Tirei meu amor do armário sem aviso
prévio. Num choque de raiva, sentei-o, amarrado e vendado, na cadeira. Acendi uma luz forte, peguei o chicote e comecei a
inquisição:
_ Até quando o senhor vai ficar
estragando as músicas, eim?
_ Dona, nunca que isso foi intencional.
_ Não foi intencional uma ova!_ bati
estalado na cara do amor. E o chicote, que não sei empunhar direito,
arrancou-lhe as amarras sem que fosse essa a intenção. _ É bom o
senhor parar agora com isso.
_ Paro, sim. Já parei. É tudo coisa
da sua cabeça. Me deixe solto. Me deixe.
_ Está solto sim. Desamarrado, até.
Anda, vá pra bem longe.
_ Mas, dona. Eu só gostaria de lhe
fazer companhia.
_ Não sem tapas, meu senhor. Nunca sem
tapas. Ou fica pro açoite ou some que agora não é hora de você.
O amor me fez cara de medo, mas ao
mesmo tempo tão doce que não disse não. Assumi-o morando perto. E
se me perguntarem, conto que existe, mas que por contenção de
despesas anda passando fome.