Sentir não é bonitinho, nem delicado. O cara que saiu no
jornal porque matou a ex mulher à facadas e deixou a faca cravada no pescoço
dela não foi frio. Fosse ele frio, não tinha matado, mas sorrido e dito que ia
ficar tudo bem. Fosse frio ele se auto-engolia e não matava. O cara se entregou
pra polícia antes de dar tempo de ser procurado. O cara confessou o crime.
Se o cara fosse frio, tinha arrumado um revólver e dado um
tiro só, ou tinha enfiado no mesmo pescoço uma seringa com ar que faz menos
sujeira e é tão eficaz quanto faca em matéria de morte. Frio fosse, estudava
exatamente um jeito de sair impune.
O cara podia ser eu, ou você, sabendo menos ainda lidar com
dor, e com não, e com rejeição de uma moça que ele ama, ou amou.
Eu não escolhi rir e dizer que estava tudo bem, mas chorar e
mandar tomar no cu. Eu podia ter arrumado uma faca e posto um fim e ido pra
polícia me entregar. Qual dor que vale? Não sei.
O delegado disse que eu não tenho que ter dó de bandido. A
gente acaba aprendendo que bandido é outra coisa que não gente. Qual a linha?
Eu não mato nada, só barata. Nem você dentro de mim eu mato,
que não tenho faca, nem seringa, nem revólver, nem força pra confessar crime.
Um comentário:
Mocinha, você está aprendendo muito por esses dias. Aproveite.
Marcelo
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