terça-feira, janeiro 24, 2012

Um banquinho, um violão

Quando for pra a gente se envolver, que seja lento. Que a gente se conheça antes, um pouco, aos poucos. Que os mínimos detalhes sejam postos na mesa, personalíssimos. Que você implique antes com meu jeito e eu com seu corte de cabelo. As noções de mundo sejam compartilhadas junto com cerveja, vinho, vozes altas e embaraços. A gente se desembarace sei lá como.
Que o toque venha natural e depois fique vulcânico. E a gente se irrite um com o outro, discuta, brigue. Antes. Você se atente para o meu ontem, eu me atente para o seu amanhã.
Então, que eu não te sugue a alma por inteiro em três dias, nem chore. Que você não declare posse de nada, nem do meu corpo. E que nossos corpos se entendam num ritmo outro, menos punk e mais bossa.
Sobre, então: amor, sorriso e flor.

sábado, janeiro 21, 2012

esfinge

Qual o tamanho do medo que você tem das minhas pernas? A velocidade das coisas aparentes talvez não seja sincronizada cabeça a cabeça. Olha, não é nada. Só um sorriso ou outro, umas conversas, sincronia.

Eu não sou exatamente perigosa. Ao contrário, volátil. Uma dessas coisas pequenas de se por no bolso. Só que arde. Queima. Um amontoado ambulante de hormônios e a cabeça cheia de histórias.

Você não sabe a briga que foi pra que eu tivesse hoje essa forma, essa cara e esse furacão. Mas é bem simples, ferro e fogo, pronto.

Não tome cuidado. Abrace e pronto.

terça-feira, janeiro 17, 2012

desconselho

Não requente o amor. Mesmo que dourado. Mesmo que língua presa. Mesmo que um dia excelente, não requente. Deixe pra lá, frio mesmo. Deixe apodrecer num canto longe onde você não veja. Esqueça. As horas nunca voltam para trás e o que foi desfeito que pereça. Mesmo que pareça não ser ainda morte, ou só pequena morte.
Você que é moça sabe de dentro se foi fim ou não. Você sabe o tanto de cartas na manga e o quanto agüenta com as sobras. E se já foi, se partiu, se morreu, não coma. Não arrisque a intoxicação do que o tempo deixa borrachudo.
Não pense em possibilidades, não deixe pra mais tarde.

Não se morra por ninguém.

terça-feira, janeiro 10, 2012

A vida é (em dois mil e) doce.

E de todas as coisas grandes e pequenas que eu podia querer falar hoje neste fim de ciclo que vem com o doze, o doce e os números todos é só o eu te amo que sai.
E eu só quero dizer de verdade.
Eu só quero dizer a verdade.
A vida as vezes é muito azeda a começar pela boca e pelos verbos que não sucedem crases - e se fosse tudo crase eu acharia mais bonito. Você não sabe o quanto eu gosto de sinais gráficos e notas musicais, só sabe dos superlativos. Pois este ano eu quero ser diminutiva e mais lenta, mas ele não sabe. Ele não sabe que eu pretendo sorrir e tenho sorrido e me estressado menos.
Ele ainda sabe aquelas coisas do ano passado e sabe que mãe é bom e sabe o que passou e também como me fazer chorar. E eu não vou dizer nada que não seja puríssimo, límpido e verdade, mesmo que me digam que só é possível verdade em pensamento.
Eu não acredito.
Há direito ao primitivo.
Eu quero o bruto da vida. O chifre do elefante e as coisas mais bregas que forem feitas no mundo.
A verdade, essa moeda gasta e quase sem valor. Bruta.

sábado, janeiro 07, 2012

o que os maias fazem comigo

Se o mundo acabar mesmo em 2012, eu quero passar mais tempo com você. O resto dos dias sem o resto do mundo, dormindo de conchinha em cama de solteiro e acordando como se o colchão fosse de molas, o travesseiro de penas e o lençol de seda. Eu quero aprender a cozinhar coisas gostosas, limpar camarão, fazer moqueca de sururu com requeijão pra gente comer, amassar massa de pão, rolar macarrão, massa de pastel, fritar mais coisa. Fazer iogurte, comprar uma máquina de waffle e comer de manhã waffle com mel ou com manteiga ou com sorvete.
Se for mesmo pra ter só até dezembro, eu quero ir com você ao Maranhão e ao Acre. E dançar forró em Itaúnas e voar de asa delta e andar de balão com você. E te levar num karaokê. E cantar a noite inteira com a cara cheia de cachaça que é pra acreditar que meu timbre é aceitável. E eu quero gastar o dinheiro todo que eu vou ter pra a gente comprar um piano pra você que aí você me ensina a tocar e você toca.
Um filho, também, eu quero fazer. E ter a nossa casa. O nosso cachorro. As nossas estantes de livros e partituras. A gente arruma um empréstimo e deixa rolar.
O mundo não vai acabar?
E, também, antes de tudo, se for mesmo o mundo acabar, eu quero ter coragem pra dizer que eu ainda te amo.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

red nose

Ele as vezes tem a língua meio presa e isso é bonito. Ele pra mim mostrou os doces, a ternura, a ajuda e o papel de herói. Mui bien composto, escondeu-se em gritos altos, força e nariz.
Eu disse assim que queria um nariz assim num filho meu. Reto. Bonito. Ele pra mim mostrou um monte de loucuras, uns devaneios, uns xingamentos. A cara feia, o adeus, as tatuagens.
Defeito mesmo, qual? As coisas estúpidas eu ria, as brigas eu cria, os risos eu tinha.
Então era conforto todo dia a existência. A língua presa. O jeito de falar que as coisas são bonitas. O nariz.
E do nariz, meu tombo.
Travei.
I don’t believe in that love anymore.