu cresse) cênico...
Não sei entender teatro.
É que eu engoli todos os sapos sem nunca ter comido nem perna de rã.
E eu te falei que estava com ânsia de vômito, mas você não saía da minha frente! Falou que sem mim ia encher a cara de maconha.
Tanto discurso!
Detesto palavras bonitas, Bicho Papão. Foi um tiro. Só pra nunca mais as minhas mãos tremerem.”

domingo, abril 11, 2010

Alice

Passou a páscoa e não nos vimos. Me vesti com as palavras mais bonitas e me perfumei com doçura. Fiquei até feminina demais. Passei maquiagem e esqueci que a minha onda sempre foi meio intelectual.
Caí na besteira de querer dizer logo que eu sou meiga, achando que você agüentaria. Mas eu devia ter ido na de sempre. Jogos sem beicinho. Sinceridade aparente. Tapas. Bando de frases rasgadas e muita briga. Xingamentos. Devia ter ofendido cada uma de suas gerações.
Nesse corpo aqui não mora princesa nenhuma. Mora um bicho agressivo que vive de garras à mostra. Mas depois daquele outro ter dito eu-te-amo, o bicho amoleceu e eu fiquei menina. Mole mole, receptiva até com a carência. Achando mesmo que os contos de fada estão aí pra ser vividos.
Foi bom você aparecer assim, de verde. Dizer que não me obedece nem nada. Mostrar que meiguice nenhuma vale e que o feminino é forte. Que o feminino existe mesmo quando a gente pula aqueles muros que os fortões têm medo, mas que ele não era aquela coisa morna que eu tinha pensado antes quando estava crendo em contos de fada.

sábado, abril 10, 2010

Mais um pouco de raiva

Eu te esperei de besta porque eu sabia que daí não vinha nada. Eu disse mais besta ainda que você é um idiota e você veio dizer que eu me vitimizei dizendo que sou inocente. Mas você não entende que a inocência vem da crença em coisas dando certo e a importância de um beijo de adeus. Você não entende nada com esse romantismo avesso da praticidade.
E você é literal demais pra esse tanto de ternura. Acha que é tudo disputa de poder e não admite sentimento. Não admite qualquer folga. E não me admite. Sai pisando nos astros distraído, sem saber que a aventura dessa vida é sentimento puro que não se engole por que não se agüenta.
Não me agüenta e principalmente não sabe como me querer, mesmo sabendo que essa coisa pequena e gasta e feminina te atormenta mais que as outras coisas. E talvez por isso o medo. Talvez por falta de quem diga.
Você precisa ouvir só as piores partes. É pra poder ir embora com um mínimo de culpa e crença numa força minha que não existe.

quarta-feira, abril 07, 2010

Mariana XVII - Segunda temporada

A verdade é que o cachorro
não esperava nada.
E nem queria entender.
Mariana o tinha ferido sem saber
quando ainda usava a placa de "love for sale".
Ele disse que já a tinha visto

antes de placas.

Quando ela ainda estava ligada apenas ao homem que não adjetivava.
Quando ainda era óbvio.
Quando ela nem sabia que ele existia
Ele já via.
E essa ternura posta na mesa
foi um soco em Mariana
E lhe secou o pulmão.
Sem respirar, ela pensou no cachorro
como muito mais que um bicho.
Ficou tão sentida
Que quis que o italiano aparecesse
abriria até mão do não
que tinha feito só para ele.

Depois chorou.

segunda-feira, abril 05, 2010

O dos pássaros

Daqui a pouco eu começo com aquele tom de auto-ajuda de sempre (de quem acha que pode dar conselho sobre tudo). Mas não some ainda não, que eu vou sentir falta do seu cheiro.
As coisas não precisam pesar e talvez eu até arranque seus pêlos com as mãos para guardar numa caixinha.
Não quero mais saber de nenhum beijo em nenhuma boca vazia. Hoje a salada-mista só vale com eu e você. O resto do mundo é café com leite.
De um jeito ou de outro, eu não vou te amar. Não tenho medo dessas coisas não. Mas depois daquele outro ano, nenhuma coisa faz tanto sentido e eu acho que não consigo ficar de novo sem respirar. Eu sei que você também já entendeu como funcionam essas coisas de dor. E você também pôs fim com medo de morrer sufocado. Também teve medo do calor e chorou.
Também acha que um dia o tempo volta.
Mas você, como eu, preferiu voar.
Não sei agir depois de tanta entrega – só sei sumir.

sábado, abril 03, 2010

Se o príncipe me liga

Talvez ele me procure de novo - pelos livros, pelos discos, pelas fotos, pelos filmes. Por conta de uma palavra ou outra muito mal posta e daquele humor sarcástico e doce que eu apresento quando não quero mostrar a cara cheia de lama.
Mas ele não entende nada de pele e não conseguiu chegar nas minhas estruturas, nem nos problemas. E não tem a menor graça se não tem problema. Mas talvez ele queira mesmo aquela coisa morna que ofereci junto com os lábios para não ter que dizer não.
Ele não entende nada de contato e talvez não possa nunca segurar um furacão. Então talvez com ele eu passe a vida sendo humor doce e ácido e nada de mim mesma. Nada de me dissolver ou derreter ou sambar ou gritar ou dizer não.
Por que ele é doce e talvez mereça o céu inteiro para ele, junto com todos os abraços e os beijos lentos. Nunca um não. Talvez ele tenha sido feito em molde de livro infantil e eu não tenha sabido reconhecer ali o príncipe das histórias. Mas eu tenho certeza que ele tem um sapato de cristal escondido em algum bolso e que o número bate com o pé da mulher que ele quiser.
Não vão faltar sorrisos, mas talvez faltem mãos e flores e fluidos. Talvez ela não queira laço, como eu não quis. Mas se ele procurar de novo, eu não digo não. Não tenho medo nenhum de afogamento.

quarta-feira, março 31, 2010

Mariana XXXVI - segunda temporada

Mariana não podia mais olhar na cara do ombro
sem um tanto de raiva
um tanto de medo
e sem se perguntar por que não tinham funcionado.
Flertava com o cara de quem ela não gosta
E tentava entender a história toda
Como se houvesse princípio e fim
Como se não fosse tudo cabeça de Mariana numa bandeja de prata
E sangue.
Nem o flerte era natural.
Tinha raiva do italiano
E de si
Queria não entender tudo
chutar o balde
gritar
Tinha emoção lhe enchendo a boca
E tanto peso por tantos homens
que quis ser só
mesmo que ninguém tivesse ligado
depois da placa que ela deixou pelas ruas
oferecendo recompensa
para quem encontrasse seu não.
E, refletindo,
topou com o cachorro,
mas não abanou o rabo.
Pediu que ele entendesse que ela já não podia
Querer bem a ninguém.
Mesmo bichos de estimação.

domingo, março 28, 2010

Antes de ter falta

Vai dizer que é tudo a mesma coisa e que nenhum vício se justifica. Vai dizer que a pele é muito pouco para tanto e que essas coisas são vazias. Vai mandar que eu me cale e bater com chicote, forte, porque mulher não pode ter desejo se não tem filho no bucho. Depois ainda vai dizer que a coisa do piano é besteira e que nenhum sonho vale nada.
E vai mandar que eu me cale e vai me trancar no quarto, chorando. Vai esquecer todas as datas e vai sair de casa dizendo que não volta. E eu vou grudar nos seus pés e tentar sugar um resto de mel das orelhas. Vou arranhar suas coxas tentando fazer você ficar enquanto finjo que sou gato.
Você então vai cuspir no chão para não me cuspir na cara e vai me olhar dum jeito que fique claro que eu não sou mais que poeira. Então eu vou mergulhar em mim e sentir muita angústia. Vou cortar cebolas pra justificar o choro, mesmo pensando que não devia nunca chorar de amor. Vou deitar em concha pra tentar sentir braços em volta de mim, mesmo que meus.
E todas as noites eu vou procurar aquela colcha de pele que você fazia quando me imprensava num canto sem se preocupar com meu espaço e com a minha coluna. Depois, vou ficar amarga e parar de olhar para os lados.

Mas chorar?

Depois de acostumar com a falta eu não choro mais.

sexta-feira, março 26, 2010

clímax

O ápice é sempre sem beijo. Alguma coisa faz brotar ternura no peito, então paixão desembestada e crua. E só é forte e grande se por um momento parece que nada da carne importa, porque os olhos estão ali.
Tudo fica sendo coisa de mão, vontade de ouvir e de contato sem pretensões imediatas de orgasmo. Toque para abrir camadas, estreitar laços, fazer carinho, encharcar o peito de afeto.
Sempre parece que ternura eu não agüento. A parte que queima é muito mais fácil do que a parte que adoça e fecha a garganta.
E quando as coisas são doces e densas, parece que qualquer toque é puro e definitivo.

quinta-feira, março 25, 2010

Mariana XXXV - Segunda temporada

O meu telefone tocou.
- Aline, houve um terceiro Lucas.
E eu sabia o que significava isso:
Mariana começava a fugir do Italiano.
- Não sei por que me meto com esses homens
que tem nome próprio e letra maiúscula.
Jamais houve Lucas que significasse, Aline.
Esse mesmo parecia tão singelo
que eu saí correndo desembestada para não subir na moto que se tornaria cavalo branco.
Nenhum Lucas pode ser príncipe.
- E o Italiano?
- Sumiu de novo, na segunda vez. E eu só estava preparada para entender sumiço depois da terceira.
Então Mariana desligou seu telefone para que nenhum Lucas ligasse.
E foi procurar seu não de estimação
que continuava sumido.
Quando ela viu o Italiano pela terceira vez
E quis crer que seria para sempre.

segunda-feira, março 22, 2010

A Vacaí

Meti duas tranças no cabelo e fui ser criança na casa do meu pai. Eu e meus dois irmãos pequenos. Davi, que estava com febre e Heitor, que estava carente. Os dois montaram nas minhas pernas logo de cara para ouvir histórias.
Foi O menino maluquinho, a Chapéuzinho Amarelo, um começo de Pequeno Príncipe e depois o Homem-Aranha no youtube. Davi, mesmo com febre, era o mais agitado.
Minha madrasta insistiu que me deixassem estudar, mas eu nem ligava para os compromissos. Foi ficando tarde e os dois foram ver TV. Estudei pouco. Heitor disse que o Mister Maker era o máximo e eu fui conferir.
Cama de casal. Crianças. A TV ficou esquecida. Começamos a pular e a rir e os dois me fizeram de cavalo. Tentei ensiná-los a dançar macarena, mas a coordenação motora deles não passava de “tu cuerpo balança alegria e coisas buenas”.
Então, surge a madrasta – que é bicho estraga prazer – pra dizer que era hora de acalmar. Deitaram os dois e eu leria mais uma história. Nem bem comecei e eles levantaram da cama. Tentei continuar e eles pulavam.
A madrasta entrou no quarto.
- Heitor e Davi. A história que a Nini conta é igual a do papai. De ouvir deitado. Se não obedecer eu chamo a Vacaí.
- Quem é Vacaí? – perguntei e ela disse que depois contava.
Os dois dormiram e eu fui caçar a tal da Vacaí.
- Aline, é muito simples. Outro dia, Davi estava na beira da cama e seu pai gritou: vai cair! Vai cair! Vai cair! Davi achou que fosse um monstro, a Vacaí.

sexta-feira, março 19, 2010

Mariana XXXIV - segunda temporada

Quando Mariana começou a me contar, nem quis ouvir.
Mas ela estava tão radiante
Que nem pude botá-la no chão.
Minha amiga disse que os dois pensavam parecido
e que ela estava perdida,
mas que não se apaixonaria.
Ele já tinha explicado as regras do jogo.
Três encontros seguidos próximos no máximo
depois deviam ser ao menos três semanas sem se verem.
Assim, protegiam-se das armadilhas de um eventual envolvimento.
Me assustei com um acordo tão frio,
mas Mariana parecia satisfeita em crer
que podia não mais se envolver.
Sabia, até, que o italiano não valia nada
E por isso estaria em seus braços
sem nem querer saber onde se enfiou o não.

terça-feira, março 16, 2010

Sem drama

O tesão foi todo pelo ralo junto com aquele aviso de fim. Ficou vontade de abraço e carinho. A primeira ternura boa de sentir.
Dessa vez não dói.
Parece mesmo que apareceu alguém no mundo que entende o que se passa nessa cabeça de cá.
O contato que eu fico querendo é fresco. Básico.
Talvez haja pontadas de ciúmes na sala.
Jamais houve não que viesse em melhor hora.

É. Ainda não deu pra crer.

Estou com uma vontade danada de mandar flores ao delegado e de bater na porta da vizinha pra desejar bom dia, de beijar a tia do boteco da esquina. Por que hoje, apareceu no site da ufes que eu ganhei um prêmio.
E pode ser, sei lá, que seja engano.
Mas, enquanto não descobrem isso lá em cima, eu grito entendendo mais ou menos o que quer dizer felicidade clandestina. Dessas felicidades grandes que eu não sentia desde que eu passei no vestibular.
Veio de longe, mas é minha por que eu busquei.
Contei pra minha mãe e ela disse que eu devo ter puxado meu avô. É claro que ele escrevia bem à beça e que é muito injusta a sua falta de fama.
Mas, com todo o respeito, não puxei Anphilóphio de Oliveira não senhor. Ele escrevia soneto e eu me dou muito mal com versos.
Não vou dizer que não tenha tentado ou que não ache importante. Não tem outra forma de aprender ritmo que não seja contando a métrica.
E nem é falta de paciência ou aptidão para artesanato, mas a minha metáfora é fraca e eu não tenho talento pra palavras tão fortes em verso.
Meu lance é mesmo contação de histórias e volta e meia conversa.
Diálogos delirantes.
Meu lance é delírio e jogos de palavras. Brincadeirinhas verbais que se lêem aqui e lá e em cadernos soltos pela minha casa.
Um poema ou outro fica engasgado e desce sem querer, mas eu sou toda prosa.

sábado, março 13, 2010

Dos galhos e das safras

Chega a ser curioso quando, num conselho, suas amigas dizem que é melhor não se apaixonar. Decerto, parece uma decisão prudente e lógica. Principalmente se considerarmos toda a lama que as paixões inventam de fazer no cotidiano.
Se você não se apaixona, não se atrasa, não dorme em serviço, não sonha acordada, não chora de noite nem nada. Se não se apaixona, vai logo arrastando as coisas e nem se afeta.
Entretanto, nem parece ser possível decidir sobre isso. Se tem de ser paixão, as coisas te comem logo e a pele da gente fica diferente, o céu também, a cor da rua também. E tudo também.
As pupilas dilatam e muitas músicas resolvem sair da sua boca todas num mesmo minuto. Parece mesmo felicidade instantânea num começo de conversa.
E nesses começos, você nem pensa que quando acaba a gente se estrepa e abre feridas que podem não sarar nunca - ou sarar amanhã.
E quando sara a ferida de ontem, a gente pula pro galho de hoje e canta, e dá bom dia pra todo mundo, e beija pontas de narizes.
E sonha.
Fica nesse ciclo contínuo de coisas. Safras longas, safras curtas, período de descanso da terra.
É na entressafra que as amigas aparecem:
- Não, querida, não se apaixone agora.

quinta-feira, março 11, 2010

Mariana XXXIII - segunda temporada

Foi pouco depois que o italiano resolveu voltar à cena.
Quis logo Mariana de baixo para cima.
Acontece que o Não estava firme com ela
e Mariana resolveu utilizar-se da arte de esnobar.
Disse logo:
- Não combinamos.
E pensou nas pernas recentes do velho amigo.
Mas o Italiano era inteligentíssimo
e não deixaria Mariana escapar.
Ficou doce, próximo.
Fingiu até olhá-la de cima para baixo.
Então o Não foi ao banheiro
E Mariana sentiu o cheiro.
Caiu.

segunda-feira, março 08, 2010

On the road

Então é isso: acordo de cavalheiros. Não fico par nem ímpar, mas na corrente. Corremos por todos os lados. Contra Deus. Contra aqueles caras.
Eu entro com a faca e você entra com o corpo.
Eu uso as pernas, você usa os braços. Você bate enquanto eu uso mini-saia para distrair o guarda.
Acende o cigarro da moça e eu ajeito o batom.
Você não percebeu ainda o quanto somos bonitos com todo esse instinto assassino.
Seguimos a regra de três e pronto. Nada de embriaguez. Seremos absurdamente racionais, com nossas facas, nossas brigas, suas idéias.
Você entra de sola e eu entro de salto.
Acho que depois a gente entra em cana, mas nada...
Você masca o mundo feito chiclete e eu estouro as bolas.

sexta-feira, março 05, 2010

Os medos da Clarice

Carlos,
Eu sei que tenho até certo charme e que você gosta dessa proximidade. Mas não me deixe te estragar, por favor. Sou melhor observada que tocada.
Muito mais prudente não se misturar.
Não deixe que eu te adivinhe. Suma. Depois volte como se não fosse nada. Finja que dá importância para as minhas crises e não negue colo nunca.
Então finja que eu só falo besteira e deixe isso evidente.
Depois fique perto perto a ponto de eu achar que somos a mesma coisa. Então grite. Depois peça desculpas.
Só não me obedeça. Só não chegue perto demais.
Não quero que você vá embora.
A paranóia daqui é grande por que eu tenho medo bilateral.
Saudades,
Clarice

terça-feira, março 02, 2010

Mariana XXXII - Segunda temporada

Então o não deixou Mariana solta
quando ela resolveu ir ao dentista
Foi o tempo certo de fugir
para as pernas do velho amigo.
Vaziíssima, Mariana representava
como num palco
tentando ser discreta.
Eram dois corações desgastados
em seus próprios braços
um amontoado de gestos ensaiados,
pernas misturadas,
dança,
Nenhuma mísera lasca de esperança.
- Não vai ter paixão, velho amigo. - ela disse.
- Conheço bem as peças do meu xadrêz. Seremos frios. - ele bradou durante um cafuné.
E Mariana se traiu.
- Se isso é um jogo, combinemos de não sacrificar a dama.

Mas Mariana largou a representação de lado e fez-se dura.
Despediram-se como se nunca mais fossem ver-se.
E ela voltou a dar o braço ao não depois de ter o dente obturado.