terça-feira, fevereiro 03, 2009

Depois

Andou desprendendo os fluidos do próprio corpo. Como se derretesse. Tinha um certo sorriso e um certo destempero. Andava como quem se perde. Desmancha.
Era tudo um acúmulo de coisas não ditas e de palavras ouvidas fora dos horários. Devia haver peles de outras pessoas grudadas em camadas suas.
Sentia-se feita de areia e tinha muito medo de não conseguir continuar.
Pararia.
Devia ficar quieta por um bom tempo.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

(Í) caro.

Acordei com asas de cera e um sol assim tão quente que quase não levantei. Tinha medo de todas as coisas com asas.
Inclusive paixão.
Acordei caindo. Estava meio morta e meio viva. As asas não me deixam andar normalmente. Ficam pesando e regulando coisas.
Aliás, devem ter sido elas as responsáveis pela minha dor nas pernas.
Acordei meio sem conectivos e avessa. Não me sinto assim muito normal sendo tão Ícaro.
Vou ficar repetindo palavras e me escondendo do sol.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Só de sacanagem (ou Pra você se achar sem se procurar muito)

Alguma coisa ficou grudada nos meus cantos. Na raiz dos cabelos e dos pelos (agora sem acento) e na boca e nos dedos.
Ficaram restos, pedaços, gostos.
Eu não quero sentir cheiro de nada. Nem gosto. Textura muito menos. Eu não quero pelos e não quero dedos pelos meus cabelos.
Eu não quero vento, eu não quero acento. Nem risadas sem horários e manchas vermelhas de barba no pescoço. Não quero pescoço roxo, nem marcas rasas de mãos, nem falhas.
Ficaram pedaços.
Ficaram pedaços.
Fiquei aos pedaços.
Desencontrada, descabelada e longe.
Fiquei faltando


Nem tudo é sobre você – é preciso manter a pose, o porte e principalmente a distância.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Epístola muito cruel

janis joplin - Piece Of My Heart

Donatela,

Toda a vez é a mesma coisa. Eu funciono como um copo com gotinhas que enchem e transbordam. Você, mais do que ninguém, devia saber disso desde sempre. O copo tinha um bocado de açúcar no começo - pra tudo ser doce com bolos e batatas fritas.
Acontece que eu acabo ficando quieta e não falando das pequenas gotas. Aí o copo vai ficando cheio e já são gotas inumeráveis.
Com alguma sorte, ele fura e você vaza. As gotas não enchem nada. Acontece que meu copo é duro, grosso, seco e forte. Copo multicolorido não necessariamente significa não-transbordante.
Ele avisou que copos são mesmo muito inconvenientes quando transbordam.
Sorry, mas com duas gotas à mais eu não vou ter escolha.
Você que segure firme e aguente seus próprios pingos.
Love,

Flora

domingo, janeiro 18, 2009

Mariana XXIV - Segunda temporada

Mariana se envolveu
Em alguns novelos
Em coisas tortas.
Mariana se perdeu.
Sentia dores constantes no peito
De achar que não devia
Gostar de quem gostava
(o rato da história que ela não quis me contar no outro dia - e ainda brigou quando viu que eu chamei de rato.
Mariana disse que se for pra eu inventar um nome, que o chame ombro)
Tentou dizer não
Fugiu como fazia sempre
Mas Mariana sem medo e pudor acaba se embolando – ainda que seja racional.
Mariana embolada no novelo desse ombro
Ficava constantemente
Rodando num tornado.

sábado, janeiro 17, 2009

Acúmulo de coisas e nada pra dizer

Olá, queridíssimos leitores.
Não tenho nada pra falar e nenhuma criatividade.
Assim, lembrei hoje de uns memes que eu tinha ganhado e resolvi colocá-los aqui pra não quebrar a corrente.
Primeiro, recebi do fofíssimo blog Sonhos amadores este meme chamado prêmio dardos. Isso faz com que eu tenha que postar o selo aqui e indicá-lo para outros 15 blogs, incluindo o seu manual de instruções acoplado. Os 15 blogs - que valem o seu sedento clique- serão:

1 - Caixa de Vinis, o blog do Dam, com suas dicas psicopatas.
2 - Garota do Casaco Verde, o blog da mais amada pessoa sem coração que já existiu na face da terra. Vale à pena.
3 - As aventuras de uma eterna criança, o blog mais doce da Bia mais doce.
4 - Caio Lamas, o blog mais desatualizado do amigo mais esquisito que eu tenho.
5 - Sincopado, o blog do Hup, que ainda tem Hope.
6 - Ipsis Litteris, o superblog(tem hífen ou não, agora?) do meu querido Grijó, que nunca responde memes.
7 - A garota do copo d'água, o blog da Pagani que está escrevendo cada vez melhor e se esquecendo de mim cada vez mais.
8 - Penny Lane Blog, o blog que mais me traz sorrisos.
9 - Saco de Filó, o blog do Marcelo, que não liga pra memes e sempre tem boas sacadas.
10 - Perovs, o blog alucinado e psicótico do Perova.
11 - Do cacos, o blog muito útil do Centro Acadêmico de Comunicação Social da Ufes.
12 - Com açúcar, com afeto, o blog da Marcelinha - o mais gostoso dos blogs.
13 - Livro de anotar, o delicioso blog da Mara.
14 - Avec Poivre, o blog da Luiza que não atualiza.
15 - Esfera dos intocáveis, o blog sempre cortante do Léo Viso


Manual de instruções

- Primeiro, é importante saber que: "Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web".

- Depois, siga, por favor, essas instruções:

1) Você deve exibir a imagem do selo em seu blog
2) Você deve linkar o blog pelo qual você recebeu a indicação
3) Escolher outros 15 blogs a quem entregar o Prêmio Dardos
4) Avisar os escolhidos, claro!

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Eis que Senhor Raphael Perovano Bernardo também me deu um meme com manual de instruções.

Os recebedores do meme devem:

1
Linkar a pessoa que te indicou;
2 Escrever as regras do meme em seu blog;
3 Contar 6 coisas aleatórias sobre você;
4 Indicar mais 6 pessoas e colocar os links no final do post;
5 Deixar a pessoa saber que você a indicou, deixando um comentário para ela;
6 Deixar os indicados saberem quando você publicar seu post.

Então, seguem as seis coisas aleatórias.

1 - Eu gosto de música de velho.
2 - Morro de vergonha de falar inglês em público.
3 - Usei óculos até os 14 anos.
4 - Quando eu botei aparelho, com 11 anos, fiquei me achando o máximo por que a minha boca ficava maior do que realmente é.
5 - Chorei vendo Star Wars III (quando o Anakin virou Darth Vader).
6 - Eu batia nos meus amiguinhos de colégio com a minha merendeira da turma da Mônica por que eles me chamavam de bruxinha.



Agora, 6 pessoas:
Penny, por Penny Lane Blog
Bru, por De amor e de Letras
Rafael Arcanjo e Arcanjo, por Jornalismo incompetente
Sylvia, por Blog desatualizado da Sylvia.
Amanda Mariano, por Verba Volent



Thats all, folks!

terça-feira, janeiro 13, 2009

perfume

Me senti mitômana
Quando te inventei cachinhos
São coxas
E eu toda coxa
Deixando meus pedaços jogados
Na sala
Chupando uma bala
De menta.
Enquanto você me atenta
De longe
E venta
Esfria a boca
De bala de menta

Esquenta.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Sim


Delírio é uma palavra tão bonita! Delírio-palavra dá vontade de dança e de repetir muitos eles num texto-muito-mais-língua-do-que-mãos.

Um texto de cantos escondidos de corpos delirantes!
Sorrisos então.
Espalhados, cantados, cansados.
Gargalhadas novas e velhas e vozes roucas – veludadas.
Vontade de tudo!

Delírio,
língua.

Nada de nada.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Poeminha quase erótico

Se eu achava que podia
Ser tão escorregadia
sozinha
É por que não conhecia
As molas dos cabelos
De quem parece sabonete,
Bolhas de sabão,
E borboletas
Ao mesmo tempo
- E ao vento

Escrevi versos sobre mãos
Senti longos pingos de suor
E não escorreguei
Nem das molas
Nem das mãos
Nem das gotas
E principalmente não das pernas.
Bambeei entre elas.
E por elas...

Bocas.

Bambeei em bocas.
Deslizei por braços
Amoleci em pedaços
E não escorreguei.

Fiquei parada
Em palmas de mãos espalmadas
Me equilibrei em pontas de pés
Depois rolei
Suei
Suguei
E fiquei.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Alone

Saí belíssima e fui andando com os sapatos grudando nos paralelepípedos. Nenhuma classe mesmo com vestido e cabelo impecáveis.
Não pode haver desilusão sem ilusão.
E mais nada além de paralelepípedos e sapatos que grudam e passam. Machucam tanto!
Havia baratas na rua e se elas passassem sobre meu pé eu gritaria fortissimamente. Faria um escândalo absurdo!
Ninguém iria socorrer.
Saí sozinha.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Muito confessional, depois pouco confessional

Vamos lá:
O que significa o reveillon pra você?
Eu diria que muitas coisas e antes de todas um ritual de passagem. Quase que como um aniversário coletivo. Enterra-se o passado e pede-se coisas muito boas para um futuro possivelmente glorioso!
Sei que sou cheíssima de superstições. Acho que o último dia do ano é importante como o primeiro. Terminar o ano bem parece que significa ter um ano excelente depois.
Eu quis terminar em paz. Vim para Iúna fazer uma surpresa para a minha mãe que não me esperava.

Nem quero muita farra como sempre tenho. Quero boas conversas, um pouco de dança e muita comida.
Amanhã quererei sol, biquini e água. Começar o ano com coisas das quais gosto e terminar com coisas que ainda quero...

Em Iúna, encontrei as pessoas de sempre que sempre fazem falta e as pessoas de nunca que eu muitas vezes esqueço.

Ando dando abraços e sorrisos, prometendo coisas incumpríveis e me apaixonando por pedaços de pessoas e coisas.
Ando devagar.
Eu, andando devagar?
Pois continuo sendo eu e afoita mesmo devagar.

Comecei o dia com o vinho do lado depois da meia noite e antes de um telefonema. Nenhum gole.

Estranho.

Muitos goles.
Ainda assim...

Diz a Fabíola que eu estou melhor do que era. Nem sei se sim nem se não. Sei que me preocupo como não me preocupava antes.

Vou deixar o branco de lado passar a virada de azul com dourado.
Quem sabe eu não me acalmo de vez?

Feliz 2009!

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Fim de ano na praia

Toda vez é a mesma coisa. Uso a minha habitual tirania e estrago o verão das crianças dando gargalhadas de bruxa. Ano passado eu puxei a tomada do Plaistation, não se se vocês se lembram.
Esse ano peguei uma cadeira que estava sendo usada como caixa de banco. Inclusive, acho muito injusto as crianças usarem a cadeira mais confortável de todas para ser caixa de banco.
Acho que as nádegas das pessoas mais velhas e ranzinzas merecem conforto. Como acho que as minhas nádegas merecem conforto e um bom papel higiênico - aliás, papel higiênico não deve ser um item com o qual se economiza: comprem neve!.
Como ia dizendo, roubei a cadeira, estraguei o verão, virei bruxa malvada e tentaram me jogar vinagre pra estragar o meu verão.
Corriqueiro.
O bonito disso foi como eu salvei o verão depois.
Fui lá fazer intriga - sou a vilã da história sempre - por que meu tio tinha pegado a televisão das crianças jogarem videogame e botado no quarto dele. Aí as crianças estavam cabisbaixas e muito pouco revoltadas como eu queria. Minha tia passou e disse que tinha uma televisão no meu quarto.
Tinha mesmo. Mas eu nem assistia.
Eles perguntaram se podiam pegar e eu disse que sim, desde que conversassem com a Maura - minha colega de quarto- e só usassem a televisão num horário em que ela não estivesse assistindo coisas.
Ficaram absurdamente felizes. Foram jogar aquelas coisas que eu não sei jogar por que não são bomberman e contaram pra vizinhança inteira:
Aline salvou o verão.



Da próxima vez eu devo esconder as barbies. Talvez dê certo.

domingo, dezembro 21, 2008

Boca.

Tinha cabelos castanho-claros que viviam úmidos de oleosidade natural e raízes com muitas caspas. O cheiro não era dos mais agradáveis mas a tez branca era das mais belas que podiam ser vistas. Tinha feições delicadas e olheiras fundas. Tinha pouco tempo de se cuidar e quadris largos. No fim das contas era tão bonita quanto se permitia mesmo não gostando nem um pouco da própria beleza e das sardas que carregava nas bochechas.
Chegou ao café com pouca fome e muita pressa. Esperava o capuccino e o namorado que não tardaria a chegar. Tinha sono e raiva do mundo.
- Dani? – ela nem viu quando ele se sentou, já pedindo um pedaço de torta de chocolate que ela não comeria pela manhã.
- Bom dia, amor.
- Você precisa dormir...
- Que horas?
- Você precisa dormir.
- Achei que quisesse me ver ao invés de passar sermão.
- Caramba, Dani, eu nem posso mais me preocupar com você?! – e continuou falando coisas que ela não ouvia por não saber bem onde estava nem o que queria além de uma cama quente e músicas de uma rádio de baixa estimulação. Ele tentava agradá-la de todas as formas que não eram funcionais. Ela tinha que ir trabalhar e não dormir, novamente.
Ele não gostava de ela ser tão brilhante e tão esquecida de si. Não conseguia entender por que ela se entregava tanto a tantas coisas que não eram ele, nem tinham carne. Era como se Daniela o traísse com cada papel, cada caneta e cada projeto. Era como se as paixões dela nunca pudessem ser pessoas.
E ele não entendia que a boca dela estava em toda a parte. Que ela comia tudo o que fazia com uma voracidade que nunca teve na cama.
- O corpo é pouco, meu bem. É quase nada. – ela dizia e ele nunca ouviu.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Mariana XXIII - segunda temporada

Mariana – a louca – pendurou um cartaz.
LOVE FOR SALE
Letras garrafais e eu desesperada
Preocupadíssima com Mariana fiquei.
Então ela disse pra eu cuidar dos meus casos
E foi arrumar casos pra si.
Sarna atrás de sarna que a bichinha gosta de se coçar.
- Um flirt, Aline, um flirt à toa não faz mal!
Mariana sapeca me deixa desesperada.
Enquanto ela é despudorada pulando de galho em galho
Eu nada.
Mariana pendurou um cartaz e nem precisou indicar o local.
Cachorros, bois, galos e ratos apareceram pra se casar
Com a dona Marianatinha
Que pôs fita no cabelo
e dinheiro na caixinha.
O boi ela logo não quis. Mugia.
Pro cachorro ela bem que abanou o rabo
Passou noites acordada e depois percebeu que ele ladrava
E mordia.
Então Marianatinha se encontrou as escondidas com o galo.
Depois não ficou com nenhum dos dois.
Voltou a pular de galho em galho.
LOVE FOR SALE
E o rato fica em outra história

[que Mariana não quis me contar.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Talk to the hand

À Flora




A conversa é pesadíssima. O termo, inclusive, lembra várias coisas a serem resolvidas e que não querem ser resolvidas.
Tomava guaraná como quem toma conhaque e no som, ouvia Ella Fitzgerald. Lembrava bastante do violão de mais cedo e o quarto tinha um estranho cheiro de fumaça.
Pensava muito na pesadice das coisas. Na pesadice de tudo, inclusive do que não é dito e fica só no peito. Pensava muito em peitos e cheiros estranhos de fluidos de corpos.
Queria parar de tentar levar o mundo nas costas e então pensava em outras costas, queixos e principalmente pés.
Não gostava de pés, achava-os muito feios. Mesmo os seus eram horrorosos e tinham muito peso e calos e bolhas. Na cabeça, muitas moças e rapazes que lembravam diversos problemas distintos. A conversa devia vir depois de Ella e depois do sábado.
Sábados sempre foram gravíssimos por culpa das sextas-feiras.
Sua pele de sábado mesmo tinha uma plasticidade estranha e uma textura meio graxosa.
Pensava mais do que queria e tentava se distrair arrumando os próprios cabelos em tranças. Ficava com cara de outra pessoa quando fazia tranças infantis e pensava em ganhar presentes de natal.
Mais um gole de guaraná e presentes.
Tomaria gim no dia seguinte.
A conversa ela não sabia. Pesada demais pra quem ouve Ella cantando Jobim.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Boxe, duelo ou queda de braço

À Amanda Mariano e Mara Coradello


Você é assim, um rapaz bastante bonito com simpatia nos olhos e um sorriso que desmonta pessoas. Eu sou até razoável, não muito alta, cabelos bem cuidados e dotada de quadris que balançam num ritmo unicamente meu.
Nos esbarramos algumas vezes, em algumas ruas e resolvemos conversar.
Você elogia o vestido querendo elogiar o decote e eu elogio o sorriso querendo tirar dele um pedaço. Falamos coisas engraçadas, trocamos telefone, sorrimos e eu digo que é hora de ir embora.
Nos esbarramos outras vezes. Tomo coragem e pego logo a ficha completa. Existe uma série de testes que preciso aplicar em todos os homens.
- Você é arrogante?
- Não sei. Acredito que não. – você responde e perco metade do meu interesse.
- Prepotente?
- Um pouquinho só. Só as vezes... – você vai murchando e eu também.
- Misantropo! Você deve ser misantropo pelo menos!
- Não. Sou sociável e tudo.
Vou embora.
Te encontro outro dia e você vem com voz arrastada fazendo pouco do meu rebolado. Depois me ataca com doses cavalares de sarcasmo.
Volto a te olhar.
Você tenta forçar sorrisos meus e eu não dou a mínima. Então é a hora de me ver com outro homem, rindo bastante e tocando o braço dele constantemente.
Você chega perto e tenta roubar para si a atenção. Depois arruma uma mulher muito mais bonita do que eu e eu nem olho. Sorrio um bocado por dentro.
Conversamos entusiasmadamente no fim da noite. Te acho interessante e você me acha intrigante.
Tenta me tocar e se aproxima. Faço questão de frisar com os olhos que não sou nada sua.
Nos encontramos num desses meios de tarde e você conta vantagem de tudo. Entendo perfeitamente a sua competência profissional mas não me comovo. Começo a ficar irritada e repito o teste.
- É ciumento.
- Não. Nunca precisei disso. – Sei que você mente e começo a me sentir levemente encantada pela sua presença.
Rimos juntos e bastante. Tento passar mentalmente a carta que passaria a todos os homens.
“É preciso que você seja um bêbado, arrogante, prepotente, egoísta e misantropo. Pode até ser um pouco carente, mas se for demais me enche o saco. Não quero saber de crises de ciúme que eu não provoque, e o mais importante: devo ter o que quero na hora que for, mas você não deve evitar dizer não”.
Você me beija. Eu te beijo. Evitamos mãos e nos gostamos por algum tempo.
Eu não me entrego, nem você.


Eu sou uma mulher bonita e você é até razoável. Tem um olhar simpático e sorriso tímido. Não faço testes e nos aproximamos aos poucos.
Caio de amores e nem quero saber.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Get Happy

As pontas dos dedos que encostam de leve são quase fatais.
É feito um recorde e em outro corpo surge uma boca com gosto de restos de café.
Saliva e café com pontas de dedos compõe arrepios impróprios pra qualquer horário ou lugar.
Mais um corte e toca de fundo um tango eletrônico.

Companhias distintas e muita provocação.

Surge o homem que toca com seu nariz reto e a pretensão de ser levado a sério mesmo quando tudo o que diz só a faz rir.
As mãos espalmadas e fortes espantam.
Mais recorte e arrepios.

Aparece uma barba fechada e um sorriso cínico que integram um corpo dono de bela voz.

Vários olhos aparecem e nenhum deles diz nada.
Recortes e tango eletrônico.

As pontas dos dedos encostam mais uma vez e a mocinha quer ir embora pra qualquer recorte que não seja fatal.


terça-feira, dezembro 02, 2008

Mariana XXII Segunda temporada.

Mariana perdeu o medo.
Sei que você, leitor, deve estar pensando que a personagem descaracterizou-se, mas não.
Mariana me ligou por esses dias e contou que muito se deve ao homem que já não está mais com ela e que ela ainda não adjetiva.
Mariana também não vê mais óbvio nem sonho nem flor nem nada.
Disse que semana que vem vai à Bahia.
Se encontrar o sonho não sei.
O sonho agora tem dona e nada de Mariana nela.
Mariana disse que está vacinada,
Mas eu mesma não acredito.
Depois, pra me enrolar, ela contou de certo italiano que conheceu há meses atrás
Paixão avassaladora de uma noite só.
Disse que ele custou a sair da sua cabeça.
Eu nem quis saber.
O que importa é que Mariana já não tem medo nem de boca-de-leão
E eu não sei o que pode acontecer daqui pra frente
Continua sendo ninfeta, continua sendo atemporal.

Torçam, queridos, que Mariana agora ganhe um pouco de pudor!

sexta-feira, novembro 28, 2008

Detalhe

GAL COSTA - Lí­gia


Eu fico tão burra quando me apaixono que eu detesto me apaixonar. Inclusive ultimamente andei prometendo que não mais me apaixonaria.

Então eu fujo de todos os olhos e das caras e o tempo todo. Estou cansada do velhinho de barba branca e de Mariana e de todas as paixões novas e velhas.

Não tem nada de novo.

É que eu fico tão burra que não sei como agir nem nada. Eu detesto estar burra e ser burra e dizer sim e dizer não e agüentar talvez e esperar abraço.

E eu gosto de tudo isso. E gosto tanto que eu fico burra e bamba e tonta e suspirando e queimando e com vontade constante de gritar e dançar e ir e voltar e brincar.

Eu fico tão burra quando me apaixono que eu esqueço que nada disso é sério e levo tudo profissionalmente.

Então trate você de parar de ser galante o tempo inteiro e de não me abraçar quando eu quero por que eu apaixonada fico tão burra que só faço o que eu quero. E quero que todo mundo também faça. Trate de parar de sorrir e de me fazer ciúmes assim fortes. E pare de se perfumar por que eu não consigo manter a pose sentindo esse cheiro forte que parece que toma o espaço inteirinho.

Trate de parar de ser você por que corro sério risco de emburrecer e eu não quero.

terça-feira, novembro 25, 2008

Mais um texto besta feito pra blog

Ao Léo.

Chico Buarque - Mil Perdões

A chuva foi embora e levou com ela muitas coisas. O sol se abriu e Maria acordou deseperada e suada de um sonho ruim.
- Não queime as coxas dela com cigarro! – Gritava como se já não tivesse aberto os olhos.
João chegou e fez barulhinhos de acalentar e silenciar pessoas. Abraçou Maria como um bebê e ela ainda pensava na visão loira do sonho.
“Não as coxas. Por favor não queime nada. Se queimar vai marcar pra sempre e ela não vai voltar. Nem que ela peça. Me jure! Não queime!”
João não entendia nada e continuava usando o sopro da boca pra ver se Maria esquecia o que via.
- Já estou bem, meu bem, me deixe só. – Ela tentava e João não soltava nem soltaria. Tinha, na verdade, um medo grande que Maria lhe escapasse entre os dedos e escorresse.
“Você não entende, João, a gravidade das mãos de um homem que fuma. Ele segura o cigarro como se fosse parte do corpo e quando tem mãos nuas também. Nas mãos nuas o cigarro continua invisível como um indicativo de que tudo vai queimar.”
- Me deixe, João.
- O que foi que aconteceu?
- Vivia a te buscar por que pensando em ti corria contra o tempo... – Cantava baixinho e rezava que ele fosse embora e ela voltasse com coxas limpas.
- A chuva já parou.
- Nada de nada mesmo. Esquece que já foi, meu bem.
- Eu não estou entendendo nada.
- Foi só um sonho ruim.
- Não se preocupe então.
- Me deixe só, João, por favor.
E João foi como se tivessem lhe arrancado um pedaço porque ele nada poderia fazer sem nadar na mente possivelmente suja de Maria.
- Nada de nada. Nada de nada. Nada de nada. Nada. Nada. Nada.
“Por favor não queime as coxas dela com cigarro”. Maria pensava com a imagem loira cada vez mais forte e o autor do ato sumindo e correndo num sonho já desperto e muitíssimo real.
- Maria, o que foi? – João voltou a perguntar sem chegar perto.
- Nada de nada. Só amor de irmã.