terça-feira, setembro 24, 2013

Nem todo texto precisa de um nome

Joana exige demais, mas hoje não. Sou neurótica, sim, e não nego. Tenho um ódio tremendo de talvez. Eu quero um sim gigante. Pode vir também um não, com gelo, por favor.
Não me mate nessa tentativa de chove não molha. Não me mate nessa tensão que eu não agüento. Volátil, volúvel, idiota, neurótica. Sou. Sou. Sou. Todo o tempo e sem olhar relógio também.
Eu só engulo as coisas, meu bem. Não agüento a sua doença, e sabia, mas tentei até te mostrar a minha e você nem tentar.
Neurótica, você disse.
Neurótica sim, muito prazer, frágil também, e burra como não pareço.
Aqui é tudo ou nada, sem meio termo. Só sei ser inteira, então vá, que metade não dou não.

Joana exige demais, e eu sempre soube que Joana era eu. 

domingo, setembro 22, 2013

poema à mão armada

A violência não me assusta mais, como assustava. A solidão, em si, também não. Sempre foi uma amiga.
O que me assusta são esses medos novos que eu nem conhecia. Medo de cair, gente, medo de subir, gente. Medo de ser eletrocutada mesmo com borracha no pé. Medo de poema.
A violência da subtração abrupta não me assusta, mas o desespero do assaltante me comove. O moço magro e gritalhão não parecia acostumado a pegar nada de ninguém, parecia precisar daquele telefone mais do que eu.
Entreguei, quase sem medo, mas atônita, e fui pra longe da solidão. O roubo me assaltou menos que o poema mandado mais cedo. O poema recebido me botava muda, e eu caí de mim no chão, estatelada.
Não sou musa de nada, nem forte, nem bonita assim que nem poema. O assaltante me levou o celular, o poeta me levou o chão.

terça-feira, setembro 17, 2013

Novo eu não sei, ainda

Porque eu estou cansada como se o tempo inteiro, e o corpo inteiro, fosse percussão. Apanho, nêgo, e cansaço é mais caro do que o dia de amanhã. Se me tocasse hoje, mole, se me deixasse o amanhã quieto, e se viesse como valsa, delicado, nem sei.

A bagunça é inevitável. Mesmo arrumada, alinhada, maquiada, e tal, me cai no peito o café. Não existe freio agora que é morro abaixo. Mais um batuque de manhã, outro de tarde. Caixas.

Se você fosse leite eu bebia pra ter cálcio, mas ele sempre volta e eu não tenho área de escape além da pele densa. Ele não dá mais ressaca. Desce garganta abaixo e pronto: um alento.


Não quero mais ir embora porque volta e meia tem mão pra segurar. Estou cansada como se fosse sozinha, e cada dia menos solidão. Há braços. 

domingo, setembro 15, 2013

Encontro

Ele riu e eu comecei a querer que ele risse o tempo inteiro, porque ele fica ainda mais bonito quando ri.

Treinei o olhar pro chiste, e fui rápida nas gracinhas, nos sarcasmos, nas ironias. Ele também deve ter achado graça de me ver rindo. Caprichou na cena, se jogou na parede, impostou a voz.

Aí, de tanto riso, foi bonito à beça.

sábado, setembro 14, 2013

um trauma é só uma marca, ora

Disperso que ele é, de quando em quando me assalta o tempo inteiro. De medo, não vou inteira. Da falta presente, do corpo, do logo ali, do nada. Não sei agir, e ele também não sabe.

Tenho ânsias. Tenho medo de me rasgar de novo. Invento desculpas, compreendo mais do que posso. Apresento-me bandeja. Apresento-me faltosa.

Não vou. Ele também não vem.


Invento o fim da história que nem começou.