quinta-feira, dezembro 27, 2012

Correnteza


 Meu corpo parece o mar.
Vale a briga daquele homem que olha atravessado sem admitir qualquer mergulho?
Nade, homem. É um braço, depois o outro_ e os pés dando estabilidade quando se debatem.
Brigue sim a minha água. Enfrente o infinito que há, uma fauna inteira de coisas além do possível afogamento.
Olhar o fundo é um erro, meu bem.
Não é preciso viver sem prender o ar. 

segunda-feira, dezembro 24, 2012

As festas


Se é finitude coisa leve ou pesada, não sei. Mas a existência pesada dela é insustentável. Sempre quis, de qualquer forma, o infinito. Mas o infinito é um átomo, um instante, um brilho avulso de olhar.
O que eu quero de natal ou de promessa de ano novo, ainda não pensei. Mas a Argentina está logo ali e eu tenho muito bons amigos.
Continuo detestando qualquer tipo de espera, e por isso baseio a pontualidade no instante crasso.
Acaba o ano, o mundo também. Não sou exatamente a mesma coisa, e talvez por isso absolutamente vulnerável.
Que tudo brilhe e escorra, enfim, em um 2013 sem entalações.


terça-feira, dezembro 18, 2012

Sumo

Sendo a anatomia uma loucura, sinto os amores no estômago. Ao invés de disparamento cardíaco, vêm voltas e voltas, problemas de digestão. Ele, por exemplo, nem desceu na garganta e mesmo a fome que vem, de pão, não pode ser morta antes de um desentalar.

Não venha ele querer só sumo, que eu tenho a casca grossa. Há que se morder com força, de arrancar pedaço, casca, sumo, semente. E que seja a bocada tão intensa que ele sinta o gosto, goste e entale e durma até que eu chegue perto prum despertar. Aí sim, o sangue sobe, circula, festeja e fica disritimado o coração.  

domingo, dezembro 16, 2012

Che


Vou lembrar que as melhores pessoas são as loucas que explodem como fabulosos fogos de artifício e que foi nesses fogos que veio seu olhar de cachorro na frente da assadeira de frango da padaria. E foi pra mim. E foi em mim. E foi com a boca.
Dos telefonemas pela madrugada e de todos os ombros, que não foram poucos, nem pequenos. A firmeza da pele e a voz quando era firme.
Acho que foi Sófocles que eu te dei de presente quando veio aquele sorriso descrente, surpreso, da minha própria lembrança.
Vou lembrar que você não ficou bravo descobrindo que eu tinha olhado a sua carteira de identidade pra saber a data do aniversário que nunca havia sido dita para quase ninguém. Nem quando eu disse para todos os nossos amigos que era aquele, o dia.
Aquela garra, aquela força, aquele chão em que você se jogou e apanhou, aquela luta, aquele não. Você dizendo que ia embora, e não indo.
Você ali em chuva e em sol, e sempre, e tanto, que mesmo espaçado, o tempo, era tenso. As brigas, vou memorar com carinho, e remoer com ternura.
E aquele dia que você disse que eu tinha olhos bonitos e levou no bolso meu brinco como se fosse um pedaço de carne. Minha.
Deixa pra lá que também foi ruim. Você ainda deve ter o brinco e o beat, mesmo que mangue.