quinta-feira, dezembro 29, 2011

Para o porquinho da índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
Manuel Bandeira



Eu te amo de boca aberta e de boca fechada. De língua. Mordendo. Sobrancelhas absurdas. Eu, então, nem se fala. Absurdíssima, sentida, sentinte. Ouvindo sem ouvir todas as coisas, gostando até de suor. Mantendo.
Eu te amo cabeça nos peitos, pernas enrolantes, boca mordendo nariz. A língua morde as coisas que são suas. Os braços me sustentam de manhã, enquanto dormem.
Eu te amo pelos arrancados, um monte de agrado. Eu te amo sentada. Em pé. Acordada. Dormindo. Absolutamente desconfortável.

quarta-feira, dezembro 28, 2011

água e sal

Metafísico, o amor me come. Músicas que eu não cantei. Sonhos que eu não sonhei. Dores que eu não quis. O amor me açoita. Espreme. O amor de ontem, errado, me entrou na porta de casa com pressa e funcional. O amor de hoje quis dar boa noite.

Cabe nalguém assim tanto amor?

Estico-me.

terça-feira, dezembro 27, 2011

Da falta

Então agora você me castiga só por existir. Eu fico sabendo que no mundo é possível coisa grande, sentimento puro, afeto gratuito e vontade de ser melhor. Eu fico sabendo que há gente grande, que há um pra mim e sei lá o que mais.
Daí que longe é seu estado imutável. E eu fico tentando jogar com o resto do mundo num lance meio absurdo de desespero enquanto espero você chegar da guerra. Não sei ser assim antiga. Também não sei ser moderna.
A gente quando?
Sem resposta.

domingo, dezembro 18, 2011

a moça bonita

Eu só não quero chegar em casa. Parar. Pensar. Não quero descobrir nada hoje, nem amanhã. Quero tomar algumas pílulas programadas pra tornar a gente mais interessante. Fazer a unha do pé, sobrancelha, cabelo. Ficar mais bonita que ontem.
Não adianta eu ter o mesmo tom de pele, cabelo parecido, olhos assim, sorriso assado. Em mim você nunca vai encontrar o que procura. É ela. Tranqüilidade, ordem, este tipo aí de doçura. Não, eu não tenho isso não. Eu não sou, nem seria, o que você procura.
É ela.
E se você gosta dela, é ela. Pronto. Não vai achá-la em mim nem ontem nem nunca. Nós, eu e ela, não nascemos no mesmo mês, não temos as mesmas unhas, a mesma paciência, os mesmos cílios, nem as mesmas necessidades. Eu não espremo espinhas como ela e não me tornarei o que ela é.
Ela é única, moço. Como ela, só ela. Pronto.
Vá lá.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Macaquinho


Davi tem quatro aninhos e hoje estou de babá dele.

- Davi, você continua namorando a Isadora?
- Não.
- Ela te deu um pé na bunda?
- Um tênis na bunda. Ela pegou, tirou o tênis e chuaaaaaaaaaaaaaaff - Davi fazia gestos e montava no encosto do sofá.
- Mas você não quer mais namorar com ela?
- Não.
- E ela quer namorar com você, Davi?
- Eu sou um macaquinho!
- Davi, ela quer namorar você?
- Ela quer, mas eu não quero.
- Por que? Por que você prefere ser criança?
- Não. Porque eu sou um macaquinho e prefiro pular de galho em galho.


true story.

sábado, dezembro 03, 2011

cantada

E se for? Mais que samba, mexida de quadris, braços longos. E se for, mesmo, atração de olhos castanhos com olhos castanhos e boca pequena com boca pequena. Pele morena com pele morena. Cabelo crespo com cabelo crespo. E se a textura da pele talvez combinar?

E se, mesmo parecidas, duas criaturas forem diferentes o suficiente pra complementarem-se. Se todo o passado não foi acidente prevendo o presente?

Se a gente não dança? Se a gente não ri? Se a sua voz for o que eu preciso pra me ninar e você não me irrita? Se o meu cós for a diferença pra sua inocência acabar?

Se for a manhã?

Se for mais lógico do que a gente pensa. Se dispensa apresentação? Se não tem mais interrogação? Se pulsa forte?

Por que não?

sexta-feira, novembro 18, 2011

chá

Vá embora, então, do mundo. Da minha vida. Saia do meu ontem e da minha cabeça e do meu jeito de rir. Eu pareço um passado ambulante. Um reflexo de sei lá. Uns cacos colados de cansaço com saliva e azedume.

Trêmula feito xícara em mão de velho, eu sinto ainda suas mãos no meu corpo que nem existia antes.

Preciso sê-lo sem tê-las por mim, em mim, à mim. Preciso ter-me sem contato seu e sem querer te tatuar em mim. Você podia não ser metade. Esconda Mr. Hide de volta no armário e volte mais tarde. Eu faço um chá.

Ainda tem ternura aqui no armário. Ainda tem você no assoalho. Ainda há boca em peito e olhos de ver o que já foi.

Deixa o presente pra lá. Eu não pedi pra saber.

sexta-feira, novembro 11, 2011

Matemática

Você nunca diz euteamo. Um cadinho só de dor. Dois bocados inteiros de angústia.

Eu acho que gosto mais de você do que você de mim, entalei e não disse.

Cinco tornados no peito.

quinta-feira, novembro 10, 2011

pequeniníssimo ensaio sobre ternura

A única coisa que eu te dei, nesse pouco tempo que foi longo ou longo tempo que foi pouco, foi ternura. E eu até entendo que ternura seja, de fato, algo de muito dolorido que toma as entranhas da gente e fica insuportável.

Mas é essa mesma ternura insuportável que faz com que a gente não se sinta completamente sozinho no mundo. Você me disse que precisava de alguém que cuidasse de você e eu (que sou essa maluca, alucinada e que adora ver gente precisando de cuidado porque sente que a própria sina na vida é ajudar) quis ser isto. Quis te por no colo, curar a febre, fazer compressa, passar colarinho, cuidar do almoço, dos pés, da coluna, das dores de cabeça, aplacar a raiva e o que mais de ruim tiver no mundo.

Essa semana, eu estive escorrendo. Eu estava tão cheia de mim que não cabia, aí me fiz em muco de gripe e escorri pra esvaziar um pouco. Às vezes, a gente precisa se escorrer pra suportar a existência.

Quem te suporta?

Eu fico pensando se você consegue lidar com qualquer coisa que mexa nessa sua intocável e magnífica solidão produtiva. Daqui a pouco, você fica velho. Não vai demorar muito, não.

Daí tudo o que você vai querer vai ser um pouco de ternura. E vai ser triste, ficar sem ternura. Sem a dor que a ternura traz consigo. In su por tá vel.

domingo, novembro 06, 2011

ao contrário do pressuposto

Ele não é muito de elogios.

- Cabelo bonito. Olhos bonitos. Pele boa. Bonita, você.

Estranhei. Não sei porque fico. Caímos no chão.

Algum imã existe, não sei.

- Você quer tudo o que você demonstra?

Eu disse sim. Com a boca na dele, eu disse tanta coisa que eu nem sei direito o que ficou.

Eu disse que ia embora, mas a gente perdeu o controle. Ele me puxou sei lá pra onde, guardou meu brinco no bolso como se fosse um pedaço de mim. Disse que gosta.

Temos medo de nos apaixonarmos um pelo outro.

Não somos nem parecidos. Nada em comum.

Ele tem gosto de folha na boca e eu uso terno. Ternos os braços que ele tem, a textura da pele, as pintas, o crucifixo.

- Bom te ver, eu disse no fim. Por que você gosta de mim?

Ele disse que era a loucura de tudo e eu entendi que era eu mesma, não reflexo, nada. Eu gosto de volta. Irracional.

domingo, outubro 30, 2011

Tapa

Agora, Aline, você para de falar e se aquieta um pouco. Bote uma Elba, sei lá, pra tocar e descanse. Não tente agora abraçar o mundo todo. Sossegue.

O amor é isto mesmo que você está vendo.

Trabalhe. Confie. Trabalhe mais um pouco e desconfie. Descanse. Leia. Faça alguma coisa pra mudar de cara. Contenha-se. Depois cante, que quando você canta nem se cuida quem não é seu irmão.

Continue inteira, íntegra, desperta. Não dance ainda, nem pense que vai tudo dar certo no primeiro sorriso. Brigue mesmo. Não abra nunca mão de si.

Aprendeu?

Se reprovar, vai esfolar a cara inteira mais uma vez.

Agüenta?

quarta-feira, outubro 26, 2011

Saudade

Eu sinto falta do que a gente foi um dia. Daquela pressa, da sua calma, de você bravo, do seu regaço, do volume do peito e da gordurinha da cintura. Você nunca foi muito de me olhar, mas cantava.

Eu sinto falta de sentir sua falta em cada segundo e eu sinto falta de dizer apelidinhos que eram nossos. Rir com você. Os filmes, o álcool, o escuro, o frio – que quando é junto é muito mais gostoso. A vergonha que você tinha às vezes de falar as coisas e o jeito de olhar pra baixo.

Eu sinto falta do encantamento, da sua mão na minha nuca, da implicância, dos jogos de tabuleiro, do desenho, da lógica e da Avenida Paulista. Eu completamente sem paciência pra museu, mesmo o Masp, e você querendo apreciar e explicar aquelas coisas que também te fazem e eu não sei ver.

Eu sinto medo de a desistência ser um erro e de os defeitos que eu botei serem todos inventados.

O que é que eu vou fazer depois de você, se parece que nada vai conseguir ficar bonito e os outros homens do mundo vão ter qualidades insuficientes?

Como é que eu faço pra manter-me sólida estando sem você?

segunda-feira, outubro 24, 2011

Essa aflição é paixão ou café? Quilos e litros de droga, sei lá. Tem folga semana que vem? A rima, de fato, não tem. Escrevo em prosa como quem automatiza, máquina.
Eu não sei mais coisa quente. Semana que vem a gente troca de sangue. Eu não sei mais cheiro novo. Esse café é pé ou paladar?
Vixe Maria o que foi isso maquinista?
Fumaça cor de rosa que este mundo noite a dentro fica blue. Letra, depois letra, depois tempo, depois forma, depois letra.
Os braços pesam muito antes de escrever. Os dedos não deslizam mais. O sexo está desaprendido, preso – quase casto.
O ontem sustenta o talvez de amanhã. O ontem eu não sei há quanto tempo passou.

sexta-feira, outubro 14, 2011

depois da páscoa

Um amor grande desses que não cabem. Volta, mas eu não quero. Volta, mas acabou. Um amor desses que queima. Termina hoje. Volta. Termina hoje comigo. Foi ano passado que a gente tentou e ainda dói. Um amor desses que não termina.

Eu quero ontem amor novo. Eu quero amor novo amanhã e hoje.

Eu quero não chorar por amor que não acaba nunca, nunca.

Eu quero nunca mais esperar.

Porque parece que a vida toda, mesmo curta, foi ensaio. Porque parece que o peito todo não cabe a coisa grande que vem quando o nome é citado,

Porque parece que a academia serve pra estudá-lo e parece que eu sirvo só pra isso.

Parece que eu fui feita pra pensar em como seria se fosse alguma coisa.

Parece que eu doía se não fosse alguma coisa.

Eu fico doendo.

Eu fico longe.

Eu tenho, eu juro, outros carnavais.

quinta-feira, outubro 06, 2011

destroço

Tem certeza que não há pontas? Moeda esquecida, roupa perdida, toalha, livro, causa? Nenhum nó na coluna? Um não sem dizer?

Ontem eu não te vi, nem anteontem, nem semana passada. O adeus, dolorido que fosse, ficou facada certa, profunda, infinita. Definitivíssimo como se amanhã fosse coisa sem dúvida. Como se o ontem fosse sem reparos.

Nada, ninguém. Amor puro fantasma que nos passeia de leve.

Eu não sei mais insistir.

sexta-feira, setembro 30, 2011

Prancha

Nem o sarro. Eu não tenho o ritmo, Carlos. Desespero. Se fosse uma cor seria este marrom cor de madeira de violão. Quente. Se fosse cor seria quente, Carlos. Sossegue. Fingir que nada, Carlos. Nada. There is not an us. Can you understand?

Mil vezes seu nome pra ver se mancha. Marcha pra outras freguesias. Longe do meu litoral. Carlos longe, Carlos perto, Carlos arranha. Calos nos pés esperando por massagem. Amor?

Comé que pode jogar palavra assim do nada ao vento. Sem medo de que? De mim tem que ter, Carlos, que eu sou coisa dura de agüentar. Nem o sarro, Carlos. Você que tem as mãos maiores que as minhas costas que nos ombros quase chegam no peito. As mãos, Carlos. Quantos calos têm?

Nem o sarro, Carlos. Nem o beijo.

Amor? Nem no baço.

sábado, setembro 10, 2011

cloro

Vou arrumar mais oito braços pra nadar no mar. O amor antes do grande amor é amor? Há algo mais terrível que o não sei?

O corpo, sim. Prender respiração embaixo d’água e não morrer. Nadar. O corpo, sim, em si, mistério. Arrepios por segundo.

O amor antes do medo é puro?

Amor sem sol. Amor sem morte. Amor sem peso. Paixão? O corpo não diz. Grita. Os cabelos ocultam a verdade.

Can you understand a no?

segunda-feira, agosto 29, 2011

textinho que eu acho que escrevo

Pare de me machucar, apelo em português correto. Ele vem com rimas e gerúndios dizendo que fui eu quem errou. Chorei rios de pedras pra escrever talvez amor rolante.
Ganhei olhos pesados de saudade, ombros duros de falta. Mãos vazias.
Me ama só um pouquinho, desviei a concordância. Fiquei sendo terceira e segunda pessoa. Você e tu ao mesmo tempo um só ele. Ele vem me confundindo. Mudei de língua. Don’t live me alone.

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quarta-feira, julho 13, 2011

18h

Quando eu chego em casa, fico tão frágil quanto não posso ser no trabalho. Ouça aqui você, fazedor de questão de sumiços descabidos: estou precisada de dois cafunés, cinco abraços, nove massagens em cada pé e uma infinidade elevada à quinta potência de beijos na boca.

domingo, julho 03, 2011

Boa noite

Eu choro quando você vai embora.
Você não entende que o que falta
me falta
é chão.