terça-feira, março 13, 2012
o prato
Eu não era só sentimento, enfim. Eu fora gente perto de você. Eu tinha pele. Não sei que força tem esse esquecimento. Seis meses apagando sexo. Acabou. Lembrei que o amor não veio romântico como havia sido posto. Você era um corpo inteiro no meu pulsante e admirado com a perfeição das medidas.
Não deve haver outro assim complementar. Eu só lembrava do choro e do peito latente e da ternura e dos abraços. Acordei nua e só com sua foto colada na parede.
O prato caiu e eu me espatifei em lembranças muito físicas. Então fiquei densa, dura, contida. Não há volta, por enquanto.
Melhor varrer bem o chão.
segunda-feira, fevereiro 27, 2012
Ode à doçura
O romantismo. Eu queria uma ode ao romantismo nesses tempos corridos em que um bom dia é quase sempre seguido por um porque e um tudo bem nunca é respondido. Eu queria, nesta terça, que o mundo todo parasse quietinho pra que a gente pudesse simplesmente sentir rajadinhas de vento quente de verão.
Você que ouve essa crônica deve entender que estamos aqui, entre notícias, bombas, greves de fome, bolsa de valores e horários de avião pra que você possa respirar. Não vou, então, ser agressiva, incisiva, precisa nem nada.
Quero crônica com gosto de bolo de chocolate. Um conto de fadas que venha no carnaval. Deixa o turbilhão pra mais tarde!
Hoje ainda há tempo de brincar de roda sem pensar que não há a menor finalidade em cirandar.
O primeiro amor passou, o segundo amor passou, o terceiro amor passou. Passou também o ônibus lotado sem parar e com uma passagem cara pra dedéu. Você deve ter chacoalhado muito, balançado o esqueleto e se for baixinho como eu, deve ter feito alongamento nas barras do alto. E é claro que isso diariamente é absolutamente desagradável. E é claro que há contas a serem pagas e o dinheiro quase acabando embora o mês não seja ainda nem metade.
Mas no mundo ainda há som de pandeiro. Na tarde ainda há fruta madura e, na noite, lua. E se a lua sorri em quarto crescente e minguante mês a mês, a gente também pode.
Você talvez tenha medo de palhaço, mas isso não impede que seja contada uma piada. Quando foi a última vez que você andou de bicicleta? E o último beijo de língua? O último ombro amigo? O último abraço? O último suspiro doce com casquinha levinha de limão?
Eu acredito que não pode ser triste um mundo em que há cheiro de pipoca e milho verde. Depois de tudo que tem na semana, há sexta à noite e domingo de tarde.
Eu não sou otimista, ao contrário, descrente e desconfiada de tudo quanto é gente nova que se aproxima. Mas e se a gente parasse e comesse uma carambola?
Se for verdade que o universo todo cabe na garganta? Se o seu chefe comprar trinta picolés?
E se houver vitamina de abacate? Língua estrangeira? Pernas bonitas? Olhinhhos brilhantes? Cachorro dizendo eu te amo?
Olha. Passou muita coisa já e o ano mal começa. Eu, você, sua tia e esse senhor aí perto que não para de olhar a hora estamos muito estressados. Temos um medo tácito do mundo.
Mas, lembre: quando chover de novo, vai ter cheiro de terra molhada e a qualquer momento você pode comer um pedaço de pizza. Então, que seja leve o resto da semana! Que seja doce, a vida!
sábado, fevereiro 25, 2012
unha e depois
Meu deus! Que coisa é seu corpo nessa madrugada? Que coisa foi seu corpo na manhã?
E como fica, depois de tudo, a boca? A boca iniciou as coisas anos antes até dos dentes. Meu deus a boca premeditou todo e qualquer carnaval.
Então, você, não quero.
Mas me devolva a boca ainda essa semana que ela hoje aprendeu como se faz quando a garganta precisa ao certo dilatar. Você, sem saber, me ensinou. Não volte. Embarque neste mar de coisas matemáticas e me deixe agora com a boca grande e o corpo certo. Arranhe. Arranhe. Vá.
segunda-feira, fevereiro 20, 2012
das carnes prontas
Ausência completa de gravidade.
Leveza.
Guarde você o tanto que bebe. E não dividamos nada. Nada. Principalmente não telefone. O depois não existe no carnaval. Pensamento, se existe, está errado.
Veja se no sangue circula samba.
E resplandeça.
segunda-feira, fevereiro 06, 2012
Lady is a tramp
Pensou que eu pegaria em armas e apanharia e bateria e rodaria a baiana sambando e de salto. Pensou que eu fosse cuspir na cara do guarda e não quis nunca que eu te tirasse do olho do furacão. Nem eu pensei em tirar ninguém do olho de nada.
Mas você não pensou que talvez eu quisesse volta e meia ser Julieta. Que eu quisesse ser protagonista de outra história. Por que o herói é você, Robin Hood, mas eu não sou Mary Ann...
Eu não tenho sangue de briga nem doçura de princesa. Não estou dentro dos seus moldes, nem dos outros moldes.
Você não entendeu o que eu mesma não entendi. Das mocinhas, eu tenho aquela inocência besta de achar que as coisas podem durar e que eu preciso de fazer alguma coisa para que os laços se mantenham. Ao mesmo tempo, eu sou besta a ponto de acreditar em mágica.
Eu podia parar por aqui essa coisa estranha. Mas eu queria que você soubesse que eu sou a atriz principal. A Salomé. A Lady Macbeth. Os meus tapas são sutis, ou são verbais.
Comigo, o lance é veneno.
quinta-feira, fevereiro 02, 2012
BOOM
Eu quero de novo a lua vista com as minhas mãos nas suas mãos e uma pausa. Eu quero as folhas de janeiro sendo cheiro de janeiro e a gente com cerveja meio batido, meio choco, meio quente se embebedando mesmo da gente.
E se não for você, não importa mais. Eu quero de novo a doença de pele que se pega quando se gosta tanto a ponto de explodir.
Eu quero de novo uma coisa tão grande, tão forte, tão verdadeira que eu mesma não tinha coragem de acreditar que acontecera. Eu quero de novo passar anos duvidando da memória do momento mais bonito da história.
Os roxos no braço. A necessidade. O grito mudo dia a dia todos os dias de mãos dadas e os olhares cúmplices de quem tem culpa por ter absurda, absoluta, inegável paixão.
terça-feira, janeiro 24, 2012
Um banquinho, um violão
Que o toque venha natural e depois fique vulcânico. E a gente se irrite um com o outro, discuta, brigue. Antes. Você se atente para o meu ontem, eu me atente para o seu amanhã.
Então, que eu não te sugue a alma por inteiro em três dias, nem chore. Que você não declare posse de nada, nem do meu corpo. E que nossos corpos se entendam num ritmo outro, menos punk e mais bossa.
Sobre, então: amor, sorriso e flor.
sábado, janeiro 21, 2012
esfinge
Qual o tamanho do medo que você tem das minhas pernas? A velocidade das coisas aparentes talvez não seja sincronizada cabeça a cabeça. Olha, não é nada. Só um sorriso ou outro, umas conversas, sincronia.
Eu não sou exatamente perigosa. Ao contrário, volátil. Uma dessas coisas pequenas de se por no bolso. Só que arde. Queima. Um amontoado ambulante de hormônios e a cabeça cheia de histórias.
Você não sabe a briga que foi pra que eu tivesse hoje essa forma, essa cara e esse furacão. Mas é bem simples, ferro e fogo, pronto.
Não tome cuidado. Abrace e pronto.
terça-feira, janeiro 17, 2012
desconselho
Você que é moça sabe de dentro se foi fim ou não. Você sabe o tanto de cartas na manga e o quanto agüenta com as sobras. E se já foi, se partiu, se morreu, não coma. Não arrisque a intoxicação do que o tempo deixa borrachudo.
Não pense em possibilidades, não deixe pra mais tarde.
Não se morra por ninguém.
terça-feira, janeiro 10, 2012
A vida é (em dois mil e) doce.
E eu só quero dizer de verdade.
Eu só quero dizer a verdade.
A vida as vezes é muito azeda a começar pela boca e pelos verbos que não sucedem crases - e se fosse tudo crase eu acharia mais bonito. Você não sabe o quanto eu gosto de sinais gráficos e notas musicais, só sabe dos superlativos. Pois este ano eu quero ser diminutiva e mais lenta, mas ele não sabe. Ele não sabe que eu pretendo sorrir e tenho sorrido e me estressado menos.
Ele ainda sabe aquelas coisas do ano passado e sabe que mãe é bom e sabe o que passou e também como me fazer chorar. E eu não vou dizer nada que não seja puríssimo, límpido e verdade, mesmo que me digam que só é possível verdade em pensamento.
Eu não acredito.
Há direito ao primitivo.
Eu quero o bruto da vida. O chifre do elefante e as coisas mais bregas que forem feitas no mundo.
A verdade, essa moeda gasta e quase sem valor. Bruta.
sábado, janeiro 07, 2012
o que os maias fazem comigo
Se for mesmo pra ter só até dezembro, eu quero ir com você ao Maranhão e ao Acre. E dançar forró em Itaúnas e voar de asa delta e andar de balão com você. E te levar num karaokê. E cantar a noite inteira com a cara cheia de cachaça que é pra acreditar que meu timbre é aceitável. E eu quero gastar o dinheiro todo que eu vou ter pra a gente comprar um piano pra você que aí você me ensina a tocar e você toca.
Um filho, também, eu quero fazer. E ter a nossa casa. O nosso cachorro. As nossas estantes de livros e partituras. A gente arruma um empréstimo e deixa rolar.
O mundo não vai acabar?
E, também, antes de tudo, se for mesmo o mundo acabar, eu quero ter coragem pra dizer que eu ainda te amo.
segunda-feira, janeiro 02, 2012
red nose
Eu disse assim que queria um nariz assim num filho meu. Reto. Bonito. Ele pra mim mostrou um monte de loucuras, uns devaneios, uns xingamentos. A cara feia, o adeus, as tatuagens.
Defeito mesmo, qual? As coisas estúpidas eu ria, as brigas eu cria, os risos eu tinha.
Então era conforto todo dia a existência. A língua presa. O jeito de falar que as coisas são bonitas. O nariz.
E do nariz, meu tombo.
Travei.
I don’t believe in that love anymore.
quinta-feira, dezembro 29, 2011
Para o porquinho da índia
Quando eu tinha seis anosGanhei um porquinho-da-índia.Que dor de coração me davaPorque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!Levava ele prá salaPra os lugares mais bonitos mais limpinhosEle não gostava:Queria era estar debaixo do fogão.Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.Manuel Bandeira
Eu te amo de boca aberta e de boca fechada. De língua. Mordendo. Sobrancelhas absurdas. Eu, então, nem se fala. Absurdíssima, sentida, sentinte. Ouvindo sem ouvir todas as coisas, gostando até de suor. Mantendo.
Eu te amo cabeça nos peitos, pernas enrolantes, boca mordendo nariz. A língua morde as coisas que são suas. Os braços me sustentam de manhã, enquanto dormem.
Eu te amo pelos arrancados, um monte de agrado. Eu te amo sentada. Em pé. Acordada. Dormindo. Absolutamente desconfortável.
quarta-feira, dezembro 28, 2011
água e sal
Metafísico, o amor me come. Músicas que eu não cantei. Sonhos que eu não sonhei. Dores que eu não quis. O amor me açoita. Espreme. O amor de ontem, errado, me entrou na porta de casa com pressa e funcional. O amor de hoje quis dar boa noite.
Cabe nalguém assim tanto amor?
Estico-me.
terça-feira, dezembro 27, 2011
Da falta
Daí que longe é seu estado imutável. E eu fico tentando jogar com o resto do mundo num lance meio absurdo de desespero enquanto espero você chegar da guerra. Não sei ser assim antiga. Também não sei ser moderna.
A gente quando?
Sem resposta.
domingo, dezembro 18, 2011
a moça bonita
Não adianta eu ter o mesmo tom de pele, cabelo parecido, olhos assim, sorriso assado. Em mim você nunca vai encontrar o que procura. É ela. Tranqüilidade, ordem, este tipo aí de doçura. Não, eu não tenho isso não. Eu não sou, nem seria, o que você procura.
É ela.
E se você gosta dela, é ela. Pronto. Não vai achá-la em mim nem ontem nem nunca. Nós, eu e ela, não nascemos no mesmo mês, não temos as mesmas unhas, a mesma paciência, os mesmos cílios, nem as mesmas necessidades. Eu não espremo espinhas como ela e não me tornarei o que ela é.
Ela é única, moço. Como ela, só ela. Pronto.
Vá lá.
quarta-feira, dezembro 07, 2011
Macaquinho
Davi tem quatro aninhos e hoje estou de babá dele.
- Não.
- Ela te deu um pé na bunda?
- Um tênis na bunda. Ela pegou, tirou o tênis e chuaaaaaaaaaaaaaaff - Davi fazia gestos e montava no encosto do sofá.
- Mas você não quer mais namorar com ela?
- Não.
- E ela quer namorar com você, Davi?
- Eu sou um macaquinho!
- Davi, ela quer namorar você?
- Ela quer, mas eu não quero.
- Por que? Por que você prefere ser criança?
- Não. Porque eu sou um macaquinho e prefiro pular de galho em galho.
true story.
sábado, dezembro 03, 2011
cantada
E se for? Mais que samba, mexida de quadris, braços longos. E se for, mesmo, atração de olhos castanhos com olhos castanhos e boca pequena com boca pequena. Pele morena com pele morena. Cabelo crespo com cabelo crespo. E se a textura da pele talvez combinar?
E se, mesmo parecidas, duas criaturas forem diferentes o suficiente pra complementarem-se. Se todo o passado não foi acidente prevendo o presente?
Se a gente não dança? Se a gente não ri? Se a sua voz for o que eu preciso pra me ninar e você não me irrita? Se o meu cós for a diferença pra sua inocência acabar?
Se for a manhã?
Se for mais lógico do que a gente pensa. Se dispensa apresentação? Se não tem mais interrogação? Se pulsa forte?
Por que não?
sexta-feira, novembro 18, 2011
chá
Vá embora, então, do mundo. Da minha vida. Saia do meu ontem e da minha cabeça e do meu jeito de rir. Eu pareço um passado ambulante. Um reflexo de sei lá. Uns cacos colados de cansaço com saliva e azedume.
Trêmula feito xícara em mão de velho, eu sinto ainda suas mãos no meu corpo que nem existia antes.
Preciso sê-lo sem tê-las por mim, em mim, à mim. Preciso ter-me sem contato seu e sem querer te tatuar em mim. Você podia não ser metade. Esconda Mr. Hide de volta no armário e volte mais tarde. Eu faço um chá.
Ainda tem ternura aqui no armário. Ainda tem você no assoalho. Ainda há boca em peito e olhos de ver o que já foi.
Deixa o presente pra lá. Eu não pedi pra saber.
sexta-feira, novembro 11, 2011
Matemática
Você nunca diz euteamo. Um cadinho só de dor. Dois bocados inteiros de angústia.
Eu acho que gosto mais de você do que você de mim, entalei e não disse.
Cinco tornados no peito.