domingo, setembro 22, 2013

poema à mão armada

A violência não me assusta mais, como assustava. A solidão, em si, também não. Sempre foi uma amiga.
O que me assusta são esses medos novos que eu nem conhecia. Medo de cair, gente, medo de subir, gente. Medo de ser eletrocutada mesmo com borracha no pé. Medo de poema.
A violência da subtração abrupta não me assusta, mas o desespero do assaltante me comove. O moço magro e gritalhão não parecia acostumado a pegar nada de ninguém, parecia precisar daquele telefone mais do que eu.
Entreguei, quase sem medo, mas atônita, e fui pra longe da solidão. O roubo me assaltou menos que o poema mandado mais cedo. O poema recebido me botava muda, e eu caí de mim no chão, estatelada.
Não sou musa de nada, nem forte, nem bonita assim que nem poema. O assaltante me levou o celular, o poeta me levou o chão.

Nenhum comentário: