segunda-feira, maio 10, 2010

Iúna – Vitória, uma crônica mal-humorada

Sim, uma das coisas mais íntimas que podem acontecer entre um homem e uma mulher é acordarem juntos. Há quem diga que ver a moça despertar é das coisas mais agradáveis e poéticas. Ainda assim, a regra não se aplica aos ônibus da viação Águia Branca. Principalmente, isso não se aplica nem à linha Vitória-Iúna, nem à linha Iúna-Vitória.
Declaro desde já que detesto essas duas linhas desde que fiz 14 anos e papai e mamãe me deixaram viajar nela sozinha. Detesto quando entram galinhas no ônibus, quando entra alguém com pés sujos carregando pés e mais pés de repolho e detesto quando conversam comigo. Ônibus não é lugar de conversar, minha gente!
Mas, principalmente, eu detestei acordar hoje dentro do ônibus e ouvir um desconhecido cara-de-pau do meu lado perguntar se eu tinha dormido pouquinho à noite e por isso estava com soninho no ônibus. Nem respondi, fechei os olhos e fingi que ainda dormia.
Esses sujeitos têm que entender que não há intimidade nenhuma em ver uma moça acordando depois de dormir muito no ônibus que pegou às 5 da manhã. Principalmente uma moça mau-humorada como eu, vestida de cinza e sem maquiagem.
De bom, a linha tem a parada em Venda Nova, onde se come o melhor pastel. Também gostei uma vez quando entrou um cara com uma sanfona que atendia aos pedidos de todas as pessoas do ônibus.
De ruim, além do já citado, o maldito cheiro de cecê das pessoas que sentaram ao meu lado nesta doce manhã.
Mas o pior não foi nada disso. Nenhum diálogo tosco, nenhuma pessoa invasiva nem nada superou a chegada na rodoviária. Porque a última vez que eu cheguei nessa linha à rodoviária, havia a coisa mais próxima de príncipe encantado que já passou por mim esperando na pilastra.
Ele tinha mandado mensagens bonitas dizendo que eu devia apressar o ônibus pois ele já não agüentava de calor e saudade. Desci e ele tinha um presente bonito desses que só dá quem repara nos detalhes da gente.
Mas hoje não tinha presente, não tinha príncipe e nem calor. Chovia e eu teria que procurar sozinha o ponto de ônibus que nem lembrava mais onde ficava.
A pior parte de tudo é que hoje não tinha felizes para sempre.

10 comentários:

Alexandre Rodrigues disse...

Adorei o seu texto...muito criativo! Parabéns pelo blog, continua escrevendo!!! Abraço.

Olga Durães disse...

Aline, minha querida. O texto é lindo. E até a tristeza do final lhe caiu bem. Tem delicadeza nas suas palavras e isso é fantástico.
Você é uma fofa. Uma linda. Parabéns.

Rosa disse...

sou fã dessa menina. adoro suas histórias. =)

Juan Moravagine Carneiro disse...

Vamos encarar a realidade...

Amora disse...

Não vamos nada!

Lívia Corbellari disse...

decididamente onibus e filas nao sao locais para conversar, por alguma razao inexplicavel sempre puxam papo comigo ¬¬

Unknown disse...

você é tão suave e forte que poderia ser a dona do mundo.

E, quando escreve, é.


Mais uma vez, querida, arrasou.

O Neto do Herculano disse...

"E tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar".

bia de barros disse...

Oun *-*

Anônimo disse...

li seu texto na revisão pra antologia de microcontos da andross (também vou publicar lá)e adorei. entrei nos seus blogs e adorei tudo também. parabéns mesmo.