- Não, querido. Pode parar logo. Você não tem o menor talento em ser otimista.
- É verdade.
- Não me importa. Seu elogios despretensiosos demais têm uma pretensão que eu mesma não agüento.
- Você soa falsa quando fala.
- É a mania de dizer que é tudo verdade. A minha obviedade tem culpa também.
- Não te acho óbvia.
- Não elogiaria se não achasse.
- Por que?
- Se eu te intrigasse você ficaria quieto e nem saberia o que fazer. É um pessimista.
- Eu só disse que vai ser melhor depois.
- Não vai.
- O que você quer?
- Não sei.
- Incisiva demais... pra nada.
- Pra tudo.
- Pode parar. Você não tem o menor talento em ser arrogante.
- Como? É só o que sei.
- E meu otimismo?
- Você deixou que eu o engolisse como faço com sapatos, mancadas e sapos.
- Às vezes você me dá medo.
- É tudo simbólico. Em pouco tempo me torno uma xícara. O conteúdo você já bebeu. Aí deixa em cima da mesa pra encher de novo quando quiser.
- Por que xícara?
- Pra ser branca e de porcelana.
- Há recipientes melhores.
- Copos de requeijão são transparentes demais. De resto, não sou eu. A caneca de lata é outra pessoa, como os copos de plásticos. Eu hei de ser pra sempre a xícara que você deixou suja em cima da mesa.
- Não te deixei.
- Seu otimismo não convence mais.

