Quando toda a raiva subiu, Ana não quis comer nada. Enfiou umas roupas na mala e saiu gritando, chorando, bamba e sem se conter. Por onde passava sempre aparecia um lenço e uma voz ou outra perguntando se ela estava passando mal.
Mas era o fim de tantas coisas que Ana só queria seguir com seu choro pra longe e aguentar o tranco de tudo. Se lavava com sal, saliva e lágrimas, mas não ficava ainda limpa.
Precisava parar um pouco, mas o mundo não parava de girar, o pulmão não deixava de puxar ar, as mãos não deixavam de tremer e os carros não deixavam de passar. Se nada parava, Ana tampouco.
Seguia tentando ser firme e aguentar toda aquela dor explodindo no peito.
Então ficou desacordada no meio da rua por um desmaio e tudo o que acontecia em volta passou em branco.
segunda-feira, junho 22, 2009
quinta-feira, junho 18, 2009
ID
Um pouquinho de coisas novas faria muita diferença se eu não estivesse ouvindo as mesmas músicas e não tivesse tanto medo.
Gente fina é outra coisa.
Queria guitarras distorcidas e um pouco mais de calma talvez pra talvez sumir e talvez falar menos e talvez virar noites num movimento circular e retilínio, curvo e nada nada nada uniforme.
Então parar de pensar em qualquer coisa e deixar que os dedos guiem as danças sem qualquer freio enquanto o teclado de computador faz música com cordas postas atrás. e um ritmo de letras num ritmo de som e melodias novas finalmente.
e filosofia.
Quando ela acordou daquele sonho em que a navalha lhe cortava o olho transformando-o em uma grande bolha d'água que explodia e molhava todo mundo, sentiu muito gosto de lágrima na boca. Cheiro de batata frita.
É por que sem coisas novas, nada que não seja pedaço de sonho faz qualquer sentido.
Gente fina é outra coisa.
Queria guitarras distorcidas e um pouco mais de calma talvez pra talvez sumir e talvez falar menos e talvez virar noites num movimento circular e retilínio, curvo e nada nada nada uniforme.
Então parar de pensar em qualquer coisa e deixar que os dedos guiem as danças sem qualquer freio enquanto o teclado de computador faz música com cordas postas atrás. e um ritmo de letras num ritmo de som e melodias novas finalmente.
e filosofia.
Quando ela acordou daquele sonho em que a navalha lhe cortava o olho transformando-o em uma grande bolha d'água que explodia e molhava todo mundo, sentiu muito gosto de lágrima na boca. Cheiro de batata frita.
É por que sem coisas novas, nada que não seja pedaço de sonho faz qualquer sentido.
quarta-feira, junho 17, 2009
Confiança
Fiona Apple - Criminal


Fingia que aquele salto todo finíssimo não fazia a menor diferença. Mas era no equilíbrio sobre os pés elevados que ela fazia todo o seu charme. Mexia os quadris num ritmo firme e se mostrava capaz do equilíbrio supremo de bico fino.
Coração a mil. Uma hora ou outra aquela máscara ia pro chão e ele ia entender que sem sapatos, ela era apenas ela.
Respirou fundo e retocou o batom.
Enquanto houvesse dor nos pés, não haveria outra.
Nota da autora: se eu fosse vocês, ouvia a música. Valeu Mike pela música e Ariel pela foto.
sexta-feira, junho 12, 2009
manhã
Tanto cheiro de cebola e óleo e tudo tão quente que eu quis ir embora.
Aquele casaco grande dele e aquela cara de não ter dormido da gente parecia combinar com o bacon da panela.
Me senti muito americana com aquele café todo. Mas o cheiro de cebola com bacon, óleo, pão e café torturava tanto quanto o calor.
Eu me sentia parte de outra coisa que não incluía café.
Foi muito difícil deglutir tudo, mas se eu saísse correndo ele talvez quisesse me ver de novo. Fui simpática e grudenta como toda mulher fácil demais.
Quis que ele me pensasse vagabunda pra simplesmente não ter amanhã.
Mas ele insistia em cafuné e eu doía junto com o bacon, como se eu estivesse com as beiras queimadas em óleo. Como se tudo fosse lento e as paredes estivessem quentes como uma panela, me oprimindo.
Quando eu fui embora, quis não comer bacon nunca mais e torci muito pra ter outro café torturante.
Aquele casaco grande dele e aquela cara de não ter dormido da gente parecia combinar com o bacon da panela.
Me senti muito americana com aquele café todo. Mas o cheiro de cebola com bacon, óleo, pão e café torturava tanto quanto o calor.
Eu me sentia parte de outra coisa que não incluía café.
Foi muito difícil deglutir tudo, mas se eu saísse correndo ele talvez quisesse me ver de novo. Fui simpática e grudenta como toda mulher fácil demais.
Quis que ele me pensasse vagabunda pra simplesmente não ter amanhã.
Mas ele insistia em cafuné e eu doía junto com o bacon, como se eu estivesse com as beiras queimadas em óleo. Como se tudo fosse lento e as paredes estivessem quentes como uma panela, me oprimindo.
Quando eu fui embora, quis não comer bacon nunca mais e torci muito pra ter outro café torturante.
quarta-feira, junho 10, 2009
Tédio
Estou cansada.
Ontem, quando eu fui embora, você não achava que eu ia.
Talvez quisesse que eu ficasse mais e mais te esperando pra sempre com um sorriso no rosto e nada além disso na cabeça.
Mas eu não sei mais. Estou cansada.
Tive que ir dormir e talvez esperar que chegasse o dia seguinte.
E não teve mais nada.
sábado, junho 06, 2009
Manifesto
Quando eu te quis, também quis que fosse apenas por razão. Mas este músculo involuntário idiota continua pulsando sem que eu mande numa velocidade extraordinária.
Quando eu sinto gosto de cerveja e cigarro, te odeio por que é como se tivesse acabado de sair de um beijo.
Vai, músculo imbecil, continua pulsando por gente idiota de forma idiota!
Eu mesma prometo ser fria, dura, forte - como terra.
E não quero mais saber de qualquer raiz.
Ontem, quando eu vi, tinha tirado um peso enorme das costas por dizer o que devia ter sido dito há cinco anos. Nunca soube que um pronome seguido de um verbo pudessem juntos fazer tanto bem para a coluna.
Mas depois de desculpas, abraços e sorrisos, tomei mais uma facada.
Vai, músculo idiota!
Controle-se por que eu já disse que não confio em você.
domingo, maio 24, 2009
Tentativa de ficção ligeira
Dormi com Henry Miller e acordei com seus tapas. Odeio tudo.
Principalmente os comentários secos sobre tudo com essa arrogância de ogro.
Mas não precisa de nenhuma palavra doce.
Ver os lábios grossos e sentir o cheiro basta pra eu cair sem amanhã nem nada.
Depois o gosto é só azedo.
Estou cansada de tanta emoção.
quarta-feira, maio 20, 2009
domingo, maio 17, 2009
Sobre livros e novas paixões
Eu ando apaixonada por cachorros e bichas, duques e xerifes. Por que eles sabem que amar é abanar o rabo, lamber e dar a pata.
É nova pra mim essa coisa de não esperar absolutamente nada. Acho que nisso consiste uma liberdade muito mais sólida e nova, mesmo que baseada no descrédito de toda e qualquer pessoa.
Não se trata de pessimismo. É cálculo de probabilidade, tabela de co-senos e carta de expediente com ponto, protocolo e manifestações de apreço ao senhor diretor.
Tudo velho mesmo, eu não reinvento nada. Eu não construo nada.
Vou na corrente como Henry Miller depois de uma luz no meio do livro.
E não criar expectativas garante um bom humor desmedido, por que nada se frustra se você não espera nada.
Apenas surgem no meio da noite vontades novas de gargalhadas velhas e eu vou me entregando à maré. Abano o rabo pra coisas bonitas e continuo sonhando com o inalcançável que eu sei que não precisa chegar.
Paixão é coisa de cheiro e encantamento. Assunto.
Não é quase nada, mas movimenta tudo - como a gravidade faz com os peitos ao longo do tempo.
É nova pra mim essa coisa de não esperar absolutamente nada. Acho que nisso consiste uma liberdade muito mais sólida e nova, mesmo que baseada no descrédito de toda e qualquer pessoa.
Não se trata de pessimismo. É cálculo de probabilidade, tabela de co-senos e carta de expediente com ponto, protocolo e manifestações de apreço ao senhor diretor.
Tudo velho mesmo, eu não reinvento nada. Eu não construo nada.
Vou na corrente como Henry Miller depois de uma luz no meio do livro.
E não criar expectativas garante um bom humor desmedido, por que nada se frustra se você não espera nada.
Apenas surgem no meio da noite vontades novas de gargalhadas velhas e eu vou me entregando à maré. Abano o rabo pra coisas bonitas e continuo sonhando com o inalcançável que eu sei que não precisa chegar.
Paixão é coisa de cheiro e encantamento. Assunto.
Não é quase nada, mas movimenta tudo - como a gravidade faz com os peitos ao longo do tempo.
quarta-feira, maio 13, 2009
Crônica de perfume doce
Minha avó me ligou hoje pela manhã com um tom gravíssimo na voz. Pensei obviamente que tinha feito alguma besteira das grandes, mas não.
- Aline, não tenho sentido mais aquele cheirinho que eu gosto em você. Está sem capricho agora?
Logo me assustei. Onze horas da manhã e minha avó parecia dizer que eu já não tinha asseio. Respondi de pronto:
- Não é nada disso não, vó.
- Ô minha filha, estou perguntando se você mudou de perfume. Aquele Capricho que eu gosto tanto acabou?
- Não, vó. Continuo usando Capricho, só que ando numa pindaíba tão grande que não uso em dia a dia o perfume que já está no fim.
Depois, fui extremamente indelicada avisando que normalmente eu estava em aula naquele horário e que podia ser que eu não atendesse uma ligação pela manhã. Aí ela mandou que eu me danasse, por que eu também tenho aula à noite e ela pode me ligar a hora que quiser.
Tem razão. Preciso de um vidro novo de perfume e muito mais telefonemas.
- Aline, não tenho sentido mais aquele cheirinho que eu gosto em você. Está sem capricho agora?
Logo me assustei. Onze horas da manhã e minha avó parecia dizer que eu já não tinha asseio. Respondi de pronto:
- Não é nada disso não, vó.
- Ô minha filha, estou perguntando se você mudou de perfume. Aquele Capricho que eu gosto tanto acabou?
- Não, vó. Continuo usando Capricho, só que ando numa pindaíba tão grande que não uso em dia a dia o perfume que já está no fim.
Depois, fui extremamente indelicada avisando que normalmente eu estava em aula naquele horário e que podia ser que eu não atendesse uma ligação pela manhã. Aí ela mandou que eu me danasse, por que eu também tenho aula à noite e ela pode me ligar a hora que quiser.
Tem razão. Preciso de um vidro novo de perfume e muito mais telefonemas.
terça-feira, maio 12, 2009
Mais um flerte
Queria ter te botado na boca como um cigarro e te aspirado aos poucos. Soltaria o que não coubesse nos pulmões e nas veias.
Está claro que essa nicotina sua me entra pelos olhos.
Vou fumar essas palavras que saltam e mexer a boca em ritmo de fumaça.
Farei círculos no ar e darei voltas.
Estou sem fôlego.
Está claro que essa nicotina sua me entra pelos olhos.
Vou fumar essas palavras que saltam e mexer a boca em ritmo de fumaça.
Farei círculos no ar e darei voltas.
Estou sem fôlego.
sexta-feira, maio 08, 2009
Salomé
É que você tinha essas marcas na testa. Umas cicatrizes de cortes de criança levada. E depois tinha também os olhos grandes e bonitos e castanhos e uma boca que eu queria que me envolvesse.
E quando eu andava todo mundo olhava, menos você. E quando eu dançava até a lua parava, menos você.
Então eu disse que queria beijar-lhe os lábios. Implorei, me fiz de menos. Ajoelhei. Fui tão oferecida e tão sedenta que você apenas disse não.
Quis tanto que senti dor.
Foi quando o rei perguntou o que eu queria por uma dança. Pedi que cortassem a sua cabeça e dancei.
Depois, me serviram a sua cabeça numa bandeja de prata e eu pude beijar os lábios e as cicatrizes.
E quando eu andava todo mundo olhava, menos você. E quando eu dançava até a lua parava, menos você.
Então eu disse que queria beijar-lhe os lábios. Implorei, me fiz de menos. Ajoelhei. Fui tão oferecida e tão sedenta que você apenas disse não.
Quis tanto que senti dor.
Foi quando o rei perguntou o que eu queria por uma dança. Pedi que cortassem a sua cabeça e dancei.
Depois, me serviram a sua cabeça numa bandeja de prata e eu pude beijar os lábios e as cicatrizes.
domingo, maio 03, 2009
O fantástico diário de Aline Dias (parte 1)
Sobre ser confessional? Não ligue, Aline. Não deve se importar com isso. Ninguém tem nada com isso.
Francisco Grijó
Descubro agora: Nunca quis paixão. O que eu queria era a visão que eu tinha dos meus dois amigos na sala da casa da minha mãe. Ela deitada nele e ele fazendo carinho. Ele conversava e mantinha a pose, mas não perdia de vista os cabelos dela ou o movimento das mãos.
Ela apenas ficava ali, pequena. Se bastando pequena.
Não. Minha questão maior não é a loucura, mas a ternura (essa que não cabe numa noite, nem nunca coube). Meu medo é exatamente o de estar me bastando pequena por instantes nos braços de um homem que se faz maior comigo ali.
Talvez a força toda das paixões esteja nessas conchas. Na vontade tosca de preparar um almoço.
Me dei por completo quando tentei dedilhar os pés daquele sujeito que sentia cócegas. Ele não agüentava a carícia terna. Gargalhava.
Depois, eu disse te amo.
Ele respondeu: que merda.
sábado, maio 02, 2009
Sobre olhos
Flertes de ônibus tem um problema: eles acabam no ponto. Não há paixão sem exagero ou pontos perdidos.
Fui a primeira a olhar. O cabelo me parecia o de um conhecido. Depois ele virou a cara e era mais um desconhecido. Barba por fazer. Óculos. Cabelo mal-cortado e bagunçado. Olhos castanho-claros. O rosto ainda me era familiar e eu olhei por isso. Mas ele olhou de volta então mudei de motivo.
Num excesso de despudor, mantive-me olhando e desviando ritmicamente. Troquei de lugar e ele sentou onde eu estava antes.
Ficamos de frente um para o outro. Da boca dele surgia um começo de sorriso e eu ainda olhava. Acabei sorrindo também.
E reparei nos detalhes. Tênis gasto, jeans, blusa grossa e mochila velha no colo. A manga do moleton tinha uma mancha escura. Ele tinha cara de quem dorme pouco e não ouvia música. Olhava a paisagem quando não olhava para mim. Parecia se perder.
Quis desesperadamente que saltássemos no mesmo ponto. Abri um livro que não li pra tentar me distrair. Troquei de rádio algumas vezes.
Sorrimos quase gargalhando um para o outro.
Descemos no mesmo terminal.
Ele disse um 'Opa', eu disse uma coisa ou outra, banal.
Só sei o nome e mais nada.
Paixões que começam no ônibus deviam ser intinerantes.
Fui a primeira a olhar. O cabelo me parecia o de um conhecido. Depois ele virou a cara e era mais um desconhecido. Barba por fazer. Óculos. Cabelo mal-cortado e bagunçado. Olhos castanho-claros. O rosto ainda me era familiar e eu olhei por isso. Mas ele olhou de volta então mudei de motivo.
Num excesso de despudor, mantive-me olhando e desviando ritmicamente. Troquei de lugar e ele sentou onde eu estava antes.
Ficamos de frente um para o outro. Da boca dele surgia um começo de sorriso e eu ainda olhava. Acabei sorrindo também.
E reparei nos detalhes. Tênis gasto, jeans, blusa grossa e mochila velha no colo. A manga do moleton tinha uma mancha escura. Ele tinha cara de quem dorme pouco e não ouvia música. Olhava a paisagem quando não olhava para mim. Parecia se perder.
Quis desesperadamente que saltássemos no mesmo ponto. Abri um livro que não li pra tentar me distrair. Troquei de rádio algumas vezes.
Sorrimos quase gargalhando um para o outro.
Descemos no mesmo terminal.
Ele disse um 'Opa', eu disse uma coisa ou outra, banal.
Só sei o nome e mais nada.
Paixões que começam no ônibus deviam ser intinerantes.
quarta-feira, abril 29, 2009
Para uma menina com uma flor
Wilson Simoninha & Bossa Cuca Nova - Essa Moça Tá Diferente
Se fosse uma dessas paixões seria muito mais fácil. Fumaria cigarros, dormiria e acordaria disposta a ficar bem. Mas sendo amor é muito difícil não ser confessional e chorar.
Eu tive que baixar a guarda e me mostrar muito mais sentimental do que eu gosto. Tive que cuspir que você é das coisas mais bonitas e importantes e completas que já passaram por mim. Tive que escancarar que eu não tenho chão.
Essa coisa de expor demais os sentimentos com gritos me deixa fraca. Eu gosto de gostar de pessoas por dentro. Eu gosto de sentir as coisas e pronto. Às vezes eu acho que sorrisos e sinceridade bastam.
Mas eles não bastam e é muito ruim quando eu-te-amo é seguido de tapa na cara.
Como é que eu não vou me expor e me humilhar se toda a insanidade do dia a dia faz falta? Se o choro com vinho faz falta! Se os xingamentos eram tão cantados!
É tão estranho te ver me escapar entre os dedos como uma dessas flores que desabrocham bonitas e vão com o vento.
Não são flores nem folhas.
Eu decidi que não gosto de vínculo e mentiria se dissesse que gosto de te ver crescer tanto pra tão longe.
Eu quero ficar perto.
Mesmo sombra (por que amar é dar o que não se tem a quem não precisa).
Se fosse uma dessas paixões seria muito mais fácil. Fumaria cigarros, dormiria e acordaria disposta a ficar bem. Mas sendo amor é muito difícil não ser confessional e chorar.
Eu tive que baixar a guarda e me mostrar muito mais sentimental do que eu gosto. Tive que cuspir que você é das coisas mais bonitas e importantes e completas que já passaram por mim. Tive que escancarar que eu não tenho chão.
Essa coisa de expor demais os sentimentos com gritos me deixa fraca. Eu gosto de gostar de pessoas por dentro. Eu gosto de sentir as coisas e pronto. Às vezes eu acho que sorrisos e sinceridade bastam.
Mas eles não bastam e é muito ruim quando eu-te-amo é seguido de tapa na cara.
Como é que eu não vou me expor e me humilhar se toda a insanidade do dia a dia faz falta? Se o choro com vinho faz falta! Se os xingamentos eram tão cantados!
É tão estranho te ver me escapar entre os dedos como uma dessas flores que desabrocham bonitas e vão com o vento.
Não são flores nem folhas.
Eu decidi que não gosto de vínculo e mentiria se dissesse que gosto de te ver crescer tanto pra tão longe.
Eu quero ficar perto.
Mesmo sombra (por que amar é dar o que não se tem a quem não precisa).
terça-feira, abril 28, 2009
Novamente pernas e jogos de cena. Ela parou no centro do palco e ele ao fundo. O foco de luz estava no rosto dele e contra ela. Ficava contornada, um vulto visível com um contorno belíssimo.
Ele olhava de canto e dizia belíssimas juras de amor.
Ela dançava contra-luz e triste. Usava um figurino de saias esvoaçantes e coques no cabelo.
Não havia humor ou entendimento. A cena que devia ser uma era vista com confusão pelos espectadores e aqueles atores não desemaranhavam nada.
Criavam correntes e teias no palco. Os focos de luz alternavam-se e então ele dançava sozinho.
Ana ficava de costas e gritava trechos longos de Lady Macbeth, quando devia ser Ofélia. Pedro esquecia seu Hamlet e soltava falas salteadas de Rei Lear.
Não era mais pra ninguém que não fizesse parte daquela dança.
Ofélia era Ana pura.
Pedro nem lembrava de príncipe nenhum.
A luz não tinha foco. Estava toda acesa no palco.
Cena 2
Ana – gritando – Ai que enjôo me dá esse açúcar do desejo!
Blackout
quarta-feira, abril 22, 2009
Janelinha qualquer
Pessoas entre frases feitas
links esperando setas
achar seguir juntar.
A foto vai devagar.
Os followers vem devagar.
As mensagens vão devagar.
Devagar... as pessoas postam.
Como o Twitter é besta, meu deus!
à propósito, follow-me.
links esperando setas
achar seguir juntar.
A foto vai devagar.
Os followers vem devagar.
As mensagens vão devagar.
Devagar... as pessoas postam.
Como o Twitter é besta, meu deus!
à propósito, follow-me.
segunda-feira, abril 20, 2009
Heitor
Bonito mesmo é o meu irmão. Tem três anos de idade, corre e pula o tempo inteiro, aponta pra todos os lados seus olhos verdes sedutores e ainda ostenta belíssimos cachos louros e bochechas rosadas. Um escândalo.
Atualmente, ele tem andado com um curativo grande no queixo. Fez alguma coisa errada quando ia subir a escada e tomou pontos no mesmo lugar da outra vez (o queixo do meu irmão parece ser mais atraído pela gravidade que o resto). Ainda assim, aquele protótipo de barba branca parece dotá-lo de um charme a mais. Uma coisa, assim, ressaltadora de sapequices!
Mas o que deixa ele mais bonito não são as bochechas rosadas. Ele entrou numa loja de instrumentos musicais no shopping e resolveu tocar todas as baterias com as mãos. Pedi que ele não o fizesse, mas se eu não deixasse, seria pior.
- Nini, pode tocar violão?
Depois ele tentou bater nos pratos expostos separadamente, mas a mão dele não era capaz de produzir barulho com aquilo. Expliquei.
- Meu bem, pra você fazer barulho aqui precisa de uma baqueta, como aquela ali na mesa do moço.
Mas ele não se inibiu com a presença do gerente enorme que detinha o poder das baquetas. Simplesmente levou toda a sua autoridade em direção ao homem, piscou seus olhos verdes e disse:
- Moço, me empresta a sua baqueta, por favor?
- Só um pouquinho. – o gerente da loja respondeu.
Então ele saiu pulando e batendo com a única baqueta cedida em todos os tambores sem produzir qualquer som coordenado. Quando descemos as escadas, o papai estava esperando de mãos na cintura.
- Eu sabia que era o Heitor fazendo esse barulho!
E aí ficou tudo mais bonito ainda. Na livraria, ele sentou quietinho e ficou folheando livros na seção infantil.
sexta-feira, abril 17, 2009
Surto
Acordou em êxtase, tinha tido um sonho absurdamente real em que havia beijo da melhor língua (exatamente a proibida). Esqueceu durante o dia e caminhou descoberta, sensível e cheia de todas as coisas.
Disse que o coração bombeava sangue 1500 vezes por segundo o dia inteiro. Tratava-se de um sério caso de pressão alta que nenhuma genética podia explicar. Culpou frituras e esqueceu o óbvio.
Embaralhou todos os caminhos e se encheu de café sem lembrar as consequências.
Depois pensava na trema e decidiu que aplicaria Nelson Rodrigues em todas as pessoas. Das pontas dos pés aos diálogos pré-programados.
Parou. Imagens muito brancas e sol muito forte.
Se ficasse nua, correria sério risco.
Disse que o coração bombeava sangue 1500 vezes por segundo o dia inteiro. Tratava-se de um sério caso de pressão alta que nenhuma genética podia explicar. Culpou frituras e esqueceu o óbvio.
Embaralhou todos os caminhos e se encheu de café sem lembrar as consequências.
Depois pensava na trema e decidiu que aplicaria Nelson Rodrigues em todas as pessoas. Das pontas dos pés aos diálogos pré-programados.
Parou. Imagens muito brancas e sol muito forte.
Se ficasse nua, correria sério risco.
segunda-feira, abril 13, 2009
Post Coitum
Foi tudo verdade e representação ao mesmo tempo. Os pés meio inchados, meio bestas, meio moles, ficaram misturados sem que se visse quais pernas eram donas de delicados e rústicos pés.
Olhava apenas para baixo pensando em como podia tanta dor num pé tão contente. Talvez fosse culpa do vinho com salto da noite anterior em que não havia outros membros que não fossem seus.
Teve então uma ânsia análoga a ânsia dos amantes românticos em se encontrarem. Precisava ir para casa botar os pés de molho e ficar longe pra fixar o resto.
Os vasos sanguíneos sentiam-se parte de uma coisa maior e universal e as cores todas precisavam ser lambidas como tijolos e pedras de chão.
Os pés doiam e ela sentia-se meio estranha, meio sangrando, meio apertada e mole - mesmo sem corte, prensa ou sono.
Continuaria andando com poses e fingindo tudo, menos a barriga que precisava esconder e não escondia.
Seriam cigarros que lhe queimariam as beiras e fariam da ânsia de casa uma ânsia de gente.
Ela sempre dizia que seu fumar era fuga de timidez.
Olhava apenas para baixo pensando em como podia tanta dor num pé tão contente. Talvez fosse culpa do vinho com salto da noite anterior em que não havia outros membros que não fossem seus.
Teve então uma ânsia análoga a ânsia dos amantes românticos em se encontrarem. Precisava ir para casa botar os pés de molho e ficar longe pra fixar o resto.
Os vasos sanguíneos sentiam-se parte de uma coisa maior e universal e as cores todas precisavam ser lambidas como tijolos e pedras de chão.
Os pés doiam e ela sentia-se meio estranha, meio sangrando, meio apertada e mole - mesmo sem corte, prensa ou sono.
Continuaria andando com poses e fingindo tudo, menos a barriga que precisava esconder e não escondia.
Seriam cigarros que lhe queimariam as beiras e fariam da ânsia de casa uma ânsia de gente.
Ela sempre dizia que seu fumar era fuga de timidez.
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