sábado, março 31, 2007

Óbvio I

O óbvio ouvia o rodar do ventilador e o soar do mundo ao seu redor. Encarava a tela de um computador da mesma forma que uma garota apaioxanada enxega o rosto de um amante: havia o resquicio de consciência que dizia que o ventilador (ou o amante) continuaria a rodar (ou existir), mas que o mundo talvez não o fizesse. Ele, o óbcvio, tinha medo de continuar, invariavelmente.
Sua boca fedia a cigarro barato e seu estômago reclamava da cerveja roubada e, mesmo assim, nada fazia sentido. Porque o óbvio continuava bêbado e sóbrio, talvez, fosse apenas aquilo que sempre fora: um homem assustado com tudo aquilo que se tornara e ainda mais assustado com aquilo que poderia ser.

2 comentários:

Flora disse...

O contato com o óbvio:
O óbvio é esquisito,medroso,parece ser um apreciador da boa cachaça e paradoxal,principalmente ao tratar da tela do computador.O óbvio cansa e ao mesmo tempo traz disposição.
O óbvio é a antítese...Parece óbvio,mas é uma interrogação que tem respostas ambíguas,incomuns e de dificil entendimento...
O óbvio é psicopata e pronto.

Anônimo disse...

Eu gosto do medo
como gosto da metalinguagem