A Shelha disse que eu devo ser o Darth Vader ou a prima da Bruxa Má do Oeste, mas não é bem assim. Sou super amiga das crianças. Praticamente uma delas - me camuflo bem graças à estatura. Ontem mesmo, fui de guia no dia em que as crianças iriam à Sal & Mel pela primeira vez desacompanhadas. Nenhuma reclamou da minha presença.
Eram 4: Pedro, 10 anos, Guilherme, 9, Rafaela, 8, e Carolina, 10. Todos muito limpinhos e nenhum sinal de catarro. Fomos amontoados no carro e eles escolheram a mesa. Eu estava de espiã dos adultos.
Foram lá montar a pizza sozinhos. Eu estava deixando, mas resolvi dar uma olhada e percebi que não havia molho de tomate. Avisei que era a primeira coisa a se botar numa massa de pizza, ensinei como fazia e voltei ao meu lugar. Quando percebi que demoravam, fui ver o que acontecia e a pizza não tinha queijo. Desrespeitei o poder ultra-jovem e taquei queijo.
Me agradeceram depois - eu tinha razão em dizer que pizza sem queijo não tem graça. Depois eles se encheram de sorvete e voltamos à pé, juntos à beira-mar.
Hoje minha companhia matinal foi Guilherme. Lemos juntos 30 páginas d'O Mágico de Oz. Depois, quase na hora do almoço, decidimos ir à praia e fomos nós dois - sem pai nem nada. O pai do Guilherme até estava na praia, mas foi comigo que ele entrou no mar.
Depois fui ensiná-lo a arte de cavar poças de areia. Não é necessário se espalhar muito. O importante é escolher um ponto e cavar o mais fundo possível. Não se pode estar perto do mar, a não ser que haja vontade de que a poça dure pouco. A distância deve ser pouco depois da marca do quebrar das ondas. Então se cava e cava e cava até que a areia caia no buraco cavado por vontade própria. Então retira-se os excessos e se cava mais até que caibam pessoas dentro da poça.
Rafaela tentou dizer como fazer uma poça. Tinha a autoridade dos seus 8 longos anos. Avisei que eu já fazia essas coisas antes dela nascer. Então cavamos e eu fui ficando areia pura. Praticamente um monstro... Sem nem pensar em nada...
Depois fomos ao mar e o Heitor quis mergulhar no fundão (talvez para afirmar sua condição de rapaz de 3 anos). Eu jogava ele na água depois pegava. Então a Rafaela foi junto e eu jogava o Heitor pra ela. O menino quase nadava. Ficou feliz da vida. Nem quis ir embora.
Todos estávamos felizes da vida.
Eu tinha esquecido que ser criança é bacana assim.
quarta-feira, dezembro 30, 2009
sábado, dezembro 26, 2009
Mais um começo de verão
Os que acompanham este blog há algum tempo já sabem: verão é tempo de incomodar crianças. Tenho sido vilã de alguns verões registrados por aqui. Faço maldades como desligar a tomada do playstation e roubar a cadeira da cabaninha. Então, as crianças gritam em coro que a Aline estragou o verão.
Ontem lembrei-as disso na mesa de jantar e soltei (sem pensar em nenhum plano maléfico) que já sabia como fazer para estragar o atual verão. Meu irmão José já avisou que se eu desligar o PSP não vai adiantar nada por que o jogo fica salvo. Meu primo Guilherme fez cara de mal.
Então eu insinuei que poderia esconder o negócio e os dois avisaram que esconderiam antes.
Eu acho que toquei o terror.
Verão é tempo de rir à toa.
Ontem lembrei-as disso na mesa de jantar e soltei (sem pensar em nenhum plano maléfico) que já sabia como fazer para estragar o atual verão. Meu irmão José já avisou que se eu desligar o PSP não vai adiantar nada por que o jogo fica salvo. Meu primo Guilherme fez cara de mal.
Então eu insinuei que poderia esconder o negócio e os dois avisaram que esconderiam antes.
Eu acho que toquei o terror.
Verão é tempo de rir à toa.
quarta-feira, dezembro 23, 2009
Açúcar
A gente deitou na varanda e ficou fazendo nada. O céu todos os dias continua céu e eu nunca soube dividir isso com ninguém. É muito importante olhar o céu da janela e reconhecer uma ou outra estrela, falar da lua.
Olhava o céu da varanda e pensava em como as nuvens se ajeitaram entre um brilho e outro e em como a gente se ajeitava entre uma vida e outra. Dois universos inteiros se misturando sem nenhuma responsabilidade.
Eu queria saber quem é cachaça, quem é limão e por que, raios, precisa de tanto açúcar?!
Da próxima a gente tenta uma mistura nova. Eu fico sendo água tônica, você fica sendo gim e a gente arruma algumas gotas de limão. Depois eu fico sendo vermelho, você fica sendo amarelo e a gente inventa as outras cores.
A gente deita de barriga pra cima e olha pro céu. E pronto. Depois a gente anda molhando o pé no mar.
Depois a gente come até explodir.
E se abraça.
Olhava o céu da varanda e pensava em como as nuvens se ajeitaram entre um brilho e outro e em como a gente se ajeitava entre uma vida e outra. Dois universos inteiros se misturando sem nenhuma responsabilidade.
Eu queria saber quem é cachaça, quem é limão e por que, raios, precisa de tanto açúcar?!
Da próxima a gente tenta uma mistura nova. Eu fico sendo água tônica, você fica sendo gim e a gente arruma algumas gotas de limão. Depois eu fico sendo vermelho, você fica sendo amarelo e a gente inventa as outras cores.
A gente deita de barriga pra cima e olha pro céu. E pronto. Depois a gente anda molhando o pé no mar.
Depois a gente come até explodir.
E se abraça.
segunda-feira, dezembro 21, 2009
Meu caso com a playlist
Impressionante a cadência dos ritmos em uma playlist. Algumas coisas simplesmente encaixam e o automatismo do computador capta muito de sentimento. Tanto mais que a tranca da porta. Tanto mais que os carregadores ou as tomadas.
Estou elétrica.
Há quatro anos shampoo anti-caspa significava algo completamente distinto do que sinto agora. Não são caspas. Há uma semana ver o dia nascer tinha outro sentido. Sempre esperança.
Desde pequena.
Eu costumava pular na barriga do meu pai para olhar pela janela os começos de claridades. Nunca fui lá muito de dormir.
Eu sou elétrica.
Dizem por aí que existe algo de pilha correndo com meu sangue. Mas a bateria aqui precisa de um pouco de férias e de sentir por fora o que sente por dentro.
Ontem eu chorei.
Impressionante que o Windows consiga prever o que eu quero ouvir. Primeiro a Gal, depois o Chico. Por que Anos Dourados significa mais do que qualquer shampoo. E os cheiros dignificam as coisas. Significam a pele.
Algumas coisas simplesmente encaixam e o automatismo do tempo não vai levar nada de esperança. Nem que o dia nasça. Nem que o tempo passe. Nem que as coisas todas acabem e eu precise começar de novo, do zero, sem charme.
Há quatro anos shampo anti-caspa significava uma pessoa exata. Conheci Fabiana cheirando-lhe os cabelos e dizendo ter certeza que aquele cheiro era o mesmo que vinha de outra pessoa. Não é a caspa.
Eu agora uso shampoo anti-caspa e o meu travesseiro tem cheiro de shampoo anti-caspa, manga e suor.
Tudo tem andado tão quente que volta e meia chove.
E eu não gostava de chuva, até descobrir que era eu quem chovia.
Depois o dia nasceu.
As coisas todas acabam em solos de guitarra. Magistrais.
Eu nunca aprendi a tocar piano.
Estou elétrica.
Há quatro anos shampoo anti-caspa significava algo completamente distinto do que sinto agora. Não são caspas. Há uma semana ver o dia nascer tinha outro sentido. Sempre esperança.
Desde pequena.
Eu costumava pular na barriga do meu pai para olhar pela janela os começos de claridades. Nunca fui lá muito de dormir.
Eu sou elétrica.
Dizem por aí que existe algo de pilha correndo com meu sangue. Mas a bateria aqui precisa de um pouco de férias e de sentir por fora o que sente por dentro.
Ontem eu chorei.
Impressionante que o Windows consiga prever o que eu quero ouvir. Primeiro a Gal, depois o Chico. Por que Anos Dourados significa mais do que qualquer shampoo. E os cheiros dignificam as coisas. Significam a pele.
Algumas coisas simplesmente encaixam e o automatismo do tempo não vai levar nada de esperança. Nem que o dia nasça. Nem que o tempo passe. Nem que as coisas todas acabem e eu precise começar de novo, do zero, sem charme.
Há quatro anos shampo anti-caspa significava uma pessoa exata. Conheci Fabiana cheirando-lhe os cabelos e dizendo ter certeza que aquele cheiro era o mesmo que vinha de outra pessoa. Não é a caspa.
Eu agora uso shampoo anti-caspa e o meu travesseiro tem cheiro de shampoo anti-caspa, manga e suor.
Tudo tem andado tão quente que volta e meia chove.
E eu não gostava de chuva, até descobrir que era eu quem chovia.
Depois o dia nasceu.
As coisas todas acabam em solos de guitarra. Magistrais.
Eu nunca aprendi a tocar piano.
quarta-feira, dezembro 16, 2009
O fantástico diário de Aline Dias (parte 2)
São mais de trezentas postagens e os problemas continuam iguais. Talvez eu mesma não cresça. Mas isso aqui tudo queima queima queima.
Então, quando eu sou pela metade querendo ser inteira, vem um monte de texto na cabeça. Umas peças de teatro, umas rimas. Um monte de narrativa e tanta carta sem endereço!
Ainda lembro quando mandei uma carta dessas e depois ninguém respondeu.
Tive que puxar da memória a ordem das frases para poder digitar tudo no computador para olhar cinco anos depois.
Quase passaram cinco anos daquela carta.
Os sentimentos dali todos morreram.
Mas é que hoje eu estou tão adolescente que eu entendo quando alguém me diz que odeia e ama ao mesmo tempo a mesma pessoa.
São mais de trezentas postagens sem automatismo.
Continuo sentimental.
Então, quando eu sou pela metade querendo ser inteira, vem um monte de texto na cabeça. Umas peças de teatro, umas rimas. Um monte de narrativa e tanta carta sem endereço!
Ainda lembro quando mandei uma carta dessas e depois ninguém respondeu.
Tive que puxar da memória a ordem das frases para poder digitar tudo no computador para olhar cinco anos depois.
Quase passaram cinco anos daquela carta.
Os sentimentos dali todos morreram.
Mas é que hoje eu estou tão adolescente que eu entendo quando alguém me diz que odeia e ama ao mesmo tempo a mesma pessoa.
São mais de trezentas postagens sem automatismo.
Continuo sentimental.
segunda-feira, dezembro 14, 2009
E não minta
Nunca mais eu peço paz no réveillon. Não sei se você viu, mas a cidade se cobriu novamente de luzes de natal e nós estamos apagados. Hoje eu sei que não há nada mais sincero e imediato do que andar descalço pelo asfalto. Noite ou dia. Andar descalço é o cúmulo do contato. Do sincero. Do mundo.
Não vou te chamar para pisarmos ambos na grama ou sentirmos terra entre os dedos; e nem vamos juntos à praia. Um dois três e quatro, dobro a perna e dou um salto. Viro e me viro ao revés. E se eu cair? Conto até dez.
Depois essa lenga lenga toda recomeça. Ninguém que anda descalço vive na ponta dos pés, mesmo que haja sol de rachar e chão quente. Os pés engrossam e hoje eu engrosso mais um pouco por conta da maldita paz que eu pedi no último réveillon e não veio. Não existe vida nova no dia primeiro de janeiro – e eu sei que isso não te parece nem um pouco confortável.
Ficam muitas músicas na minha cabeça e eu queimei a ponta dos dedos com água quente tentando curar uma maldita espinha que insiste em crescer logo ao lado do nariz para que eu sinta dor na face.
Posso sim aceitar que você minta para o mundo inteiro. E você mente. Desesperadamente mente. Mas, por favor, arranque as botas, ponha os pés no chão uma vez. Sinta a irregularidade das coisas e não diga que quem simplifica tudo sou eu. É uma grande mentira. Seja sincero.
Não vai ficar tudo bem amanhã por que eu continuo nas suas beiradas, te corroendo e dizendo coisas que você nem ouviu. Por que não é tão esotérico, mas é sim complicado. Por que nunca é fácil dizer não querendo dizer sim se você não cresceu mulher.
Onde esse dois mil e nove enfiou a paz? A cidade está coberta de luzes de natal e eu não ligo a mínima para qual será o meu presente. Os Beatles vão continuar tocando aqui e você vai continuar tocando aí como se nada.
Por que antes nem havia unidade entre nós dois. Por que antes não havia eu, nem você, nem nada. Só réveillon e uma paz que fica me atormentando por ser uma maldita impossibilidade.
Look all the stars. Diga que hoje ainda vai andar de pés no chão. E não minta.
Não vou te chamar para pisarmos ambos na grama ou sentirmos terra entre os dedos; e nem vamos juntos à praia. Um dois três e quatro, dobro a perna e dou um salto. Viro e me viro ao revés. E se eu cair? Conto até dez.
Depois essa lenga lenga toda recomeça. Ninguém que anda descalço vive na ponta dos pés, mesmo que haja sol de rachar e chão quente. Os pés engrossam e hoje eu engrosso mais um pouco por conta da maldita paz que eu pedi no último réveillon e não veio. Não existe vida nova no dia primeiro de janeiro – e eu sei que isso não te parece nem um pouco confortável.
Ficam muitas músicas na minha cabeça e eu queimei a ponta dos dedos com água quente tentando curar uma maldita espinha que insiste em crescer logo ao lado do nariz para que eu sinta dor na face.
Posso sim aceitar que você minta para o mundo inteiro. E você mente. Desesperadamente mente. Mas, por favor, arranque as botas, ponha os pés no chão uma vez. Sinta a irregularidade das coisas e não diga que quem simplifica tudo sou eu. É uma grande mentira. Seja sincero.
Não vai ficar tudo bem amanhã por que eu continuo nas suas beiradas, te corroendo e dizendo coisas que você nem ouviu. Por que não é tão esotérico, mas é sim complicado. Por que nunca é fácil dizer não querendo dizer sim se você não cresceu mulher.
Onde esse dois mil e nove enfiou a paz? A cidade está coberta de luzes de natal e eu não ligo a mínima para qual será o meu presente. Os Beatles vão continuar tocando aqui e você vai continuar tocando aí como se nada.
Por que antes nem havia unidade entre nós dois. Por que antes não havia eu, nem você, nem nada. Só réveillon e uma paz que fica me atormentando por ser uma maldita impossibilidade.
Look all the stars. Diga que hoje ainda vai andar de pés no chão. E não minta.
segunda-feira, dezembro 07, 2009
Crônica da irmã mais velha.
Não adianta procurar. Não tem sentimento mais singelo do que amor de irmão. E quando eu falo, pode saber que é com propriedade. Se tem uma coisa que eu sou, é irmã (tenho 7).
E Eu sou a irmã mais velha, mesmo o Fábio sendo mais velho que eu. Nasci primeiro, depois veio a Marcela de pai e mãe. Depois os pais seguiram rumos diferentes e a minha mãe casou de novo. Com o padrasto, vieram o Fábio e o Caio. E foi o Caio, poucos meses mais novo que eu, quem me ensinou a abraçar pessoas. Enquanto isso, o Fábio me ensina todos os dias como é possível se manter gentil em todas as adversidades.
Marcela é a mais irmã de todas. Implica com meu jeito de vestir, me liga de madrugada quando eu não lhe faço companhia, me ouve gritar com ela no meio da faculdade e ainda me aguenta. Foi com a Marcela que eu aprendi a ser irmã e a comprar brigas. Sendo irmã mais velha, ela arrumava as brigas e eu entrava com os tapas.
Depois vem José e Manoel, só pra eu poder dizer para todo mundo que eu tenho um irmão Zé e um Mané. Nasceram quase juntos, um do pai e um da mãe. Manoel me ensinou a trocar fraldas aos onze anos de idade. José me ensinou que por mais novo que ele seja, é uma injustiça arrancar uma pessoa de frente do computador.
Todos me ensinaram muito sobre crueldade e sobre doçura - por que não há irmão mais velho sem tirania. Acontece que, na casa dos vinte, me nasceram mais dois irmãos.
Quando eu olhava para o Heitor pequeno, eu pensava que nem sabia no que aquilo ia dar, mas que havia um amor imenso no peito que ia durar para sempre. Então eu o ninava, cantando Chico Buarque, e o ensinava a dançar funk e ouvir histórias.
Meses de idade e Heitor amava a Chapéuzinho Amarelo. Davi também. Os dois montam na minha perna para ouvir histórias e ver vídeos no youtube. Mas com esses irmãos eu não moro nem brinco na rua. Não tem puxão de cabelo nem nada dessas coisas de irmão. Fico tirando fotos e achando tudo lindo, com aquele vazio de não ser criança.
Mas aí teve domingo um churrasco de família e eu vi uma coisiquinha de uns três anos e cabelo quase na bunda chamando a mãe dela para brigar com meu irmão de três anos de idade, o Heitor. Fiquei a postos para entrar em defesa. A menina gritava que o Heitor tinha brigado com ela e o Heitor olhava gaguejando para a enorme mãe ao lado.
- Mas é que, mas é que, mas é que, mas é que...
Peguei o Heitor e perguntei o que tinha acontecido. E ele me respondeu, numa altura que a mãe assustadora também ouvia.
- Ela zogou liço no são.
- Foi? E o que você fez? - perguntei.
- Cantei pra ela. Zogue liço no liço, não zogue liço no são. Quem zoga liço no são é porquinho.
A mãe da menina não falou nada. A menina, por outro lado, descascou um chocolate e tacou o papel no chão.
sexta-feira, dezembro 04, 2009
tentativa de cura para os problemas da primavera
a morte é esconsolável consolatrix consoadíssima
a vida também
tudo também
mas o amor car(o,a) colega este não consola nunca de nuncaras.
Amar-amaro, Drummond
Um pouco mais de dor na garganta, apenas. Depois a gente resolve a azia. Você precisa entender que as bactérias se reproduzem por cissiparidade. A cada minuto elas dobram dentro de você. Então é bom ficar quieto, agüentar a dor na garganta e não tomar gelado. Vai ser só um pouco, prometo.
Para azia, leite de magnésia ou bicarbonato de sódio. Mas eu sei que é mais complicado digerir coisas do que matar bactérias.
Pra sentimento, entretanto, recomendo livros mais pesados do que antibióticos. Não existe a possibilidade de distração. Para matar sentimentos é preciso manter a cabeça ocupada o tempo inteiro. Jamais tome bebidas alcoólicas. Como com antibióticos, a bebida atrapalha a matança.
Quanto mais filmes, melhor. E amigos. É preciso muitos amigos e flertes. Problemas em casa também funcionam.
Os tratamentos vem sendo testados há séculos e séculos a fio e há quem diga que nem interromper o contato com a matriz das coisas é assim tão eficaz. Nem mesmo os livros, nem nada.
A indústria farmacêutica está em crise essa semana com tanto sentimento. Trata-se de um surto que ninguém via desde o último prêmio da mangueira no carnaval carioca.
Os cartolas, inclusive, disseram que já deram jeito simples de curar amor de carnaval. Cachaça com engov antes, vodca depois. Nem tem paixão que sobreviva à amnésia. Então houve todo aquele marketing sobre pecado e desmistificação dos corpos misturando-se por que é tempo de se misturar.
Mas a indústria jamais lidou bem com a primavera. Os tempos ainda não são tão quentes, há chuva e focos de dengue. Quem é que se preocuparia com paixão se há tanta gripe?
Então segue a primavera sem remédio. E enquanto você devia se preocupar com a dor de garganta ou com a azia, ficamos ambos tentando matar sentimentos com tesoura sem ponta de cortar papel.
Eu juro que se descubro o remédio, registro e te dou parte dos lucros.
quarta-feira, dezembro 02, 2009
canção de peito errante
"Nos demais,
todo mundo sabe,
o coração tem moradia certa,
fica bem aqui no meio do peito,
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração."
Maiakovsky
todo mundo sabe,
o coração tem moradia certa,
fica bem aqui no meio do peito,
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração."
Maiakovsky
Tenho certeza que há um pedaço de peito vagando por aí. Errante errante. Nenhum destino pra peito arrancado.
Dizem que volta e meia ele pergunta onde fica tal lugar e ninguém sabe responder. Nem existe dó praquele peito. Ninguém nem bota no colo nem acalenta.
Então ele se arrasta, melancólico e nada vertical. Talvez ande em círculos, talvez reclame, talvez coma chocolate com a vontade que tu comes.
Soube que por um tempo o pedaço de peito esteve quente, mas que o clima dos trópicos o anda esfriando.
Ademais, nenhuma notícia nova, nenhum acompanhamento.
Acredito que quando for pegar o trem, alguém jante o peito e seu dono fique vazio de vez.
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