sexta-feira, junho 24, 2011

"Tereza, você parece uma lagarta listrada"

- Me dá dois instantes?
- Dois instantes de quantos segundos?
- Já foi. Era o tempo de passar um recado.
- Três segundos cada instante.
- Podia cada instante com você ter tempo elástico, sabia? Aqueles tempos de série de ficção científica. Passam 20 anos que cabem em três dias.
- hum...
- Aí depois o mês que eu fico longe fica tendo o tempo que tem mesmo. Nem devagar, nem rápido. E o tempo que a gente tem junto fica sendo maior.
- Massa!
- Isso até o tempo da gente junto ser o tempo todo. Aí a velocidade que for pra ser, que seja.
- Velocidade quatro.
- Da dança do créu?
- Yep
(sem ponto final)

terça-feira, junho 14, 2011

labuta

Não precisa de muito não.
Só de acreditar.
Aí a gente fica feliz com muito pouco. A gente briga que nem dorme. Aguenta todos os rojões.
A gente ri.

quarta-feira, junho 01, 2011

Sessão noturna

Insônia vestida de rosa-pink e óculos de coração aprochega-se do meu canto. Freqüenta-me. Em cara moldada de madeira de demolição, diz-me:
- Perde este tempo escrevendo não, moça. Cuide das olheiras e deixe de ser tão monótona. Se meu trabalho respeitasse fuso horário e me desse período sem clientes, aprenderia a tocar violão. Ao menos teria controle dos dedos que é coisa que você devia caçar tempo de ter.
- Monótona, eu?
Lesão por Esforço Repetitivo.

quarta-feira, maio 25, 2011

estoque

Não há tanto sentimento assim acumulado. Só irritações que viram ferida no canto da boca e dor nas costas. Estou aprendendo a me vazar e queria amanhã saber fazer música.
Não tenho nenhuma carta de amor para escrever. Em camadas, guardo saudades diárias. Saudade de carinho fica nos pés, saudade de abraço fica no estômago, de massagem, nos ombros, de colo, no peito. As outras saudades vão se espalhando em cantos devidos do corpo e os meus pedaços ficam me cobrando a dívida.

Aí eu acumulo espalhada de saudade que só vaza quando morta.

segunda-feira, maio 09, 2011

poeminha submisso

Quando ele fica bravo comigo
parece que o mundo acaba.
Eu fico toda entalada.
Pareço até mulherzinha,
c'oas tripa cortada a navalha.

sábado, maio 07, 2011

Mas se eu não falar que eu gosto de você, como você vai ter idéia do tamanho das coisas?
Também, se eu guardar, como é que eu vou respirar?

sábado, abril 23, 2011

Sobre as primaveras

Tia Glorinha e tio Renê são casados há uns quase 50 anos. Da última vez que os vi, ele ainda chegava em casa com uma rosa cortada do quintal de presente pra ela, chamando de linda. Ela ainda sorria e dava beijinho de agradecimento.
Minha avó disse que meu avô ainda achava os peitos dela bonitos mesmo depois de estarem caídos e envelhecidos de amamentação e tempo. A Nice e o Fróis ainda se chamam de amor e dão abracinhos e beijinhos e, na verdade, juntos parecem dois adolescentes. Ela se enfeita pra ele, ele fica grande perto dela. Os dois tem mais de vinte anos juntos.
Com você, eu não quero nada além disso: tempo pra ver direito todos os defeitos e as qualidades e ainda assim lembrar de volta e meia fazer ternurinhas.

domingo, abril 03, 2011

Junto

Eu queria que você soubesse que eu não digo as coisas enquanto eu agüento não dizer.
E quando eu digo que sinto saudades, é porque ela é grande o suficiente pra ter que saltar da língua.
E se eu disser que te amo, é por que isso não cabe em mim e eu tenho que fazer vazar um pouquinho pra não sufocar.

Era pra você a música, a cara, a ausência de beijo, a vontade de grito. Era pra você entender que o desejo vem da falta e você falta demais aqui.

Eu te assalto quando complico?

quinta-feira, março 17, 2011

inominável

Se eu me apaixonar, também, além dos olhos, você vai ser o primeiro a saber. Vi as sobrancelhas dele em quatro ou cinco faces durante o dia. Retas. Queimei no esôfago tempos e tempos de uma coisa que, meu deus, só a adolescência permite.
Voltei no tempo.
Expectativas e coração batendo. Quis sabê-lo como há muito tempo não queria nada. Não comê-lo, não, como é de praxe. Sabê-lo cada canto de sobrancelha, descobrir de onde vêm os olhos, entender o ritmo das mãos. Tocar todas as notas do corpo e sugar todas as frases do mundo.
Quis mais ainda que ele me quisesse saber.
Também, se o óbvio passou, qualquer coisa passa. Quero mergulhar de cabeça, agora. Queimar e pronto, inteira, junto. Descobrir a beira das coisas. Vê-lo se sendo e me contando que dor e delícia se faz no meio.
E me doer. E dividir.

quarta-feira, março 02, 2011

um, dois, três

Quis gritar amor como se fosse fácil. Amor. Amanhã eu não tenho barriga nem flacidez, nem pele sobrando e nada que incomode. Amor. Inventei um ritmo nosso pra fazer carne e feijão e sonho.
Feijão e sonho. Assim vive o homem.
Como é que a gente compõe mulher? Eu sei que a culpa tem que ser minha. Eu nasci com a rachadura e tudo o que ela implica.
Apesar disso, quero inventar um filme e muito choro, amores. Amor.
Vou dizer eu te amo todos os dias inundada de coisa bonita – sem ser banal.
Você brinca de pique comigo e me põe pra dormir?

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Dueto (de mãos com meias)

Eu só sei insistir. E também nada. Se fosse outro dia nem choro tinha, nem unha feita, nem cabelo, nem perna depilada.
Eu não sei explodir. Se fosse outra data quem sabe bolo bastava?
Fumaça pra todos os lados. Chocolate. Cafeína.
Tentar com açúcar refinado preencher os buracos absurdos de solidão. Eu não sei implorar.
Se fosse outra casa quem sabe desprendimento.
Nada.
Consta nos signos, nas bulas, nos dogmas.
Não vai passar.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Panfleto do escritório da maior empresa resolvedora de problemas pessoais do mundo.

Trabalhamos contra o romance. 48 horas/dia contra o açúcar. Administramos insulina cardíaca e ingerimos menos de mundo para digerir certa acidez. Não fazemos bolos.
Fatalistas que somos, ligamos bolo a veneno.
Pequena morte não queremos neste mês.
Trabalhamos de mau-humor. Lindos, penteados e de mau-humor. Ostentamos olheiras laborais e temos lesão por esforço repetitivo.
Final feliz, também fazemos. Tudo muito calculado e racional.
Só não sabemos falar direito. Vendemos texto. Afeto mecânico. O seu trabalho de escola em revisões nada precipitadas.
Tiramos cartas.
Serás amor?
Trabalhamos contra o tombo.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Estômago embrulhadíssimo

Mandei um poema. Coisa grandíssima é mandar palavra. Talvez não faça ainda muito sentido essa coisa toda que eu sou. Com calma, vamos. Meu brinco de roda-gigante foi confiscado e eu com ele deixei um pouquinho de sonho.
Está tendo um surto de gente sumida reaparecendo.
Estraçalhando coração.
Desaprendo a escrever todos os dias e tento ser sincera.
Sinto dores de cabeça e acordei com a boca ruim. Sinto dores nas coxas e os calcanhares em bolhas.
Talvez eu fique coxa mês que vem. Seria bonito, também, ser bailarina coxa. Rodopios mancos desses que nêgo até acreditaria em vida.
nunca entendi como é que nêgo assim de circunflexo não está no dicionário.
Sabendo ou não, eu vou escrever sincera.

sábado, fevereiro 12, 2011

in time

Acordei inteira. Você dentro de mim, nos poros. Meu peito inteiro seu e o ventre com memória própria de coisa que nem houve. Meus dedos prontos.
De noite, angústia pura sem resposta.
Como é que eu vou ser prudente apaixonada?
Medo tão grande de não, meu deus. Medo tão grande de ser unilateral.
Depois são borbulhas. Madrugada e bolhas.
Essa noite eu devo sonhar.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Faz mal?

Se foi bonito, que mal tem? Esse resto de coisa que as pessoas inventam pra tirar um do outro assim são muito menos do que signos complementares. Ninguém se força a nada e a textura da boca é muito mais grave que o resto.
Se coube, então, minha boca na sua, que mal tem? Ritmo e pronto. Tocou aquela música que ultimamente tem me tocado e eu aposto que você mesmo nem ouviu.
Foi bonito.
Bonito.
=]
eu tive que sorrir com o corpo inteiro - já tinha tempo que eu não ria à toa.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

outra coisa engasgada - dor de esôfago quase peito

Em algum momento ia ter que ter tensão. Ninguém mantém romance a seco. As tabuadas eu escondi todas na prateleira sem desaprender a multiplicar. Operações básicas eu sou rapidíssima. Achei que você também não custaria a somar dois e dois pra ver que eu aqui não deixei de querer pele, nem colo, nem abraço e muito menos o cheiro.
Estranho seria se eu ficasse invulnerável. Mas o mundo perdeu um pouco a graça e o tempo passa estranho com você longe.
Você não entendeu.
Aí vem tensão botando o peito num espremedor de batatas.
Sangrando.

sábado, janeiro 22, 2011

ontem

Pára com isso.
Eu sou só mais uma dessas garotas que queria saber tocar piano.
E não sabe.
nem jogar.
mas se você quiser, eu reinvento o mundo inteiro. Danilo disse até que você tem sorte...
Será mesmo que eu não sou mais tão chata?
chega.
Não quero mais pensar além da pele.
Também, como é que eu vou me auto-inventar se eu aprender a brincar com silêncio?

sexta-feira, janeiro 21, 2011

guerra (puríssima)

Você usava máscara.

Tinha um rosto quadrado, com pontas. nariz bonito.
Achei que não devia falar. Mas é que eu derreto com tão pouco! Aquele livro que eu lia segundos antes de você me beijar eu nunca acabei de ler. Tenho medo de chegar em certos fins de história. aquele livro caindo da mão foi um beijo muito bonito.
Inventei de novo meu sorriso pra ver se ficava igual ao seu e eu te via no espelho. Agora eu rio todo dia desse jeito que eu gravei seu em mim.
Aí você me irrita. complica. assalta.
então eu não decifro nem devoro.
(nós dois temos os mesmos defeitos)
Ele disse no outro dia que você talvez me ame.
Eu fico com medo de saber de alguma coisa. Invento ciúmes. Mantenho a doçura. Fico maluca. Descontrolo. Perco a cabeça e acho que é obrigação você ficar perto.

Eu tenho que lembrar que não fui eu quem te inventou - embora te olhando pareça mesmo coisa feita neste molde.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

esperança

A esperança a me arrancar todos os cabelos, sonhei. Minha tia escandalizada com tanto cabelo a ser tirado fio por fio por um bicho verde.
É que era tempo de mudança, casa nova, fechamento de ciclo e abertura de ciclo. Eu não sabia que esperança pulava, nem que voava, e muito menos que não era grilo. Aos sete anos, contaram que bicho é esperança, verde.
A esperança acabou de entrar pela janela. Acabou de mostrar que existe, acabou de brincar na sala. Acabou de sair pela varanda. E ela grita:
- Intua-me, que esperança não é grilo falante.
Siga-me.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

quando nada tido, tudo - inclusive atos falhos

A senha é chocolate. Algo parecido com blues e a gente tem de novo dezesseis anos. Amizade surgindo até sem política. eu ainda olho o teclado pra poder digitar. e erro.
Letras minúsculas passando desapercebidas.
Quem de vocês se doeu de paixão?
A gente sempre volta nos problemas dos meninos. A música mais alta do mundo pra aguentar o show.
meu deus, por que o tempo cisma em passar?