domingo, julho 08, 2007

Eu estava no meio de uma multidão. Era uma festa de igreja ou coisa do tipo. Mas eu me concentrava nos quadris de Maria. eu não sei o nome de Maria, mas Maria sou eu e eu dei meu nome a ela, que dançava linda e livre com sua saia verde longa e sua lusa preta curta, feito mulher mesmo. maria dançava com sua trança grossa que só deixava uma mecha solta. Ela ondulava quando se mexia. se mexia em meu nome, que eu já não podia. A Maria que narra o que não sabe ser ou não uma história tem dentro dela uma coisa forte e ardente, densa e pesada. Eu amo. Eu amo e disse à Carlos que o amo.
Acontece que amor é um estado de espírito, um deboche de uma força maior para dcom um pobre mortal. O amor é bonito e grande e nada simples, mas ao mesmo tempo preto e branco e doce. Faltam-me letras suficientes pra descrever qualquer coisa.
Sei que Maria como sou, não quero me assumir Salomé, que também sou. Aquele livro me doeu nas entranhas por que era eu. E eu tive nojo de mim ao lê-lo. Eu tive nojo do livro e de mim e do meu amor tão zonzo e doente que anda comigo e de quem eu tenho raiva por que não quero sentir. E aí Carlos me diz que eu não valorizo meus próprios sentimentos. Ele devia admitir que sentimentos não tem lugar na vida. Mas ele só assume que eu sou vazia e fatalista como realmente sou. Está cedo e eu não sou uma boa companhia. Queria rasgar o ar como Maria dançando. Queria saber se o nome dela é Maria como o meu. Eu queria comer a carne daquela Maria. Talvez Maria resolvesse o Carlos que é calo entalado na minha garganta. E a minha garganta dói.
Eu avisei que era melhor observada que tocada. Eu não deixei isso claro na primeira vez que bebemos juntos, bem antes de eu pensar em ter Carlos como mais que um amigo? Pois era verdade. Eu não sirvo para ser tocada nunca, por que meu corpo perde o rumo e o prumo. Meu corpo é volúvel e se vicia fácil em coisas demais. Ele gosta de temperaturas de mãos e de texturas de pêlos. Meu corpo é tão cheio quanto eu sou vazia. Ele treme, eu travo.
Talvez eu devesse ter escancarado meu eu-te-amo tímido e xôxo há mais tempo. Todavia, esse não era o meu tempo. E eu tenho que respeitar meu tempo e o tempo de Carlos como respeito a mecha solta do cabelo de Maria que dança de trança. Eu disse que iria pra casa e dormiria. E fui. Mas eu não podia ficar parada, nem manter os pés no chão.
E depois dos meus turbilhões de sentimentos e da uma lágrima que caiu de meu rosto quando eu me dei conta que aquilo que queimava e que eu não podia era realmente o que eu temia. Me vi Maria.
E parecia que eu já não precisava dizer nada, mas precisava dizer tudo. todas as coisas tinham sido ditas, mas tinham sido trocadas por um tudo novo.
Sentei-me e ele veio falar comigo, alguém que não era Carlos, mas era carinho, quase ternura.
Serei Maria pra ele. Serei ternura pra ele. Agora, preciso ser doce.

3 comentários:

Marcela Rangel disse...

Estou tão pasma que não consigo descrever direito o que senti ao ler.
Tocante! Realmente tocante.

"O amor é bonito e grande e nada simples, mas ao mesmo tempo preto e branco e doce."

Bonito, doce e forte como o amor esse texto.
Lindo!

:**

Anônimo disse...

Eu avisei que era melhor observada que tocada
Não acredito que você ainda lembra disso...
Ha,Anita se foi e eu fiquei a ver navios...Talvez porque a faceta mudou de cor,de maquiagem e de roupa.E quando fui tentar resgatar Anita bem lá no fundo do mar,não consegui voltar e acabei morrendo na praia.Talvez era pra ser sereia ou só comida de peixe mesmo...
Não sei,sei que ela foi pro mar e agora eu não saio mais sem colete pra nadar...Agora eu vou me armar como posso...
Beijos

Anônimo disse...

Aline:
passando para conhecer teus textos, que minha filha Gabriela não cansa de elogiar...e olha, menina, amei! adorei! e estou com aquele gosto de querer mais e mais...
beijos iunenses!

karla leopoldino
www.karlaleopoldino.prosaeverso.net