domingo, maio 05, 2013

carta praquele cara com mania de príncipe

Estou decidida a arrumar meus armários. Limpar, tirar roupa velha, jogar fora o que for obsoleto. Quando digo armários, digo todos, inclusive os meus, internos, os da cabeça, os que ninguém vê. Você me mora numa dessas gavetas das quais não costumo tirar poeira, mas devia. Os ácaros são um problema sério e a sujeira que isso faz talvez não seja calculável, por não ser vista a olho nu.
Não lido bem com as coisas sem cálculo. Demorei a entender, mas sou calculista e pronto. Não posso apertar o botão do elevador sem calcular a possibilidade de qual dos dois chega mais rápido. Aperto os dois, porque também sou de fogo e acredito em encalço e plano b.
Pode até ser que muitos de meus problemas sejam originados de excesso de precaução e planejamento junto com este excesso absurdo de cálculo, mas é assim que eu sou.
Isso de ser assim torna incompatível comigo uma crença em conto de fadas da qual você tanto me cobra. Não. Eu não sou, nem posso ser, a princesa. Eu não quero ser princesa, meu bem, nem acreditar em príncipe, nem final feliz, nem nenhuma dessas coisas mágicas.
Eu sei, você é de signo de ar, de outubro, de libra, de indecisão, de retorno. Mas é muito injusto que essa sua indecisão e a bem provável boa índole, boa vontade, vontade de me ajudar ou qualquer coisa do tipo fique no meu caminho. Eu não sou uma seta com uma meta de tiro ao alvo e pronto, sou até bem cheia de meandros.


Acontece que eu não posso mais com ausência de concretude. Essa coisa velha e etérea não me pode ser eterna. Você, tentando talvez ser gentil, conseguiu acabar com o eterno.
Me acompanhe, por favor o raciocínio histórico-literário. Romeu e Julieta tiveram um amor intenso, perfeito, fantástico, que durou três dias. Só foi assim porque durou três dias. Tristão e Isolda, a mesma coisa. Os caras do Antes do Amanhecer tiveram uma noite. É assim nos filmes, essas coisas intensas, inesquecíveis, elas duram pouco. Elas são lindas histórias de amor porque duram pouco.
Ninguém sabe o que acontece depois do felizes para sempre com a Cinderella, a Branca de Neve, a Bela adormecida, e tal.
E sabe porque ninguém sabe? Porque a convivência e a presença tendem a quebrar os encantos. Há um tipo diferente de amor, em que acredito: o feito pra durar. O construído a duras penas, com diálogo, com percalço, com briga, com duas pessoas conhecendo uma à outra e vendo uma à outra. Não posso ser um reflexo do que você acredita que eu seja. Não é justo comigo.
Não posso ficar à mercê da hora que você resolve ligar cheio de conversa fiada, planos impalpáveis, incertezas, esperanças sem concretude.
Não é porque eu escrevo que você pode vir com um talvez evento para o qual eu talvez seja convidada. Eu não escrevo história pra boi dormir, conversa fiada. Eu escrevo porque meu sangue pede que eu escreva, porque sem isso eu não respiro, porque é pra isso que eu fui forjada e é só isso o que eu sei fazer.
É cruel brincar com isso, é desumano. Brincar comigo é brincar comigo, brincar com o que me faz é uma atrocidade.
Não sou Pandora, não tenho uma caixa com a esperança no fundo. Não sou crente. Não sou dessas doçuras nas quais você aparentemente acredita.
Mas você não tem como saber. Em nenhum desses contatos ao longo de três anos e meio você fez a menor menção de querer me conhecer. Você sabe uma coisa ou outra, e deve te bastar.
Nada contra. Que te baste.
Mas eu não quero pra mim este tanto de talvez. Eu quero meus armários limpos, meus caminhos planejados, um espaço pra improviso, a coisa toda lúcida e maluca ao mesmo tempo. Porém concreta.
Concretude, eu já vi, você não tem pra dar.
Vôe. Siga o seu caminho. Não me ligue à toa, não espere que eu seja a princesa do seu conto de fadas. No máximo eu sou fada-madrinha, mas nem de mágica, de trabalho, de generosidade, da dureza que você sabe que existe e não muda, nem vai mudar.
Não fiquei mole, continuo a mesma pedra.
Não me ligue nunca. Contatos profissionais até podem ser feitos, mas de forma profissional. Meu e-mail permanece alineocdias@yahoo.com.br. Envie qualquer coisa profissional a ele. E pronto.
Mais contato que isso é absolutamente desnecessário, além de irritante.

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