quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Excelentíssimo senhor leitor,

Foi mamãe que me ensinou a fazer ofícios. Ela quem me disse da ironia, objetividade rapidez.
- Eles tem que ler, Aline, se não, não adianta.
E a verdade é que as pessoas acabam mesmo tendo medo de coisas com mais de três parágrafos corridos. É aterrorizante e pode ser chato. Pequenos apenas podem ser chatos, não dão tanto medo assim.
Mamãe me ensinou muitas coisas, como fazer brigadeiro e usar brinco e gostar de dourado e lavar as mãos com todo o cuidado do mundo.
Então eu termino pra você não ter medo de continuar lendo e deixo espaço pra você sentir toda a doçura que tem esse amor de mãe que faz ofício.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Trilha


“Pornografia é transgressão, libertação. É o sexo sem
vergonha de si mesmo, que se despe da cínica túnica do erotismo para expor o que
de mais humano existe nas relações amorosas.”
Trecho retirado do Blog do Grijó


Então ele ligou o som, se perfumou e esperou que ela viesse acesa e dele. Dizia que ela era um vulcão e devia ser mesmo. Ela parecia gostar de fazer tudo o que fazia com as mãos e a boca. Ela mordia a própria boca e gemia alto, sempre. Por que os dois tinham corpos que combinavam e cheiros que atraiam. Ele a via querendo meter-se e meter-lhe a mão em todos os lugares. Ela o via sem qualquer pudor.

“But that’s why birds do it,

Bees do it,

Even educated fleas do it,

Let’s do it, let’s fall in love.”

Ele olhava de canto de olho a saia dela que sempre passava balançando. Ele gostava da saia dela e de mais. Ela nem via, mas ele queria a moça que passava, bem como a saia no chão do quarto.

“You're so lovely, with your smile so warm

And your cheeks so soft

There is nothing for me but to love you

And the way you look tonight”

Então ela perguntou o que ele achava do vestido e ele engoliu seco. Ela não entendeu absolutamente nada, mas ele não podia escancarar que aquele vestido servia apenas para que ele se interessasse pelo que havia embaixo do vestido.

“Love for sale

appetizing young love for sale

love thats fresh and still unspoiled

love thats only slightly soiled

love for sale”

Na verdade, ela era pura. Em todos esses anos de puta ela sempre se assustava com os nomes feios e as taras esquisitas. Queria flores e sapatinho de cristal. Nem sabia de onde eles tiravam aquilo tudo, então ficava quieta. Talvez as esposas fossem mais depravadas.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Flor

A flor não era seca de forma alguma. Na verdade, poucos conseguiam entender exatamente o que ela era ou o que fazia. Sei apenas que ela era doce como poucas garotas e distribuía sua doçura como chuva. Por isso mesmo despertava antipatias como a minha. A flor encostava e tocava, era uma gracinha de chuva que eu não gostava.Era linda a flor, apaixonante. E numa dessas, ao vê-la chorando entendi a doçura e a mulher que havia na garota. Por que a flor distribuía açúcar e pimenta em sua chuva, e a pimenta dela ardia que dava raiva, por que ela não era flor que se cheirasse assim por nada.
A flor chorava que dava pena. Mas eu entendia o grito da flor. Entendia que ela era menina e ainda não sabia usar o veneno que tinha no néctar. Aí esguichava meio sem norte e meio sem noção.
Mas a flor vai desabrochar e ganhar forma. A flor vai dominar o veneno pra ser eterna. Vai se despetalar e se recompor muitas vezes.
A flor vai continuar chovendo e eu vou regá-la, que eu agora gosto dela e da sua fúria de flor.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Ana C.

Muitosentimentaldepoispoucosentimental.
Na verdade estou seca por que melosa demais pra escancarar. Na verdade estou seca por que preciso de um abraço.
Do you believe in poetry?

Chicago

Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais

Mais um ou dois passos de dança e quem sabe eu me embriague só de suor!
Parece bom pra mim.
Repito sempre a mesma frase pra ser original.
Não é uma gracinha?
All that jazz. All That jazz.
Eu não sabia que era Liza Minelli e nem que ela era filha da Judy Garland.
Tão gracinha ela tomando o palco inteiro!
Talvez me falte palco.
Talvez exceda aplauso.
Quero gozo, meu bem.
Quero ouro, neném.

terça-feira, janeiro 29, 2008

Suspiro


Aí eu suspiro, depois sorrio, depois suspiro, depois sorrio. Longe eu tenho sono e perto me sinto bem, não falo coisas que não quero e quase não ouço coisas que não gosto.
As mãos se encaixam e os carinhos combinam. E sem perceber nós andamos no mesmo ritmo de passos – o que faz pensar que daremos uma boa dupla pra dançar tango.
Precisamos apenas estar abraçados e ele comenta que eu respiro fundo quando durmo no cinema. Eu respiro fundo quando durmo e me encaixo perfeitamente nos seus ombros.
Disseram uma história de a gente se apaixonar e tudo ficar de uma cor diferente. Talvez isso acompanhe o riso bobo e as músicas que começam a ter mais sentido do que antes. Também entendo a graça que tem os mocinhos da novela, quando eu sempre preferi os vilões.
É vez de ser mocinha sem reclamar. Rir e suspirar.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Mariana XXI

Mariana me ligou meio retardada esses dias
Aí eu quis que ela me contasse tudo tim tim por tim tim.
O problema é que ela vomitava acontecimento atrás de acontecimento e eu me senti meio perdida naquela narrativa meio poema que ela disse ter virado comédia romântica americana.
Disse que a confusão teve fim.
Disse que daquela noite de ciúmes ela foi pra Bahia e as coisas foram se ajeitando confortavelmente. Ainda aqui, ela pôs um fim no caso óbvio.
Os dois riram e reconheceram que o lance tinha sido óbvio, mas turbilhão demais que Mariana já não merecia. Então faltavam o sonho e a flor.
Ela disse “que bom”, quando o cara que ela não consegue adjetivar disse que já não havia outra moça.
Ele disse “que bom” quando ela disse que o óbvio já não existia.
Ele disse que ainda tinha que falar “que bom” mais duas vezes - por que Mariana fora honesta desde o princípio e achava que era assim que devia ser.
Ela riu.
Mariana me confessou que gosta muito das risadas e dessa sensação nova de tranqüilidade e carinho que lhe faz bem para a pele.
Mas ainda havia sonho e flor.
Com a flor ela não falaria. As pétalas ficariam ali, cheiravam bem e não incomodavam. Não havia de ser paixão. A flor era só flor.
Aí ela foi pra Bahia e encontrou o sonho.
Ele tinha medo de Mariana querê-lo pra sempre.
Foi aí que ela riu e explicou que seria a última vez.
E foi bonito como tinha que ser. Teve cara de novela e filme, com trilha sonora perfeita e tudo o mais. Mesmo Mariana sabendo que de forma alguma daria seu coração, faria aquilo real, nem esqueceria. Foi Smooth. Por que ela não queria que o sonho lhe desse um amor de cinema em que não lhe faltasse carinho, plano nem assunto ao longo do dia. Nenhum dos dois queria largar nada um pelo outro.
E Mariana me disse que chorou no fim da noite, por que doeu mesmo por fim ao sonho.
Foi então avisar ao cara que ela não adjetiva. E dizer que era ele que ela queria para si.
Aí ele disse dois “que bom”.
Aí o cara que Mariana não adjetiva foi para a Bahia e os dois se encontraram, se abraçaram, riram juntos e foi tranqüilo e agitado como deve ser.
Por que ela me disse que é ele que ela quer pra si.
Ela me disse que ele tem olhos lindos e sinceros, como ela bem gosta de ver.
E eles cuidam um do outro.
E no fim,
It's still the same old story
A fight for love and glory
Acho que Mariana sossegou num galho só.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Xote das meninas

- Você acredita naquelas coisas de conto de fadas?
- Não não. Os homens são todos iguais.
- Não acho que seja assim... Deve ter um.
- Acredita em mim que sou mais velha. São todos a mesma coisa. Todos uns babacas.
- E você quer que eu faça o que?
- Brinque.
- Não tenho coragem.
- Isso é por que você tem quinze anos.
- Grande coisa você e os seus longos dezesseis!
- Meninas de dezesseis brincam, é esse o charme.
- Não tenho coragem.
- Vai ter.

***

Ela não comeu cebola por que se encontraria com ele logo depois. Então os dois saíram e cada um comeu um pastel. Tinha cebola no recheio, mas ele não falou nada por que sabia que ela gostava de vinagrete e não o tinha comido por consideração.

***

Os cabelos estavam arrumadinhos apenas para serem bagunçados e o perfume cumpria com exagero a sua função corriqueira. Agradava.
Ela também botou os brincos de pena que ele achava bonitos. Sabia que o brinco interessava menos que o decote e o jeans justo, mas sabia também que arrancaria dele alguns sorrisos.

***

- Elas não querem saber dos garotos de dezesseis.
- É por que eles costumam ser idiotas, Felipe.
- Ninguém diz que eu tenho dezesseis.
- Posso acreditar em você. Mas as meninas de dezesseis são impossíveis. Elas estão aprendendo a provocar. Estão perdendo o pudor. É muito difícil competir com uma menina de dezesseis.
- Elas só querem saber dos garotos de vinte e dois.
- Felipe, ouça uma coisa. Talvez você não precise usar, mas é preciso ter isso na manga. Leia poesia, querido. Especialmente de Vinícius de Moraes.
- Não acho necessário.
- Vá por mim. É bom ter Vinícius na manga.

***

As meninas de dezesseis tem despudor e medo. Elas não sabem bem até onde vão, mas querem saber de tudo e fazem cara de sapeca. Ter dezesseis pelo resto da vida pode ser extremamente atraente e Felipe não entende que não precisa falar poesia, apenas sabê-la.

***

Toda mulher acaba caindo de quatro por homens que lêem, mesmo não sabendo que eles lêem.

sábado, janeiro 19, 2008

Videoclipe

Ela botou o biquini e a saída de praia que não combinava nem com ele nem com a bolsa, soltou os cabelos e saiu sem rumo. Não precisava muito de companhia naquele dia, apenas mar e pernas trabalhadas. Música.
O grande lance do biquini e da bolsa e tudo o mais é que sozinha assim ela se sentia como num videoclipe de pop rock. Os cabelos bagunçados davam o ritmo da canção que ela dançava à beira-mar.
Era natural.
O céu estava azul e fazia muito calor.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

E aí, casa?

Então? Vamos morar juntas? A gente pode fazer besteira e bolo e macarrão. A gente viveria de queijo e chocolate, depois faria dieta.
Aí nenhuma conta nem pro papai nem pra mamãe nada de errado que a gente faça. Podemos combinar. Eu faço o que mamãe aprova e papai reprova e você faz o que papai aprova e mamãe reprova. Depois a gente reveza!
Aí a gente cozinha e chama os vizinhos pra comer. E depois limpa a casa e lava a louça. Não ligo de lavar o banheiro, mas você limpa as janelas, pode ser?
O armário a gente tira tudo e limpa às vezes. Lava toda a louça com cuidado de não quebrar nada.
E toda a semana a gente compra um galão de vinho e comemora. Por que somos jovens e tudo tudo é uma festa.
Aí quando você tiver prova eu faço silêncio. Quando eu tiver texto você faz silêncio.
E a gente reveza os silêncios e os choros e fala mal dos homens, da mamãe e do papai.
E vai ser legal que a gente cresce, irmã.
Vamos morar juntas e a gente toma banho de chuva, banho de mangueira e nunca vai faltar absorvente.
Aí ninguém conta nada pra ninguém e a gente engorda e emagrece sem parar.

sábado, janeiro 12, 2008

Dança

Quem sabe um dia ainda te pago um cinema?
O Sol nasceu meio torto, tenho quase certeza.
Talvez não seja certo sentir filetes de carne entre os dentes e pedaços de dentes na boca.
O Sol nasceu fazendo inchar.
Tenho certeza que o céu era o mais bonito de todos e o mar também.
Não gosto de escuro, mesmo. O céu parecia feito de diamante.
Já chamei as amigas pra sair.
Quem sabe não tomamos um vinho e conversamos fumando um cigarro caro e fino que não combina com nenhum de nós dois?
O mesmo cigarro por que somos dois nadas entre o céu, o Sol e o mar.
Quem sabe não nadamos e sentimos as carnes frias e sem pedaços.
Talvez lavemos a alma ao invéz de tentarmos nos machucar.
A próxima dança não deve ser lenta.
Você deve se aproximar, segurar-me pela cintura com força e sem dó.
Feito isso, vou onde você me levar, com as pernas no ritmo das suas.
Segurar pela cintura e guiar-se pelo cheiro, grave bem.
Dois nadas entre céu, Sol e mar.
Contradança sem nenhuma técnica de salão.
Filetes de carne.
Teria dado certo. Quem sabe?
O Sol já nasceu . Não tem mais escuro pra nos aquecer.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Guia prático da mulher machadiana

à Marcela Oliveira E Rayane Almeida



É preciso dividi-los em blocos, no mínimo quatro blocos. Há que se ter a lembrança daquele romance de um mês. E ele não deve durar muito mais que isso. Não precisa ser avassalador. O romance de um mês é apenas empolgação descartável. É preciso tê-lo e é preciso que o pivô masculino do romance balance a moça por tempo indeterminado. Mas o romance só dura um mês.
O segundo bloco consiste no do romance-problema. Toda mulher precisa passar pelas mãos de um garoto-problema. No mínimo um. Não importa se ele tem problemas de saúde, problemas com drogas ou álcool. É preciso que a neurose dele seja difícil de agüentar, irregular e química. A experiência, no entanto, só se faz válida se o garoto-problema for paixão de longa data. Mas esse, quando acaba, acaba e pronto. Não parece descartável, mas é. O problema tem que estar na cara o tempo todo. Se for bandido, tem um charme à mais.
O terceiro bloco é definitivo. O mais comum dos blocos. Se a mulher não passa por esse bloco, não consegue chegar ao quarto e à utopia, que foge à blocos por que seria paixão pura e simples com sabor de fruta mordida e noz na batida no embalo da rede matando a sede na saliva. O terceiro bloco é o bloco dos sacanas. O cara que te faz de idiota, que tenta fazer mais do que pode. O cara por quem a mulher se apaixona e não liga no dia seguinte. São caçadores, divertidos e instigantes. Costumam provocar vertigens e ataques epiléticos. Causam ciúmes mórbidos e taras doidas. Não são nem um pouco confiáveis, com raríssimas exceções. Este bloco é fundamental. É preciso passar por ele várias vezes para aprender alguma coisa.
O quarto bloco já é sinal de amadurecimento ou sadismo. Podemos chamar de bloco dos bobos. São aqueles homens que servem de estepe. Aqueles que devem ser feitos de idiotas desde o começo, mas que ainda assim estarão sempre disponíveis. Eles podem vir de qualquer um dos blocos acima. Podem inclusive ser bons partidos. A beleza física é muito importante neste bloco. É preciso que o bobo seja um troféu. Ele deve ter valor junto às amigas. Todas devem ter um bobo. O melhor bobo vence a disputa constante de egos entre as calcinhas.
São esses os blocos e são obrigatórios. Trata-se de amadurecimento e sadismo. Depois dos blocos, a mulher já não precisa experimentar muita coisa. Esses blocos resumem o que há. É depois dos quatro blocos que a mulher pode correr mais riscos. Só depois de fazer um homem de idiota uma mulher entende o tamanho (mínimo) do poder que tem. De resto, é preciso entender que tudo não passa de jogos e narrativas. São técnicas e sorrisos. Dissimulação. Olhos de ressaca. Instinto, queridas, salvação.
E há mais uma coisa. É preciso cozinhá-los em banho-maria. Mais de um ao mesmo tempo, de preferência. Quando existem diversas possibilidades o risco de queimaduras é menor. Ainda assim, uma panela cheia que derrama pode causar fortes dores e grandes hematomas.
É preciso tomar cuidado.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Mariana XX

Foi ciúme de novo.
Mariana tentava se convencer de que não tinha motivos,
No fim das contas ela era a parte mais confusa da situação (como sempre fora em todas as situações).
O fato é que Mariana tinha ciúmes apesar da flor e do sonho e do óbvio
Nem adjetivar seus ciúmes ela podia, por que tinha
Me contou que tentou se afogar em pipocas, mas não pôde.
Disse-me que lembrou-se dos Lucas, dos dois Lucas que tem nome por que são números. Lembrava deles por que nenhum deles parecia boca de leão.
Mariana perdeu o medo de escuro, mas continua sendo Mariana e não sabendo bem como agir.
Mariana não se conserta.
(travei o texto, que agora tem um buraco por que detesto que me interrompam enquanto escrevo. Não abram a porta do quarto, não parem a música e não falem comigo enquanto escrevo. Só se seu falar for escrever. E mesmo assim, só dou atenção quando quero e por que preciso)
Mariana sente ciúmes do cara que ela não adjetiva.
E se sente idiota.

domingo, janeiro 06, 2008

Crônica de verão

- Cocada! Cocada! Oooooo cocada! - da rua, o homem grita.
- Cala a boca! - do andar de cima, grita voz de criança.
- Quem foi? - Da mesa de almoço alguém pergunta entre risadas.
O menino estava bravo por que eu tinha desligado o playstation dele. Só puxei a tomada. Tinha sido sem querer, mas ele tinha ficado extremamente bravo. Tinha chegado numa fase difícil do jogo e uma alma sem coração tirou dele o mérito. Eu sou a vilã dessa história, por acidente, é claro - tudo culpa da alma desastrada que meu corpo carrega ou do corpo desastrado que minha alma possui.
Enfim, o barraco estava armado e o avô dizia que videogame não é coisa de praia e que ele iria esconder o t. Então eu era apenas um pau mandado que tinha desligado o playstation pq meu avô mandou.
Sei que os dois meninos choravam e o mais velho me queria ensinar a olhar quando o jogo estava ligado e quando não estava. Fiquei brava. Já tinha dito que tinha sido acidente e que não era mesmo por querer. Desliguei a tomada por que procurava um lugar pra carregar a bateria do meu MP4. Não fiz por mal, sou simpática sendo vilã.
Briguei com o menino dizendo que só ia olhar depois que almoçasse e ele que esperasse. Ora! Tinha dito já agumas vezes que tinha sido sem querer. Ele chorou. Devia pensar que eu faço parte de alguma corrente do mal.
Na mesa de almoço me mandaram escrever a crônica e eu disse que vinha à "Han louse". De repente, não mais que de repente, deixei de ser a vilã da história e passei a ser a prima amada. GTA é mais legal que playstation.

sábado, janeiro 05, 2008

Poema das uvas

Roubei uvas na cozinha
Não vou escrever nada hoje
Seria confessional
E piegas
Disse que não fazia poemas
As pernas dóem de caminhada
Tive vontade de mar,
como das uvas que roubei
Não pude entrar no mar
Não quero mais pieguice
Nem gosto de Poesia...
É mentira.
"Entre pés de laranjeiras
Entre uvas meio verdes
E desejos já maduros
Entre uvas meio verdes?
Meu amor, não se atormente
Certos ácidos adoçam a boca murcha dos velhos" *
As uvas eram roxas e pequenas e ácidas
fazem tudo funcionar
Não quero escrever mais nada
Seria poesia
E piegas.

*Trecho mal transcrito de Drummond

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Mariana XIX

Por que a centésima postagem desse blog tinha que ser sobre Mariana

Ela arrumou as malas, viajou no dia previsto
e me ligou, como é praxe.
Mariana está na Bahia, longe do mundo real e sendo cozida em banho maria pelo sonho.
Ainda tem vontade de escorrer feito água ou ventar
mas não vê mais graça nas coisas que via
Mariana está bem confusa e se divide
Espera a chegada da flor
acha que se ela vem tudo fica mais claro.
Nada está claro, ela me disse.
Ela não quer apressar nada, não quer nada.
Achava que queria tudo.
Gaguejava no telefone enquanto falava comigo de alguns sonhos que teve.
Mariana está assustada, mesmo muito bem.
Queria que o sonho do sono fosse o sonho que ela sempre vê e beija na Bahia
Queria beijá-lo também.
Mas havia outras pessoas sem adjetivos e Mariana se confundiu de novo.
Não sabe de nada e me torra o saco.
óbvio.

terça-feira, janeiro 01, 2008

Reveillon

Não acredito mais em promessas de ano novo. Vesti-me de branco pra ver se esse ano arurmo um pouco de paz (coisa que nunca quis, mas que anda me faltando por completo). O vestido é bonito e foi muito bem escolhido. Resolvi também que esse seria um ano de escolhas minhas e de tentar não deixar ninguém mais me pisar.
Tenho essa mania egocêntrica de querer carregar o mundo nas costas. Não dá certo. Então resolvi que não ia ficar na porcaria da festa que não era festa e na qual eu realmente não queria ficar. Mas ela ficou lá, mesmo eu querendo carregá-la nas costas.
Aí agora eu não consigo pegar no sono por que ela não vai chegar tão cedo e eu não confio nem nela nem em ninguém de lá. Meu lado sádico diz que é bom que ela fique e se estrepe inteira.
Meu lado mãe do mundo diz que eu devia tê-la trazido debaixo de chineladas.
Meu lado mãe até acha bom que ela se estrepe, mas não vai admitir por que isso não é coisa de mãe, é coisa de pai. Mãe dá colo.
Não quero dar colo. Quero dar chineladas ou deixar que ela tome as chineladas que tem que tomar.
Mas a tal paz eu não tenho e abro meu ano assim, insone, sem festa e preocupada por conta dessa mania ridícula e egoísta de achar que o mundo tem que estar nas minhas costas.

Um brinde?

domingo, dezembro 30, 2007

Narrativa de champanhe

à Natasha Siviero


Acordei de madrugada com a cabeça doendo forte como nunca. Tive enjôo também. Pensei que podia ser câncer – fatalista como sou, fazia sentido. Foi aí que lembrei que a minha cabeça doendo e o meu enjôo era resultado de excessos da noite anterior.
Tinha saído para dançar. Chão. Chão. Chão. A intenção era clara e o dinheiro era pouco, mas como a narrativa vive de coincidências, estávamos no lugar certo e na hora certa. Pra ser exata, sentamos, eu e Clara, na mesa certa.
Estávamos as duas com pés doloridos e sem gostar da música. Arriaríamos ali até as coisas se animarem naturalmente, como sempre acontecia quando com a gente. A mesa não era nossa. Havia um quarteto simpático que permitiu que sentássemos enquanto dançavam. Apresentamo-nos. Clara, Júlia, Patrícia, Júlia, Carlos e Paulo. Paulo namorado de Júlia (mesmo nome que o meu, mas não a mesma graça que a minha), Carlos em sua despedida de solteiro, Patrícia mineira irmã de Paulo. Eu e Clara de penetras por ali.
Nós duas conversávamos o que a música permitia e concordávamos que o vocalista da banda era das coisas mais bonitas do salão. Tínhamos nos perdido já uma vez. Achamo-nos no banheiro enquanto eu conversava com uma mulher de cabelo muito grande sobre a possibilidade de ela cortar o cabelo bem curto e fazer uma peruca. A mulher me disse que o cabelo dela valia 600 reais. Pensei ser um bom dinheiro. Lembrei que quando meu ex-namorado vendeu seu cabelo ganhou apenas 80 reais – e ele tinha um cabelo bem grande.
E daí voltamos à mesa. Pouco depois que nos sentamos um garçom apareceu com um balde de energético, depois uma garrafa de uísque. Eu e Clara tínhamos tomado apenas uma cerveja e uma Ice. O quarteto simpático da mesa fazia questão que bebêssemos com eles. Dissemos que não. Insistimos que não. Clara justificou que tinha que levar o carro para casa e não queria ser peã na blitz. Mas comigo eles não se deram por vencidos. Carlos me serviu um copo de uísque e energético.
Então eu já dançava como se nem ligasse. Mais uísque. Chegou uma garrafa de champanhe. Aí até Clara bebeu. Foi pouco depois disso que Patrícia se aproximou de mim e disse que seu irmão queria trocar de Júlia. Pensei “comigo não, nessa eu não caio”. Disse então pra Patrícia deixar isso pra lá e dançarmos até o chão.
Patrícia tinha sérios problemas para rebolar, estava escuro, mas ela tinha a vergonha que o uísque já tinha me feito perder.
- Ai meu Deus! Como é que você faz isso!
- Mexe o quadril, menina!
- Ai! Mas eu não consigo! Sabe, minha amiga lá de Minas disse que eu tenho que imaginar que estou fazendo amor.
- É mais ou menos isso, Patrícia. Pensa que as mãos dele estão guiando os seus quadris e vai.
E ela foi. Pouco depois mais gente da boate viu como ela ia, como já tinham visto Clara. Tinham me visto também, mas eu não queria ser vista. Carlos insistia que ficássemos juntos, mas eu só quis quando um outro cara resolveu que eu devia ser dele. Disse-lhe que estava com Carlos. Carlos então quis que eu de fato estivesse. Não fui. Disse a ele que Clara era a melhor opção- era ruiva e ruivas tem mais charme que castanhas como eu.
Carlos queria Clara, queria todas. Não tinha norte e quis que acreditássemos que ele estava solteiro na pista. Mais champanhe. Martini. Eu não estava bem. Cerveja, champanhe, Martini, uísque, energético, ice e dança. Os pés nem doíam mais. Clara disse que cuidaria de mim.
Fomos embora da boate, emersas na magia do champanhe e dos olhos verdes de dois caras que encontramos ao lado do carro de Clara. Clara me deixou na porta de casa, e eu não lembro o que aconteceu depois que eu subi o elevador. Acordei atrasada e com o quarto bem bagunçado.
Sobrou a dor de cabeça e a eterna paixão por dança. Uísque, champanhe, energético, Martini, cerveja e ice.

Sobre tesão

A tela é branca. Tem que ter maior parte branca pra ter tesão de papel. Escrever em tela não é a mesma coisa por que o pulso não dói e as coisas saem mais rápido e tem correção automática. A poesia, no entanto, não se perde. Há o tempo do raciocínio e tudo o mais.
Falo disso por que quero escrever e não tenho assunto.
Poderia gastar falando sobre como fim de ano me toca e me deixa nostálgica, mas quero falar de paixão.
Ando seca.
A narrativa continua tendo a mesma graça, mas não sei mais inventar histórias e frases.
Poderia então apelar para nudez absoluta e bela.
Descreveria a cena de dois amantes. Ele deitado, olhando pra ela. Ela sentada na beirada da cama. O ventilador que fica na cabeceira venta contra o cabelo dela e a luz que vem da janela incide na pele dela. Ele não consegue se conter em dizer o quanto ela é bela e ela sabe que a cena favorece isso.
A nudez é bela.
O branco da folha é uma coisa muito bela, como a tinta da caneta e toda a narrativa por traz das narrativas de papel. O atrito é mesmo muito belo.
Então escrevo e me dispo. Aí você vê e me diz se é belo.
O quadro todo favorece.
Minha mão pulsa e venta.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Luana


Imaginem que Luana era mais bonita que o necessário. Imaginem ainda que ela tinha um temperamento oscilante, mas um ótimo senso de humor. Não era, portanto, mulher de se jogar fora.

Eis então o ponto em que essa história começa, o dia em que Luana percebeu que não era mulher de se jogar fora. Foi aí que ela assumiu as próprias curvas e o próprio mau-humor. Começou a se cuidar e se perfumar, mais pra ela que para suas paixões.

Esta narrativa tem seu rumo nas muitas paixões concomitantes da mocinha. Como ninguém a jogava fora, ela também não jogava ninguém fora. Então ela ia acumulando paixão atrás de paixão e paixão em cima de paixão.

Luana dizia que as paixões não se atrapalhavam, mas ela se atrapalhava. Não queria esconder nada de ninguém e também não queria que ninguém se machucasse.

Mas a verdade é que Luana gostava de Mateus, que também a via mais bonita que o necessário e também gostava do senso de humor dela. Ele não fazia parte do bolo de paixões, era um caso à parte e talvez ela tenha se descoberto bonita como era por culpa dele. Era Mateus quem fazia questão de frizar como ela tinha pés bonitos e como as maçãs de seu roso pareciam feitas para receber carícias.

Mateus e Luana eram cafonérrimos quando juntos e era por isso que ambos tinham bolos de paixões à parte. Ambos temiam que sua cafonisse se estragasse se o bolo não existisse.

Mateus não era mais bonito que o necessário, nem sabia fazer poesia. Luana tinha sede de mais e Mateus tinha medo de menos.

Então Luana caia em braços fortes que pareciam aonchegantes, sentindo falta da falta de poesia de Mateus, mas gostando de saber que ninguém a jogaria fora. Nem Mateus.

Agora imaginem que Luana levava a história que queria levar e continuaria vazia, mesmo cheia de paixões.


A narradora não é moralista nem acha que Luana devia ter menos casos, mas Luana é cafona e por ser cafona queria ser flor de um só beija-flor. Mateus. Cafona assim.