terça-feira, julho 27, 2010

Pernas eletrônicas

Cortou o cabelo e a barba cresceu como se fosse ciência exata. Estive ontem em outras promessas. Esteve semana passada num país mais tropical. Juntos não, nunca. Espelho e reflexo não são uma coisa só.
Estive sem volume, fria, fraca. Ele nunca constante. Gastrite talvez antes do ataque. Queria que fosse coisa fixa de barba espessa.
Mordeu a boca com a força precisa de quem tem muita fome. Tocou as pernas como se não fossem escuras e pudessem ter sido feitas de porcelana. Deteve-se em dedos de pés. Descobriu que a ciência é toda fora das orelhas e perguntou se tinha cotonete.

Não quis rotina, claro. Nem fez promessas.

Cuidou do sono e deteve as lágrimas. Deu uma dessas chaves de pescoço para que eu fechasse os olhos por algumas horas. Falou de madrugada e ficou dono do meu sono, do corpo e do volume da voz.
Tem dedos grandes, largos.

Distância precisa. Exata.

Não há nenhuma mentira por dizer.

sexta-feira, julho 23, 2010

Primavera

Tô te achando tão bonito longe de boca fina assim sorriso largo. Pensei talvez em entrar dentro que nem fio dental. aí quem sabe se fosse mais constante talvez não tivesse assim tanta graça.
Fiquei cheinha de atenuantes e caçando conectivos mas não tem nada demais além de boca, você sabe. Quando tem pele assim que nem naquele outro dia, a gente fica muito sorriso.
Fica o mundo todo muito bonito.

quinta-feira, julho 22, 2010

Romance

Fiquei sozinha ouvindo você cantar. Gritava nos meus ouvidos aquela história toda e muitas tramas rocambolescas de vida e ficção misturadas como se tudo fosse uma coisa só. Em certo ponto, não sabia mais o que era inventado, o que existia no mundo real ou se a verdade é mesmo uma moeda gasta e quase sem valor.
Quis aconchego que não tive cedo ou tarde. Quis travesseiro de peito, e ossos seus e meus se batendo. Quis entender até que ponto vai a equalização e os ruídos de uma música sem razão.
Quis nenhuma razão.
Quis gritar com a solidão.
Quis dançar à dois como quem beija.
Fiquei em pares ouvindo você chorar. Quis ser mais velha e engolir todas as dores como um pacman. Quis brinquedos novos e gritei com força sem nem abrir a boca.
Ninguém tem nada para entender, nem eu.
Vontade de ser mãe do mundo e transformar gente em ursinho de pelúcia – sem eliminar com isso os ossos (do ofício).

terça-feira, julho 20, 2010

Sem noite

É que eu tenho corpo, verbo, vírgulas. Sangue também talvez muito. E sombras. Talvez um ontem a mais faça textos automáticos e talvez as coisas todas sejam muito palavra. E de ser palavra, fica tudo forte, fixo, carne.
Palavra carne eu quase nada. Resto das outras coisas que eu não fiz e sintaxes inventadas.
Busca.
Obsessões por minuto.
Tanto ombro que parece que mais nada.
É que eu tenho crases em mim, conjunções diversas adverbiais, verbais, adjetivíssimas.
Já comentei o quanto gosto de superlativos?

quinta-feira, julho 15, 2010

Extrema

Morreu agora, na minha frente. Sem sequer segurar a minha mão, morreu e não deixou nenhum cigarro que me ajudasse a entender.
Morreu morrida, inevitável, tácita - como quem morre mesmo. Como quando não tem jeito. Como até se a morte fosse coisa que fosse certa quando se fala de vida. Nem nunca conheci nada a respeito dela e da família e dos amigos. Não sei se era boa gente ou se fazia diferença no mundo.
Morreu e trataram de por no jornal a foto mais bonita que ela tinha. A boca toda vermelha de batom e uma sensualidade que não vai nunca mais fazer a menor diferença num plano que não seja onírico. Morreu e fica sendo um pedaço ilustrativo de classificados.
Como celebração. Como se fosse bonito morrer. Como se morrer fosse o fim.
Doeu
em mim.

segunda-feira, julho 12, 2010

heterontem

Se ela volta de outras épocas escandalizantes, espero que traga absinto. Disse que não bebemos ainda o suficiente e que talvez não tenhamos paladar para o tal anis. Conheci antes de tudo e de todos e dos sexos aqueles drops.

Tive um tanto bom de alucinógenos contínuos embaralhados com letras e remédios controlados.

Descontrolado.

Fico sendo um pouco sido agora.

Um passado imperfeito quem sabe futuro do presente do pretérito e as conjunções verbais amontoadas todas com vinho.

Não precisa hoje fazer qualquer sentido; mas se ela volta, que traga éter.

Que seja heter

domingo, julho 11, 2010

Contágio

Definitivamente: fui feita para e por contágios. Sou dessas que se derretem e buscam buscam inteirce. E mesmo o vazio, quando vem, eu quero inteiro.
Principalmente, tenho medo de solidão dessas fatais. Solidão, no fim, seria voltar ao barro que me fez mais gente.
Mas eu não quero regresso. Eu quero amparo. Contágios.

sexta-feira, julho 09, 2010

Me desculpe, mas eu sou mulher

à Natasha Siviero

Eu até sou bonita. Mas infelizmente eu sou primeiro intelectual - uma espécie de protótipo disso, eu mesma diria. Devo reconhecer, entretanto, que é muito difícil conviver com uma mulher que lê. Gaston (aquele do desenho da Disney) mesmo já disse que uma mulher não devia ler, se não começa a ter idéias.
Desculpem as feministas, mas ter idéias não é coisa de mulher. E eu, infelizmente, sou dessas pessoas cheíssismas de idéias grandes por minuto. Então não é estranho que logo ela diga que não me imagina mãe.
Achava, antes, que ninguém nunca conseguiria me ofender. Mas ela conseguiu, no fundo do peito, como se tivesse uma agulha grande. Disse só “não te imagino mãe”.
Me desculpem os leitores, mas eu sou mulher. Tenho sim essa falha de caráter que é gostar de escrever mais do que de todas as outras coisas da vida. E o pior, gosto de ler e gosto muito de saber todas as coisas que eu mesma não imagino que existam.
Descobri - penosamente -, não devia ser assim. Assim não posso fabricar menino no ventre pra depois querer engolir de volta ou não entregar para o mundo ou todas essas coisas de mãe. Não posso pedir a meu filho que não saia sem casaco, nem posso dar colo.
É que nessas escolhas da vida, me fiz dura. Sou dessas que trabalham.
Mãe deve ser outra coisa.

terça-feira, julho 06, 2010

Garganta

Acordou com aquela imagem grande de olhos enormes num rosto pontudo. Olhos ainda maiores que os seus. Queixo nem tão grande, mas as pontas todas ali. As pontas do rosto que pareciam definitivas, fatais.
E vazio.
Faltava um nariz aberto que desintegrasse toda a força das pontas. Talvez também algum criado mudo no qual se segurar.
Cobertores muitos. E muito vazio.
Pensou no grau daquela coisa toda. No grau da falta de preenchimento e pensou que não cabia em si.
O grau das coisas tornava tudo maior. Do tamanho do rosto do sonho. Do tamanho da vida cotidiana. Do tamanho da falta de vazio. Do tamanho até do vazio.
O rosto de novo na cabeça. Pontudo. Bonito.
Olhos.
O que fica é o não-estar.

domingo, julho 04, 2010

O mito

Então ele trancou a porta, virou e me puxou pelos cabelos. Língua e língua e bocas e eu desci a escada totalmente trêmula. Bêbada de beijo. Sem controle nenhum das pernas.

Completamente cheia. Surpresa. Pele.

Completamente emoção.

quarta-feira, junho 30, 2010

The wonderful wizard of Oz

Um pouco mais de música. Só. Pra dar ritmo ao jeito de andar pela rua. Havia um tempo em que eu automaticamente ouvia pretty woman e caminhava de acordo. Todo aquele balanço baiano moldando os quadris e um charme meio forçado de filmes.
Você não sabe, mas eu parei de morar naquele musical de outros tempos – em que sempre morei (tudo sempre foi música). O tempo inteiro músicas que não sei se me moldavam ou se era eu quem moldava as notas.
Agora um tanto de sorrisos falsos. e faltas. Um tanto grande de dissimulação e treino constante para olhos de ressaca. Não sei onde andam meus muros, mas mesmo antes do musical estava lá escrito Bento Capitolina.
Nada foi invenção minha. Tudo antes tinha sido escrito e há poemas certos para cada cena. Não é mais musical. É clássico. E se fosse filme mesmo ganharíamos o Oscar. Trilha sonora principalmente.
Eu estou naquela estrada de tijolos amarelos e gostaria talvez de um espantalho com cérebro feito todo de fé. Razão muito bem treinada e talvez não aquela ternura do homem de lata.
Um pouco mais de música e seguimos saltando os padrões das calçadas. Talvez talvez estejamos de verdade mais em circo do que em filme.

sexta-feira, junho 25, 2010

Das moças da janela

Dizem que as moças ficavam na janela, vendo navios, para esperar os maridos voltarem das guerras, ou das navegações. Para ver se um navio daqueles lhes trazia de volta o homem que nenhuma queria que o mar engolisse.
Depois passaram os navios e inventaram os aviões. As moças começaram a ir também para a guerra. Queimaram até sutiã. Até criaram as próprias brigas e tomaram a tal da pílula.
E depois inventaram o silicone e as plásticas pra ninguém mais reclamar a falta da cara e do corpo da Barbie.
E o Index Librorium Proibitorium parou de valer para quase todo mundo no ocidente. E também mandaram aquela cachorrinha para o espaço e a bandeira americana balançou lá na lua.
Inventaram jeito até de andar no mar e também o GPS pra ninguém ficar perdido.
Eu gosto de bússola. Acho muito bonito que ela sempre aponte para o norte. E gosto das constelações guiando os navios como antes de tudo. Gosto até que o tempo tenha passado.
Mas as moças, com seus machos, mesmo fortes quando sozinhas, continuam a ver os navios da espera que alimentam o desejo constante – apontado pra outro peito como bússola e sem nem precisar olhar estrelas pra saber o caminho.

segunda-feira, junho 21, 2010

Fóssil remexido de caso de mãos

Mandei pra ele um texto grande falando todo de amor. Ele mesmo é muito grande. Muito forte. Muito acima de qualquer amor que seja meu.
Antes fosse apenas isso. É esperto a ponto de eu não conseguir enganá-lo, mesmo sendo mulher.
Ele leu tudo. Diz que gosta bastante de ler as coisas tortas que eu escrevo.
Depois ele perguntou se o texto tinha sido escrito apenas para um leitor – ele-leitor. Eu menti que não. Era um texto que falava sim de um homem de nariz bonito e mãos precisas, mas falava de muitas outras coisas.
Então eu disse que era texto velho, escrito há tempos e que não era autobiográfico. Confessei que o nariz era dele. Apenas.
Riu.
- As mãos não?

sábado, junho 19, 2010

Jaiminho

Marcela Rangel acabou de avisar. Nasceu hoje o Jaiminho, filho da Natasha. Mas a Marcela mesmo não sabe o nome do menino, se é Jaime, Samir, Quintiliano, Benedito, Tiago, Felipe, Chico ou sei lá.
Pra nós, o nome é Jaime e pronto - e o menino vai ser chamado assim não importa qual nome venha a ter.
E antes da Marcela ligar eu estava meio triste, irritadiça, com muita raiva de ser mulher, de ter tpm e de ter tanto sono.
Aí ela liga e fala:
- Jaiminho nasceu.
Pronto.
É vida, gente. É mais importante do que qualquer tpm e é a coisa mais bonita do mundo. E saio dizendo essas coisas sem nem ter visto o Jaime ou a cara da Natasha sendo agora uma cara também de mãe.
Hoje é aniversário do Chico Buarque.
Hoje é uma data bonita pra nascer um Jaiminho, filho da nossa amiga, que a gente vai tratar de mimar bastante e de ensinar a fazer um monte de traquinagem.
Parabéns, Natasha e Rafael.
E muita saúde ao Jaiminho cujo nome eu ainda não sei.

quarta-feira, junho 16, 2010

A parte final de Lord V

Pois é. Agora é fim de papo. Não vou quebrar nada da aura de mistério que me junta a Lord V. Estou fugindo do reino. Fugindo alto. Longe. Intacta como se fosse virgem.
Ninguém comigo, nem plebeu. Em pouco tempo inventam o rock’n roll e talvez eu me reconheça em alguns gritos. Mas agora eu não quero saber de paixão ou mais que flêrte. Cruzando as terras com pés no chão, levo Lord V lambuzado no corpo, empedrado na garganta. Entalado.
Talvez em terra nova me apareça outro Lord, ou só um menino. Talvez assim eu me disperse.
Não importa. Nada deve ficar mais denso do que os dentes de Lord V, que só em sonho estiveram cravados em meus peitos.

Não quero saber de lirismo que não é libertação.

domingo, junho 13, 2010

Água com açúcar

Eu sou pequena, branquinha, magra de dar dó e olhos muito vivos. Você é grande, moreno, voz muito grave e perfume escandaloso de tão bom.
Nos encontramos algumas vezes perto do trabalho. Eu, professora, você, contador. Então um dia você chama pra sair e eu nego. Chama de novo e eu nego. Chama a terceira vez e eu fico com medo de ser indelicada, e aceito.
Você todo galante faz questão que eu beba o drink colorido e doce que eu quiser, mesmo sendo o olho da cara. Você pede um chop e me recomenda uma bebida estranha que parece trifásica. Bebemos, rimos, conversamos.
Vou ficando meio alta e trocamos de mesa para uma daquelas com sofá. Sentamos lado a lado. Eu derramo um pouco de bebida no seu ombro e quando estou limpando, você diz:

- Você é muito bonita, Júlia. É pena que você não saiba disso.

Eu penso em todas as vezes que evitei contato e em todo o medo que eu tenho de me rasgar de novo num envolvimento. Mas você é tão delicado que eu não volto a manter a distância. Puxo eu mesma seu queixo e te beijo sem saber o que virá depois.

sexta-feira, junho 11, 2010

A parte aberta de Lord V

Lord V talvez não saiba, mas essa plebéia leva tudo muito gravemente. Sente tudo muito pesado. Não consegue nem por nada ser leviana.
Então quando ele resolveu me cercar e dizer todas as coisas não ditas, eu caí. Lord V de longe, nobre, inatingível. Eu plebéia besta, crente, mole e muito fraca.
Tive raiva de Lord V acabando com todo o mistério e dizendo com todas as letras que quer plebéia em cama e mesa. Tive saudades imediatas do tempo nem tão longe em que tudo não passava de flerte e rasgos de sala.
Agora rusgas minhas; não sei nem mais como andar. Lord V continua tendo aqueles dentes e aqueles olhos que eu espero não ter que ver. Lord V continua intacto e eu nem tenho aquele outro plebeu em quem me escorava.
Fugi de Lord V com todas as unhas e todos os dentes. Fugi como um bichano. Caí como uma jaca.

Bestíssima. Bestíssima.

É por isso que eu não passo de plebéia e ele continua Lord.
Longe.

quarta-feira, junho 09, 2010

Todas as músicas de Rolf Carlé

Em face dos últimos acontecimentos, precisei ligar para Rolf Carlé. É notório e sabido por todo o meu círculo social que sou muito suscetível a músicas. Que a simples menção de certas notas tem o absurdo poder de me derreter inteira.
Rolf Carlé foi desses casos com músicas fixas e muito bem marcadas, acordadas por ambos. Estava muito claro, tácito, que lembraríamos sempre um do outro ouvindo Esotérico, Relicário e Yellow, do Coldplay. E de lá pra cá se foram alguns meses...
E nesta sexta me citaram Yellow sem que eu tremesse. Não. Não cheguei a pensar que Rolf Carlé tivesse sido de fato deletado de mim por completo simplesmente por não tremer quando alguém falava desta música. Lembrei da história toda e dos moldes de nós dois na lírica. E só. Nenhuma pontada de dor. Saudade e pronto.
Mas Yellow não era a pior. Relicário lembrava todas as noites e Esotérico me matava a cada nota. Lentamente. Bethânia cortava meus pulsos gritando que se eu sou algo imcompreensível, meu Deus é mais.
Então o Windows, que é um grande filho da mãe, deu de tocar Relicário no modo aleatório do media player sem que o mundo ficasse ao contrário e só eu reparasse. E eu não escrevi nada disso no diário. Não achei importante de citar. Não senti a menor falta dos abraços e das noites de Rolf Carlé.
Então veio hoje a prova dos nove. Culpa do Windows, logicamente. Esotérico começou a tocar e eu não percebi. Quase não ouvi a voz da Gal. Bethânia começou a se esgoelar e eu nada. Eu nem arrepiei. Nem tremi. Nem suspirei. Nem perdi pedaços meus nas notas. Nem quis ser incompreensível novamente.
Me mantive firme até o fim da música. Ouvi-a toda. Completa. E nada. Acabou e eu pensei sim em Rolf Carlé. Pensei que ele precisava saber que já não incomodava. Que depois de tantos meses poderíamos retomar aqueles planos de amizade.
Notei que já não estou em cacos.
Então peguei o telefone, pensando nessas coisas e fui ligar para ele à cobrar como de costume. E o mais impressionante é que eu já não sei o número. Não liguei automaticamente como sempre fazia. Precisei olhar na agenda para conseguir falar com ele.
- Bom dia!
- O que te deu pra ligar?
- Menino! Aconteceu um negócio muito impressionante. Consegui ouvir Esotérico sem sentir nada.
- E foi a primeira vez?
- Sim. Foi.
- Que bom!
- Acho que agora a gente pode ser amigo.
- Que bom!
Então ele disse que a mulher e a filha que vieram depois do nosso fim vão bem, obrigada. E agora eu sei que ele não vai checar meu blog pra ver se eu voltei a falar dele sem permissão.
E de mais a mais, não volto a ser Eva Luna, como era apenas com ele. E talvez ele estivesse certo quando disse que tinha sido apenas uma coisa bonita passageira que acabou no tempo certo – sem estragar as músicas bonitas para o resto da vida.

domingo, junho 06, 2010

A parte ausente de Lord V

Fosse outra noite, pediria a Lord V que não me abandonasse ao cais. Mas nessa, nem isso.
Ele deu de ficar distante sem princesa nem nada. Deu de mostrar que não precisa de minhas adversidades. Deu de nem ao menos procurar meus pedaços expostos de pele. Foi seco. Foi longe. Foi grande como se nem fosse gente, se só fosse nobre, se nem fosse meu.
Farejei algo de clímax - os romances dizem que o vazio precede a explosão. E tive medo. Medo de mim. Medo de Lord V. Medo de cair. Medo de despedaçar.
Então me soube inteira e suspirante com Lord V preso nas veias. Correndo com meu sangue. Parte dos meus olhos.
E ao cais me vi exposta ao mar. Só vento cercando.
Só vendo o que virá de Lord V.
Virei protagonista de história.

sexta-feira, junho 04, 2010

Novíssimo caso de pés

Eu acho que aquela mágoa toda foi embora no ralo de alguma pia. Devo ter passado o fio dental com mais força, sei lá. Sei que aquelas coisas densas não estão mais pesando as gengivas nem o estômago.
O silêncio, por outro lado, tem dito coisas que eu não entendo bem. A leveza de algumas coisas tem sido posta à prova e algumas questões têm criado nódulos nas costas. Ninguém precisa saber que o pé muitas vezes é mais importante do que o resto.
Também, se ele passar um ano fora, ainda estarei com saudade do contato diário, mesmo tendo dado tempo de arrumar outros colos. Principalmente, a Bia faz falta. Talvez as transições não sejam possíveis sem a única que faz versos por aqui desde que aprendemos a escrever. O mundo todo não cabe nessa manhã. Os problemas eu curo com café. Os pés eu dedilho e amasso e machuco e cuido.
É preciso muito cuidado com o sustento das coisas. Vínculo bom mesmo é imperceptível. Daqueles que você só dá conta quando estão ali, prontos e singelos. A Bia mesmo é vínculo desde sempre. Desses que eu nem consigo lembrar quando surgiram.
Fico procurando outros ápices depois do último. Fico criando casos, histórias e até conceitos. Tentando entender o que de forma alguma foi feito para isso.
A saudade é uma coisa que rasga.
Os romances têm sido suporte de dores. Palavras de desconhecidos que dão conselhos. Conversas de escada que tem cara de ajuda e não foram feitas para nada disso.
O outro perguntou se é tristeza ou amadurecimento. Não sei. Não sei. As vontades estão novas e distintas. Densas. O controle tem existido com mais freqüência do que antes. A escrita tem ficado até responsável.
As marcas continuam. Os vínculos eu não sei.
Outro dia queria falar muito de aflição e de ternura. Hoje queria falar só de entrega. Mas os vínculos ficam dançando na minha frente junto com as narrativas fortes de outros nomes e outros olhos.
Eu tenho olhos muito pequenos e um corpo muito pequeno. Eu tenho braços de abraçar o mundo e tendência forte ao anonimato.
O mundo sempre morou nas minhas costas, mas está pulando fora, procurando gente mais nova e menos emotiva. A Bia tem se metido em lugares diversos e está cheia de planos.
Parece que muita coisa, mas eu não estou parada e também não sei o que vem agora. Acho melhor aprender de vez a nova ortografia e depois sair para sambar.