quinta-feira, dezembro 11, 2008

Boxe, duelo ou queda de braço

À Amanda Mariano e Mara Coradello


Você é assim, um rapaz bastante bonito com simpatia nos olhos e um sorriso que desmonta pessoas. Eu sou até razoável, não muito alta, cabelos bem cuidados e dotada de quadris que balançam num ritmo unicamente meu.
Nos esbarramos algumas vezes, em algumas ruas e resolvemos conversar.
Você elogia o vestido querendo elogiar o decote e eu elogio o sorriso querendo tirar dele um pedaço. Falamos coisas engraçadas, trocamos telefone, sorrimos e eu digo que é hora de ir embora.
Nos esbarramos outras vezes. Tomo coragem e pego logo a ficha completa. Existe uma série de testes que preciso aplicar em todos os homens.
- Você é arrogante?
- Não sei. Acredito que não. – você responde e perco metade do meu interesse.
- Prepotente?
- Um pouquinho só. Só as vezes... – você vai murchando e eu também.
- Misantropo! Você deve ser misantropo pelo menos!
- Não. Sou sociável e tudo.
Vou embora.
Te encontro outro dia e você vem com voz arrastada fazendo pouco do meu rebolado. Depois me ataca com doses cavalares de sarcasmo.
Volto a te olhar.
Você tenta forçar sorrisos meus e eu não dou a mínima. Então é a hora de me ver com outro homem, rindo bastante e tocando o braço dele constantemente.
Você chega perto e tenta roubar para si a atenção. Depois arruma uma mulher muito mais bonita do que eu e eu nem olho. Sorrio um bocado por dentro.
Conversamos entusiasmadamente no fim da noite. Te acho interessante e você me acha intrigante.
Tenta me tocar e se aproxima. Faço questão de frisar com os olhos que não sou nada sua.
Nos encontramos num desses meios de tarde e você conta vantagem de tudo. Entendo perfeitamente a sua competência profissional mas não me comovo. Começo a ficar irritada e repito o teste.
- É ciumento.
- Não. Nunca precisei disso. – Sei que você mente e começo a me sentir levemente encantada pela sua presença.
Rimos juntos e bastante. Tento passar mentalmente a carta que passaria a todos os homens.
“É preciso que você seja um bêbado, arrogante, prepotente, egoísta e misantropo. Pode até ser um pouco carente, mas se for demais me enche o saco. Não quero saber de crises de ciúme que eu não provoque, e o mais importante: devo ter o que quero na hora que for, mas você não deve evitar dizer não”.
Você me beija. Eu te beijo. Evitamos mãos e nos gostamos por algum tempo.
Eu não me entrego, nem você.


Eu sou uma mulher bonita e você é até razoável. Tem um olhar simpático e sorriso tímido. Não faço testes e nos aproximamos aos poucos.
Caio de amores e nem quero saber.

17 comentários:

Marcela Rangel disse...

Os seus comentários assim como seus textos são lindos!
:)

By the way, você já deu uma olhada nesse post?
http://pateticamentepoetica.blogspot.com/2008/07/defenestrao-e-o-non-sense-em-uma.html
Ele começa com um nome muito interessante.
:D

Ricardo Matos disse...

esse seu texto mostra uma segurança...mui legal...

Anônimo disse...

OI Aline!

com otirar a musica do meu blog?
é so vc clicar no player e pausar ou tirar o volume, simples ne?

Unknown disse...

Nossa...simplesmente adorei, seu blog é muito bom e vc escreve de um modo tão cativante! Vou te linkar lá no meu!

Beijos

http://www.sonhosamadores.blogspot.com/

Anônimo disse...

Vc escreve muito bem.PArabéns.

Danilo disse...

Eu não me entrego, nem você.

Meus relacionamentostem sidomais ou menos assim ultimamente. E o pior é que não estou achando ruim =)

Anônimo disse...

Definitivamente..... Eu adoro os testes, e tem q ser bebado, chato, e arrogante, mto arrogante! hahahaha

blog disse...

Tom confessional, querida Aline?
Como sempre, o texto corta, mas há um excesso de "feminismo" nele, não? Esse poder de dizer não sempre me trouxe desconfiança.
Mas nada como um texto seu tendo a bordo uma xícara de café e umas torradas frescas.
Como agora.

Bjo.

Fabíola Zardini disse...

Vc escreve cada dia melhor! Beijos

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkk...

dsculpe, mas eu não consigo não achar engraçado. Esse cara me lembra muito o .....

Ms é um belo texto, claro.

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Dizer que o texto da Aline é ótimo já virou quase clichê... preciso inventar uma palavra diferente!
beijos

Marcela Rangel disse...

Estava eu a colocar em dia a leitura deste blog e percebi que o nome é mais apropriado do que pensava. Escrita feita assim, com emoção quase transbordando no copo, é perigoso. Alguém pode se apaixonar ou deixar derramar.

:)
Adoroooo!

sacodefilo disse...

Quadris que balançam em um singular... ahhhh (suspiro) acho isso e um sorriso bonito algo que anula todo o restante.

Mas sabe o que me lembrou o texto? O jogo de aproximação da raposa e do pequeno princípio no livro do Exupéry. A única coisa que acho difícil é o não se entregar e não querer nem saber. O problema é que nesse jogo de sedução, quando menos esperamos, mudamos de posição e de caça, passamos a caçador.
Aí é que está o problema, o coração se enjaula quando menos esperamos.
Bjs

Marcelo

Anônimo disse...

O Poder de dizer não como falaram nos comentarios... existe isso?

Não tenho acompanhado os seus textos, pois acabei de conhecer o seu blog. Mais pode ter certeza que vou começar a acompanhar agora.

Mais tudo o que voce disse no texto eu vo resumir em misterio e surpresas. Como o Marcelo disse, de uma hora para outra podemos passar de caça para caçador..

E porque acontece isso? Simplesmente não sabemos, e não espere por isso, só acontece quando não esperamos.

Abraços

Darshany L. disse...

aline, esse é um dos melhores seus que já li.

bia de barros disse...

ah, como eu adoro esse ritmo unicamente seu! nunca muda pelos passos alheios, é praticamente minha mestra no quesito amor-próprio.

e tudo que eu te desejo é que todos os seus sonhos se realizem, mas que nem por isso deixes de sonhar...

*-*
bjs de luz.*

Flora disse...

Totalmente escrito pra vocÊ, dona aline conquistadora.