E nessas eu fui ficando pelas metades, torta. Meio suja meio limpa, meio cansada, meio acordada, meio dormindo, meio confiante, meio insegura.
De saco cheio e muito vazia.
Talvez se ele voltasse atrás e me mostrasse um abraço com o sorriso e se ela dissesse que se confundiu e se aquele outro não fosse tão seco, estivesse tudo bem.
Mas acontece que os livros de auto-ajuda todos dizem que a gente se faz nagente mesmo com ego à toda e muita classe.
Não tenho classe e não gosto de livro de auto-ajuda, mas se eu soubesse escrever um poema, teria ritmo de samba e não ficaria pela metade.
terça-feira, julho 28, 2009
quinta-feira, julho 23, 2009
A fantástica aventura da contação de histórias.
Então eu fui contar para o Heitor, de 3 anos, o Davi, de 1 ano, o Guilherme, de 8 anos e o José, de 10 anos, a história do Harry Potter. Nos centamos em círculo para que eu lesse o primeiro livro da saga.
Primeiro o José e o Guilherme reclamaram que o chão é frio e bom mesmo seria se lêssemos sentados na cama dos pequenos.
Então fomos para a cama.
Aí o José reclamou que o Davi estava calçado e ele dormia ali e ia sujar tudo. O menino tirou o sapato e começamos. Tudo certo na narrativa e todo mundo acompanhando até o Davi pular da cama por que queria que eu contasse a história do Lobo-bolo.
Então o Heitor pediu pra ler um pedaço.
- Heitor, você não sabe ler. - respondi.
- Sabe sim. - Heitor retrucou.
- Certo, então o que está escrito aqui? - perguntei.
- Harry Potter - José soprou baixinho no ouvido do pequeno e eu fingi que não vi.
- Mary Poppins - Heitor respondeu, muito convicto.
Primeiro o José e o Guilherme reclamaram que o chão é frio e bom mesmo seria se lêssemos sentados na cama dos pequenos.
Então fomos para a cama.
Aí o José reclamou que o Davi estava calçado e ele dormia ali e ia sujar tudo. O menino tirou o sapato e começamos. Tudo certo na narrativa e todo mundo acompanhando até o Davi pular da cama por que queria que eu contasse a história do Lobo-bolo.
Então o Heitor pediu pra ler um pedaço.
- Heitor, você não sabe ler. - respondi.
- Sabe sim. - Heitor retrucou.
- Certo, então o que está escrito aqui? - perguntei.
- Harry Potter - José soprou baixinho no ouvido do pequeno e eu fingi que não vi.
- Mary Poppins - Heitor respondeu, muito convicto.
sexta-feira, julho 17, 2009
Davi

Davi, se soubesse ler, sentiria ciúmes. Não sei se o leitor está a par de minha vida familiar, mas eu tenho sete preciosos irmãozinhos. 6 meninos e uma menina, a Marcela(oi mocréia!).
Acontece que entre esses textos todos sobre o sexto irmão, o Heitor, não falei hora alguma sobre o sétimo, o Davi.
Esta coisa pequena de nome Davi é desses que não tem medo de qualquer Golias. Meu pai mesmo tomou-lhe a chupeta anteontem dizendo "é meu". Davi não se assustou. Pegou a chupeta de volta entre gargalhadas e gritou "é meu". O detalhe é que o menino tem um aninho de idade apenas e nenhum medo do papai. Apenas respeito.
Quando ele foi tomar vacina mesmo, dia desses, não berrou. Deixou escorrer apenas uma lágrima enquanto olhava nos olhos de meu doído pai que talvez sentisse em si mais que as agulhadas, a dor da traição que acreditava ter cometido. Ocorre que eu me lembro bem de ter visto meu pai avisar para o Davi que ele iria tomar uma injeção que dói muito. E o pequeno não arregou nem assim.
Também aconteceu esses dias de o menininho levar uma mordida de um coleguinha da escola. Mas ele não me contou o episódio entre lágrimas. Apenas declarou:
- Nini, minino modeu o neném. - E mostrava o bracinho.
- E o neném fez o que? - perguntei.
- Bateu no bumbum dele. - E gargalhava, o pestinha.
Como podem ver, Davi é um sujeito extremamente perspicaz com sua longa jornada de um ano de vida. Sabe se virar sozinho em diversas situações e, inclusive, tem um excelente senso de humor.
Anteontem eu fui contar uma historinha para ele (aquela da Chapéuzinho Amarelo, escrita pelo Chico Buarque) e me empolguei. Eu batia na mesa enquanto narrava alto a fala de um lobo de voz muito mais grossa do que a minha. Davi então se empolgou junto. Eu dizia "SOU UM LOBO" e ele gritava, engrossando a vozinha "SOU UM LOBO".
Depois seguia com aquela gargalhada gostosa e acompanhava todas as histórias. Quando se cansava, pulava da minha perna e ia embora. Pronto.
terça-feira, julho 14, 2009
folga
É por que quando tudo parece ser ao mesmo tempo e não ter mais espaço pra coisa alguma é que a cabeça fica mais ativa e respirar fica mais gostoso.
Da próxima vez eu juro que tento escrever coisas legais no twitter, mas agora eu preciso pensar em frases curtas e viradas radicais. Como se voz fosse surf e tudo fosse extremamente divertido.
Mencionei alguma vez que eu gosto muito mesmo de trabalhar?
(e de buscar intervalos entre tempestades)
Da próxima vez eu juro que tento escrever coisas legais no twitter, mas agora eu preciso pensar em frases curtas e viradas radicais. Como se voz fosse surf e tudo fosse extremamente divertido.
Mencionei alguma vez que eu gosto muito mesmo de trabalhar?
(e de buscar intervalos entre tempestades)
quinta-feira, julho 09, 2009
O que se pensa
Vamos ficar assim, eu boto a cara amarrada e você bota a cara de sono. Então contamos um ao outro todas aquelas desventuras que acontecem. Nada demais não, apenas clichês e um pouco de boa companhia.
Mas aposto que ficaríamos muito melhor se dormíssemos mais, principalmente bem acompanhados.
Naquele outro dia eu sonhei com alguma coisa de cores quentes e eu sei que você sabe que o clima pede mais do que salada.
É por isto que tomamos sorvete neste sol quente de inverno. A gente não vai chegar a conclusão nenhuma se continuar negando que a pele só quer pele.
Mas aposto que ficaríamos muito melhor se dormíssemos mais, principalmente bem acompanhados.
Naquele outro dia eu sonhei com alguma coisa de cores quentes e eu sei que você sabe que o clima pede mais do que salada.
É por isto que tomamos sorvete neste sol quente de inverno. A gente não vai chegar a conclusão nenhuma se continuar negando que a pele só quer pele.
terça-feira, junho 30, 2009
mau-humor
Eu sinceramente não consigo entender por que as pessoas insistem em falar baixo, sussurrando de forma que os esses fiquem saltando irritantemente.
Todos esses pequenos barulhos me irritam de forma que a reação imediata do meu corpo é abrir as mãos o máximo possível e fazer cara de nojo. Como quando ficam sugando coisas, arranhando coisas ou quando uma única gota repetitiva insiste em cair da torneira.
Eu fico me segurando, mas de repente sobe tudo ao mesmo tempo e eu simplesmente grito como se nada houvesse a ser feito além de impedir a continuação do meu martírio.
Mas quando falam alto perto de mim eu nem ouço. Quando martelam ou quando passam ônibus eu desligo depois de um tempo. E se o chuveiro fica ligado eu não ouço.
O problema é sempre a gota d'água.
Todos esses pequenos barulhos me irritam de forma que a reação imediata do meu corpo é abrir as mãos o máximo possível e fazer cara de nojo. Como quando ficam sugando coisas, arranhando coisas ou quando uma única gota repetitiva insiste em cair da torneira.
Eu fico me segurando, mas de repente sobe tudo ao mesmo tempo e eu simplesmente grito como se nada houvesse a ser feito além de impedir a continuação do meu martírio.
Mas quando falam alto perto de mim eu nem ouço. Quando martelam ou quando passam ônibus eu desligo depois de um tempo. E se o chuveiro fica ligado eu não ouço.
O problema é sempre a gota d'água.
segunda-feira, junho 22, 2009
Atlas
Quando toda a raiva subiu, Ana não quis comer nada. Enfiou umas roupas na mala e saiu gritando, chorando, bamba e sem se conter. Por onde passava sempre aparecia um lenço e uma voz ou outra perguntando se ela estava passando mal.
Mas era o fim de tantas coisas que Ana só queria seguir com seu choro pra longe e aguentar o tranco de tudo. Se lavava com sal, saliva e lágrimas, mas não ficava ainda limpa.
Precisava parar um pouco, mas o mundo não parava de girar, o pulmão não deixava de puxar ar, as mãos não deixavam de tremer e os carros não deixavam de passar. Se nada parava, Ana tampouco.
Seguia tentando ser firme e aguentar toda aquela dor explodindo no peito.
Então ficou desacordada no meio da rua por um desmaio e tudo o que acontecia em volta passou em branco.
Mas era o fim de tantas coisas que Ana só queria seguir com seu choro pra longe e aguentar o tranco de tudo. Se lavava com sal, saliva e lágrimas, mas não ficava ainda limpa.
Precisava parar um pouco, mas o mundo não parava de girar, o pulmão não deixava de puxar ar, as mãos não deixavam de tremer e os carros não deixavam de passar. Se nada parava, Ana tampouco.
Seguia tentando ser firme e aguentar toda aquela dor explodindo no peito.
Então ficou desacordada no meio da rua por um desmaio e tudo o que acontecia em volta passou em branco.
quinta-feira, junho 18, 2009
ID
Um pouquinho de coisas novas faria muita diferença se eu não estivesse ouvindo as mesmas músicas e não tivesse tanto medo.
Gente fina é outra coisa.
Queria guitarras distorcidas e um pouco mais de calma talvez pra talvez sumir e talvez falar menos e talvez virar noites num movimento circular e retilínio, curvo e nada nada nada uniforme.
Então parar de pensar em qualquer coisa e deixar que os dedos guiem as danças sem qualquer freio enquanto o teclado de computador faz música com cordas postas atrás. e um ritmo de letras num ritmo de som e melodias novas finalmente.
e filosofia.
Quando ela acordou daquele sonho em que a navalha lhe cortava o olho transformando-o em uma grande bolha d'água que explodia e molhava todo mundo, sentiu muito gosto de lágrima na boca. Cheiro de batata frita.
É por que sem coisas novas, nada que não seja pedaço de sonho faz qualquer sentido.
Gente fina é outra coisa.
Queria guitarras distorcidas e um pouco mais de calma talvez pra talvez sumir e talvez falar menos e talvez virar noites num movimento circular e retilínio, curvo e nada nada nada uniforme.
Então parar de pensar em qualquer coisa e deixar que os dedos guiem as danças sem qualquer freio enquanto o teclado de computador faz música com cordas postas atrás. e um ritmo de letras num ritmo de som e melodias novas finalmente.
e filosofia.
Quando ela acordou daquele sonho em que a navalha lhe cortava o olho transformando-o em uma grande bolha d'água que explodia e molhava todo mundo, sentiu muito gosto de lágrima na boca. Cheiro de batata frita.
É por que sem coisas novas, nada que não seja pedaço de sonho faz qualquer sentido.
quarta-feira, junho 17, 2009
Confiança
Fiona Apple - Criminal


Fingia que aquele salto todo finíssimo não fazia a menor diferença. Mas era no equilíbrio sobre os pés elevados que ela fazia todo o seu charme. Mexia os quadris num ritmo firme e se mostrava capaz do equilíbrio supremo de bico fino.
Coração a mil. Uma hora ou outra aquela máscara ia pro chão e ele ia entender que sem sapatos, ela era apenas ela.
Respirou fundo e retocou o batom.
Enquanto houvesse dor nos pés, não haveria outra.
Nota da autora: se eu fosse vocês, ouvia a música. Valeu Mike pela música e Ariel pela foto.
sexta-feira, junho 12, 2009
manhã
Tanto cheiro de cebola e óleo e tudo tão quente que eu quis ir embora.
Aquele casaco grande dele e aquela cara de não ter dormido da gente parecia combinar com o bacon da panela.
Me senti muito americana com aquele café todo. Mas o cheiro de cebola com bacon, óleo, pão e café torturava tanto quanto o calor.
Eu me sentia parte de outra coisa que não incluía café.
Foi muito difícil deglutir tudo, mas se eu saísse correndo ele talvez quisesse me ver de novo. Fui simpática e grudenta como toda mulher fácil demais.
Quis que ele me pensasse vagabunda pra simplesmente não ter amanhã.
Mas ele insistia em cafuné e eu doía junto com o bacon, como se eu estivesse com as beiras queimadas em óleo. Como se tudo fosse lento e as paredes estivessem quentes como uma panela, me oprimindo.
Quando eu fui embora, quis não comer bacon nunca mais e torci muito pra ter outro café torturante.
Aquele casaco grande dele e aquela cara de não ter dormido da gente parecia combinar com o bacon da panela.
Me senti muito americana com aquele café todo. Mas o cheiro de cebola com bacon, óleo, pão e café torturava tanto quanto o calor.
Eu me sentia parte de outra coisa que não incluía café.
Foi muito difícil deglutir tudo, mas se eu saísse correndo ele talvez quisesse me ver de novo. Fui simpática e grudenta como toda mulher fácil demais.
Quis que ele me pensasse vagabunda pra simplesmente não ter amanhã.
Mas ele insistia em cafuné e eu doía junto com o bacon, como se eu estivesse com as beiras queimadas em óleo. Como se tudo fosse lento e as paredes estivessem quentes como uma panela, me oprimindo.
Quando eu fui embora, quis não comer bacon nunca mais e torci muito pra ter outro café torturante.
quarta-feira, junho 10, 2009
Tédio
Estou cansada.
Ontem, quando eu fui embora, você não achava que eu ia.
Talvez quisesse que eu ficasse mais e mais te esperando pra sempre com um sorriso no rosto e nada além disso na cabeça.
Mas eu não sei mais. Estou cansada.
Tive que ir dormir e talvez esperar que chegasse o dia seguinte.
E não teve mais nada.
sábado, junho 06, 2009
Manifesto
Quando eu te quis, também quis que fosse apenas por razão. Mas este músculo involuntário idiota continua pulsando sem que eu mande numa velocidade extraordinária.
Quando eu sinto gosto de cerveja e cigarro, te odeio por que é como se tivesse acabado de sair de um beijo.
Vai, músculo imbecil, continua pulsando por gente idiota de forma idiota!
Eu mesma prometo ser fria, dura, forte - como terra.
E não quero mais saber de qualquer raiz.
Ontem, quando eu vi, tinha tirado um peso enorme das costas por dizer o que devia ter sido dito há cinco anos. Nunca soube que um pronome seguido de um verbo pudessem juntos fazer tanto bem para a coluna.
Mas depois de desculpas, abraços e sorrisos, tomei mais uma facada.
Vai, músculo idiota!
Controle-se por que eu já disse que não confio em você.
domingo, maio 24, 2009
Tentativa de ficção ligeira
Dormi com Henry Miller e acordei com seus tapas. Odeio tudo.
Principalmente os comentários secos sobre tudo com essa arrogância de ogro.
Mas não precisa de nenhuma palavra doce.
Ver os lábios grossos e sentir o cheiro basta pra eu cair sem amanhã nem nada.
Depois o gosto é só azedo.
Estou cansada de tanta emoção.
quarta-feira, maio 20, 2009
domingo, maio 17, 2009
Sobre livros e novas paixões
Eu ando apaixonada por cachorros e bichas, duques e xerifes. Por que eles sabem que amar é abanar o rabo, lamber e dar a pata.
É nova pra mim essa coisa de não esperar absolutamente nada. Acho que nisso consiste uma liberdade muito mais sólida e nova, mesmo que baseada no descrédito de toda e qualquer pessoa.
Não se trata de pessimismo. É cálculo de probabilidade, tabela de co-senos e carta de expediente com ponto, protocolo e manifestações de apreço ao senhor diretor.
Tudo velho mesmo, eu não reinvento nada. Eu não construo nada.
Vou na corrente como Henry Miller depois de uma luz no meio do livro.
E não criar expectativas garante um bom humor desmedido, por que nada se frustra se você não espera nada.
Apenas surgem no meio da noite vontades novas de gargalhadas velhas e eu vou me entregando à maré. Abano o rabo pra coisas bonitas e continuo sonhando com o inalcançável que eu sei que não precisa chegar.
Paixão é coisa de cheiro e encantamento. Assunto.
Não é quase nada, mas movimenta tudo - como a gravidade faz com os peitos ao longo do tempo.
É nova pra mim essa coisa de não esperar absolutamente nada. Acho que nisso consiste uma liberdade muito mais sólida e nova, mesmo que baseada no descrédito de toda e qualquer pessoa.
Não se trata de pessimismo. É cálculo de probabilidade, tabela de co-senos e carta de expediente com ponto, protocolo e manifestações de apreço ao senhor diretor.
Tudo velho mesmo, eu não reinvento nada. Eu não construo nada.
Vou na corrente como Henry Miller depois de uma luz no meio do livro.
E não criar expectativas garante um bom humor desmedido, por que nada se frustra se você não espera nada.
Apenas surgem no meio da noite vontades novas de gargalhadas velhas e eu vou me entregando à maré. Abano o rabo pra coisas bonitas e continuo sonhando com o inalcançável que eu sei que não precisa chegar.
Paixão é coisa de cheiro e encantamento. Assunto.
Não é quase nada, mas movimenta tudo - como a gravidade faz com os peitos ao longo do tempo.
quarta-feira, maio 13, 2009
Crônica de perfume doce
Minha avó me ligou hoje pela manhã com um tom gravíssimo na voz. Pensei obviamente que tinha feito alguma besteira das grandes, mas não.
- Aline, não tenho sentido mais aquele cheirinho que eu gosto em você. Está sem capricho agora?
Logo me assustei. Onze horas da manhã e minha avó parecia dizer que eu já não tinha asseio. Respondi de pronto:
- Não é nada disso não, vó.
- Ô minha filha, estou perguntando se você mudou de perfume. Aquele Capricho que eu gosto tanto acabou?
- Não, vó. Continuo usando Capricho, só que ando numa pindaíba tão grande que não uso em dia a dia o perfume que já está no fim.
Depois, fui extremamente indelicada avisando que normalmente eu estava em aula naquele horário e que podia ser que eu não atendesse uma ligação pela manhã. Aí ela mandou que eu me danasse, por que eu também tenho aula à noite e ela pode me ligar a hora que quiser.
Tem razão. Preciso de um vidro novo de perfume e muito mais telefonemas.
- Aline, não tenho sentido mais aquele cheirinho que eu gosto em você. Está sem capricho agora?
Logo me assustei. Onze horas da manhã e minha avó parecia dizer que eu já não tinha asseio. Respondi de pronto:
- Não é nada disso não, vó.
- Ô minha filha, estou perguntando se você mudou de perfume. Aquele Capricho que eu gosto tanto acabou?
- Não, vó. Continuo usando Capricho, só que ando numa pindaíba tão grande que não uso em dia a dia o perfume que já está no fim.
Depois, fui extremamente indelicada avisando que normalmente eu estava em aula naquele horário e que podia ser que eu não atendesse uma ligação pela manhã. Aí ela mandou que eu me danasse, por que eu também tenho aula à noite e ela pode me ligar a hora que quiser.
Tem razão. Preciso de um vidro novo de perfume e muito mais telefonemas.
terça-feira, maio 12, 2009
Mais um flerte
Queria ter te botado na boca como um cigarro e te aspirado aos poucos. Soltaria o que não coubesse nos pulmões e nas veias.
Está claro que essa nicotina sua me entra pelos olhos.
Vou fumar essas palavras que saltam e mexer a boca em ritmo de fumaça.
Farei círculos no ar e darei voltas.
Estou sem fôlego.
Está claro que essa nicotina sua me entra pelos olhos.
Vou fumar essas palavras que saltam e mexer a boca em ritmo de fumaça.
Farei círculos no ar e darei voltas.
Estou sem fôlego.
sexta-feira, maio 08, 2009
Salomé
É que você tinha essas marcas na testa. Umas cicatrizes de cortes de criança levada. E depois tinha também os olhos grandes e bonitos e castanhos e uma boca que eu queria que me envolvesse.
E quando eu andava todo mundo olhava, menos você. E quando eu dançava até a lua parava, menos você.
Então eu disse que queria beijar-lhe os lábios. Implorei, me fiz de menos. Ajoelhei. Fui tão oferecida e tão sedenta que você apenas disse não.
Quis tanto que senti dor.
Foi quando o rei perguntou o que eu queria por uma dança. Pedi que cortassem a sua cabeça e dancei.
Depois, me serviram a sua cabeça numa bandeja de prata e eu pude beijar os lábios e as cicatrizes.
E quando eu andava todo mundo olhava, menos você. E quando eu dançava até a lua parava, menos você.
Então eu disse que queria beijar-lhe os lábios. Implorei, me fiz de menos. Ajoelhei. Fui tão oferecida e tão sedenta que você apenas disse não.
Quis tanto que senti dor.
Foi quando o rei perguntou o que eu queria por uma dança. Pedi que cortassem a sua cabeça e dancei.
Depois, me serviram a sua cabeça numa bandeja de prata e eu pude beijar os lábios e as cicatrizes.
domingo, maio 03, 2009
O fantástico diário de Aline Dias (parte 1)
Sobre ser confessional? Não ligue, Aline. Não deve se importar com isso. Ninguém tem nada com isso.
Francisco Grijó
Descubro agora: Nunca quis paixão. O que eu queria era a visão que eu tinha dos meus dois amigos na sala da casa da minha mãe. Ela deitada nele e ele fazendo carinho. Ele conversava e mantinha a pose, mas não perdia de vista os cabelos dela ou o movimento das mãos.
Ela apenas ficava ali, pequena. Se bastando pequena.
Não. Minha questão maior não é a loucura, mas a ternura (essa que não cabe numa noite, nem nunca coube). Meu medo é exatamente o de estar me bastando pequena por instantes nos braços de um homem que se faz maior comigo ali.
Talvez a força toda das paixões esteja nessas conchas. Na vontade tosca de preparar um almoço.
Me dei por completo quando tentei dedilhar os pés daquele sujeito que sentia cócegas. Ele não agüentava a carícia terna. Gargalhava.
Depois, eu disse te amo.
Ele respondeu: que merda.
sábado, maio 02, 2009
Sobre olhos
Flertes de ônibus tem um problema: eles acabam no ponto. Não há paixão sem exagero ou pontos perdidos.
Fui a primeira a olhar. O cabelo me parecia o de um conhecido. Depois ele virou a cara e era mais um desconhecido. Barba por fazer. Óculos. Cabelo mal-cortado e bagunçado. Olhos castanho-claros. O rosto ainda me era familiar e eu olhei por isso. Mas ele olhou de volta então mudei de motivo.
Num excesso de despudor, mantive-me olhando e desviando ritmicamente. Troquei de lugar e ele sentou onde eu estava antes.
Ficamos de frente um para o outro. Da boca dele surgia um começo de sorriso e eu ainda olhava. Acabei sorrindo também.
E reparei nos detalhes. Tênis gasto, jeans, blusa grossa e mochila velha no colo. A manga do moleton tinha uma mancha escura. Ele tinha cara de quem dorme pouco e não ouvia música. Olhava a paisagem quando não olhava para mim. Parecia se perder.
Quis desesperadamente que saltássemos no mesmo ponto. Abri um livro que não li pra tentar me distrair. Troquei de rádio algumas vezes.
Sorrimos quase gargalhando um para o outro.
Descemos no mesmo terminal.
Ele disse um 'Opa', eu disse uma coisa ou outra, banal.
Só sei o nome e mais nada.
Paixões que começam no ônibus deviam ser intinerantes.
Fui a primeira a olhar. O cabelo me parecia o de um conhecido. Depois ele virou a cara e era mais um desconhecido. Barba por fazer. Óculos. Cabelo mal-cortado e bagunçado. Olhos castanho-claros. O rosto ainda me era familiar e eu olhei por isso. Mas ele olhou de volta então mudei de motivo.
Num excesso de despudor, mantive-me olhando e desviando ritmicamente. Troquei de lugar e ele sentou onde eu estava antes.
Ficamos de frente um para o outro. Da boca dele surgia um começo de sorriso e eu ainda olhava. Acabei sorrindo também.
E reparei nos detalhes. Tênis gasto, jeans, blusa grossa e mochila velha no colo. A manga do moleton tinha uma mancha escura. Ele tinha cara de quem dorme pouco e não ouvia música. Olhava a paisagem quando não olhava para mim. Parecia se perder.
Quis desesperadamente que saltássemos no mesmo ponto. Abri um livro que não li pra tentar me distrair. Troquei de rádio algumas vezes.
Sorrimos quase gargalhando um para o outro.
Descemos no mesmo terminal.
Ele disse um 'Opa', eu disse uma coisa ou outra, banal.
Só sei o nome e mais nada.
Paixões que começam no ônibus deviam ser intinerantes.
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